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3. Enquadramento da prática profissional

3.2. O papel da escola na sociedade

3.2.5. A turma do meu coração

A caracterização global da turma foi, sem qualquer dúvida, um dos pontos mais aguardados até lecionar a primeira aula de EF no EP. O nervosismo de não saber com o que poderia contar criava em mim, à medida que os dias iam passando, um manto de expetativas. Sem saber aquilo que me esperava, o objetivo passava por manter as minhas expetativas num nível baixo, sob pena de não encontrar aquilo que estava à espera. Uma vez que a escola se encontra inserida num meio repleto de dificuldades sociais e financeiras, esperava que os meus alunos fossem um reflexo disso mesmo. Esperava encontrar alunos com comportamentos completamente desviantes e com níveis baixos de concentração e atenção.

Os meus alunos da turma residente (TR) foram, desde o primeiro dia que os conheci, o meu grande foco para todas as decisões tomadas. Segundo Bento (2003), “o aluno é o principal campo-de-ação-pedagógica do professor, razão pela qual devemos conhecer o mais detalhadamente possível as situações concretas da sua vida”. Com efeito, sabia que só iria conhecer os meus alunos, ao pormenor, com o passar do tempo, fruto das imensas horas que iríamos passar juntos. Senti, como é óbvio, a necessidade de apressar esse processo, para que pudesse orientar as minhas aulas de acordo com aquilo que percecionava em relação a eles, entregando-lhes uma ficha de caracterização logo no início do ano letivo. Roldão (1995) refere que a caracterização da turma deverá ser feita logo no início do ano letivo, de forma a obter as informações necessárias a um planeamento contextualizado.

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Antes de avançar com esta caraterização, procedemos à delegação de algumas turmas da PC pelos três EEs, sendo que cada um ficou com uma TR e o núcleo com uma turma partilhada (TP). Assim, em reunião de grupo de estágio, foi-me delegada uma turma de 8º ano, sendo que a TP entre os EEs seria de 2º ciclo, um 6º ano. As primeiras informações que obtive sobre a TR chegaram-me sob a forma de uma ficha de caracterização, no conselho de turma, e as primeiras impressões não foram as melhores. Posteriormente, como já referi, foi distribuída uma ficha de caracterização (ver anexo II) aos alunos no início do ano letivo, logo na primeira aula de EF.

A minha TR era, inicialmente, constituída por 20 alunos. Ao longo do ano, três desses alunos pediram transferência para outras escolas e um aluno de outra turma foi transferido para a minha. Assim, a turma ficou constituída até ao final do ano por 18 alunos, com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos, e com oito (45%) alunos do sexo masculino e dez (55%) do sexo feminino.

Numa análise cuidada ao local de residência dos alunos, facilmente percebi que estes viviam maioritariamente no Porto, com a exceção de dois alunos, dos quais um vive na Maia e outro em Paredes. Com o tempo, fui ainda percebendo que a maioria dos alunos vive, inclusive, num bairro adjacente à escola, pelo que a distância até à escola não poderia ser motivo para a falha acentuada da pontualidade. Contudo, principalmente numa fase inicial, a pontualidade era sempre um problema, ainda que os alunos viessem sempre de uma aula anterior. O recurso ao trabalho de condição física para combater os atrasos, de acordo com o número de minutos atrasados, revelou ser, neste caso, uma boa estratégia para evitar falhas na pontualidade.

No separador relativo aos hábitos alimentares e hábitos de sono, deparei- me com as horas tardias a que os alunos se deitavam. A falta de horas de sono adequadas era uma problemática que infelizmente não estava ao meu alcance para resolver, ainda que pudesse realizar um trabalho de consciencialização acerca do assunto. Por outro lado, fiquei mais tranquilizado quando me deparei com o facto de todos os alunos tomarem pequeno-almoço antes de se dirigirem para a escola.

Relativamente aos dados sobre a EF, foi possível constatar que nenhum dos alunos obteve aproveitamento negativo à disciplina no ano transato, tendo o seu aproveitamento uma média centrada no nível 3.

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A respeito da prática desportiva da turma, em geral, onze alunos revelaram nunca terem praticado uma modalidade desportiva. Por outro lado, sete alunos responderam que já tinham praticado uma modalidade, uma vez que as modalidades escolhidas foram a natação, o futebol, o futsal e o voleibol. Ainda que alguns alunos já não pratiquem a modalidade, não consegui apurar a razão da sua desistência.

Esta fraca pré-disposição para a prática desportiva poderia ser um indicativo daquilo que se avizinhava. Através dos testes de aptidão física que se realizaram na primeira sessão de EF, facilmente comprovei essa minha suspeita. Os alunos apresentavam níveis muito baixos de aptidão motora, com muitas dificuldades coordenativas, revelando muitos problemas ao nível da força muscular e da resistência aeróbia. Este indicador, ainda que não tenha sido positivo, fez crescer em mim a vontade de trabalhar cada vez mais para que, no final do ano letivo, esses níveis de aptidão física pudessem ser mais elevados, revelando um trabalho contínuo ao longo de todo o ano. Assim, optei por dedicar a parte final de todas as aulas ao trabalho da aptidão física, através da realização de circuitos de força e de jogos que pudessem também desenvolver a coordenação motora dos alunos. As corridas de estafetas, em que os alunos tinham que se deslocar de uma determinada forma, ou transpor objetos, revelaram-se muito boas para o desenvolvimento destas capacidades, uma vez que eram exercícios de grande intensidade e dinâmicos.

Ao longo do EP, foi percebendo o carinho que é possível nutrir pelos alunos, ganhando cada vez mais confiança com eles e, conhecendo-os melhor, tentei entender os seus problemas ajudando-os dentro daquelas que eram as minhas capacidades. Na verdade, foram eles os grandes impulsionadores desta caminhada, a razão pela qual fiquei até ao fim, porque foi na evolução deles enquanto alunos e enquanto pessoas que me foquei, sendo essa evolução que todos os dias me enchia de orgulho e que me dava ainda mais força para continuar. Sei que estes alunos estarão sempre no meu pensamento, pois foram os meus primeiros aprendizes. Sei que eles marcaram a minha vida e tenho em mim a esperança de ter marcado a deles.

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