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O ensino superior brasileiro passou por muitas transformações, sobretudo nas últimas décadas, onde mudanças significativas proporcionaram maiores oportunidades de acesso e permanência nas Universidades brasileiras.

Com o objetivo de compreender essas transformações, este capítulo traz um resgate histórico da Universidade brasileira, além do panorama do ensino superior nos últimos anos.

4.1- UNIVERSIDADE NO BRASIL

O ensino superior no Brasil e as primeiras Universidades datam do início do Século XX. Comparadas com as primeiras instituições que se tem registro como Bolonha e Salamanca, as Universidades brasileiras são recentes.

De acordo com Morhy (2004), até o ano de 1900 não existiam mais do que 24 instituições que promoviam o ensino superior, enquanto na Europa as primeiras Universidades completavam 700 anos, no caso da Universidade de Bolonha.

A primeira instituição de ensino superior do Brasil foi a Escola de Cirurgia do Hospital Real Militar, fundada na Bahia em 1808 com a vinda da família real. Seu fundador foi D. João VI, que nesta mesma época fundou uma instituição similar no Rio de Janeiro. Nos anos que se seguiram, principalmente após a Independência, outras instituições de ensino superior em áreas como Medicina, Leis, Engenharias e Belas Artes foram estabelecidas nas principais cidades brasileiras.

Ainda segundo Morhy (2004), desde o Brasil colônia houve várias tentativas de implantação de escolas superiores. A primeira que obteve sucesso, mesmo que por pouco tempo foi a Universidade do Paraná criada pela Lei Estadual Nº 1.284 de 1912. Após três anos de sua fundação, a Universidade do Paraná teve que ser fechada, pois a lei exigia que a instituição deveria estar situada em uma cidade de no mínimo 100.000 mil habitantes. Esta exigência não era compatível na época com Curitiba, cidade sede da Universidade do Paraná. Além desta iniciativa se tem o registro também da criação da Escola Livre de Manáos em 1913, mas que funcionava como ensino privado.

A Universidade reconhecida como a primeira instituição de ensino superior brasileira é a Universidade do Rio de Janeiro que foi formada pela união de escolas isoladas. No início do Século passado, as escolas isoladas (Faculdade de Medicina, escola Politécnica e Faculdade de Direito) uniram-se em torno de um órgão de administração central, que por sua vez originou em 1920 a Universidade.

No período que se sucedeu até a década de 50, foram criadas várias outras Universidades públicas, entre elas a Universidade de São Paulo - USP, fundada em 1934 e que se tornou oficialmente, a primeira Universidade brasileira a atender as normas estabelecidas pelo Estatuto das Universidades.

Nascia então a USP sob o espírito da mudança pedagógica e da filosofia da educação social- radical e a sua ação influenciou muito o sistema educacional paulista e brasileiro (MORHY, 2004 , p. 28).

Segundo Almeida filho (2008), naquele momento existia no Brasil dois modelos distintos de Universidade, um espelhado no modelo de Universidade europeu representado pela USP e outro que propunha

uma Universidade com identidade nacional, representado pela Universidade do Distrito Federal (UDF). Destes dois modelos prevaleceu no Brasil o que era representado pela USP.

Mas a história oficial diz que a primeira Universidade brasileira, enquanto projeto acadêmico e institucional pleno, surgiu na década de 30 do Século passado. Competiram, naquele momento, dois modelos distintos de Universidade: um foi vitorioso e o outro foi reprimido. Venceu o modelo da Universidade de São Paulo (USP), que trazia uma matriz de Universidades européias tradicionais para a implantação de um símile institucional, com inegável dinamismo próprio. O que perdeu foi o modelo da Universidade do Distrito Federal (UDF) – que propunha uma Universidade com identidade nacional, na visão dos representantes intelectuais da geração modernista (ALMEIDA FILHO, 2008, p. 132). Segundo Hey & Catani (2006), fundada em 1934, a Universidade de São Paulo foi estabelecida com o intuito de formar uma elite dirigente dotada de altos conhecimentos culturais, científicos, literários e artísticos, além de ser a primeira instituição a seguir os padrões brasileiros do que seria e queria em uma Universidade. A comissão responsável por sua elaboração era constituída por Júlio de Mesquita Filho (presidente) e Fernando Azevedo (relator), que defendiam a fundação da USP estruturada sob quatro pilares:

1) Promover pela pesquisa, o progresso da ciência;

2) Transmitir, pelo ensino, conhecimento que enriqueçam ou desenvolvam o espírito, ou seja, úteis à vida;

3) Formar especialistas em todos os ramos da cultura, e técnicos e profissionais em todas as profissões de base científica ou artística;

4) Realizar a obra social das ciências, das letras e das artes, por meio de cursos sintéticos, conferências, palestras, difusão pelo rádio, filmes científicos e congêneres.

Ainda de acordo com Hey & Catani (2006), a instituição foi criada pela aglutinação de dez unidades de ensino e pesquisa, destas, sete já existiam e três foram criadas, sendo elas: Faculdade de Direito (1827), Faculdade de Medicina (1913), Faculdade de Farmácia e Odontologia (1899), Escola Politécnica (1894), Instituto de Educação (1933), Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1934), Instituto de Ciências Econômicas e Comerciais (1946), Escola de Medicina Veterinária (1928), Escola Superior de Agricultura (1899) e Escola de Belas Artes.

Neste momento a então criada e instalada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) representava a concepção de seus fundadores, sendo entendida como instituição que deveria conter todas as virtudes que eram atribuídas à Universidade como um todo, qual seja, o lugar de refúgio do espírito crítico e objetivo, do universal, da cultura livre e desinteressada. Ela era entendida como o local adequado onde seriam formados os novos quadros de dirigentes capazes de ultrapassar a visão profissional e a técnica restrita que caracterizavam os cursos superiores dominantes até então (HEY, CATANI, 2006,p. 300).

Esse ideal levantado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - FFCL, desde seu princípio, entrou em conflito com as escolas tradicionais como Direito, Engenharia e Medicina, pois estas visavam uma formação profissional. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras deveria ser uma espécie de Universidade dentro da própria Universidade e garantir as demais faculdades, escolas e institutos os novos padrões de ensino e pesquisa, bem como realizar a integração dos cursos e das

atividades acadêmicas em toda a USP. Segundo Hey e Catani (2006), para a instalação desta faculdade foram contratados da Europa professores para implantarem e iniciarem os cursos, destes 5 (cinco) eram alemães, 7 (sete) franceses, 6 (seis) italianos, 1 (um) português e 1(um) espanhol e entre eles estava Claude Lévi-Strauss.

Segundo Paula (2009), dos modelos de Universidade instituídos a partir do Século XVIII na Europa, o que mais se assemelha com a USP em sua formação é o modelo alemão5, embora se tenha também aspectos do modelo francês6. Dentre os diversos aspectos apontados pela autora e que remetem a esta aproximação com o modelo alemão, são destaques:

1) A preocupação fundamental com a pesquisa e com a unidade entre ensino e investigação científica;

2) Ênfase na formação geral e humanista;

3) Autonomia relativa da Universidade diante do Estado e dos poderes políticos;

4) Concepção idealista e não-pragmática de Universidade, em detrimento da concepção de Universidade como prestadora de serviços ao mercado e à sociedade;

5) Concepção liberal e elitista de Universidade;

6) Estreita ligação entre a formação das elites dirigentes e a questão da nacionalidade.

Diferentemente do modelo alemão em que a pesquisa e o ensino são indissociáveis, no modelo francês a pesquisa não é tarefa primordial, sendo assim, neste modelo, existem Universidades com dedicação ao

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