• Nenhum resultado encontrado

A Variação dos Valores dos Benefícios Previdenciários

1. A PREVIDÊNCIA SOCIAL E O ENVELHECIMENTO

2.3. A Variação dos Valores dos Benefícios Previdenciários

Previdenciários

Como primeiro dado comparativo, relacionei os salários- mínimos de 2004 a 2008, a fim de que pudéssemos tomar por base referidos valores e seus percentuais de aumento. Vejamos a seguir:

TABELA I

Tabela do Salário Mínimo

Data Valor Percentual de aumento

01/05/04 R$ 260,00 0,0% 01/05/05 R$ 300,00 15,4% 01/04/06 R$ 350,00 16,6% 01/04/07 R$ 380,00 8,5% 01/03/08 R$ 415,00 9,2% Total 49,7%

Para os aposentados pelo Regime Geral – INSS – foram passados os seguintes valores de reajustes de aposentadoria, conforme podemos verificar na tabela seguinte.

TABELA II

Regime Geral

Período Valor médio mensal Percentual de aumento

2004 R$ 1.326,50 0,0% 2005 R$ 1.409,63 6,2% 2006 R$ 1.484,66 5,3% 2007 R$ 1.541,88 3,8% 2008 R$ 1.580,00 2,4% Total 17,7%

Diante dos valores apresentados, podemos verificar uma consideração importante realizada por um dos entrevistados.

Homem 1 – “Sempre contribui sobre o máximo, dez

salários, e agora na hora de receber meus valores não chegam perto disso!”.

A indignação por esta situação é comum e não atinge somente um ou outro, mas todos que contribuíram durante muito tempo.

Outro entrevistado apresentou um problema diferente.

Homem 2 – “Me aposentei mal. Contribuía sobre o

máximo durante um bom tempo, mas antes de aposentar tive que diminuir minha contribuição e o meu benefício ficou pequeno”.

No caso deste senhor foi utilizada a média dos três últimos anos de contribuição, por isso este se prejudicou e seu benefício diminuiu.

Antes se falava que a pessoa havia contribuído a vida inteira, hoje depois do tempo destinado à contribuição, ao trabalho, encontramos um tempo cada vez maior de vida. O Indivíduo contribui por 35 anos, mas viverá ainda muitos outros.

Ao fazer uma comparação dos valores recebidos entre 2004 a 2008 por aposentado do Regime Geral (INSS) com o salário- mínimo correspondente, encontramos os seguintes dados:

TABELA III

Regime Geral X Salário Mínimo

Período Aposentadoria Salário-mínimo Quantidade de SM

2004 R$ 1.326,50 R$260,00 5,1

2005 R$ 1.409,63 R$300,00 4,6

2006 R$ 1.484,66 R$350,00 4,2

2007 R$ 1.541,88 R$380,00 4,0

2008 R$ 1.580,00 R$415,00 3,8

Da mesma maneira, foi possível levantar os valores recebidos de aposentadoria por segurado do Regime Próprio, os dados serão expostos a seguir:

TABELA IV

Regime Próprio

Período Valor médio recebido Percentual de aumento

2004 R$ 1.342,25 0,0% 2005 R$ 1.409,49 5,0% 2006 R$ 1.642,89 16,5% 2007 R$ 1.813,56 10,3% 2008 R$ 1.984,24 9,4% Total 41,2%

Efetuando a comparação entre os reajustes dos benefícios de aposentadoria do Regime Geral e do Regime Próprio, constatamos que o primeiro, no intervalo de 2004 a 2008, teve um total de reajustes de 17,7% (Tabela II), ao passo que os beneficiários do Regime Próprio obtiveram 41,2% de reajustes.

Na seqüência, a Tabela V apresenta uma comparação entre os valores dos benefícios do Regime Próprio e os valores do salário mínimo:

TABELA V

Regime Próprio X Salário Mínimo

Período

Valor do

Benefício

Salário mínimo Quantidade de SM

2004 R$ 1.342,25 R$ 260,00 5,1

2005 R$ 1.408,49 R$ 300,00 4,6

2006 R$ 1.642,89 R$ 350,00 4,6

2007 R$ 1.813,56 R$ 380,00 4,8

2008 R$ 1.984,24 R$ 415,00 4,8

Por meio da comparação dos valores recebidos da aposentadoria do Regime Geral e do Regime Próprio com os valores do salário mínimo correspondente a cada período levantado, evidencia-se uma perda de poder aquisitivo.

