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CAPÍTULO 3: A POLÍTICA DA UFPB PARA OS CURSOS DE FORMAÇÃO DE

3.1 A Universidade Federal da Paraíba: Um pouco da sua História

Nos seus mais de 50 anos de existência, a UFPB vem desenvolvendo sua vocação de instituição pública de ensino, pesquisa e extensão, visando à formação de profissionais requeridos pela sociedade da qual é parte. Essa relação entre universidade e sociedade condiciona a sua estrutura, sua organização e objetivos, assim como também sua estreita relação com um projeto de país. A política de formação dos educadores na universidade está, pois, condicionada a um projeto de sociedade e é nessa perspectiva que procuramos compreendê-la.

A segunda metade dos anos 1990 é denominada pelos estudiosos como uma era de extremos (HOBSBAWN, 1995) e de globalização (SANTOS, 2004). A política de formação dos educadores e a própria universidade deverão ser compreendidas dentro desse contexto de globalização visando desvendar, por um lado, a relação de políticas institucionais com o mercado e por outro, as implicações dessa relação para compreender as contradições que emergem das maneiras como a universidade - porquanto instituição social e comprometida com um projeto contra-hegemônico - responde aos apelos da sociedade da qual faz parte. Sendo assim, ao revelar essas relações entre educação e mercado, a universidade pode melhor vir a contribuir para um projeto emancipatório de sociedade e, por extensão, para promover uma globalização contra-hegemônica, como sugere Santos (2004, p.55): “o único modo, eficaz e emancipatório, de enfrentar a globalização neoliberal, é contrapor-lhe uma globalização alternativa, uma globalização contra-hegemônica. Globalização contra-hegemônica da universidade compreendida como bem público”.

A tese que aqui apresentamos tenta dar conta desse desafio de explicar como uma instituição universitária, a UFPB (Figura 1) no caso, mobiliza-se para encontrar alternativas àquele contexto hegemônico acima definido.

Criada em 1955 pela Lei Estadual nº 1.366, de 04/12/1955, no governo de José Américo de Almeida, sob o nome de Universidade da Paraíba, a universidade reuniu quatro faculdades: Faculdade de Filosofia da Paraíba, Faculdade de Medicina da Paraíba, Escola Politécnica da Paraíba e Escola de Enfermagem da Paraíba; e agregou outras cinco (Faculdade de Direito da Paraíba, Faculdade de Ciências Econômicas da Paraíba, Escola de Enfermagem, Escola de Engenharia da Paraíba e Escola de Serviço Social da Paraíba).

Sua história inscreve-se em momentos importantes da vida política do país. A UFPB foi federalizada e regulamentada pela Lei 3.835, de 13/12/1960, no governo Juscelino Kubitscheck, e incorporou mais três faculdades: Faculdade de Odontologia da Paraíba, Faculdade de Farmácia da Paraíba e Faculdade de Ciências Econômicas de Campina Grande. Estava assim definida sua configuração multilocalizada, em diferentes municípios do Estado.

Após o Golpe de Estado de 1964, essa estrutura formada por faculdades foi transformada por imposição da Lei 5.540/68 da Reforma Universitária; segundo as determinações dessa lei, as universidades brasileiras reformularam suas estruturas administrativas e curriculares, implantando Centros e Departamentos, quando a UFPB passou a ter uma estrutura multicampi. No período selecionado para este estudo, centros e departamentos e também cursos estavam localizados no litoral, no agreste, no sertão e no brejo do estado, enquanto as sedes foram instaladas, uma em João Pessoa, capital do estado da Paraíba, e a outra em Campina Grande; expandindo-se, posteriormente, pelas várias regiões da Paraíba. Em 2000, a UFPB contava com um total de sete campi: João Pessoa (Campus I), Campina Grande (Campus II), Areia (Campus III), Bananeiras (Campus IV), Cajazeiras (Campus V), Souza (Campus VI) e Patos (Campus VII).

Essa estrutura multicampi, em que a distância entre a sede e um dos campi mais afastados -Campus V, chegava a ser de quase 500 quilômetros, tornou mais difícil a integração administrativa. Esta situação era minimizada apenas pelo esforço desenvolvido por sua comunidade acadêmica para garantir um espaço comum para uma ação integrada, como aquele para discussão da avaliação e da reformulação curricular, bem como pela

participação coletiva nos mais variados debates acadêmico-profissionais. A administração central desenvolveu uma estratégia de gestão para contemplar a diversidade de cursos e a estrutura multicampi que foi expandida principalmente durante o reitorado do Professor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, na segunda metade da década de 1970.

