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1. A PREVIDÊNCIA SOCIAL E O ENVELHECIMENTO

2.6. Novos Arranjos Familiares

Os sujeitos entrevistados têm idades entre 64 e 75 anos, têm ainda sua autonomia, suas vidas próprias, conseguem, ainda com seus recursos, cumprir, mesmo que de forma simples, todas as necessidades básicas.

Mas o envelhecimento populacional, aliado à diminuição constante do poder de compra dos idosos, traz mudanças significativas nas famílias. Para muitos idosos, a família é único ponto de apoio. Antigamente um dos cônjuges ficava em casa, cuidando da rotina da casa, fato que facilitaria nos casos do idoso vir a morar na mesma residência, mas hoje isso não mais se observa. Marido e mulher saem para o trabalho.

Muitos idosos, vivenciando a situação de diminuição do benefício previdenciário e diminuição das suas capacidades físicas, já se conscientizaram de que morar com os filhos será uma necessidade futura. Dois entrevistados já foram sondados pelos filhos sobre a possibilidade de eles morarem juntos.

Homem 2 – “Tenho minha vida aqui em Iepê, meus

filhos queriam que fosse morar com eles em São Paulo, prefiro ficar aqui, quero a minha rotina.”

Mulher 3 – “Gosto da minha casinha, enquanto puder

fico aqui, guardo aqui minhas recordações.!.”

A questão colocada pelos filhos foi visando a uma maior praticidade para os cuidados que o idoso poderia vir a necessitar, ficando para o idoso um pequeno ônus, pois todos os entrevistados tinham netos pequenos e viriam, caso aceitassem, a cuidar deles enquanto os pais saíam para o trabalho.

Essa possibilidade não agrada aos idosos. Três dos entrevistados não gostariam de morar com os filhos, pois gostariam desse contato maior com os netos, não como uma obrigação, um serviço, mas eventualmente sem compromissos.

Embora tenham a consciência de que a perda do lugar próprio é bastante significativa, não representando apenas a perda da sua individualidade como responsável pela casa, mas caracterizando a perda definitiva da autonomia, têm a certeza de que essa será uma realidade inafastável para anos futuros, pois cada vez mais eles terão menores condições financeiras de arcar com a própria manutenção.

Como normalmente os idosos, com seus benefícios previdenciários, são economicamente menos favorecidos do que os filhos, pensamos na situação do idoso ir morar com os parentes, sendo estes os chefes, mas nada impede que os idosos sejam os chefes, quando tiverem uma situação financeira privilegiada, conforme aponta Ana Amélia Camarano:

As famílias com idosos foram divididas em dois grupos: famílias de idosos, em que o idoso é chefe ou cônjuge e famílias com idosos, em que os idosos moram na condição de parentes do chefe ou cônjuge. (Camarano, 2004, p. 145)

Não observamos situações em que os entrevistados estivessem recebendo os filhos para que estes voltassem a morar com eles, sendo mais provável que no futuro os sujeitos entrevistados dependam financeiramente dos filhos.

A questão do empobrecimento dos idosos aposentados certamente trará a formação, com mais constância, dos arranjos familiares anteriormente citados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante um período considerável de tempo não observávamos a evidência com que se apresenta hoje a questão da aposentadoria, pois trabalhávamos e logo depois morríamos.

Com o aumento da expectativa de vida, passamos a viver um tempo maior depois de aposentados, e esse tempo continuará a crescer. Com isso, o que era incomum: ser aposentado; passou a ser corriqueiro. Uma realidade não experimentada para o governo até então.

Esse aumento de beneficiários gerou conseqüências danosas para os já aposentados.

Foi constatado que os valores dos benefícios da aposentadoria não acompanham as variações do salário mínimo, levando um maior número de aposentados a passarem por dificuldades financeiras justamente num momento em que já não encontram tantas forças para buscarem novas fontes de renda com o trabalho. E isso ficou bem caracterizado para os aposentados pelo Regime Geral, que, ao longo dos anos, passam a ficar empobrecidos devido ao baixo reajuste

de seus benefícios. Por outro lado, os aposentados pelo Regime Próprio, embora com alguma diminuição de valores de benefício, não sentem tanto com o passar dos anos, não sendo efetivadas perdas significativas

Essa situação de carência é vivenciada por uma grande massa de pessoas idosas, uma vez que, até para os que contribuíram com o valor máximo possível, o resultado, em forma de benefício previdenciário, vai com o tempo aproximando-se do mínimo, levando o idoso à situação de miséria.

A questão dos baixos benefícios previdenciários também apontou para uma outra dificuldade com que os idosos convivem: a falta de um serviço de saúde público de qualidade.

Os valores dos planos de saúde, inalcançáveis para a esmagadora maioria da população idosa, deveriam ser revistos. Algo ainda pode, e deve, ser feito para essa geração de idosos.

Poderíamos pensar em uma destinação do Imposto de Renda já pago pelas pessoas físicas. Uma destinação que não viesse a criar mais um incremento na carga tributária, mas que efetivamente destinasse recursos para onde existe uma necessidade preeminente: a saúde dos idosos.

Da mesma forma que existe a destinação para crianças e adolescentes, por que não para os idosos também?

Diante de tudo apresentado, espero ter apontado uma questão importante para toda a sociedade e futuras gerações e que as autoridades atentem para as mudanças na composição da população, transformando o benefício da aposentadoria em valores que representem dignidade e respeito para a pessoa idosa.

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