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Jornada de trabalho no Brasil: revisão de literatura, a visão das classes sociais e do Estado e os atuais limites e possibilidades da sua redução

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

TIAGO PAIXÃO RAMOS

JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL:

REVISÃO DA LITERATURA, A VISÃO DAS CLASSES SOCIAIS E DO ESTADO E OS ATUAIS LIMITES E POSSIBILIDADES DA SUA REDUÇÃO.

SALVADOR 2008

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TIAGO PAIXÃO RAMOS

JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL:

REVISÃO DA LITERATURA, A VISÃO DAS CLASSES SOCIAIS E DO ESTADO E OS ATUAIS LIMITES E POSSIBILIDADES DA SUA REDUÇÃO.

Trabalho de conclusão de conclusão de curso apresentado na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia – FCE-UFBA - para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Antônio de Pádua Melo Neto

SALVADOR 2008

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Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Ramos, Tiago Paixão.

R175 Jornada de trabalho no Brasil: revisão de literatura, a visão das classes sociais e do Estado e os atuais limites e possibilidades da sua redução / Tiago Paixão Ramos. – Salvador, 2008.

67 f. Il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Economia) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal da Bahia.

Orientador: Prof. Antônio de Pádua de Melo Neto

1. Jornada de trabalho. 2. Desemprego. 3. Política pública. I. Ramos, Tiago Paixão.. II. Melo Neto, Antônio de Pádua de. III. Título.

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Pra não dizer que não acredito em coisas sobrenaturais, digo que chegar até aqui foi um milagre ao qual dedico este trabalho igualmente a minha mãe Eulália, que fez mais do que podia por mim, a minha avó Eugênia (in memorian - 1924-2007), que sempre cuidou perfeitamente de mim e a minha tia Rita, que me socorreu na última hora para me inscrever no vestibular. Todas sempre tiveram ao meu lado, desde o maternal até a universidade e sei que sempre estarão. Agradeço-as por ter me carregado nas costas até aqui cumprindo um duro papel que a sociedade tem imposto a elas de cuidar da família com uma dupla jornada de trabalho e que, materialmente, é completamente ignorada. Não vou dedicar a nenhum homem. Não me lembro de algum tão importante que valha ser citado. Portanto, dedico este trabalho a todas as mulheres trabalhadoras (operárias, donas de casa, camponesas, etc).

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus irmãos Lucas, Matheus e Stephanie pela convivência, aos meus amigos da Boca do Rio, David, Eliene, Jairo, Lucas e Paulo pelos grandes momentos que deixam saudades, aos meus amigos da faculdade, Bárbara, Bruno “Malandrão”, Everton, Igor, João “Bão”, Júlio, Leonardo “Feitosa”, Michele, Paulo “Paulete”, Taíse e Washington. Não posso deixar de agradecer a alguns companheiros de luta política, com os quais aprendi coisas que nenhum professor ou livro me ensinaria, como Valdisio, Marcão, Marcele, Gustavo, Rosana, Danilo, Antônio Carlos, Átillas e os Guilhermes. Aprendi que não basta ter uma teoria revolucionária, mas também uma prática revolucionária. Agradeço à equipe do DIEESE, Ana Georgina, Ana Margareth, Lavínia, que me deu a idéia do tema da monografia, Natali e, principalmente, ao meu primeiro chefe e que se tornou um grande amigo Ranieri. Agradeço aos funcionários e professores desta faculdade, em especial, a Antônio de Pádua, Lielson, Balanco, Filgueiras pela esquerdização da turma e a Plínio pela sua capacidade de se doar. Agradeço aos amigos que fiz na SESAB que me incentivaram, como minha grande amiga, Semíramis. Por fim, agradeço muito a Laudiceia, que me deu muita força e acompanhou essa trajetória de forma muito especial. Desculpe se não lembrei de todos.

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RESUMO

Este trabalho monográfico tem como objetivo discutir as possibilidades de redução da jornada de trabalho no Brasil nos dias atuais, sob uma ótica teórica diversa, mas preponderantemente marxista, levantando argumentos favoráveis e contra, além de seus efeitos para as classes sociais e o Estado. Traça-se um perfil da jornada de trabalho no Brasil no setor formal através da nossa tabulação dos dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais)

Palavras-chave: Jornada de Trabalho. Tempo livre. Desemprego. Políticas públicas. Economia política.

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TIAGO PAIXÃO RAMOS

JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL: REVISÃO DA LITERATURA, A VISÃO DAS CLASSES SOCIAIS E DO ESTADO E OS ATUAIS LIMITES E POSSIBILIDADES DA SUA REDUÇÃO.

Aprovada em____ de Dezembro de 2008

Orientador: ______________________________ Prof. Antônio de Pádua Melo Neto Faculdade de Economia da UFBA

_______________________________ Prof. Ihering Guedes Alcoforado

Faculdade de Economia da UFBA

______________________________ Prof.ª Ranieri Muricy Barreto

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1- Jornada Formal de Trabalho Segundo o Gênero - Brasil - 2005...25

Gráfico 2- Jornada Formal de Trabalho Segundo a Região - Brasil - 2005...26

Gráfico 3- Jornada Formal de Trabalho Segundo o Setor Econômico - Brasil - 2005...27

Gráfico 4- Percentual Médio da População Ocupada no Brasil (1982-2001)...28

Gráfico 5- Jornada Formal de Trabalho Segundo a Faixa de Salários Mínimos - Brasil – 2005...29

Gráfico 6- Jornada Formal de Trabalho Segundo o Grau de Instrução - Brasil - 2005...30

Gráfico 7- Jornada Formal de Trabalho Segundo a Faixa Etária - Brasil - 2005...31

Gráfico 8- Jornada Formal de Trabalho Segundo o Tamanho do Estabelecimento – Brasil – 2005...32

Gráfico 9- Proporção de Ocupados que Trabalham Acima de 44 Horas Semanais, por Sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2005...33

Gráfico 10- Jornada Média dos Ocupados, Por Sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2005...34

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LISTA DE SIGLAS

JT Jornada de trabalho

RJT Redução da jornada de trabalho

SACC Sistema de Acompanhamento de Contratações Coletivas

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos OIT Organização Internacional do Trabalho

MP Modo de Produção

RP Relações de Produção

CLT Consolidação da Leis do Trabalho RAIS Relação Anual de Informações Sociais COC Composição orgânica do capital

