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FREQUENTAM A INSTITUIÇÃO

7. A VALIAÇÃO DE PRODUTO

Tal como já foi referido anteriormente, a avaliação do produto tem como intenção perceber que mudanças ocorreram no contexto e em que medida é que essas transformações constituem uma resposta às necessidades identificadas. Este é um momento em que tanto o investigador como os participantes devem discutir e refletir sobre até que ponto é que aquilo a que se propuseram foi alcançado.

Desta forma, esta reflexão inicia-se fazendo referência às ações desenvolvidas, na medida em que estas, de uma forma geral, corresponderam aos problemas e necessidades identificadas na avaliação do contexto. Desta afirmação excetuo o problema nº5, que correspondia à ausência de acompanhamento e de participação por parte da equipa técnica nas dinâmicas da instituição. Devido à falta de disponibilidade por parte das técnicas da instituição e, posteriormente, do coordenador, não existiu a possibilidade de se trabalharem as necessidades decorrentes deste problema.

Para além das ações, que foram sendo avaliadas ao longo do processo e que agora também irão ser alvo de reflexão, no âmbito desta avaliação de produto, foi ainda realizada uma atividade em todas as salas de CAO. Nesta atividade participaram as pessoas com deficiência, desenhando em cartolinas um sol e uma nuvem, para cada uma das salas de CAO. Posteriormente, os auxiliares de cada sala escreveram no sol os pontos positivos e o que melhorou na instituição com o desenvolvimento deste projeto e, na nuvem, mencionaram os aspetos menos positivos e que poderiam ter sido diferentes (Apêndice U). Realça-se que os resultados obtidos e a concretização dos objetivos definidos, quando referidos aos “auxiliares”, abrangem apenas os funcionários do CAO, ou seja oito pessoas, pois foi esse grupo de profissionais que foram os participantes no projeto, juntamente com as pessoas com deficiência intelectual que frequenta o CAO.

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Assim, a Ação 1, “Não vamos intrigar, vamos partilhar”, respondeu ao OG1

“Promover uma melhor interação entre os colaboradores e fomentar um melhor e mais eficaz trabalho em equipa”, na medida em que os auxiliares conseguiram melhorar os processos de comunicação entre eles e com o coordenador, havendo mais entreajuda e consideração pelos colegas nas tomadas de decisão. Salienta-se que na avaliação de produto foram mencionados três aspetos que evidenciam esta melhoria nas relações entre os colaboradores: uma das colaboradoras escreveu “melhor relação com o coordenador”; outra referiu que “o coordenador mudou a postura para melhor (fala melhor)”, e outra auxiliar escreveu que “dou-me melhor com todos os colegas”. Considera-se então que o OG1 e os objetivos específicos OE1.1, OE1.2 e OE1.3 foram alcançados e que os resultados obtidos a partir daí, ao nível da melhoria dos processos de comunicação e do trabalho em equipa, continuam a existir até à atualidade e deverão continuar posteriormente. No que diz respeito à postura do coordenador na relação com os auxiliares e ao estilo de comunicação utilizada, os auxiliares afirmam ter havido uma diferença notória, pela positiva, e que tem persistido ao longo do tempo até à atualidade. Para além disto, os processos de comunicação entre auxiliares melhoraram significativamente, como foi possível verificar através da observação participante, o que levou a que se desenvolvesse um espírito de equipa e entreajuda profissional entre estes, que os leva a referir que desta forma o trabalho desenvolvido é mais agradável e tem melhores resultados. Desta forma, espera-se que a concretização destes objetivos perdure no tempo, pois proporciona um maior bem-estar a estes auxiliares no local de trabalho e faz com que as tarefas e obrigações sejam levadas a cabo de forma mais eficaz.

Relativamente à Ação 2, “Na pele do outro”, com a qual era pretendido dar resposta ao OG2 “Melhorar as interações entre as pessoas com deficiência e os auxiliares e, promover um funcionamento mais eficaz do CAO”, considera-se que este foi alcançado, uma vez que os auxiliares começaram a perceber melhor as particularidades e os direitos das pessoas com deficiência, o que fez

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com que os comportamentos desadequados que tinham para com estes diminuíssem drasticamente. Uma das frases escritas durante a atividade para avaliação de produto denota isto mesmo, pois refere que “Há funcionários que agora têm mais cuidado a falar para os meninos” (Apêndice U). Através da observação participante, verificou-se que os auxiliares passaram a comunicar de forma mais calma com as pessoas com deficiência e sem comentários desagradáveis, respeitando-os enquanto pessoas. Para além disto, esta ação ainda conseguiu responder ao OE2.3, que dizia respeito a

“Promover a autonomia das pessoas com deficiência na realização de tarefas nas salas de CAO e permitir que participem ativamente em todas as atividades”, de tal forma que os conhecimentos adquiridos pelos auxiliares sobre as capacidades destas pessoas fizeram com que lhes dessem mais autonomia e passassem a respeitar os seus trabalhos. Muitas das pessoas que frequentam o CAO começaram a confecionar artigos, sozinhas, para venda na instituição e a ensinarem os colegas e fazê-los, como por exemplo pulseiras de elásticos e bases de cozinha feitas a partir de tecido. Para além disto, através da observação participante, foi possível verificar que algumas pessoas nas salas de CAO começaram a realizar trabalhos da sala de forma autónoma, sem a supervisão de auxiliares.

