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A transição: de Pastoral Rural à Comissão Pastoral da Terra

2 A COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DE ALAGOAS

2.2 A transição: de Pastoral Rural à Comissão Pastoral da Terra

Outro sujeito que deve ser mencionado no contexto que antecede ao surgimento da CPT/AL é a Pastoral Rural. Nasce em 1976, na paróquia Santa Maria Madalena em União dos Palmares, com a colaboração de padre Emilio April e do leigo José Martins, contando com a anuência de Dom Miguel Câmara. Esse serviço pastoral adquiriu o maior volume quando a Arquidiocese de Maceió, em 1984, acolheu os padres Aldo Giazzon e Luís Canal, italianos que assumiriam respectivamente as paróquias de Colônia Leopoldina e Novo Lino,

dedicando-se aos trabalhos da Pastoral Rural, com a missão de estendê-lo a outras regiões do estado, como desejava o arcebispo:

O nascimento da Pastoral Rural na Arquidiocese de Maceió se deu em 1976 com a chegada de um trabalhador rural de Paraíba em União dos Palmares, onde foi criada a primeira equipe. Esta foi reconhecida pelo Arcebispo Dom Miguel Câmara, que sugeriu a sua expansão em toda a Diocese.

Em 1984 chegaram à Arquidiocese de Maceió os padres Luís e Aldo, assumindo as paróquias de Colônia Leopoldina, Novo Lino e Jacuípe e se dispondo, de acordo com o Bispo, para um serviço à Pastoral Rural na Diocese e no Estado23.

Ainda, conforme se constata nos arquivos da CPT/AL em 1985, esse trabalho já atingia a província eclesiástica de Alagoas com trabalhos na região do Sertão (Inhapi, Água Branca e Delmiro Gouveia), do Agreste (Arapiraca) e da Zona da Mata (União dos Palmares, Santana do Mundaú, Viçosa, Novo Lino e Colônia Leopoldina)24.

Não seria exagero afirmar que da Pastoral Rural deriva a CPT alagoana. Essa transição merece algum detalhamento. Para dirimir quaisquer dúvidas ou erros de interpretações, frisa- se que esse percurso não é resultado de conflitos políticos ou metodológicos internos da Pastoral Rural; resulta, em verdade, de uma iniciativa da hierarquia da Igreja, em particular do arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, que respondia pela presidência da CNNB Regional Nordeste II (Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte).

Esse conflito é compreendido como parte de um processo conduzido por setores da Igreja para inibir as ações dos movimentos seguidores da Teologia da Libertação. Esse movimento reacionário ficou conhecido como “desmonte eclesiástico”25

, sendo responsável pelo fim da atuação da Pastoral Rural no Regional da CNBB Regional Nordeste II. Naquele período, anos 80, a Pastoral Rural de Alagoas, em conformidade com o Regional Nordeste II, atuava em três linhas de ação26:

1- ASSALARIADOS da cana. Ajudando os trabalhadores na informação e formação das campanhas salariais e na reivindicação dos direitos.

2- SINDICALISMO: informando e formando para uma consciência sindical nova e apoiando a formação de sindicatos autênticos.

23Arquivo Eclesiástico de Alagoas. Comissão Pastoral da Terra. Fundo: relatórios: A Pastoral Rural na Arquidiocese de Maceió. Alagoas. 1986. p. 1.

24 Idem, ibidem. p. 1.

25“Por iniciativa do Arcebispo de Olinda e Recife D. José Cardoso, no processo denominado ‘desmonte

eclesiástico’, demitiram-se todos os integrantes do Setor de Pastoral Rural da CNBB-NE II”. Arquivo Eclesiástico de Alagoas. Comissão Pastoral da Terra. Fundo: carta: Na confiança nos dirigimos a você. LIBERATO, Arnaldo; ANDRADE, Flávio; ALDO, José e MARQUES, Lenivaldo. Recife, 26 de setembro de 1994.

26

Arquivo Eclesiástico de Alagoas. Comissão Pastoral da Terra. Fundo: relatórios: A Pastoral Rural na

3- ÁREAS DE CONFLITOS DE TERRA: acompanhar e articular as áreas onde surgem conflitos de terra, marcando a presença solidária da Igreja junto aos desprotegidos e somando forças com outras entidades para o advento da Reforma Agrária (CPT, 1986, p. 2-3).

Nesse conflito, o arcebispo de João Pessoa, Dom José Maria Pires, cumpriu papel fundamental, acolhendo aqueles que eram perseguidos, inclusive padres e seminaristas. Esse tensionamento apressou um processo que poderia naturalmente levar a Pastoral Rural a assumir a identidade pastoral e política da CPT. Convém acrescentar que se denomina transição da Pastoral Rural à CPT/AL o importante papel que cumpriram os padres responsáveis pelos trabalhos da Pastoral Rural em Alagoas, que participaram ativamente do processo de ruptura imposto pelo arcebispo de Olinda e Recife e, consequentemente, da fundação da CPT no Regional Nordeste II e de sua criação na Arquidiocese de Maceió. Caso esses padres insistissem na continuidade do trabalho da Pastoral Rural, a CPT teria surgido por outras mãos ou a partir de outros conflitos. Esses argumentos explicam, em parte, o que se chama de derivação.

Soma-se a esses argumentos, o que reforça o argumento da transição pacífica, a relação existente entre a Pastoral Rural de Alagoas e a CPT nacional, com um grau elevado de confiança, a indicar que a Pastoral Rural assumiria processualmente a identidade de CPT. Entende-se que essa aproximação se expressa quando, em resposta à conjuntura eclesiástica desfavorável à sua continuidade, ela deixa de existir e encarna de imediato a personalidade jurídica, política e pastoral da CPT, fundando a CPT Regional Nordeste II.

Sobre a transição e o funcionamento dessas pastorais, já foi exposta a nossa opinião:

Entendemos que, neste ponto, torna-se necessário um breve esclarecimento sobre a diferença entre a Pastoral Rural e a Comissão Pastoral da Terra. A primeira é ação direcionada aos católicos rurais; é uma articulação das comunidades rurais, formada por cristãos católicos comprometidos, que contribuíram com o surgimento de movimentos nas áreas rurais, a exemplo da Animação dos Cristãos no meio Rural (ACR). Em Alagoas a Pastoral Rural tinha uma relação política e de ação junto ao Movimento de Educação Rural (MER), que se apresentava como um movimento de educação rural, de caráter revolucionário, que atuou na Zona da Mata alagoana nos anos oitenta. Já a CPT dedica-se à causa do povo do campo, sendo uma pastoral ecumênica, com a participação de agentes de outras igrejas cristãs, mantendo uma relação prioritária com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A CPT contribuiu para o aparecimento de movimentos autônomos dos camponeses, a exemplo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Em Alagoas, os primeiros trabalhos começaram junto aos assalariados do corte da cana, numa região totalmente devastada por essa monocultura e pelo predomínio das usinas de açúcar, agredindo assim o ambiente e o sujeito social (LIMA, 2013, p. 367).