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO SOBRE JORNADA DE TRABALHO

14

2.1 HISTÓRICO DA JORNADA DE TRABALHO 14

2.2 A VISÃO DOS AUTORES 15

3 JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL 23

3.1 HISTÓRICO DA JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL 23

3.2 PERFIL DA JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL 24

3.1.1 Jornada Formal de Trabalho segundo o Gênero - Brasil – 2005 25 3.1.2 Jornada Formal de Trabalho segundo a Região - Brasil – 2005 26 3.1.3 Jornada Formal de Trabalho segundo o Setor Econômico - Brasil

– 2005 27

3.1.4 Jornada Formal de Trabalho segundo a Faixa de Salários Mínimos – Brasil

– 2005 29

3.1.5 Jornada Formal de Trabalho segundo o Grau de Instrução - Brasil – 2005 30 3.1.6 Jornada Formal de Trabalho segundo a Faixa Etária - Brasil – 2005 31 3.1.7 Jornada Formal de Trabalho segundo o Tamanho do Estabelecimento

- Brasil – 2005 31

3.1.8 Proporção de ocupados que trabalham acima de 44 horas semanais, por sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal – 2005 32 3.1.9 Jornada média dos ocupados, por sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito

Federal – 2005 33

4 A VISÃO DAS CLASSES SOCIAIS E DO ESTADO 35

4.1 ESTADO, CAPITALISTAS E TRABALHADORES 35

4.1 EXPERIÊNCIAS 39

4.1 LIMITES E POSSIBILIDADES NO BRASIL DA REDUÇÃO DA JORNADA

DE TRABALHO 41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 46

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1 INTRODUÇÃO

Muito já se debateu sobre RJT (Redução da Jornada de Trabalho), mas as dificuldades de quem trabalha persistem relativamente à falta de tempo livre para o lazer e outros afazeres da vida pessoal1. A JT (Jornada de Trabalho) tem implicações em diversas áreas da sociedade. A RJT possibilitaria a ampliação dos postos de trabalho e do tempo livre para uma vida em sociedade mais confortável? Possibilitaria melhorar a qualificação do trabalhador? No mundo contemporâneo tem se buscado, sobretudo, maior produção em menos tempo. Para isto é necessária maior qualificação dos trabalhadores.

Normalmente os capitalistas não aceitam reduções de jornada de trabalho, pois estes teriam que incorrer em mais custos para manter a mesma força de trabalho. Em contraponto, em uma visão de inspiração keynesiana, há quem defenda que uma redução da jornada de trabalho geraria mais emprego e renda para a economia. Afinal, RJT é benéfica para a sociedade como um todo ou ela traria crises? Ela é benéfica apenas para a classe trabalhadora? Sendo assim, a redução drástica da RJT traria no longo prazo sérios riscos à sobrevivência do capitalismo? Ou seus efeitos podem ser de interesse geral, numa relação ganha-ganha entre as classes sociais? Seu efeito seria benéfico ao trazer um maior tempo livre para se ter lazer e até se qualificar mais para o trabalho? Ao trabalhar menos horas o trabalhador poderia aumentar a sua produtividade devido à diminuição do estresse de trabalhar muito tempo? Os custos de redução da jornada são caros? É bancado por empresários ou conjuntamente com trabalhadores e o Estado? Qual seria o papel do Estado na luta pela definição da jornada de trabalho?

Mas as principais questões em termos econômicos são: a RJT tem mesmo o poder de aumentar o emprego? É verdadeiro o trade-off entre emprego e salário mediado pela JT? Constatado os baixos salários no Brasil e as altas taxas de desemprego que ameaçam os empregos de quem já tem, o que motivaria os trabalhadores, de forma mais unificada, a priorizar a luta pela RJT? Quais as especificidades do Brasil, positivas ou negativas, para a adoção da RJT como política pública?

1 A existência de tempo livre depende da existência do trabalho. Quem não trabalha não tem tempo livre. Este é o

tempo que se dispõe após a execução das atividades necessárias para a produção e reprodução social. Pode-se dispor esse tempo livre entre o lazer e o ócio. (CALVETE, 2006. p.2)

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Sendo assim, em que pese tais questões, nosso problema é identificar os impactos de uma possível RJT na economia brasileira, analisando os efeitos sobre as empresas e principalmente sobre os trabalhadores. Esses efeitos se traduzem em termos de emprego, tempo livre e produtividade.

Sobre o tempo livre Marx reflete

(...) na sociedade comunista, onde cada um não tem uma esfera de atividade exclusiva, mas pode aperfeiçoar-se no ramo que lhe apraz, a sociedade regula a produção geral, dando-lhe assim a possibilidade de hoje fazer tal coisa, amanhã outra, caçar pela manhã, pescar à tarde, criar animais ao anoitecer, criticar após o jantar, segundo meu desejo, sem jamais, tornar-me caçador, pescador, pastor ou crítico. (MARX, ENGELS, 1999, p. 47)

Não iremos nos ater a responder todas essas perguntas. Porém, a função delas é ajudar a refletir sobre a temática.

Uma das nossas principais hipóteses é que, dado cada vez mais o maior grau de abertura e dependência externa da economia brasileira, uma RJT mais intensa no Brasil fica cada vez mais difícil apesar da tendência de queda da JT em praticamente todos os países. Verificado isso, partiremos para os efeitos sobre a geração de emprego e ampliação do tempo livre do trabalhador, inclusive para a qualificação profissional. Soma-se a isso a hipótese de que os empresários também se beneficiariam com isso com os aumentos de produtividade e maiores ganhos no médio e longo prazo.

Para o trabalhador pretendemos mostrar que se for cumprida a jornada de trabalho legal aumentará seu tempo livre para lazer e estudo, ou seja, melhor qualificação profissional, o que pode lhe possibilitar ascensão em funções melhor remuneradas e de melhores condições de trabalho, diminuição dos riscos de acidentes e doenças ocupacionais.

Entre outros motivos fortes nos fizeram pesquisar mais a fundo o assunto foi a tomada de conhecimento da nossa parte de uma campanha unificada das centrais sindicais lançada em março de 2004 pela redução da jornada de trabalho sem redução nos salários e com limitação das horas extras; entender a lógica de funcionamento do modo de produção capitalista segundo a perspectiva marxista; e tentar oferecer, de fato, uma contribuição concreta para a minimização de

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males por quais passam a classe trabalhadora. Nesse sentido, a discussão da temática da jornada de trabalho que está sendo debatida na sociedade é de suma importância.

