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3 A CONVERSAÇÃO E A POLIDEZ NO PROCESSO COMUNICATIVO

3.5 A variação linguística nas práticas conversacionais em sala de aula

Os Parâmetros Curriculares, publicados em 2007 pelo Ministério da Educação, propuseram uma renovação do ensino nas escolas brasileiras, no que diz respeito à Língua Portuguesa, pois muitos trechos reconhecem o valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar, a existência das variedades linguísticas de menor e de maior prestígio, o problema do preconceito linguístico disseminado na sociedade como causador de desrespeito às falas dialetais, a necessidade de combate ao mito de que há uma única forma ―certa‖ de falar e sendo assim, equivocadamente acreditava-se que era necessário ―consertar‖ a fala do aluno para evitar que ele escrevesse errado. Essa proposta de renovação do ensino de língua materna apresenta termos e expressões como atos de fala, pragmática, oralidade, análise do discurso, variação linguística, norma padrão, etc. Na verdade por muito tempo disseminou-se a ideia do estudo da língua, como um produto homogêneo e artificial, porém os estudos da Sociolinguística apontaram para uma concepção de língua heterogênea, múltipla, instável, sempre em desconstrução e construção por ser uma atividade social, construída a partir de um trabalho coletivo.

Segundo Bagno (2007), assim deram início as reflexões sobre como a língua deveria ser ensinada, como ela se constitui de fato, já que agora se tinha a compreensão de que a língua não está registrada por inteiro nos dicionários, nem suas regras de funcionamento são exatamente aquelas que aparecem nas gramáticas. Surge, então, o conceito de variação linguística, ou seja, a língua varia em diversos níveis:

a) variação fonético-fonológica (diversas pronúncias para um mesmo significante);

b) variação morfológica (sufixos diferentes expressam a mesma ideia) c) variação sintática (os elementos são organizados de diferentes maneiras); d) variação semântica (o mesmo vocábulo pode ter diferentes significados a

partir do contexto);

e) variação lexical (uma ideia pode ser expressa por diferentes palavras);

f) variação estilístico-pragmática (os enunciados, marcados por maior ou menor formalidade e intimidade entre os interlocutores, são pronunciados e adaptados pelo interlocutor).

É importante ressaltar para os alunos que essa variação é ordenada e limitada, de modo a garantir a compreensão do discurso. A primeira característica revela que um mesmo conteúdo informacional pode ser expresso por regras linguísticas diversas, funcionalmente coerentes; a segunda mostra um sistema linguístico inacabado, que se reconstrói respeitando regras que garantam construções linguísticas compreensíveis. Portanto o aluno deve perceber que ele se utiliza de variantes linguísticas e que suas elocuções orais recebem influência de fatores sociais, ou seja, extralinguísticos como:

a) origem geográfica – a língua varia de um lugar para outro;

b) status socioeconômico – geralmente pessoas com nível de renda mais baixo não falam do mesmo modo das que têm nível médio ou alto;

c) grau de escolaridade – o acesso maior ou menor à educação formal é um fator importante na configuração dos usos linguísticos dos indivíduos;

d) idade – gerações diferentes têm modo de falar distinto;

e) sexo – homens e mulheres recorrem a usos linguísticos diferentes;

f) mercado de trabalho – o vínculo da pessoa com determinadas profissões e ofícios incide na sua atividade linguística;

g) redes sociais – cada pessoa adota comportamentos linguísticos semelhantes aos das pessoas com quem convive em sua rede social.

Acreditamos que a ação do fator extralinguístico grau de escolaridade através de atividades essencialmente orais possibilitam ao aluno monitorar sua variação estilística, adequando assim seu discurso de menor para maior formalidade, com maior para menor pressão psicológica, de menor para maior autoconfiança, enfim de menor para maior intimidade com a tarefa comunicativa.

Segundo Bagno (2007) cada contexto linguístico vai exigir do interlocutor um controle, uma atenção, um planejamento maior ou menor do seu comportamento em geral, das suas atitudes e, evidentemente, do seu comportamento verbal, isso seria o conceito de

monitoramento estilístico. O aluno pode perceber que não existe falante de estilo único, como

também não existe um estilo para todos os falantes.

As análises linguísticas tradicionalmente são dicotômicas, de polarizações radicais do tipo língua formal/língua informal, língua padrão/língua não padrão, língua escrita/língua falada; usamos também esse critério classificatório, mas principalmente propomos aos alunos realizarem um monitoramento estilístico da fala, de modo que cada um perceba que há uma

variação de ordem pessoal e outra de ordem social. Quanto mais monitorado for discurso oral, mais provavelmente adaptações vocabulares, reconstruções e até hipercorreções podem acontecer. A falta de um padrão institucionalizado de língua oral formal suscitou muitas dúvidas entre os alunos, a gramática sempre surgia como parâmetro de referência, daí estabeleceu-se critérios específicos para o monitoramento da fala, quanto ao desempenho intrapessoal e também quanto ao desempenho intrapessoal, esses estão expostos posteriormente nos capítulos 6 e 7.

Assim como Bagno propõe uma reeducação sociolinguística, corroboramos com tal proposta para o ensino da oralidade, pois é através dessa reeducação que o aluno conhecerá os juízos de valores sociais que pesam sobre cada uso linguístico. Nossas atividades possibilitaram:

a) fazer o aluno reconhecer que é possuidor de plenas capacidades de expressão, de comunicação, elevando a sua autoestima linguística;

b) levar o aluno à consciência de que há uma escala de valores para os usos da língua na sociedade;

c) garantir o acesso dos alunos a outras formas de falar, permitindo que aprendessem e apreendessem variantes linguísticas diferentes, de modo que o repertório comunicativo deles foi ampliado.

d) conscientizar o aluno de que a língua é usada como elemento de promoção social, de repreensão ou ainda de discriminação.