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A violência contra a mulher: características, tipos e formas de violência

2. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NOS

2.1 A violência contra a mulher: características, tipos e formas de violência

A violência contra a mulher pode estar presente em todos os contextos da vida da mesma, apresentada-se de diversas formas. Além de prejudicar a integridade da mulher, a violência provoca consequências na sua saúde física e psíquica. (CASIQUE e FUREGATO, 2006).

Grossi (1996 apud MEDALOZ, 2015) diz que, a violência contra a mulher é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (2009) como um problema de saúde pública, que interfere negativamente sobre a integridade física e emocional da mulher.

A palavra violência, vem do latim “vis”, que significa força, o uso da força física e constrangimento contra outra pessoa. (CASIQUE e FUREGATO, 2006). A violência contra a mulher é qualquer ato violento, pode ser físico, psicológico ou sexual. Resulta na violência de gênero, que inclui também o ato ameaçador. (GOMES et al, 2007). A violência, antes de tudo, diz respeito à violação de direitos humanos, sendo a violência contra a mulher um fenômeno de ordem multicausal, multidimensional, multifacetado e intransparente. (FONSECA, 2012).

A violência de gênero é aquela em que o homem agride a mulher. Ou seja, o homem agride para manter o controle e a superioridade sobre a mulher. Esta

violência, muitas vezes, acontece apenas por esta ser do sexo feminino, o que faz permanecer o domínio do homem sobre ela. (CASIQUE e FUREGATO, 2006).

A violência de gênero não é mais do que o resultado das relações de dominação masculina e de subordinação feminina, em que o homem pretende evitar que a mulher lhe escape pois não deseja separar-se da mulher, mantendo-a sujeita a uma submissão sem escapatória. (CASIQUE e FUREGATO, 2006, s.p.).

As ações da violência de gênero, segundo Casique e Furegato (2006), estão relacionadas com as condições sociais, em que um grupo – homens – domina o outro – mulheres. Freud (1932-1936) em sua XXXIII Conferência descreve sobre a Feminilidade, traz que masculinidade, muitas vezes, remete a “ativo” e feminilidade a “passivo”. Assim sendo, o feminino destina-se à mulher e masculino ao homem. “Os senhores justamente reduziram as características de masculinidade ao fator agressividade, no que se refere à psicologia.” (FREUD, 1933, p. 123). Conforme o que transcorre tal relato, a mulher está numa posição passiva ao homem, ou seja, é o homem que possui o domínio e a agressividade, o que pode levar à violência.

2.1.1 Os tipos de violência: relato de um caso de feminicídio

Os tipos de violência variam de acordo com o grupo ou pessoa que comete a violência. Medaloz (2015) discorre os tipos de violência em: violência intrafamiliar, violência doméstica, violência de gênero e violência conjugal.

A Violência Intrafamiliar “... é toda ação ou omissão que prejudique o bem- estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família.” (MEDALOZ, 2015, p. 41). Este tipo de violência é cometido por um membro da família e pode ocorrer fora do lar. As agressões intrafamiliares podem ser tanto de ordem física, psicológica, como também, sexual, negligência ou abandono.

A Violência Doméstica caracteriza-se por acontecer dentro do âmbito doméstico, geralmente é cometida por algum membro da família que conviva com a pessoa agredida. Saffiotti (2004, apud MEDALOZ, 2015) traz que:

...o gênero, a família e o território domiciliar contêm hierarquias, nas quais os homens figuram como dominadores-exploradores, [...] a violência doméstica tem um gênero: o masculino, qualquer que seja o sexo físico dominante. (SAFFIOTTI, 2004, p. 74 apud MEDALOZ, 2015 p. 42).

Desta forma, o que caracteriza esse tipo de violência, é a relevância de homens que agridem suas parceiras no âmbito doméstico, por possuírem o “domínio” do lar, por serem o chefe daquela família, e já que são chefes, acreditam que possuem o direito de violentá-las. Segundo Medaloz (2015), a violência doméstica não se restringe apenas ao domicílio, pode acontecer em outros espaços. O que define esta como doméstica é por ser uma questão do espaço privado.