Essas indagações despertaram grande interesse no estudo do tema, cuja delimitação recairá sobre o Brasil. Uma das soluções para gerar crescimento econômico e emprego no Brasil passa pela RJT. O seu resultado não será apenas esse juntamente com o aumento do tempo livre, mas também o de fazer justiça social ao incluir no mercado de trabalho e de consumo milhares ou milhões de pessoas hoje à margem da sociedade. A redução da jornada de trabalho pode possibilitar ganhos para o capital, trabalho e Estado.

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2 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO SOBRE JORNADA DE TRABALHO

2.1 HISTÓRICO DA JORNADA DE TRABALHO

No mundo capitalista, bem como no Brasil as primeiras lutas sindicais recaíram exatamente sobre o tema da jornada de trabalho. Desde a Revolução Industrial a luta pela RJT foi inicialmente uma luta instintiva pela sobrevivência. A jornada diária alcançava 18 horas, provocando mutilação e até mortes. Os japoneses têm uma palavra chamada karoshi para a morte por excesso de trabalho, que é, normalmente, uma morte súbita durante o expediente. Esse fenômeno é bastante comum e recorrente no Brasil com os trabalhadores do setor canavieiro, mas especificamente os cortadores da cana, dos quais alguns são acometidos pelo karoshi. É a mais valia relativa e a mais valia absoluta agindo nestes casos, ou seja, extensas e intensivas jornadas de trabalho.

Os trabalhadores ingleses conseguiram a diminuição dessas longas jornadas para 10 horas diárias em 1847. No ano seguinte foram os franceses que conseguiram. Nos Estados unidos, no famoso 1º de maio de 1886, que deu origem ao dia do trabalho, o massacre que matou vários trabalhadores manifestantes, além de machucar, prender e enforcar outros, foi justamente uma reivindicação pela redução da jornada de 16 para 8 horas diárias. Em 1919 a OIT (Organização mundial do trabalho), normatizou a jornada de trabalho para os trabalhadores da indústria para 48 horas semanais. Na crise de 1929 nos Estados Unidos, uma das principais medidas para a recuperação econômica foi a RJT na indústria.

Desde o final do século XX a RJT adquiriu um significado distinto daquele de tempos atrás quando visava, principalmente, uma melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Atualmente a RJT é mais motivada pela suposta capacidade de geração de postos de trabalho. Apesar das condições de vida no mundo ter melhorado, foi absolutamente insuficiente para amenizar a pobreza e a miséria no mundo, causando insatisfação por parte dos trabalhadores, haja vista a enorme desigualdade, o baixo nível de renda e altas taxas de desemprego.

Essa luta histórica dos trabalhadores tomou várias formas ao longo da história: redução da jornada diária, semanal, mensal ou anual, aumento de feriados, aumento dos dias de férias,

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antecipação da aposentadoria, postergação da entrada no mundo do trabalho e outros direitos que os trabalhadores obtiveram que diminuem o tempo de trabalho socialmente necessário.

Entretanto, o que está em disputa ai é o controle do tempo de trabalhado, que pode acontecer em três dimensões: duração, distribuição e intensidade (DAL ROSSO, 1996). Esse controle é fundamental para os capitalistas. E enquanto política pública ele tem implicações políticas sérias para os capitalistas. De acordo com Marx, a cada RJT os capitalistas tentariam compensá-la com novos processos e tecnologias, intensificação do ritmo de trabalho, maior uso de horas extras ou modulação da jornada de trabalho, sem, necessariamente, criar novos postos de trabalho. Em outras palavras, a cada RJT segue-se uma intensificação do trabalho e novamente uma RJT, entrando, assim, num circulo virtuoso. A conseqüência disso é uma luta incessante pela apropriação dos ganhos de produtividade.

2.2 A VISÃO DOS AUTORES

De acordo com Paul Lafargue o apego da classe trabalhadora ao capitalismo é um desastre para esta, pois pode lhe tirar a vida. O pior é que isso é festejado por religiosos, economistas e moralistas. Para Lafargue

a palavra que lhes inocularam na mente é perversa, de que o trabalho desenfreado a que se entregou desde o começo do século é o mais terrível flagelo que assola a humanidade, de que o trabalho só se tornará um condimento do prazer da preguiça, um exercício benéfico para o organismo humano, uma paixão útil ao organismo social, quando for sabiamente regulamentado e limitado a um máximo de três horas por dia (...) (LAFARGUE, 1999, p.84)

Claus Offe, pensador alemão, tem um posicionamento muito cético no que cerne a capacidade da RJT aumentar o emprego. A luta sindical atual deveria focar sua atenção mais para a criação de emprego num "setor de atividades pós-industrial", pois este teria uma maior legitimidade por suprir necessidades subjetivas. (OFFE, 1997).

Na luta de classes travada ao longo da história do capitalismo, os trabalhadores deram o mesmo grau de importância tanto para os aumentos salariais quanto para a RJT. Isso decorre de esses dois fatos representarem uma maior participação na renda. Assim, aumento salarial e RJT se equivalem. Na Teoria da Mais Valia, Marx encerra importância central à duração e à intensidade

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do trabalho. Portanto, ao tempo de trabalho. No entanto, vemos com mais freqüência aumentos de salário do que redução e jornada ao longo da história, apesar dessa ter sido bastante reduzida. Mas será que a RJT foi na mesma intensidade, qualitativa ou quantitativamente, que os aumentos salariais no capitalismo? Parece que não. Parece. Os salários, real ou nominal, variaram na história muito mais do que a JT.

Para que haja RJT é preciso a conjunção de uma série de fatores. Dentre eles a condição econômica das empresas, conjuntura econômica e a correlação de forças políticas. Não basta a vontade de quem quer que seja para a variação da JT. As condições materiais históricas têm que estar postas.

