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4. Realização da prática profissional

4.1. Área 1 – Organização e gestão do ensino e da aprendizagem

4.1.2. Realização

4.1.2.6. Ensino Por Níveis

Felizmente, a EF, enquanto disciplina, permite a multidiversidade na prática de diferentes modalidades, realizadas em contextos distintos. Esta multidiversidade evidencia as particularidades de cada aluno, uma vez que são indivíduos com características únicas e distintas. Estas diferenças são notáveis nas diferentes modalidades desportivas, uma vez que a adaptação de cada aluno às mesmas é diferente e ajustável, de acordo com o contexto da modalidade. Assim, coube-me ajustar todo o processo de ensino em torno dessas diferenças e características, salvaguardando um ensino justo e coerente para todos os alunos. Mesquita e Graça (2009) referem que o professor deve analisar cada aluno individualmente, tendo em conta as suas experiências, as suas motivações específicas e as suas dificuldades próprias. Na minha turma, foi na UD de Futebol que percebi uma maior disparidade entre os alunos. Esta heterogeneidade é comum na escola, daí que haja a necessidade de adaptar o ensino de acordo com as aptidões reais dos alunos, “diversificando as metodologias de ensino, os recursos utilizados e os instrumentos de avaliação das aprendizagens” (Estanqueiro 2010, p. 12). Eu sabia, de antemão, que o ensino por níveis seria uma dificuldade acrescida:

“Trabalhar por níveis vai ser muito desafiante, quer ao nível de planeamento, quer ao nível de organização das aulas. Confesso que ainda não pensei na melhor forma de organizar a aula, ainda que o controlo da turma já esteja completamente consolidado. Será um período de muito trabalho e aprendizagem, como seria de esperar.” (DB – 10 de janeiro de 2017)

Segundo Mesquita (2003, p.3), “só considerando os praticantes enquanto sujeitos ativos do processo, com experiências singulares, com motivações específicas, e mesmo com dificuldades particulares é possível ascender a um processo de formação desportiva qualificado, pedagógico e socialmente válido”. Após uma análise preliminar da turma, em contexto de AD, deparei-me com imensas diferenças ao nível das capacidades de aprendizagem dos alunos no Futebol. A partir daí, a preocupação foi conseguir responder às dificuldades dos alunos, criando as oportunidades necessárias para a sua aprendizagem. Na

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procura do desenvolvimento das capacidades de todos os meus alunos, sem que nenhum saísse prejudicado comparativamente aos colegas, organizei a UD de Futebol de acordo com três níveis de desempenho (nível 1 – elementar, nível 2 – básico e nível 3 – avançado), sendo que os dois mais avançados trabalhariam em conjunto ao longo de todas as sessões. Esta divisão requereu ao longo do período uma organização diferente da aula, quer no que toca à estruturação do espaço (divisão dos grupos pelo espaço), quer na minha forma de atuar enquanto professor, ao nível da instrução e da minha colocação pelo espaço. Desde cedo que procurei promover uma aprendizagem igual para ambos os grupos, tendo continuamente presente a necessidade de intervir sempre que necessário, quer de um lado, quer do outro. No início, senti que dedicava mais tempo ao grupo do nível 1 (elementar), uma vez que tinham mais dificuldade em assimilar o conteúdo e requeriam mais estímulos da minha parte para que prosseguissem com os exercícios, mesmo não estando sob a minha alçada. Procurei ter mais cuidado na instrução neste grupo, referindo sempre os objetivos de cada tarefa e certificando-me de que compreendiam o exercício. Uma das estratégias que me ajudou mais na condução destas aulas, relativamente à instrução, foi instruir o grupo do nível 1 antes dos grupos dos níveis 2 e 3. Antes do início da instrução ao grupo do nível 1, pedia aos restantes que realizassem o típico jogo do “meínho” em Futebol, como demonstro na reflexão correspondente:

“O facto de existirem conteúdos diferentes para cada um dos grupos implica uma instrução diferente para cada um. Assim, surge a necessidade de adotar estratégias para que cada grupo tenha o seu próprio momento de instrução. Aquilo que me tem facilitado a vida é dar um exercício ao grupo de nível mais avançado que não precisa de demonstração (um “meinho”, por exemplo), enquanto procedo à instrução do grupo mais elementar.” (DB – 7 de fevereiro de 2017)

Desta forma, os alunos nunca estavam parados. Posteriormente, após a instrução ao grupo de nível 1 e após certificar-me de que este cumpria com a tarefa, deslocava-me até ao grupo dos alunos mais avançados e realizava a instrução para o exercício seguinte, sem desviar a atenção do primeiro grupo. Nos alunos mais avançados, incentivei sempre uma prática mais autónoma e,

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por várias vezes, coloquei-os a trabalhar com os alunos do nível 1, num processo de orientação, ajudando-os e corrigindo-os. Esta interação entre os diferentes grupos revelou-se muito importante, uma vez que promoveu a entreajuda entre pares, desenvolvendo a cooperação e promovendo situações de autonomia, em que alunos mais avançados ajudavam aqueles com mais dificuldades.

Considero que, havendo a possibilidade de dividir a turma pelo nível de desempenho, esta favorece a aprendizagem de cada um, uma vez que os conteúdos podem ser ajustados ao nível da complexidade e dificuldade de cada um aluno ou grupo de alunos, promovendo uma progressão lógica do ensino. Por outro lado, considero que a existência de grupos homogéneos possibilita um aumento de participação e empenho de determinados alunos, face ao clima de competição existente. Uma vez que grande parte das modalidades lecionadas não foram organizadas por níveis de desempenho, com a exceção do futebol, não creio que isso tenha prejudicado a aprendizagem dos meus alunos. Felizmente, tive a sorte de ter alunos em níveis de desempenho superiores que ajudavam os colegas que tinham mais dificuldades, sem que para isso fosse necessário intervir.

Esta divisão por níveis foi, sem dúvida, desafiante, mas compensadora. As estratégias utilizadas surtiram efeito, ainda que haja sempre margem para melhorá-las. Creio que fui bem-sucedido nesta divisão e senti que os alunos obtiveram o sucesso desejado, superando as suas dificuldades e atingindo as classificações pretendidas.