De acordo com a feminilidade e masculinidade, encontra-se a Violência de Gênero, esta refere-se às expectativas que a cultura impõe para cada sexo e os lugares que os mesmos ocupam diante da sociedade. A ONU (1993 apud MEDALOZ, 2015) mostra que este tipo de violência está relacionada com as diferenças impostas pelo social. Medaloz (2015) diz:

A violência de gênero está caracterizada pela incidência dos atos violentos em função do gênero ao qual pertencem as pessoas envolvidas, ou seja, há a violência porque alguém é homem ou mulher. A expressão violência de gênero é quase considerada um sinônimo de violência contra a mulher, pois são as mulheres as maiores vítimas da violência. (MEDALOZ, 2015, p. 43).

Sendo esta violência a mais incidente na vida da mulher, caracterizada na maioria das vezes pela agressão cometida pelo marido, pois trata-se de uma construção cultural que perpassa os séculos. A partir do estudo, desde o século XIX as mulheres sofrem com os estigmas impostos pelo social, como a superioridade do homem em relação às mulheres. Decorrente às relações de gênero, na qual o masculino é considerado o mais forte, e o feminino o mais frágil. Desta forma, muitos homens justificam a violência, por acreditarem que as mulheres são suas propriedades.

A Violência Conjugal também se caracteriza pela construção de papéis impostos pelo social que dá a superioridade ao homem. Rocha (2007 apud MEDALOZ, 2015) traz que este tipo de violência alcança uma escala mundial, e que o desfecho final é o feminicídio ou assassinato da mulher cometido pelo homem, devido ao gênero.

O site do G1 (2017), traz o feminicídio como um crime, sendo este que mata em média oito mulheres por dia no Brasil. A Lei do Feminicídio foi criada em 2015 a partir de estudos realizados por uma advogada criminalista, Luiza Eluf, que diz que este tipo de violência ocorre devido às condições do sexo feminino, ou seja, a mulher é morta pelos simples fato de ser mulher. O agressor acredita que aquele sujeito tem menos direitos que ele, que este deve-lhe respeito e obediência e, que tem o pleno direito de tirar a vida do mesmo, e quando este agressor comete isso, é um crime de feminicídio. Segue um caso relatado pelo site G1:

FINAL INFELIZ3: Telma Adriana Galhardo foi assassinada pelo marido,

Walter Willians Moreno, no dia 10 de setembro desse ano4. Eles estavam

casados há cinco anos, eram veterinários e moravam em Suzano, na Região Metropolitana de São Paulo. Depois de matar a mulher com três tiros, ele cometeu suicídio. “Ela já tinha sido agredida várias vezes, eu vi. Ela podia ter ido embora, mas acho que ela gostava dele. Nós, como família, falamos pra ela: ‘vem embora, larga tudo e vem embora’. Olha aí o que deu”, conta o padrinho de Telma, Vagner Vargas. Em outra briga do casal, Telma chegou a pedir ajuda à polícia. Quem atendeu à ocorrência foi o capitão da PM, Fábio Schultze: “Ela havia sido agredida por ele e apresentava um corte na cabeça. A equipe chegou no local e afirmou que ela possuía alguns hematomas, um corte e que tinha sido vítima de socos na região da cabeça”. Telma acabou não registrando a queixa contra o marido. Agora, seu assassinato está sendo investigado pela Polícia Civil de Suzano. “Esse é um caso de feminicídio porque é um crime contra mulher por razões da condição do sexo feminino”, afirma o delegado Eduardo Peretti. O delegado conta que Walter usou uma pistola e uma espingarda para assassinar Telma e revela que o veterinário já tinha sido denunciado por fazer ameaças a um morador da cidade, usando uma arma. (G1, 2017).

Além deste crime de feminicídio, o site G1 (2017) relata outros casos cometidos por estupro e outros assassinatos. E estes ocorrem pela mulher ser do sexo feminino, e pelo homem achar que esta é sua propriedade.

2.1.2 As formas de violência: uma breve retomada

Casique e Furegato (2006) relatam que as formas de violência são muitas. A agressão física é a mais aparente, que é difícil de esconder:

3 Este caso, assim como os próximos são relatados tal qual a notícia publicada. (Nota da autora). 4 2017.

A violência física é entendida como toda ação que implica o uso da força contra a mulher em qualquer idade e circunstância, podendo manifestar-se por pancadas, chutes, beliscões, mordidas, lançamento de objetos, empurrões, bofetadas, surras, lesões com arma branca, arranhões, socos na cabeça, surras, feridas, queimaduras, fraturas, lesões abdominais e qualquer outro ato que atente contra a integridade física, produzindo marcas ou não no corpo. (CASIQUE e FUREGATO, 2006, s.p.).