Nem mesmo a Igreja deixa de ter a sua opinião sobre a jornada de trabalho. Na Encíclica Rerum Novarum de 1891 o Papa Leão XIII diz que:

A actividade do homem, restrita como a sua natureza, tem limites que se não podem ultrapassar. O exercício e o uso aperfeiçoam-na, mas é preciso que de quando em quando se suspenda para dar lugar ao repouso. Não deve, portanto, o trabalho prolongar-se por mais tempo do que as forças permitem. Assim, o número de horas de trabalho diário não deve exceder a força dos trabalhadores, e a quantidade de repouso deve ser proporcionada à qualidade do trabalho, às circunstâncias do tempo e do lugar, à compleição e saúde dos operários. O trabalho, por exemplo, de extrair pedra, ferro, chumbo e outros materiais escondidos debaixo da terra, sendo mais pesado e nocivo à saúde, deve ser compensado com uma duração mais curta. Deve-se também atender às estações, porque não poucas vezes um trabalho que facilmente se suportaria numa estação, noutra é de facto insuportável ou somente se vence com dificuldade. (Rerum Novarum, 1891)

Na chamada Era de Ouro do capitalismo (pós II Guerra até a primeira crise do petróleo), os ganhos de produtividade foram imensos. Então, foi possível os trabalhadores conseguirem redução de jornada nesse período. O que permitiu isso foi uma conjunção de elementos técnicos (inovações vindas da II Guerra e outros que logo se seguiram), político (Guerra Fria) e econômico (forte crescimento econômico). Além disso, o mercado de trabalho não era tão complexo como atualmente; a mão-de-obra era relativamente homogênea; as relações de trabalho eram relativamente rígidas e homogêneas; o compromisso keynesiano/fordista; a relativa estabilidade no emprego.

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Assim, é importante frisar que a jornada de trabalho não depende essencialmente da produtividade. Depende da luta incessante entre trabalho e capital. Não é uma questão meramente técnica mas, principalmente, política.A produtividade é uma condição necessária, mas não suficiente.

Na França, por exemplo, a recente RJT para 35 horas semanais foi possível por uma conjunção de fatores. Inclusive a produtividade do trabalhador francês supera à do trabalhador estadunidense. (LAFIS, 2000).

Atualmente a discussão da RJT ressurgiu no Brasil em função de condições macroeconômicas e microeconômicas. As altas taxas de desemprego estrutural, baixas taxas de inflação, algum crescimento econômico e ganhos de produtividade têm permitido aos trabalhadores reivindicarem a RJT no plano macroeconômico. A reestruturação produtiva que intensificou o ritmo de trabalho ou a exploração sobre os trabalhadores, fazendo-se necessário um maior período de descanso e tempo livre, justifica, no plano microeconômico, a retomada da luta pela RJT como instrumento de combate ao desemprego.

Após a era de ouro, Gorz (2003) defende em suas idéias o descolamento do trabalho e da renda. O Estado ofereceria benefícios para as empresas que criassem empregos que retardassem a entrada no mercado de trabalho para os jovens por meio de mecanismos como o seguro desemprego e outros benefícios sociais. Gorz (2003) acredita que a RJT planejada e negociada seria um caminho, talvez o único, para evitar o caos em uma sociedade onde haverá cada vez menos trabalho.

Segundo Gorz (2003) vem se reduzindo o tempo de trabalho necessário a um nível mínimo, ou seja, são produzidos maior quantidade de bens e serviços com menor quantidade de trabalho.

Não foi criado um "sujeito social" com condições culturais e políticas de impor a redistribuição do trabalho onde todos possam viver do trabalho mas trabalhando cada vez menos e ganhando cada vez mais. Não foi permitido o desenvolvimento pleno das capacidades do indivíduo de, no seu tempo livre, de exercer a cooperação em atividades artísticas, científicas, educacionais,

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políticas, etc. Gorz afirma que essa redistribuição do trabalho, da renda e da visão do homem sobre o trabalho é que vai impedir a total desintegração da sociedade e a heterogeneização dos trabalhadores.

O simples desenvolvimento das forças produtivas não emancipará nem irá criar a classe social que promoverá a transformação social. O instrumento para Gorz é o planejamento. O planejamento do desenvolvimento de formas racionais de redistribuição do tempo de trabalho. Isso se deve à pouca relevância que o autor atribui à luta de classes como mediadora dessa transformação. Esse planejamento seria necessário porque não existem, segundo o autor, agentes sociais que possam fazer a mudança. Então, seria uma negociação entre os agentes sociais mas não meramente pela burocracia estatal.

Não há possibilidade de aumentar o tempo de trabalho. A tendência é mesmo a sua diminuição. Ele prevê uma jornada de trabalho de 1.000 horas/ano, ou o que corresponde a 20.000 horas de jornada vital, ou mais ou menos 4 horas/dia.

Entender a questão do planejamento é fundamental neste autor. É preciso antecipar-se e planejar a redução do trabalho e sua redistribuição. Afinal, trabalho é gerador de direitos e, por isso, tem que se distribuir o trabalho para os que se encontram excluídos, senão lhes restaria viver de caridade e assistencialismo estatal como o Bolsa Família no Brasil, que não possui nenhum instrumento transformador, mas apenas mata a fome momentânea.

O autor acredita que essa transformação social não virá de um grupo específico e que nenhum grupo particular seria culpado pelo estado das artes no capitalismo. O diagnóstico e a solução proposta por Gorz é bem heterodoxa e progressista. No entanto, carece de maior consistência. Ao subjugar a luta de classes ao planejamento e acordos de agentes sociais ele se arrisca muito. O fato é que há uma hegemonia política crescente do capital financeiro sobre a classe trabalhadora. Assim, fica difícil planejar e negociar qualquer coisa, pois implicaria em perda para quem está ganhando.

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Na bibliografia pesquisada a defesa da RJT é quase uma unanimidade. Alguns autores, principalmente europeus são contra tal medida.

É preciso se questionar se foi a RJT ao longo da história que foi responsável por uma parcela do crescimento das economias capitalistas ou se foi o inverso, qual seja, o maior crescimento causado por um suposto maior crescimento da mais valia relativa do que por uma maior redução da mais valia absoluta que permitiu a RJT. A maioria dos autores pesquisados que versam sobre o tema da JT a trata em termos de tempo de trabalho. É preciso investigar essa exploração do trabalho em termos de mais valia. Discute-se que a jornada anual diminui ao longo do capitalismo, que aumentou a intensificação do trabalho, etc. Porém, o fato que destacamos é que a extração mais valia aumentou, seja a mais valia absoluta ou relativa. Nesse sentido, discutiremos abaixo algumas idéias de Karl Marx, que é um autor central para entendermos a JT. Marx (1996) afirma que o que gera valor no capitalismo é o trabalho. Assim, quanto maior for a jornada de trabalho maior será o valor gerado pelo trabalhador. Esse é o conceito de mais valia absoluta, ou em suas palavras:

À mais-valia produzida pelo prolongamento da jornada de trabalho chamo de mais-valia absoluta; a mais-valia que, ao contrário, decorre da redução do tempo de trabalho e da correspondente mudança da proporção entre os dois componentes da jornada de trabalho chamo de mais-valia relativa. (MARX, 1996, p.431-432).

