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CAPÍTULO 2: POLÍTICAS EDUCACIONAIS E O ESTADO

2.4 O movimento dos educadores e a luta pela política de Formação

O movimento dos educadores está organizado em torno de entidades representativas dos diferentes segmentos da educação, tais como: ANFOPE, Fórum de Diretores de Faculdades/ Centros de Educação (FORUMDIR), Associação Nacional de Pesquisa em Educação (ANPED), Associação Nacional de Pesquisa em Administração Escolar (ANPAE), Fórum Nacional em defesa da Escola Pública (FNDEP) e Congresso Nacional de Educação (CONED). Estas entidades vêm participando ativamente de todos os debates e audiências públicas referentes à formação dos professores para as quais foram convidadas pelos órgãos do MEC ou pelo CNE, ou ainda, quando solicitadas por outras instituições acadêmicas e sindicais, contribuindo com a socialização dos debates, com a produção de conhecimentos e divulgação das pesquisas sobre o tema.

A ANFOPE, por conta do seu caráter político-acadêmico, “defende a política global de formação dos profissionais da educação - formação inicial, formação continuada, condições de trabalho, salário e carreira” (ANFOPE, 2000); evem, desde a década de 1980, acompanhando e se posicionando sobre a política de formação de professores. O movimento liderado por essa associação sempre defendeu a formação da pedagogia com as demais licenciaturas. No seu 1º Encontro Nacional, em 1983, quando ainda se denominava CONARCFE, a ANFOPE já atuava em defesa da garantia da qualidade da educação em todas as instâncias e em todos os níveis.

Preocupada com a ausência da normatização dos resultados dos seminários sobre a “Reformulação dos Cursos de Preparação de Recursos Humanos para a Educação” promovidos pela SESu/MEC em 1980 e 1983, a ANFOPE proporcionou o debate promovendo vários encontros para discutir a formação dos profissionais da educação em todos os níveis. Conseqüentemente, já no 1º Encontro, aprova os Princípios Gerais e a Base Comum Nacional (BCN), além de indicar essa base para todas as licenciaturas:

A base comum nacional dos Cursos de Formação de Educadores não deve ser concebida como um currículo mínimo ou um elenco de disciplinas, e sim como uma concepção básica de formação do educador e a definição de um corpo de conhecimento fundamental. Todas as licenciaturas (pedagogia e demais licenciaturas) deverão ter uma base comum: são todos professores. A docência constitui a base da identidade profissional de todo educador. (ANFOPE/ CONARCFE, 1983, p. 4)

Como decisão do encontro, sai uma recomendação, ainda em 1983, ao CFE e ao MEC, de que “antes de implantar qualquer normalização referente às licenciaturas e à reforma do ensino, antecipadamente o comunique à Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador” (CONARCFE, idem, p.8).

Entre os temas mais debatidos pela entidade destacam-se: a valorização e profissionalização do magistério, as reformulações curriculares dos cursos de licenciaturas, a base comum nacional para todos os cursos e orientação para as diretrizes curriculares propostas pela LDBEN.

No seu percurso - em defesa da formação dos profissionais de educação, seu objetivo maior - a ANFOPE produziu várias contribuições a respeito da temática, que foram socializadas durante os doze Encontros Nacionais, sete seminários nacionais em conjunto com o FORUMDIR e em diversos Encontros estaduais e regionais desde 1983 até os dias de hoje, quando reafirma e aprofunda os seus Princípios Básicos39 para os cursos de

formação dos profissionais de Educação.

A ANFOPE é, na atualidade, referência nacional para as políticas de formação, como é percebido nos projetos de Reformulação Curricular dos cursos de Licenciatura e, mais recentemente, na elaboração dos PPPs desses cursos:

A ANFOPE, entidade de caráter político-acadêmico, vem desempenhando, reconhecidamente, uma atuação fundamental no debate e análise de políticas públicas e na construção-proposição de um projeto político-pedagógico no campo educacional, formulado pelos educadores das diversas regiões do país, cuja finalidade é uma educação para todos, com qualidade socialmente referendada e norteada por valores democráticos (universalidade, dignidade, respeito, justiça, honestidade e questionamento permanente do instituído). (ANFOPE, 2004 p. 6)

Essa qualidade institucional da ANFOPE é reconhecida nas discussões que nos grupos focais resgatam o papel da Associação e as polêmicas que emergem das suas relações com o MEC:

A ANFOPE é uma entidade muito forte e ela tem conceitos, princípios sólidos em defesa dos profissionais de educação, uma história muito bonita. Eu acho que a ANFOPE tem a crescer muito, e o que está precisando hoje é que nós, a ANFOPE, de um modo geral, criarmos o nosso conselho, um conselho nacional de profissionais de educação que seja instituído pela Câmara dos Deputados (EC3).

39 Ver detalhadamente Princípios Básicos no documento produzido no XII Encontro Nacional da ANFOPE,

A avaliação sobre o trabalho da ANFOPE a localiza em dois momentos, internos à instituição e externos a ela:

Coloca as discussões, articula, promove encontros articulados com outras associações e categorias da educação. Agora há também crítica à ANFOPE, porque ela só cuida da formação, não cuida da profissionalização, essa questão do salário, e as questões maiores, do magistério, que não é só a docência, tem que discutir a formação orientada dos profissionais do magistério. Enquanto discute a formação tudo bem, é uma forma de conscientizar a política real e a política que está sendo imposta e esta sendo articulada aí. Mas eu acho que já como entidade que discute essa política, que avalia, que coloca elementos para o curso de formação eu acho que já é uma construção e inclusive tem conseguido frear alguns absurdos dentro da legislação aprovada, dentro da mobilização da ANFOPE, inclusive a não-extinção por inanição de cursos de pedagogia, porque se não, se deixa aquele decreto como ele saiu, coerente com a LDB, pedagogia por inanição um dia iria se acabar, porque quem iria ter interesse de fazer habilitação só se não tem espaço pra contrato, pra atuação profissional.(EACCP.)