A vocação para o debate é uma característica própria da instituição, demonstrada especialmente na década de 1980, quando da participação nos encontros para a reformulação dos cursos de formação do educador. Na década de 1990, esse movimento se intensifica com o debate da Avaliação Institucional, das Oficinas de Currículo, dos Encontros de Licenciatura (PROLICEN/UFPB), dos Seminários de Diretrizes Curriculares além da sua participação em outros eventos locais, estaduais, regionais e nacionais.

Em 1993, a UFPB contava com 15 centros, 66 cursos de graduação, dos quais 24 eram de licenciatura. Um desses cursos, o de Ciências de 1º Grau da UFPB, foi extinto no ano de 1996, acatando a recomendação do GT Licenciatura, que por sua vez atendia às sugestões do CONARCFE - que em seu primeiro Encontro Nacional, em 1983, já recomendava a eliminação das licenciaturas curtas no prazo de 3 anos (Documento do I Encontro, 1983, p. 6).

Ao delimitar o nosso objeto de estudo, procuramos mapear as ações desenvolvidas pela UFPB, no período pesquisado, para atender às demandas de formar profissionais comprometidos com uma educação de qualidade, considerando a sua estrutura multicampi e os objetivos de sua política institucional. Essa estrutura veio a ser modificada, no início do século XXI, pela divisão dos seus campi, entre esta e a recém-criada Universidade Federal de Campina Grande - UFCG.

Isto se deu em 2001, ou seja, a UFPB foi reestruturada, transformando-se em duas universidades (UFPB e UFCG). Em decorrência dessa mudança, restringimos a nossa atenção para aquela parte da Universidade, atualmente denominada de UFPB - sem descuidar da história da instituição. Sendo assim, consideramos para o estudo, os cursos de licenciatura que permanecem na UFPB conforme sua configuração atual, deixando de fora os que, no desmembramento, ficaram com a UFCG. Nesse sentido, selecionamos cinco cursos de licenciatura pertencentes a dois campi: Campus I (João Pessoa) e Campus III (Bananeiras). O Campus II (Areia) não foi selecionado por não abrigar cursos de licenciatura.

Figura III – Os três Campi da UFPB 2001.

O campus I está situado na capital do estado - João Pessoa - cidade do litoral paraibano que tem uma área de 209,9 Km2 e 595.429 habitantes42. Esse Campus é composto por 1.472 professores, 17.130 alunos de graduação, 1.650 alunos de pós- graduação e 3.710 funcionários, contando com 7 centros e 34 cursos de graduação (UFPB, 2005): Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN); Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA); Centro de Ciências da Saúde (CCS); Centro de Educação (CE); Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA); Centro de Ciências Jurídicas (CCJ); Centro de Tecnologia (CT).

O Campus III, situado na cidade de Bananeiras, brejo paraibano, tem uma área de 272,6 Km2 e 21.800 habitantes43. Esse Campus é composto por 39 professores, 382 alunos

de graduação, 44 alunos de pós-graduação e 165 funcionários; conta com dois centros e dois cursos de graduação, dos quais um é de licenciatura.

Esses cursos oferecem vagas para um número crescente de estudantes, respondendo a uma demanda que foi ampliada, no geral, com a implantação do PEC - Programa Estudante Convênio. Os resultados são apresentados (ANEXO I) e representados no seguinte conjunto de figuras.

O Gráfico I embora referente à UFPB, mostra três momentos diferenciados que marcaram as licenciaturas no país. O primeiro momento mostra um declínio da matrícula de

42 Fonte UFPB: 2005, disponível em http://www.ufpb.br 43 Fonte UFPB, 2005, disponível em http://www.ufpb.br

estudantes nos cursos de licenciatura até o ano de 1995, sendo este um ano atípico, com grande evasão e que coincide com o momento em que, no intuito de reduzir gastos, o Governo Federal corta, ainda mais, as verbas para a Educação. O segundo momento retrata a criação do PROLICEN/MEC - que tinha como objetivo “apoiar ações que evidenciem o comprometimento das instituições públicas de ensino superior na implementação de políticas.” (BRASIL/MEC/SESu, 1994, p. 15) - apresentando um crescimento das matrículas (1996-2000), conforme reivindicação dos movimentos sociais organizados que cobravam melhoria na qualidade da educação e atendimento ao Plano Decenal de Educação para Todos. Essa cobrança foi, posteriormente, regulamentada pela LDBEN nº 9394/9644, constituindo uma das bandeiras de luta da ANFOPE, FORGRAD e FORUMDIR pela qualidade desses cursos. Ressaltamos a contribuição do PEC-RP para o aumento das vagas nos cursos de licenciatura da UFPB. O terceiro momento (2000-2006) apresenta um fenômeno interessante: ao lado de um acentuado declínio nas matrículas dos cursos dos centros CCHLA, CCEN e CCS, registra-se um aumento de matrículas no CE e no CFT. Tendemos a deduzir que esse aumento deveu-se à grande procura de um contingente de professores leigos das séries iniciais do ensino fundamental em busca de se capacitarem, tendo em vista as exigências da LDBEN.