Mais valia é a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador. Diferentemente de David Ricardo, Marx afirma que o trabalhador é pago pela sua força de trabalho e não pelo trabalho. Ao fazer essa distinção ele rompe com a idéia de que o lucro, segundo David Ricardo, é um resíduo, após auferida a renda da terra e o custo com salários - no nível de produção e reprodução da força de trabalho - e percebe que os capitalistas podem aumentar autonomamente as taxas de lucro sem depender dos custos de reprodução física da mão-de-obra.

Os trabalhadores menos habilidosos produziriam as mercadorias mais valiosas, pois demorariam mais tempo para produzi-las, caso o valor em trabalho correspondesse ao tempo concreto gasto na produção de cada mercadoria como afirmavam alguns economistas clássicos.

De acordo com Marx (1995), “O estabelecimento de uma jornada normal de trabalho é o resultado de uma luta multissecular entre o capitalista e o trabalhador.”

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Inicialmente, para Marx, o salário que o capitalista paga é "justo". O lucro tem como origem a propriedade privada do Capital, mas isso não é conseguido de forma automática como se o capital se reproduzisse como vegetais. Isso se configuraria "fetichismo". À medida em que o próprio salário "justo" tem seu valor estabelecido de modo a remunerar os trabalhadores por um valor menor do que o valor total das mercadorias por eles produzidas durante a jornada de trabalho contratada é que o lucro é explicado. A isto Marx chama "jornadas de trabalho simultâneas" (uma paga, a outra não).

Considerando que a jornada de trabalho (JT) é a expressão real do quanto a sociedade dedica à produção de mercadorias e que em certos Modos de Produção2 (MP) a acumulação é a máxima a ser alcançada e em outros MP não, podemos dizer que a jornada varia entre os MP. A JT pode variar muito entre os MP, pois a produção de mercadorias se baseia em determinadas formas de Relações de Produção3 (RP). Como a RP são diferentes nos distintos MP, a JT pode variar. Um primeiro limite à extensão da JT é o biológico. Não dá para trabalhar além do ponto em que coloca em risco a vida e a reprodução do trabalhador. O segundo limite é social. Este último pode depender de leis, estatutos, da mobilização em acordos coletivos e convenções de categorias profissionais. (DAL ROSSO, 1996. p. 45).

Há que se diferenciar trabalho heterônomo e trabalho autônomo. Trabalho autônomo é o trabalho realizado pelo próprio trabalhador, onde proprietário e trabalhador fundem-se em uma única pessoa. É o trabalho livre realizado pela necessidade de ganhar a vida pelo agente e com seus próprios meios de produção. Trabalho heterônomo consiste em trabalho controlado por outrem que não o próprio trabalhador. No capitalismo o trabalhador vende a sua capacidade de trabalho,

2

Entendemos modo de produção como uma totalidade que articula a estrutura econômica, a estrutura político-jurídica (leis, Estado) e uma estrutura ideológica (idéias, costumes). Na teoria marxista distinguem-se, ao longo da história, vários modos de produção: o comunista primitivo, o escravista, o feudal, o capitalista e o

socialista. A questão da sua sucessividade é polêmica.

3

Relações de Produção é um conceito marxista que define o conjunto de relações econômicas que se estabelecem entre os homens, independentemente de sua consciência e de sua vontade, no processo de produção e reprodução de sua vida social. A venda da força de trabalho pelos trabalhadores aos capitalistas define a principal relação de produção no capitalismo. Assim, a propriedade sobre os meios de produção é o fundamento dessa relação de produção.

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mas não pode controlar o que faz. Durante o tempo de trabalho comprado o capitalista faz o uso que quer dessa força de trabalho. Trabalho heterônomo4 é o trabalho alienado. Nesse sentido, o trabalhador exterioriza o seu trabalho em objeto, mas não o reconhece como fruto do seu trabalho. O trabalhador tem seu trabalho alienado. Mais ainda, o produto de seu trabalho ou a sua própria subjetividade objetivada exterioriza-se, escapa do controle do trabalhador e volta-se contra ele. Daí deriva a origem desse tipo de alienação: a propriedade privada dos meios de produção.

Além da alienação do objeto ou do produto o trabalhador sofre a alienação do processo ou da atividade do trabalho, que vem do próprio processo do fazer. Ao trabalhar faz uma atividade compulsória e para outrem. Não é um trabalho espontâneo. É um sacrifício o trabalho para o outro e não o trabalho para si. Portanto, quanto menor o tempo de trabalho menor o sacrifício. Existe um a terceira forma de alienação definida por Marx. É a alienação da espécie. Ao contrário de outros seres, o ser humano pode preconceber sua ação e daí desenvolver a alienação em relação ao trabalho, uma vez que uns podem, racionalmente, explorar o trabalho dos outros. Isto é singular e fundamental5.

Entre direitos iguais e opostos decide a força. Assim, a regulamentação da jornada de trabalho se apresenta, na história da produção capitalista, como luta pela limitação da jornada de trabalho, um embate que se trava entre a classe capitalista e a classe trabalhadora. (MARX, 1963, p.265)

Portanto, no capitalismo a luta pela jornada sempre foi assimétrica com prejuízos para a classe trabalhadora. Cada hora extra que o trabalhador faz é menos tempo livre, menos tempo de vida. O trabalho alienado tira parte da vida do trabalhador.

Engels (ENGELS, 1881) pergunta-se se há um salário justo para uma JT justa. Mas primeiro o que é um salário justo e uma JT justa? Diz Engels que não devemos recorrer à moral, ao direito, à

4 Trabalho heterônomo não se aplica só no capitalismo, ma também em outros modos de produção como o

feudal e o escravista.

5

Para ver mais sobre esse assunto ver o documento chamado “O trabalho alienado” em MARX, KARL. Manuscritos económicos – filosóficos. Edições 70: Lisboa-Portugal, 1963. Na opinião de Dal Rosso, “... constitui o de melhor existe sobre alienação do trabalho”.

