1 A SOCIEDADE, A EDUCAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA
1.2 OS PROBLEMAS QUE AFASTAM O HOMEM DA EXCELENCIA, DA
1.2.2 O atual conceito de excelência
A concepção clássica de excelência aristotélica difere muito do modelo atual
de excelência. Assim, pelos esportes, negócios, concursos, etc., percebemos que
nossa cultura está completamente influenciada por uma idéia de excelência como um
modelo de vitória competitiva. O vitorioso, aquele que sai triunfante na competição, é
aquele que atinge a excelência.
O atual conceito de excelência é maquiavélico. Neste conceito de excelência
não se consideram os meios, a atitude dos indivíduos, o processo como um todo
para alcançar os objetivos, unicamente se avalia o cumprimento das metas
estabelecidas. O ser humano faz parte dos meios, dos instrumentos para obter as
metas, os objetivos. Nesta competição, o esforço, os méritos pessoais, a satisfação e
a intenção dos indivíduos são irrelevantes. A excelência se identifica com a avaliação
do produto de forma isolada, ligada unicamente a estatísticas e comparação de
dados impessoais.
No modelo de vitória competitiva da vida moderna é considerado natural e
justo obter este tipo de excelência. A definição de justiça fica darwiniana, é o triunfo
pela sobrevivência dos fortes sobre os débeis. A concepção darwinista nos torna
exclusivos, elitistas e preconceituosos, nada mais contraditório que pregar inclusão
nesta sociedade. O máximo que se pode exigir é tolerar ou suportar aos débeis
porque a lei exige, mas respeitar, admirar ou apreciar, nunca. Talvez por isso é que
Esta noção de excelência nos é cultivada desde a escola mediante a forma
convencional de avaliação, a pontuação nos concursos públicos, no vestibular, a
ordem de méritos escolar, as avaliações profissionais. Isto se evidencia como um
jogo que estabelece regras para vencer o outro. Este modelo de avaliação não se
concebe sem um vencedor (a qualquer custo) e um vencido ou grupo de vencidos.
Nesta situação consideramos os outros como rivais, com os quais temos que
competir. Esta atitude já é contemplada por Platão quando compara o proceder do
justo e do injusto, e assim nos diz:
O homem justo não quer obter vantagem sobre seu semelhante, porém, sobre seu contrário; o injusto quer obtê-la tanto sobre os semelhantes como sobre seus contrários (PLATÃO, 2000, 349 d).
O semelhante, neste caso é a pessoa que tem interesses, ideais, afins aos
nossos, isto é, é a pessoa com a qual podemos conviver na sociedade e, o contrário
é aquele indivíduo com o qual não podemos conviver, porque fere, trai e prejudica
aos demais, a ele temos que vencer.
O modelo de excelência competitiva nos faz tratar a nossos semelhantes
como se fossem nossos adversários e exige um vencedor sobre todos os que
estiverem competindo, sem observar se estamos combatendo um semelhante ou um
contrário. O modelo competitivo não nos remete unicamente aos esportes, à guerra;
ele está referido a todos os âmbitos humanos, desde a empresa, a comunidade, a
competitivo está exercendo um padrão na conduta humana e a justificação para ser
aceito é que, foi proposto como uma seleção natural.
A conduta competitiva, de luta indiscriminada sobre os demais, adquiriu na
sociedade uma importância tal que, desta competição diária depende nosso futuro, a
estabilidade no trabalho, a posição social, a realização pessoal, a segurança
econômica e, depende também, a satisfação da família. Todos esperam que nos
tornemos vencedores em uma contenda, e passamos a reforçamos este modelo de
conduta através da educação. Nesta contínua competição não tem lugar a
colaboração, a solidariedade, a satisfação pelo êxito alheio.
Se formos coerentes com este raciocínio temos que deixar a ética do lado de
fora desta produção. O que se avalia são resultados, não condutas. O que tem valor
é o produto final, não o produtor nem o processo. O homem se converte em um
homem máquina e o seu produto é o que interessa, a máquina pode ser substituída
por qualquer outra.
A promoção do comportamento competitivo em detrimento da cooperação é
uma das principais manifestações de tendência auto-afirmativa em nossa sociedade.
Tem suas raízes na concepção errônea da natureza, defendida pelos darwinistas
sociais do século XIX, que acreditavam que a vida em sociedade deve ser uma luta
pela existência regida pela “sobrevivência dos mais aptos”. (CAPRA, 1982).
Como conseqüência desta competição a sociedade se tornará intolerante, não
qualidades que não são necessárias para vencer uma competição. Todo aquele que
não se adequar ao ritmo da produção, que a avaliação exige, é deixado de fora. Esta
forma de produção despreza a felicidade, no sentido aristotélico, e o prazer, no
sentido estético, que cada um pode sentir pela atividade que realiza.
Este tipo de sociedade não pode considerar-se equilibrada, ela não permite
que os seus membros sejam indivíduos satisfeitos, que desenvolvam as diversas
atividades que eles gostam. O fordismo, por exemplo, traduz uma filosofia onde o
menos importante são as necessidades e interesses das pessoas (SANTOMÉ,
1998). Sobre a satisfação que nos inspira nosso trabalho, lembremos que Aristóteles
destaca que atuar de acordo à justiça é agir de acordo à excelência, e isto nos
produz prazer “porque o que é conforme a excelência moral é agradável”
(ARISTOTELES, 2001, 1120 b).
Se considerarmos que a finalidade de nossa existência está ligada à
felicidade, será possível que possamos alcançá-la tendo como meio para obtê-la
unicamente na competição? Com este meio, se vencermos obteremos prazer, ao
final até os sádicos obtêm prazer com suas ações. Mas, isto se pode considerar
felicidade? Para Platão a felicidade e o conceito de cidadania estão unidos, de tal
maneira que se “o que estamos formando é a cidade mais feliz, não no sentido de