Com relação aos aposentados do Regime Geral, notamos uma significativa defasagem dos valores recebidos, não sendo observada em momento algum qualquer tentativa de recuperação, estando os valores sempre em constante decréscimo.

De uma maneira mais discreta, também evidenciam-se perdas para os aposentados do Regime Próprio, ressalvando que na

média houve uma tentativa de manutenção dos valores, o que não ensejou a ocorrência de perdas fortes como no caso dos aposentados pelo Regime Geral.

No tocante aos rendimentos decorrentes da aposentadoria, outro ponto ficou evidenciado no contato que tive com os sujeitos pesquisados, trata-se do teto recebido como valor de aposentadoria.

Desde que se aproximaram do período de se aposentarem, os segurados do Regime Geral já tinham o conhecimento de que deixariam de receber os valores que mensalmente vinham recebendo e passariam a receber o valor calculado pelo Instituto Nacional do Seguro Social.

Homem 2 – “Eu achava que ia ganhar mais do que tô

recebendo. Recebo muito pouco, R$ 415,00 (quatrocentos e quinze reais)”.

Um dos entrevistados recebia valores acima do teto, ou seja, mais de 10 (dez) salários mínimos, aposentou-se, mas continuou a trabalhar, não sentindo de imediato qualquer diferença, pois, além dos valores da aposentadoria, recebia um outro salário, mantendo seu poder aquisitivo.

Homem 1 – “Era um dinheirinho a mais, nem sentia a

aposentadoria”.

Entretanto essa capacidade para o trabalho não durou muito tempo e, em razão de as empresas terem cada vez mais o objetivo de obter lucro, o entrevistado foi demitido, ficando apenas com o valor da aposentadoria.

Homem 1 – “Depois dos 40 é difícil uma nova colocação

no mercado. As empresas querem gente nova, o salário é menor!.”

Essa situação foi de choque, pois, acostumado a uma vida financeira tranqüila, teve de se readequar com a nova realidade imposta com a aposentadoria, com o fechamento dos pontos de trabalho e com a perda da capacidade laborativa.

Homem 1 – “Até hoje tento fazer pequenas economias

que nunca pensei que fosse fazer, como ter de desligar o freezer, comprar lâmpadas mais econômicas e buscar os preços mais baratos nos mercados”.

Essa situação, certamente, é vivida por inúmeras pessoas que, mesmo sabedoras das dificuldades do período de aposentadoria, não encontram meios e recursos financeiros para, durante o período contributivo, construírem o famoso “pé de meia”.

Vocês fazem seus pés de meia? Com tantas despesas, impostos, facilidade de compras, é possível ainda reservar, mesmo que pouco, um determinado “x” do salário para a aposentadoria?!

Existe a falsa impressão para os filiados ao Regime Geral, de que o valor recebido como salário será o valor recebido como aposentadoria, criando no imaginário do indivíduo o sentimento de terem referidos valores como seus eternamente.

Homem 2 – “A aposentadoria foi um golpe. Antes era

sobre o salário mínimo, depois vem um valor bem menor.”

Por outro lado, temos os filiados ao Regime Próprio que, recebendo durante o período contributivo determinado valor, passarão a receber um valor bem próximo, não existindo uma queda tão brusca nos rendimentos da aposentadoria.

Homem 3 – “Sempre controlei meu salário e sabia que o

que ganhava ia ser o que ganharia na aposentadoria. Não tive decepção quando me aposentei.”

Mulher 2 – “Não tive queda de padrão de vida quando

aposentei. Meus remédios aumentaram um pouco, mas o que passei a gastar com roupas compensou, não tenho que andar tão arrumada.”

Essa diferença entre os benefícios fica evidente quando entrevistamos os sujeitos da pesquisa. Ao passo que há a manutenção dos valores para os beneficiários do Regime Próprio, os do Regime Geral sentem a queda do padrão de vida justamente na época que mais necessitam.

Tramita pelo Congresso Nacional o projeto de Lei para que os dois Regimes tenham o mesmo teto, conforme publicação no Jornal Estado de São Paulo, do dia 02/06/08, conforme veremos a seguir:

02/06/2008 08:26:59

Governo quer igualar aposentadoria do

servidor público com a do privado

Até o fim deste ano, o governo vai enviar ao Congresso

Nacional um projeto de lei igualando regras de aposentadorias e pensões dos funcionários públicos com as que vigoram para os trabalhadores privados, entre elas a limitação do valor da aposentadoria ao máximo de 10 salários mínimos aplicado aos aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer,

anunciou ao Estado que a mudança valerá apenas para quem ingressar no serviço público após a promulgação da lei e não será aplicada aos que estão na ativa hoje, que continuarão se aposentando com o último salário, geralmente muito acima do teto do INSS. Um desembargador, por exemplo, se aposenta com mais de R$ 20 mil.