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eqüidade ou até mesmo a qualquer sentimento de humanidade, justiça ou caridade. Afinal, o que pode ser, por exemplo, eqüitativo do ponto de vista moral ou do ponto de vista do Direito pode estar longe de ser da perspectiva social. Do ponto de vista social o que é ou não justo é determinado apenas por uma ciência, qual seja, aquela que trata dos fatos matérias da produção e da distribuição, a economia política.

Tal salário e JT justos seriam determinados pela taxa de salário e pela duração e intensidade da JT determinados pela concorrência entre empresários e trabalhadores no jogo de livre mercado. E em quais níveis são fixados? Segundo Engels, em condições normais, a quantia necessária à reprodução do trabalhador em conformidade com as condições históricas de vida de seu meio e de seu país que mantenha as condições de subsistência seria um salário justo. Trocando em miúdos, o salário de subsistência não é exclusivamente natural. Depende do tempo e do espaço, da história. Uma JT justa para Engels seria:

Uma jornada de trabalho eqüitativa corresponde a uma duração e a uma intensidade da jornada de trabalho que absorve completamente a força de trabalho - de um dia - do operário sem afetar as suas faculdades de produzir, no amanhã e nos dias seguintes, a mesma quantidade de trabalho. (ENGELS, 1881)

Ora, o trabalhador cede toda a sua força de trabalho que seja possível sem prejuízo da renovação da transação e recebe em troca, numa relação dita eqüitativa, precisamente o mínimo para a sua subsistência, e não mais do que isso, e o patrão oferece o mínimo em troca. Isto se configura eqüidade?

Vejamos mais. Se a JT e os salários são determinados pela concorrência, a eqüidade exige que ambas as partes comecem em condições de igualdade. Mas, ora, o que acontece, de fato, é que o trabalhador já começa a relação em desvantagem. O capitalista pode esperar um pouco e viver do seu capital, caso a transação não se concretize naquele momento. Entretanto, o trabalhador só possui a sua força de trabalho e não tem escolha: tem que aceitar, em alguma medida, as condições postas, ou impostas, e aceitar o trabalho tal qual ele lhe for apresentado. Aos olhos dos economistas clássicos e neoclássicos, por exemplo, isto se configuraria eqüidade. Portanto, o trabalhador parte inicialmente de uma condição de desigualdade. A liberdade inicial – de troca - se torna o seu avesso. O trabalhador tem uma dupla liberdade: a liberdade de vender a sua força de trabalho a qualquer custo ou a liberdade de morrer de fome!

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A eqüidade, na prática, só é completa para o capital. Não para o trabalhador. Restaria apenas a tomada do poder através de uma revolução em que os trabalhadores se apropriassem dos meios de produção.

3 JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL

3.1 HISTÓRICO DA JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL

As tarefas executadas pelos escravos na fazenda ficavam sob a supervisão dos feitores, que disciplinavam o trabalho escravo e impunham o ritmo de trabalho. A desobediência às regras impostas resultavam em pesados castigos corporais. As tarefas realizadas consistiam do plantio e dos cuidados com os pés de café. As ruas de café, permanentemente deviam ser mantidas limpas e esta limpeza era efetuada manualmente com enxadas, o que demandava grande esforço por parte dos escravos. A jornada de trabalho se estendia de sol a sol, não havendo espaço para o descanso e lazer. Quando muito tinham uma folga por semana para cuidar de uma pequena roça de subsistência que consistia na plantação de milho e feijão. (GARCIA, 2001. p.9)

No Brasil, a primeira greve pela redução da jornada foi em 1895. No entanto, foi a jornada de 8 horas diárias e 48 semanais só foi implantada na Constituição de 1934 no governo de Getúlio Vargas. Na década de 1980 algumas categorias conseguiram conquistar jornadas entre 40 e 44 horas, o que foi importante para que ela fosse limitada em 44 horas na Constituição de 1988, 54 anos depois da última redução.

O Art. 7º inciso XIII da Constituição brasileira estabelece a jornada de trabalho normal “não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e redução de jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 2006).

Atualmente a carga horária máxima permitida pela Constituição de 1988 é de 8 horas diárias, 6 horas por turnos ininterruptos de revezamento, adicional de horas extras de 50%, adicional de horas extras domingos e feriados de 100%, 2 horas extras por dia, no máximo, e o prazo para a compensação é semanal, mas a MP nº 1.709 de 1998 alongou o prazo para 12 meses.

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Em uma análise da evolução dos acordos e convenções coletivas de trabalho no Brasil entre 1996 e 2004 com base no SACC-DIEESE (Sistema de Acompanhamento de Contratações Coletivas), muitos dos acordos e convenções coletivas de trabalho analisados revelam que a grande parte das cláusulas referentes à duração do trabalho tratou-se apenas de descrever disposições constitucionais6. Dos setores que diminuíram a jornada nos acordos e convenções, em sua absoluta maioria, foram do setor industrial.

Uma constatação importante é que o instrumento mais utilizado foi o acordo coletivo, que resultam de negociações entre empresas e sindicatos de trabalhadores de uma ou mais empresas, em detrimento das convenções coletivas, que resultam de acordos firmados entre entidades representativas de empresários e trabalhadores, que abrangem os trabalhadores de toda ou uma parcela de determinada categoria profissional. Isso denota uma dificuldade por parte da classe trabalhadora em negociar a RJT de forma centralizada.

Em alguns desses documentos foram observados cláusulas que estabelecem o trabalho em regime parcial. Esse tipo de trabalho foi introduzido legalmente no Brasil pela Medida Provisória 1709-1, de agosto de 1998 e reeditado até 2001709-1, quando então foi introduzida na CLT (Consolidação das Leis do trabalho) como artigo 58-a. Não pode ultrapassar 25 horas semanais e sua remuneração tem que ser proporcional à remuneração de quem trabalha em regime integral e desempenha funções idênticas (DIEESE, 2006.).

3.2 PERFIL DA JORNADA DE TRABALHO NO BRASIL

Neste tópico trataremos alguns dados tabulados a partir da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) que, como o nome diz, é um registro obrigatório e anual que as empresas têm que declarar ao Ministério do Trabalho. Reúne empregados com tipos de vínculos celetistas, estatutários, temporários e avulsos. Portanto, apenas trabalhadores formais. Assim, quando nos referirmos aos dados da RAIS estaremos nos referindo ao setor formal da economia. A RAIS cobre cerca de 97% do universo do mercado formal brasileiro.

6 O normal é que em acordos e convenções coletivas algumas cláusulas são para aumentar os direitos dos

trabalhadores já previstos na lei e não para lembrar que elas existem ou quiçá diminuir tais direitos, o que é inconstitucional.

