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A Vila Santos Dumont: a primeira vila militar na cidade

Mapa 8 – Deslocamentos das famílias para os supermercados

1. Parnamirim e a Aeronáutica: Caminhos Entrelaçados

2.1 A Vila Santos Dumont: a primeira vila militar na cidade

A construção de 50 casas destinadas aos militares na década de 1945 originou o do Conjunto Habitacional Santos Dumont – CHSD, que atualmente conta com 101 unidades habitacionais e está localizado no centro de Parnamirim, servindo ainda hoje para moradia de suboficiais, sargentos e cabos da ativa. Essa é a única vila em que residem civis que trabalham em unidades militares. No entanto,

atualmente não é mais autorizada a destinação de PNRs a estes, dada a elevada demanda de moradias para os militares que a cidade possui.

O CHSD está localizado na Avenida Tenente Medeiros, distante 250 metros da Praça da Paz de Deus, a praça central da cidade. Outras proximidades dessa vila que devem ser ressaltadas são a com o antigo aeroporto da cidade, Augusto Severo, e com a Base Aérea de Natal, reforçando a ideia de localização das vilas próximas ao trabalho. Essa característica é destacada por Blay (1985) quando faz alusão às vilas operárias, e isso se relaciona, também, às vilas militares, na caracterização delas (VALENÇA, 2014). A figura 12 mostra a imagem aérea da Vila Santos Dumont. Ao lado esquerdo do polígono destacado em vermelho que é a área dessa vila está a Estação Ferroviária de Parnamirim e parte do antigo Aeroporto Augusto Severo. A figura 13 mostra a frente dessa vila, atualmente sendo murada e contendo guarita, localizada na principal avenida de Parnamirim, no centro da cidade.

Figura 12 – Vista Aérea do CHSD ao Lado do Aeroporto Augusto Severo

Figura 13 – Vista Frontal do CHSD

Fonte: Chaves (2018).

A vila Santos Dumont possui variados equipamentos de uso coletivo como: campo de futebol (figura 15), áreas de lazer com churrasqueira, academia da terceira idade5 (figura 14), quadra de areia, de vôlei e de futebol, além da quadra poliesportiva. Todos estes equipamentos eram utilizados tanto pelos moradores quanto pela comunidade local, havendo uma forte ligação da vizinhança da vila com os residentes dos PNRs. Isso, contudo, se modificou nos anos 2000 quando o CHSD se tornou murado no formato de condomínio fechado e atualmente o acesso é restrito aos seus moradores.

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Nas primeiras visitas realizadas a essa vila, em março de 2018, a academia ao ar livre ainda estava em funcionamento, porém, na visita para a realização da pesquisa de campo, em setembro de 2019, estava bloqueada para uso, pois os equipamentos precisavam de manutenção.

Figura 14 – Academia da terceira idade dentro do CHSD

Fonte: Chaves (2018).

Figura 15 – Campo de futebol dentro do CHSD

Fonte: Chaves (2018).

O acesso ao terminal ferroviário da cidade também foi impactado com a construção de muros ao redor da vila, pois antes ele podia se dar pelo interior de suas ruas. Como demonstrado anteriormente (figuras 12 e 16), o terminal se localiza na parte de trás dessa vila. Quando as ruas eram abertas e os acessos eram percorridos pela população parnamirinense, por dentro desta vila, ela possuía um papel central nas locomoções dos pedestres que acessavam a via férrea.

Figura 16 – Terminal ferroviário de Parnamirim

Fonte: Chaves (2019).

Quanto às plantas dos imóveis, há nessa vila militar três modelos de PNRs, sendo um deles apresentado na figura 18, juntamente com a sua fachada na figura 17.

Figura 17: Fachada de um dos modelos de PNR da Vila Santos Dumont

O isolamento desta vila militar do seu entorno na cidade foi devido à necessidade de maior segurança e controle de acesso às áreas comuns dela. Assim, a vila Santos Dumont foi fechada e cercada, restringindo o acesso da população às suas áreas comuns, havendo um rompimento do conjunto social, desfavorecendo o desenvolvimento das relações de sociabilidade das famílias militares com a população civil de Parnamirim.

Figura 18: Planta baixa de um dos modelos de PNR do CHSD

As vilas militares contemporâneas são vigiadas e possuem controle de acesso restrito, ou ainda implantadas em áreas fortificadas. Sobre tal fato, Lessa (1990, p. 1) acresenta que “o homem urbano constrói a sua história entre grades e muros e cria um novo modo de interagir com o espaço”.