Os militares do Exército, Marinha e Aeronáutica serão excluídos das mudanças e continuarão regidos pelas regras atuais. Entre novos e antigos, haverá uma faixa intermediária daqueles que ingressaram no serviço público desde 1º de janeiro de 2004 -data da implementação da reforma

previdenciária do governo Lula -, que poderão optar entre a regra atual ou a nova - esta implica contribuir para o INSS com até 11% sobre o teto de 10 mínimos e aplicar um excedente no fundo de previdência complementar da União que tramita na Câmara dos Deputados, mas que precisa ser aprovado simultaneamente ou até antes do novo projeto de lei. Essa é a principal mudança nas regras de aposentadorias e pensões dos servidores que os técnicos dos Ministérios da Previdência e Planejamento trabalham para começar a ser debatida no governo este mês, no Congresso no próximo semestre e com aprovação prevista para o ano que vem, revelou o secretário Helmut Schwarzer. "A intenção é

aproveitar o ano não eleitoral e aprovar o projeto em 2009, a tempo de implementá-lo em 1º de janeiro de 2010."

Não haverá perdas para os funcionários atuais porque, para eles, não serão alteradas as regras de cálculo da contribuição e dos benefícios. O peso das mudanças vai recair sobre os novos que ingressarem no serviço público a partir de 2010, que passarão a receber aposentadorias e pensões equivalentes ao que ganham trabalhadores privados.

Hoje o abismo separando os servidores públicos e privados faz com que o déficit da previdência pública da União, Estados e municípios some mais do que o dobro do INSS, aproximando- se de R$ 100 bilhões.

Só o rombo da União fechou 2006 em R$ 30,4 bilhões, resultantes de despesas de R$ 46,5 bilhões (pagamentos de aposentadorias e pensões) e receitas (R$ 10,7 bilhões de contribuições do governo federal e R$ 5,4 bilhões dos servidores).

Proporcionalmente, a previdência pública custa para o contribuinte brasileiro mais do que a dos trabalhadores privados, visto que o INSS paga 25 milhões de benefícios e a União só 1 milhão (650 mil para servidores civis e 350 mil militares).

NOVAS REGRAS

Valerão só para os novos servidores que ingressarem a partir de janeiro de 2010.

Serão equiparados aos trabalhadores privados.

Teto da aposentadoria será limitado a 10 salários mínimos. Acima desse valor, só contribuindo para um fundo de pensão. Militares serão excluídos.

Servidores dos poderes Executivo, Judiciário, Legislativo e Ministério Público terão uma única previdência.

Contribuições irão para uma conta única capitalizada pelo Banco do Brasil.

INSS ampliado vai administrar também a previdência pública. Estados e municípios vão aderir às regras depois.

Fonte: O Estado de São Paulo

Se aprovada a referida proposta de reforma, teremos um fim na questão da diferença de benefícios, conforme apontado no presente trabalho, mas considera-se difícil sua aprovação, uma vez que o próprio texto já veicula a perda para os futuros funcionários públicos, além de termos de considerar que as futuras contribuições dos funcionários públicos seriam, logicamente, limitadas ao teto proposto, o que não ocorre hoje em dia.

2.4. O Peso Financeiro do Plano de Saúde para o Idoso

Inicialmente a questão do plano de saúde não era parte dos meus planos na pesquisa. Mas, com a constante fala dos entrevistados, percebi que era fundamental sua inclusão como um

capítulo, no qual pudesse trazer em rápidas linhas o que é preceituado pelas Leis e Constituição sobre a Saúde – pilar da Seguridade Social – e a realidade que encontramos, em carne e osso, nos Postos de Saúde.

A Saúde é um direito de todos e dever do Estado, preceitua a Constituição Federal de 1988. O Estatuto do Idoso, Lei 10.741/00, também disciplina o direito à saúde para o idoso em seu artigo 15:

Art. 15 – É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. (Ramayana, 2004, p. 33)

Infelizmente a Saúde Pública não consegue ofertar o que a Lei Maior e o Estatuto do Idoso preconizam: um direito de todos e atenção integral à saúde do idoso.

Homem 2 – “Cheguei aqui para ser atendido às 7 (sete)

horas, mas já tinha gente desde às 5 (cinco) horas. Já são 10 (dez) horas e ainda não fui atendido.”

