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5. RECLAMAÇÕES DECORRENTES DA EXECUÇÃO DE

5.3. A NÁLISE DAS P RINCIPAIS C AUSAS

5.3.2. A TRASOS

Tendo em conta a definição de reclamação, esta pode ser também uma solicitação escrita do Empreiteiro, para lhe ser concedida uma prorrogação do prazo contratual, sendo que prorrogar significa prolongar o tempo para além do prazo estabelecido.

Enquanto que a resolução dos outros tipos de reclamações, passa pela atribuição de indemnizações que restabeleçam o reequilíbrio financeiro do contrato, um atraso na execução de uma obra pode ser fisicamente irrecuperável, mesmo à custa do reforço de meios ou de trabalhos extraordinários, sendo sempre necessário mais tempo, para a sua conclusão, recurso que pode não estar disponível.

Para o Dono da Obra, em princípio, o atraso na conclusão da empreitada é sempre prejudicial. Por outro lado, a antecipação é benéfica. Exceptuam-se no entanto duas situações: em primeiro lugar, quando a entrada em serviço de uma obra depende de outra empreitada ainda em curso, cuja data de conclusão é ainda mais tardia; ou então, quando não exista disponibilidade financeira para fazer face a encargos mais elevados do que o previsto. Fora destas hipóteses, se o Dono da Obra pretender antecipar a conclusão de uma obra, pode sempre solicitar a aceleração da mesma, ficando no entanto obrigado a compensar o Empreiteiro dos encargos adicionais que daí resultarem.

As causas de atrasos no cumprimento do plano de trabalhos, ou em parte dele, que podem provocar alterações do tempo de execução da obra têm 3 origens ou responsabilidades, em relação às partes envolvidas no contrato:

 Imputáveis ao Dono da Obra;  Imputáveis ao Empreiteiro;  Imputáveis a terceiros.

Mas a grande dificuldade quando se analisam os atrasos na execução de uma obra está em determinar as responsabilidades e respectivas quantificações por esses atrasos, ou seja, o seu grau de repartição entre o Dono da Obra, Empreiteiro e terceiros. É que, embora sendo manifesto o atraso registado na obra, nenhum dos contraentes aceita com facilidade a atribuição da responsabilidade pelo mesmo, devido às consequências que daí advêm.

Recorda-se ainda, como se disse supra, que a reposição do equilíbrio financeiro por consubstanciar-se no pagamento de uma compensação monetária ou no prolongamento do prazo contratual, ou em ambas.

5.3.2.1. Imputáveis ao Dono da Obra

Quanto às causas imputáveis ao Dono da Obra, que podem originar atraso na execução das obras, as mesmas podem resultar:

 Do exercício do direito de “jus imperi”, ou seja, da introdução de alterações unilaterais ao contrato;

 De erros e omissões do projecto apenas detectáveis na fase de execução do contrato, entre os quais as diferentes condições locais, e o desvio de serviços afectados;

 Da ocorrência de alterações indirectas ao contrato, as quais, para além do aumento de encargos, acarretam perdas de produtividade e ineficiência, atrasando a obra, já que o Empreiteiro poderá ter de suspender os trabalhos por facto que não lhe é imputável;  Do incumprimento do contrato por parte do Dono da Obra no que respeita a atrasos nos

pagamentos, o que também pode originar suspensões de trabalhos;

 De atrasos na disponibilização de elementos do projecto, se este for da sua responsabilidade, o que também pode originar suspensões de trabalhos;

 Da indisponibilidade de terrenos para execução da obra, causa frequente de atrasos, quer nos casos em que essa situação é conhecida, ou seja, quando foi efectuada uma consignação parcial, e a não entrega atempada dos restantes terrenos prejudica o normal desenvolvimento dos trabalhos, quer quando é efectuada a consignação total e, apesar disso, existe impedimento efectivo de acesso a alguns locais da obra, o que poderá ser ou não do conhecimento do Dono da Obra. Nestas situações, ou seja, em que o Plano de Consignações não é cumprido, o Empreiteiro poderá sentir perturbações no normal desenvolvimento dos trabalhos, afectando irremediavelmente o rendimento das equipas com quebras de produtividade, podendo ainda conjugar-se tais consequências com a eventual necessidade de ter de acelerar mais tarde o ritmo dos trabalhos, para cumprir o prazo contratado. Daqui pode decorrer um sobrecusto ou oneração da execução da empreitada que não lhe é imputável e pelo qual o Dono da obra deverá responder.

Quanto às consequências para o contrato dos atrasos da responsabilidade do Dono da Obra, são reguladas nos artigos 374º, 376º, 377º e 378º do CCP.

5.3.2.2. Imputáveis ao Empreiteiro

As causas de atrasos na execução da obra imputáveis ao Empreiteiro, são da mais variada índole, destacando-se, entre outras, as seguintes:

 A falta de enquadramento técnico ou logístico;  A mobilização tardia das equipas;

 As deficiências ao nível da gestão e organização;

 A falta de recursos ao nível de pessoal e de equipamentos;  As falhas de fornecedores e/ou subempreiteiros;

 Os atrasos que podiam ser previstos ou antecipados, da responsabilidade de terceiros;  A opção estratégica no sentido de retardar a execução dos trabalhos, optando por assumir

as penalizações contratuais, mas desviando os seus meios para outras obras prioritárias. Caso ocorra um atraso que lhe é imputável o Empreiteiro fica sujeito às penalizações legais e contratuais, que podem ser:

 As multas contratuais nos termos do artigo 329º e 403º do CCP;

 A perda de revisão de preços, se houver lugar à concessão de uma prorrogação graciosa do prazo da empreitada;

 A aplicação do regime previsto no artigo 404º do CCP, ou seja, a execução da obra de acordo com plano de trabalhos apresentado pelo Dono da Obra;

 A posse administrativa das obras incluindo materiais, edificações, estaleiros e ferramentas, nos termos do nº 3 do artigo 404º do CCP, e a sua gerência e administração por pessoa idónea indicada pelo Dono da Obra, por conta do Empreiteiro;

 A rescisão do contrato, com perda de caução prestada e das quantidades em dívida sem atraso, a favor do Dono da Obra, a qual pode ocorrer antes de concluída a obra e antes de avaliado o seu atraso final, desde que se verifique que o Empreiteiro está a retardar a sua execução, pondo em risco a data de conclusão prevista.

5.3.2.3. Imputáveis a terceiros

Os atrasos na obra não imputáveis a nenhuma das partes, resultam daqueles casos normalmente considerados como casos de força maior, imprevistos ou fortuitos, podem resultar de:

 Terceiros ao contrato, como actos de guerra, rebelião, terrorismo, tumultos populares, rixas, vandalismo ou similares;

 Situações naturais como sendo climatéricas anormais, sismos, inundações, raio, furacões, etc.;

 As situações incontroláveis de variada índole como sejam as greves, epidemias, ou pragas de animais;

 A ocorrência de acidentes graves e inesperados como explosões, contaminações por material radioactivo, produtos químicos e tóxicos.

Para um atraso imputável a terceiros, há também lugar à prorrogação legal do prazo da empreitada, já que, por força do disposto no 297.º e 298.º, o Empreiteiro deixa de ser responsável pelo atraso, quando o incumprimento resulte de facto que não lhe seja imputável.

O Empreiteiro tem o direito de ser compensado por todos os prejuízos resultantes de atrasos provocados por terceiros, desde que os mesmos não correspondam a riscos que devam ser assumidos por si, nos termos do contrato.