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O registro administrativo RAIS fornece informações estatísticas extremamente ricas sobre o mercado de trabalho formal, mas deve-se atentar para as limitações próprias deste tipo de coleta de dados, ocasionadas pela carência de supervisão direta de respondentes em campo. A principal restrição refere-se a omissão ou sonegação de informações dos estabelecimentos obrigados a apresentar a declaração. Os principais problemas detectados são (DIEESE, 2005d):

 Omissão ou sonegação de informações;

 Respostas incompletas;

 Erro de interpretação;

 Declarações agregadas na matriz, quando o procedimento correto seria o fornecimento dessas informações por estabelecimento. Em função desta falha, em alguns setores, percebem-se informações mais comprometidas que em outros.

 Distorções geográficas e setoriais dos dados.

3.2.1 Jornada Formal de Trabalho segundo o Gênero - Brasil - 2005

Gráfico 1 - Jornada Formal de Trabalho segundo o Gênero - Brasil – 2005 Fonte: RAIS 2005 (Relação Anual de Informações Sociais)

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3.2.2 Jornada Formal de Trabalho segundo a Região - Brasil – 2005

A jornada de trabalho formal nas regiões geopolíticas do Brasil varia pouco entre Elas. Vai, na ordem crescente, de 40 horas semanais nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste e 41 horas semanais nas regiões Sul e Sudeste. Mesmo que com uma pequena diferença percebemos no gráfico 2 que a jornada é maior quanto mais economicamente desenvolvida é a região. Isso se deve a vários fatores, dentre eles a melhor aplicação das leis por parte dos órgãos competentes, empresas melhor estruturadas para estabelecer relações de trabalho mais dignas. Em outras palavras, um capitalismo mais avançado. Isso tem algumas implicações sérias. Se houver uma redução legal para a jornada de trabalho abaixo desses níveis, coeteris paribus, as regiões mais pobres incorrem em maiores custos. Porém, seus trabalhadores também seriam mais beneficiados que os das regiões mais abastadas. Isto não significa que os trabalhadores destas regiões sejam mais explorados. Inferimos é que as relações de produção e as relações de trabalho são mais desenvolvidas nos lugares onde o capitalismo mais se afirma. Nestas regiões relativamente mais desenvolvidas há uma maior participação de empresas de maior porte, que tendem a formalizar as relações de trabalho. Estas empresas são as que têm mais a perder caso as irregularidades legais não estejam sendo cumpridas.

Gráfico 2 - Jornada Formal de Trabalho segundo a Região - Brasil - 2005 Fonte: RAIS 2005 (Relação Anual de Informações Sociais)

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3.2.3 Jornada Formal de Trabalho segundo o Setor Econômico - Brasil - 2005

Quando analisamos segundo o setor econômico há algumas significativas diferenças. O destaque é o setor público que tem a menor JT. Em seguida vêm os setores de Serviços (40 horas semanais), Extração Mineral (41h) e Serviços Industriais de Utilidade Pública (41h). Logo após com maior JT estão o Comércio (43h), a Indústria da Transformação (43h), a Construção Civil (44h) e a Agropecuária (44h). No conjunto da economia, o país teve uma média de 41 horas semanais. Isso leva-nos a perguntar se caso a jornada legal cair de 44 para 40 horas semanais se o impacto seria grande. Parece que para o setor com trabalhadores formalizados não sentiriam no geral, já que cairia de 41 para 40 horas semanais, observando que alguns setores como, por exemplo, Construção Civil (44h) e a Agropecuária (44h) teriam um grande impacto e precisariam de uma atenção maior do governo com políticas econômicas focalizadas, como subsídio, isenção fiscal, política setorial, etc.

Gráfico 3 - Jornada Formal de Trabalho segundo o Setor Econômico - Brasil – 2005 Fonte: RAIS 2005 (Relação Anual de Informações Sociais)

No entanto, é bom frisar que a economia brasileira conta com um grau de informalidade7 grande e possui as relações de trabalho muito mais precárias do ponto de vista do trabalhador.

7

De acordo dados da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) o grau de informalidade da economia brasileira era de 36,6%, em 1986, aumentou para 37,6%, em 1990, e 50,8% em 2000 e que o setor

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Vemos no gráfico 4 que a informalidade da população ocupada no Brasil deixa o nível de estagnação médio de 40% até o início da década de 1980 e cresce até o patamar médio de 50% em 2001 e os ocupados no setor formal passam de quase 60% na década de 1980 para menos de 50% em 2001. Isso se deve à maior investida do capital sobre os direitos dos trabalhadores com a implantação do modelo econômico neoliberal a partir do governo do ex-presidente Collor de Melo.

Gráfico 4 - Percentual médio da população ocupada no Brasil (1982-2001)* Fonte: IBGE/PME/SIDRA

3.2.4 Jornada Formal de Trabalho segundo a Faixa de Salários Mínimos - Brasil - 2005

Vemos no gráfico 5 que a JT é maior nas menores faixas de salário mínimo (SM) e vai diminuindo à medida que o SM aumenta. As faixas de SM a partir de 3 SM já possuem uma JT de até 40 horas semanais. Inferimos disso que uma RJT atinge positivamente mais os trabalhadores que ganham menos de 3 SM, que é a imensa maioria dos trabalhadores. Se houver uma RJT, tenderá a se gerar mais postos de trabalho nas faixas de SM menores. No setor formal a JT das faixas de SM maiores já trabalham, é média, abaixo das 40 horas semanais, o que significa

informal ocupa 60% dos trabalhadores. O estado de São Paulo tem uma taxa média de 55,2% de formalidade enquanto o maranhão 11,3%. Oemprego informal passa de 40%, em 1991, para 50% em 2001. (SABADINI)

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que postos de trabalho nestas faixas de remuneração aumenttariam pouco. Dependeria apenas do setor e da região, onde a JT varia como sabemos. Entretanto, os dados do gráfico justificam uma RJT sem redução de saláios, pois beneficiaria os mais pobres.