Aqueles que possuem condições de contar com um plano de saúde acabam abrindo mão do “direito” ofertado pelo Estado, podendo efetuar suas consultas e exames quase na hora ao passo que os ligados ao SUS padecem em filas, esperando por vagas para consultas e exames, podendo receber atendimento somente meses depois.

Homem 2 – “O que ganho não dá nem para pensar em

plano de saúde.”

Mulher 3 – “O valor que recebo de aposentadoria não é

muito, meus filhos me dão uma mãozinha para pagar o plano.”

Mulher 1 – “Deveria ter um atendimento melhorado para

nós, tenho que acordar muito cedo para vir ao Posto, se não fizer isso as fichas acabam e não sou atendida.”

Homem 3 – “Quando posso vou para o postinho, mas

sempre faltam médicos e eles estão sempre com pressa. Por que no consultório atendem com calma?! Se não tivesse o plano de saúde ia sofrer.”

Mulher 2 – “Deveria ter um atendimento só para o idoso,

se tivesse não ia fazer tanta diferença ter o plano de saúde. Me sentiria feliz!”.

A segurança que um plano de saúde oferece é marcante. Entre os sujeitos da pesquisa, mesmo com todas as perdas já demonstradas, apenas dois não têm um Plano, sendo isso motivo de lamentação e tristeza para eles, uma vez que são obrigados a enfrentar filas e haver demora para o atendimento público.

A seguir, serão demonstrados os gastos de plano de saúde de um dos sujeitos entrevistados, que engloba também a proteção para a esposa e, dentre as possíveis coberturas que os planos ofertam, podemos considerar que este seja um plano básico, pois não dá cobertura para intervenções cirúrgicas.

TABELA VI

Plano de Saúde

Ano Valor Mensal Aumento Quantidade de SM

2004 R$ 296,61 0,0% 1,14

2005 R$ 356,97 20,3% 1,18

2006 R$ 393,36 10,1% 1,12

Esses valores são extremamente significativos para os aposentados entrevistados, chegando a representar 25 a 80% dos valores recebidos da aposentadoria.

Homem 1 – “Deveriam fazer uma média de quanto já

colaborei. Já paguei mais de 180 parcelas e vai ver o quanto utilizei, muito pouco! Deveria ser menor o valor.”

Durante a entrevista, um comentário feito por um entrevistado resume bem o significado do plano de saúde para os aposentados:

Homem 3 – “Pesa muito o pagamento do plano, mas

prefiro nem pensar que é um dinheiro que me pertence, pois compensa na hora de ser atendido, quando preciso, sem enfrentar filas, daí sou respeitado.”

Esta oportunidade de contar com a proteção particular na área da saúde é uma exceção para a maioria dos brasileiros, pois o SUS, para grande parte da população, é a única fonte de atenção à Saúde.

Mulher 1 – “Quando precisei de uma operação, o SUS

Interessante que a senhora do depoimento anterior entende que foi uma ajuda e não um dever do Estado em prestar o serviço.

Complementando a importância do SUS para a população brasileira, encontramos o posicionamento de Nunes, professor da UNB, que afirma:

(...) Todavia, apesar de tais limitações, a proxy parece-nos representativa do padrão de custos e das causa de morbidade hospitalar dos idosos, tendo em vista que aproximadamente 72% da população utilizam os serviços de saúde oferecidos pelo SUS como única fonte de atenção à saúde. (Nunes apud Camarano, 2004, p. 429)

Sobre o empobrecimento dos idosos e o constante estado de necessidade por que passam, temos também o apontamento de Simone de Beauvoir:

O mundo está crivado de emboscadas, eriçado de ameaças. Não é permitido flanar. A cada instante, colocam-se problemas, e o erro é severamente punido. Para exercer suas funções naturais, o idoso tem necessidade de artifícios: próteses, óculos, aparelhos acústicos, bengalas (...) O triste é que a maioria dos velhos são pobres demais para comprar bons óculos, aparelhos acústicos – muito caros; eles são condenados a uma semicegueira, a uma total surdez.

Encarcerados em si mesmos, caem num marasmo que os afasta da luta contra o declínio. (Beavouir, 1990, p. 375)

Para essa proteção também encontramos garantias no Estatuto do Idoso que, em seu artigo 15, parágrafo segundo, estabelece:

§2° – incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reablilitação. (Ramayana, 2004, p. 37)

Certamente essa dificuldade do SUS em suprir essa carência da população encontrará ainda maiores problemas num futuro não distante, necessitando cada vez mais de verbas e destinações orçamentárias.

Documentos relacionados