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4.1 ESTADO, CAPITALISTAS E TRABALHADORES

Analisaremos três visões sobre a JT, a dos trabalhadores, a da empresa e a da economia nacional. Os agentes destas três visões ora compartilham de idéias referentes à jornada de trabalho com outro agente, ora tem posição antagônica. Na maior parte das vezes defendem seus interesses imediatos.

É óbvio que normalmente as empresas são sempre contra à RJT num primeiro momento. Se houver força política e elas não vislumbrarem benefícios imediatos, não reduzirão a JT espontaneamente ou até com argumentações, por mais convincente que seja. Mesmo que seja bom para a classe burguesa, é difícil para a empresa pensar nesses termos e deixar de defender seu interesse de curto prazo, que é a maior exploração possível da força de trabalho.

O primeiro argumento utilizado é o aumento inicial dos custos e a perda de internacional (CETTE, TADDÉI, 1997a). Essa é uma visão apenas microeconômica do fato e de curto prazo. Nega a possibilidade de benefícios no longo prazo, se é que há. Os tais benefícios no longo prazo seriam observados a partir dos efeitos na demanda agregada, na renda nacional, no nível de emprego, na tributação e nos gastos sociais (CETTE, TADDÉI, 1992).

A RJT é uma variável que impulsiona o crescimento econômico no longo prazo. (BOSCH, LEHNDORFF, 2001).

Um argumento importante para rebater o ceticismo dos empresários é que há ao longo dos anos o aumento da composição orgânica do capital (COC). Isso significa que o Capital Constante aumentou sua participação no Capital Total em detrimento do Capital Variável, que é a mão-de- obra. Ora, se a mão-de-obra pesa cada vez menos é mais fácil fazer concessões econômicas.

Para exemplificar isso tomemos o exemplo das empresas de sucesso que vêm ditando tendência a vários anos sobre a gestão empresarial, Toyota, IBM e Volvo. Assim como a Ford ditou um

modelo, essas empresas vêm sendo exemplo para outras empresas. Basicamente é uma produção flexível, Just in time. Reduz-se o nível de estoque e capital imobilizado e produz aquilo o que o mercado pede naquele instante. Nesses casos o que importa é a utilização intensiva de capital e tecnologia, que é cada vez mais cara. Vale lembrar que no Brasil os salários vêm caindo a algumas décadas bem como a participação da renda do trabalho na renda nacional. (FILGUEIRAS, GONÇALVES, 2007).

Assim, o que importa para os empresários é manter essas máquinas produzindo a maior parte do tempo possível. (CETTE, TADDÉI, 1992).

As experiências internacionais de RJT mostram que, em geral, ocorreu paralelamente o aumento do tempo de utilização do capital em função da reorganização do tempo de trabalho e aumento do número de termos. (BOSCH, LEHNDORFF, 2001).

Alguns desses autores afirmam que haverá redução dos custos marginais e ganhos de produtividade caso a RJT permita a adoção de novas formas de organização da produção como a organização em turnos de produção, anualização da jornada de trabalho e trabalho nos finais de semana que permitam o uso intensivo do Capital Constante. As horas a menos que o trabalhador teria seriam também exatamente aquelas onde ele seria menos produtivo. Isso acarretaria menos trabalho com falta de atenção e concentração que, por sua vez, aumenta a produtividade do trabalho e diminuição dos acidentes de trabalho que poderiam até danificar as máquinas, perda de negócios, etc.

Até aqui há pontos em comum entre todos os agentes envolvidos no processo. Todavia, há pontos antagônicos. Um exemplo é o financiamento da RJT. Quem irá arcar com o aumento de custo no curto prazo decorrente da RJT? Em toda negociação classista o empresariado tende a ignorar o passado. Normalmente aumenta o salário sem levar em conta as perdas históricas; não reduz a jornada de trabalho por não levar em consideração os ganhos de produtividade do passado, etc. Assim, esquecem que todos possuem uma trajetória até ali. Apenas querem negociar a partir do zero como se o qüiproquó houvesse se iniciado naquele momento. Então deixam a questão de

quem financiará a RJT a partir dali. Mas é importante frisar que a RJT que ocorrem no mundo em todo o século XX foi decorrente dos aumentos de produtividade.

Cabe então saber quais os mecanismos que propiciaram a fonte de financiamento da RJT. Há um aumento inicial do salário-hora e aumento dos custos de produção. Se os empresários forem compensados totalmente por isso, significa que eles estarão isentos de tal financiamento. Não se reduzirá sua margem de lucro nem o ritmo de acumulação do capital. Não existe almoço grátis e outros terão que pagar. Outra forma de deixar os empresários isentos é com a introdução de inovações e intensificação do trabalho, impedindo a criação de novos postos de trabalho e a distribuição funcional da renda. Nesse caso aumentaria a taxa de exploração da classe trabalhadora com o aumento da acumulação de capital e apropriação de novos ganhos de produtividade.

Custos fixos aumentarão em função da RJT com a contratação de novos empregados (qualificação, folgas semanais, alimentação, saúde, transporte, etc) ou se pagará um maior número de horas extras. Esses custos poderão ser pagos pelos trabalhadores através da redução da remuneração; pelos consumidores, com a elevação dos preços; ou pela sociedade através de subsídios e isenções fiscais concedidos pelo governo.

O que geralmente aconteceu nas experiências internacionais de RJT foi a divisão do financiamento por todos os setores. Houve isenções fiscais, diminuição da margem de lucro e compensação parcial de salários de forma direta para que ocorresse isso. De forma indireta foi financiado pelos ganhos de produtividade advindos em conseqüência ou concomitantemente à RJT. Esse último ponto decorrente de novas formas de gestão do trabalho encobre o fato de que os custos decorrentes da RJT recaem sobre os trabalhadores sem diminuição dos rendimentos mas há uma intensificação do trabalho.

O sistema capitalista é muito mais eficiente em produzir do que distribuir os resultados dessa produção. Há diversas maneiras de distribuir a renda. Uma das variáveis é a correlação de forças. A distribuição dos ganhos de produtividade pode ocorrer de diversas formas. Vejamos esse quadro analítico:

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