No que diz respeito à última ação “O que eu gosto de fazer na instituição”, esta tinha como intenção também responder ao OG2, como referi anteriormente, considera-se que foi alcançado, na medida em que a postura dos auxiliares, em relação às pessoas com deficiência intelectual, mudou significativamente. Através de conversas intencionais e, essencialmente, da observação participante, observou-se a diminuição dos comportamentos e atitudes desadequadas relativamente a estas pessoas. Estes auxiliares passaram a dar a oportunidade às pessoas para terem mais autonomia e participarem efetivamente nas tarefas e atividades desenvolvidas nas salas de CAO. Uma das auxiliares refere que um dos pontos positivos desta intervenção na instituição diz respeito a “Percebi que os meninos é que têm de fazer as tarefas” (Apêndice U), o que demonstra que as pessoas com

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deficiência passaram a ser vistas como alguém com capacidades que devem ser respeitadas, independentemente daquilo que nós consideramos agradável ou não. Os aspetos referidos anteriormente, em relação à autonomia das pessoas com deficiência, vêm ao encontro dos resultados obtidos através desta ação.

Tendo em conta que este exercício de avaliação era também constituído por uma “nuvem”, importa refletir sobre os aspetos que estes auxiliares consideraram como negativos. Assim sendo, referem que “o coordenador acha que andamos a fazer «queixinhas»”, o que denota, que, apesar das dinâmicas (inter)relacionais apresentarem melhorias, este coordenador ainda confronta os funcionários com perguntas acerca do que foi dito no âmbito do desenvolvimento deste projeto. Este comportamento pode significar algum receio por parte deste coordenador de estar a ser avaliado pelos auxiliares.

Isto reforça ainda mais a conceção de que era extremamente necessário que este técnico tivesse participado mais durante desenvolvimento do projeto, de forma a que fossem alcançados os objetivos definidos por várias pessoas da apropriassem mais facilmente das mensagens a passar. Ainda nesta linha de pensamento, um funcionário afirma que “Não deu para fazer muita coisa”.

Enquanto investigadora, penso que o que foi desenvolvido representa uma mais-valia para a instituição, embora a finalidade do projeto: “Melhorar as dinâmicas relacionais e de funcionamento existentes na instituição, de forma a proporcionar um maior bem-estar físico e psicológico das pessoas com deficiência que trabalham, vivem e/ou frequentam a instituição”, não tenha sido completamente alcançada. Apesar de o relacionamento entre auxiliares ter apresentado melhorias que se refletiram num melhor funcionamento em equipa entre estes, as dinâmicas relacionais não foram trabalhadas na sua

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totalidade. Devido aos constrangimentos que foram surgindo, não houve oportunidade para trabalhar com a equipa técnica, o que representa uma falha no desenvolvimento do projeto. Neste seguimento, um auxiliar refere que “Esta instituição não está preparada para uma intervenção destas”, no sentido em que os técnicos não encaram de forma positiva a perspetiva de mudança. Embora não tenha sido possível trabalhar com toda a equipa técnica as dinâmicas relacionais, deve-se valorizar o facto de, em termos dos processos de comunicação, ter havido um esforço e ocorrido mudança, por parte do coordenador, passando a comunicar com os auxiliares de forma mais cordial.

Apesar de a maior parte dos objetivos terem sido concretizados, não é possível afirmar, com certeza, que o bem-estar físico e psicológico das pessoas com deficiência foi melhorado, tal como se propôs na finalidade. Por bem-estar entende-se “termo geral que engloba o universo total dos domínios da vida humana, incluindo os aspetos físicos, mentais e sociais, que compõem o que pode ser chamado de uma «vida boa»” (OMS, 2004, p. 185).

Neste sentido, podemos afirmar que o bem-estar físico e psicológico não foi avaliado antes do desenvolvimento deste projeto, pelo que se torna difícil afirmar que houve uma melhoria. Contudo, o aumento da autonomia destas pessoas nas salas de CAO, o desenvolvimento de competências como a confeção de artigos para a venda, a mudança de postura dos auxiliares para com estas pessoas, constituem elementos que nos levam a crer que, a partir do desenvolvimento do projeto, se melhorou o bem-estar tanto a nível psicológico como social das pessoas com deficiência. Apesar de este bem-estar não ter sido avaliado, através de métodos rigorosos/científicos, o mesmo é visível nas pessoas que vivem e/ou frequentam a instituição, através da suas expressões, demonstrando estarem mais felizes na instituição, e pelo testemunho dos auxiliares que referem isto mesmo.

Sendo este um projeto de educação social, a finalidade proposta é composta por alguma utopia, de tal forma que a sua concretização plena exigiria que o período temporal de desenvolvimento do projeto fosse mais

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longo. No entanto, para além de um período mais alargado, considera-se que, para a finalidade ser alcançada, seria crucial que a equipa técnica tivesse uma participação efetiva no desenvolvimento do projeto, trazendo novas ideias, opiniões e de tal forma que se trabalhasse em conjunto com todos os profissionais da instituição e pessoas com deficiência, para que as dinâmicas relacionais fossem melhoradas, assim como o funcionamento da instituição.

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