A Violência Física acontece quando uma pessoa está numa posição de “poder maior” em relação à outra, esta causa danos não acidentais, que pode provocar ainda, lesões internas e externas, ou ambas. “A violência física entre parceiros íntimos é um fenômeno que acomete muitas mulheres e, em função da gravidade dos seus atos, podem levar a severas consequências e até mesmo à morte.” (MEDALOZ, 2015, p. 45).

Outro tipo de agressão é a Agressão Social, que é definida por:

... toda ação prejudicial à mulher, ditada pelas condutas ou atitudes de aceitação ou rejeição que a sociedade estabelece como adequadas frente a violência que sofre a mulher, assim como as condições sociais que envolvem a situação em que vive a vítima de violência. A violência que sofre a mulher tem permanecido em silencio, devido ao fato de ser considerada como algo natural e privado. (CASIQUE e FUREGATO, 2006, s.p.).

A violência social é dirigida pelas agressões que não são necessariamente físicas, mas que atingem a vida e a integridade da mulher. Este tipo de violência impõe que a mulher siga padrões impostos pela sociedade, mesmo contra sua vontade. Se o social dita que esta deve ser submissa ao homem, ela deve seguir sem questionar, se não da agressão social, pode acarretar na física.

Segundo Medaloz (2015), a Violência Sexual designa-se quando uma pessoa é obrigada a ter relações sexuais contra a sua vontade. O agressor usa a força física, chantagem e intimidação, faz com que a pessoa agredida – neste caso a mulher – sinta-se “sem saída” e acaba sendo abusada sexualmente.

A Violência Moral, a partir da Lei Maria da Penha (2012 apud MEDALOZ, 2015) é qualquer tipo de ofensa que atinja o sujeito, pode ser calúnia, difamação ou injúria. A mesma traz que esta violência como ampla e preocupante, pois a mesma atinge os direitos morais da pessoa agredida.

Em relação à Violência Patrimonial, Medaloz (2015), diz que esta é geralmente cometida pelo companheiro da mulher, em que intimida e impede que

ela interrompa o relacionamento. A autora coloca que esta forma de violência é considerada uma prisão, já que a mulher é impedida de exercer seus direitos enquanto cidadã.

Conforme Casique e Furegato (2006), a Agressão Psicológica pode ser mais difícil de ser vista, pois esta não deixa marca no corpo da mulher, mas sim no seu psíquico. A violência psicológica visa atingir tanto autoestima, como também a identidade e desenvolvimento psíquico da pessoa que sofre. As manifestações deste tipo de violência por parte do agressor, podem ocorrer na forma de abuso verbal, em que aparece o rebaixamento e a humilhação; intimidação caracterizada por gritos ou assustar com olhares; ameaças; isolar a mulher e; desprezo. É o que diz Medaloz (2015):

A violência psicológica acontece muito e talvez até em uma proporção maior do que a violência física, geralmente ocorre em casa, na família, afetando diretamente a autoestima e a autoimagem de quem sofre. Algumas pessoas usam a violência psicológica como uma forma de tortura para evitar que seu comportamento fuja, denuncie os maus tratos ou encontre outra pessoa para viver. (MEDALOZ, 2015, p. 46).

A violência psicológica, sendo uma das mais difíceis de ser identificada, torna- se uma das mais complicadas, pois não traz feridas visíveis aos olhos dos outros, mas sim marcas em seu psíquico, que são difíceis de ser identificadas. A mulher que é agredida por esta forma de violência sofre, e muitas vezes não consegue se desvincular desta relação violenta, seja por aspectos sociais – como por exemplo, a dependência financeira – ou pelos aspectos psíquicos, que envolve características inconscientes de constituição subjetiva da mesma.

Ainda que haja diferentes tipos de violência, estas estão entrelaçadas e misturam-se em diferentes contextos. Dando enfoque a violência física e psicológica, enquanto uma deixa marcas visíveis no corpo da mulher, a outra é decorrente de palavras, gestos, que degredam o psiquismo da mesma. (SILVA, COELHO e CAPONI, 2007 apud ZACAN, WASSEMANN e LIMA, 2013).

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