Os condomínios fechados são denominados de “enclaves fortificados” ou “enclaves de luxo” (CALDEIRA, 2003, p.9-11). As vilas militares têm algumas similaridades a eles. A autora explica que a fortificação é uma tendência de grupos que se unem para autodefesa, tendo os seus espaços vigiados. Essa é uma nova forma de segregação, cujo formato “cultiva um relacionamento de negação e ruptura com o resto da cidade” (CALDEIRA, 2003, p.259).

Assim, para Caldeira (2003), os enclaves fortificados possuem proteção própria, meios de trabalho e consumo, têm meios de afastar os indesejáveis e mudam a paisagem urbana, atribuindo status privilegiado ao que estão inseridos no grupo cuja entrada na área fortificada é permitida.

A separação do conjunto social é uma prática contemporânea. Ao escrever sobre a desigualdade e a violência na cidade de São Paulo, Caldeira (2008) explica que o medo transforma o modo de vida da sociedade, destacando o surgimento dos enclaves fortificados e o seu deslocamento incontrolável por toda a capital paulista:

O medo e a fala do crime também organizam a paisagem urbana e o espaço público, gerando novas formas de segregação espacial e discriminação social. Sua forma mais emblemática é o enclave fortificado. São espaços privatizados, fechados e monitorados, destinados a residência, consumo, lazer e trabalho, estruturados pelo discurso da segurança. [...] Eles dependem de guardas particulares e equipamentos de segurança de alta tecnologia para proteção e para assegurar as práticas de exclusão que garantem a sua exclusividade social. [...] À medida que essa lógica se torna dominante, se espalha por toda a cidade. Muros estão agora por toda parte, mesmo nas mais remotas áreas das periferias, não apenas para proteção contra a criminalidade, mas também para distinguir vizinhos uns dos outros e exprimir sua inserção social (CALDEIRA, 2008, p.3).

Para a fortificação, seja por barreiras físicas ou segurança (esta última, no caso das vilas militares, é executada pela própria FAB), são utilizados dispositivos largamente empregados hodiernamente para fins de segurança até no meio civil, devido ao aumento da violência urbana. Esses dispositivos de segurança têm sido cada vez mais comuns nas fortificações dos conjuntos residenciais, a fim de se obter maior segurança, bem como o afastamento dos indesejáveis, além de um maior controle do espaço interno.

Além dessas formas de segurança, há, também, inclusa neste processo de segregação, uma busca por maior homogeneização, pois segundo Le Guirriec (2008), existe uma tendência na modernidade por procurar viver entre aqueles que são mais similares (LE GUIRRIEC, 2008, p.30).

No mesmo sentido, Cerqueira (2015) argumenta que a disposição em condomínio habitacional fechado é uma maneira de privatização do espaço, sendo uma forma marcante de segregação contemporânea devido à restrição do acesso à localidade guarnecida em questão.

O mapa 3 mostra a inserção do Conjunto Habitacional Santos Dumont e o seu entorno, num raio de 500 metros. Como já descrito, na parte de trás dessa vila se localiza o Aeroporto Augusto Severo, que foi desativado no ano de 2014 e atualmente sedia o Centro Cultural Trampolim da Vitória (inaugurado em janeiro de 2020), de forma que a localização da vila nas proximidades do aeroporto no período em que ambos foram construídos reforça a analogia realizada com as vilas operárias do começo do século XX (BLAY, 1985; VALENÇA, 2014 e PINTO e ANDRADE, 2015). O entorno dessa vila conta com 347 unidades de instituições prestadoras de serviços ou estabelecimentos comerciais. Os estabelecimentos comerciais crrespondem 85,9% dos estabelecimentos do seu entorno. Esses comércios são constituídos de farmácias, lanchonetes, lojas de utensílios domésticos, moda e vestuário, casas de móveis, entre outros. Do número de estabelecimentos total, 7,2% correspondem a entidades de saúde, como dentistas, maternidade pública, posto de saúde da família, e 2,9% a outras instituições prestadoras de serviços,

como a Central do Cidadão que dista 130 metros do portão de entrada dessa vila. Destaca-se que na avenida principal que dá acesso a Vila Satos Dumont, até o ano de 2014, sediou o Centro Administrativo de Parnamirim, sendo transferido para o bairro da Cohabinal após inauguração de seu novo prédio no Complexo Aluizio Alves. Assim, essa localidade se constitui em um pólo de atração de serviços e investimentos públicos e privados (VILLAÇA, 1988; CORRÊA, 1989 e SINGER, 2017).

Mapa 3 – Uso do solo ao redor da Vila Santos Dumont

Fonte: Grupo de Pesquisa Estúdio Conceito/DPP/UFRN (2020).

Após a vila militar Santos Dumont, que foi construída aberta à sociedade, as demais foram constituídas no formato de condomínios fechados e/ou em áreas fortificadas da Ala 10, antiga Base Aérea de Natal.

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