44 Art. 87, parágrafo 4º “ Até o final da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados

Evoluçao das matriculas nos cursos de Licenciatura por Centro - 1993 a 2006 CCS CE CFT CCEN CCHLA 0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2006 Anos A lu no s M at ri cu la do s

Gráfico I – Evolução das matrículas dos Cursos de Licenciatura por Centro. Fonte dos dados - UFPB/NTI – 2006 (organizado pela autora)

Observa-se (Gráfico II), uma surpreendente queda no número de alunos matriculados nos cursos de licenciatura, principalmente dos alunos que entraram pelo PEC- RP e um aumento de matrículas nos demais cursos de graduação, no período de 2000-2006. Este achado, presumimos, informa que a demanda tenha talvez diminuído de fato. Há que se perguntar, no entanto, sobre o que fizeram as Secretarias de Educação dos municípios com os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF): preferiram usá-los em outra instituição ou em cursos de menor tempo de duração?45. A esse respeito, nosso participante (PH6) confirma: “o pessoal está

abandonando a (universidade) pública e está indo para a UVA fazer o curso mais rápido [...]o cara tem 500 horas valendo por mil”.

45 o convênio UFPB e Secretarias de Educação (Estadual e Municipais) prevê uma bolsa de estudos para o

aluno do PEC-RP/professor da educação básica no valor de meio salário mínimo. Valor esse que fez com que muitas secretarias optassem em repassar os recursos do FUNDEF para as faculdades que ofereciam o curso Normal Superior, a exemplo da Universidade do Vale do Acaraú (UVA).

Comparativo entre a evoluçao do total de alunos matriculados na UFPB, dos Cursos de Licenciatura e do PEC PEC UFPB Licenciatura 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 11000 12000 13000 14000 15000 16000 17000 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2006 Anos N um er o de a lu no s m at ri cu la do s

Gráfico II – Comparativo entre a evolução do total de alunos matriculados na UFPB, dos cursos de Licenciatura e do PEC.1993 – 2006.

Fonte dos dados - UFPB/NTI – 2006 (organizado pela autora)

Evidencia-se uma redução no número de alunos do PEC-RP em todos os Centros da UFPB (Gráfico III).

Evoluçao dos alunos matriculados no PEC por Centro - 1998 a 2006

CCHLA CCEN CCS CE CFT -10 40 90 140 190 240 290 340 390 440 1998 1999 2000 2006 Anos N um er o de a lu no s m at ri cu la do s

Gráfico III – Evolução dos alunos matriculados no PEC/RP, por Centro,1998 – 2006. Fonte dos dados - UFPB/NTI – 2006 (organizado pela autora).

Distribuiçao de cursos na UFPB - 2006 Licenciatura 27% Outros Cursos 71% PEC 2%

Distribuiçao de cursos na UFPB - 1998 a 2000

Licenciatura 36% Outros Cursos 59% PEC 5%

Gráfico IV – IV A – Distribuição de Cursos na UFPB – 1998 -2000 – IV B Distribuição de Cursos na UFPB no ano 2006. Fonte dos dados - UFPB/NTI – 2006 (organização da autora).

Conforme demonstra o Gráfico IV A, houve um aumento de alunos matriculados no PEC-RP e, conseqüentemente, um crescimento da matrícula nos cursos de licenciatura, enquanto no Gráfico IV B demonstra que há uma diminuição de alunos matriculados no PEC-RP, no ano de 2006. Em relatório de seminário recente de avaliação do PEC-RP, realizado em junho de 2006, a UFPB discute os aspectos administrativos e pedagógicos desse instrumento da política institucional, enumerando entre as dificuldades encontradas a redução do número de secretarias municipais conveniadas. Enquanto intenta encontrar explicações para o fenômeno, a UFPB resolveu sustar, por um ano, o processo seletivo para esse programa. Estes dados estão a requerer, no futuro, um estudo mais aprofundado.