Gráfico 5 - Jornada Formal de Trabalho segundo a Faixa de Salários Mínimos - Brasil – 2005 Fonte: RAIS 2005 (Relação Anual de Informações Sociais)

3.2.5 Jornada Formal de Trabalho segundo o Grau de Instrução - Brasil - 2005

No gráfico 6 percebemos que quanto menor o grau de instrução formal do trabalhador maior é a sua JT. No geral, os trabalhadores com menor grau de instrução são relativamente mais vulneráveis no mercado de trabalho do que os possui maior escolaridade. Por isto tendem a ter não só menores salários mas também uma JT maior. Se trabalhar muito fosse tão positivo e digno os trabalhadores com curso universiário (35 horas), por terem mais força político-econômica, lutariam para ter uma JT maior que a dos analfabetos (43 horas), por exemplo.

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Gráfico 6 - Jornada Formal de Trabalho segundo o Grau de Instrução - Brasil - 2005 Fonte: RAIS 2005 (Relação Anual de Informações Sociais)

3.2.6 Jornada Formal de Trabalho segundo a Faixa Etária - Brasil - 2005

Quanto maior é a idade menor a JT formal segundo os dados do gráfico 7. Os jovens ao entrar no mercado de trabalho, por terem pouca ou nenhuma experiência, tem um menor poder de barganha do que os mais velhos. Normalmente têm um salário menor para uma mesma JT que um trabalhador mais velho.

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Gráfico 7 - Jornada Formal de Trabalho segundo a Faixa Etária - Brasil - 2005 Fonte: RAIS 2005 (Relação Anual de Informações Sociais)

3.2.7 Jornada Formal de Trabalho segundo o Tamanho do Estabelecimento - Brasil - 2005

Quanto maior é o número de trabalhadores por estabelecimento menor é a JT como vemos no gráfico 8. De um lado, as empresas que teriam maior dificuldade de absorver a RJT seriam as micro e pequenas empresas, que são as maiores empregadoras do país, apesar de os salários serem menores que os das empresas maiores. Por outro lado, os maiores beneficados seria este maior contingente de trabalhadores das menores empresas. Os estabelecimentos menores teriam menor capacidade de gerar empregos que as empresas maiores devido a uma RJT para compensar a menor força de trabalho disponível em horas. Por exemplo, numa grande indústria não é tão complicado aumentar o número de trabalhadores com uma RJT, apesar de estas já possuirem, em média, um JT próxima da proposta de RJT de grande parte dos trabalhadores para 40 horas semanais. Porém, se os trabalhadores de uma empresa pequena reduzem em 4 horas sua JT semanal e a estrutura de trabalha desta pequena empresa continua a mesma, onde se inseriria este novo trabalhador? Esta empresa duplicaria o número de caixas ou vendedores em sua pequena loja? Algumas teriam muitas dificuldades de administrar isso caso necessitassem de um novo

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trabalhador. Em outras palavras, haveria uma dificuldade de inserir o novo trabalhador no processo de trabalho, na rotina da pequena empresa. Isto é muito importante.

Gráfico 8 - Jornada Formal de Trabalho segundo o Tamanho do Estabelecimento - Brasil - 2005 Fonte: RAIS 2005 (Relação Anual de Informações Sociais)

3.2.8 Proporção de ocupados que trabalham acima de 44 horas semanais, por sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2005

No gráfico 9 percebe-se que a proporção do trabalhadores que trabalham acima da JT legal de 44 horas semanais varia entre as regiões metropolitanas do país. As que possuem maior proporção são as que têm relativamente um maior índice de pobreza como Salvador e Recife e Brasília possui uma JT menor, que um nível de renda maior. Portanto, uma eventual RJT funcionaria também como um instrumento de política pública de equalização regional.

Estes são dados da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), que pesquisa domicílios e não apenas o setor formal da economia.

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Gráfico 9 - Proporção de ocupados que trabalham acima de 44 horas semanais, por sexo Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2005

Fonte: PED

3.2.9 Jornada média dos ocupados, por sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2005

Diferentemente dos dados apresentados pela RAIS, o gráfico 10 abaixo com dados da PED nos mostra que a JT está acima da proposta de RJT de 40 horas semanais, com exceção de Belo Horizonte, que já possui 40 horas.

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Gráfico 10 - Jornada média dos ocupados, por sexo Regiões Metropolitanas e Distrito Federal – 2005 Fonte: PED

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4 A VISÃO DAS CLASSES SOCIAIS E DO ESTADO

4.1 ESTADO, CAPITALISTAS E TRABALHADORES

Analisaremos três visões sobre a JT, a dos trabalhadores, a da empresa e a da economia nacional. Os agentes destas três visões ora compartilham de idéias referentes à jornada de trabalho com outro agente, ora tem posição antagônica. Na maior parte das vezes defendem seus interesses imediatos.

É óbvio que normalmente as empresas são sempre contra à RJT num primeiro momento. Se houver força política e elas não vislumbrarem benefícios imediatos, não reduzirão a JT espontaneamente ou até com argumentações, por mais convincente que seja. Mesmo que seja bom para a classe burguesa, é difícil para a empresa pensar nesses termos e deixar de defender seu interesse de curto prazo, que é a maior exploração possível da força de trabalho.

O primeiro argumento utilizado é o aumento inicial dos custos e a perda de internacional (CETTE, TADDÉI, 1997a). Essa é uma visão apenas microeconômica do fato e de curto prazo. Nega a possibilidade de benefícios no longo prazo, se é que há. Os tais benefícios no longo prazo seriam observados a partir dos efeitos na demanda agregada, na renda nacional, no nível de emprego, na tributação e nos gastos sociais (CETTE, TADDÉI, 1992).

A RJT é uma variável que impulsiona o crescimento econômico no longo prazo. (BOSCH, LEHNDORFF, 2001).

Um argumento importante para rebater o ceticismo dos empresários é que há ao longo dos anos o aumento da composição orgânica do capital (COC). Isso significa que o Capital Constante aumentou sua participação no Capital Total em detrimento do Capital Variável, que é a mão-de-obra. Ora, se a mão-de-obra pesa cada vez menos é mais fácil fazer concessões econômicas.

Para exemplificar isso tomemos o exemplo das empresas de sucesso que vêm ditando tendência a vários anos sobre a gestão empresarial, Toyota, IBM e Volvo. Assim como a Ford ditou um

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modelo, essas empresas vêm sendo exemplo para outras empresas. Basicamente é uma produção flexível, Just in time. Reduz-se o nível de estoque e capital imobilizado e produz aquilo o que o mercado pede naquele instante. Nesses casos o que importa é a utilização intensiva de capital e tecnologia, que é cada vez mais cara. Vale lembrar que no Brasil os salários vêm caindo a algumas décadas bem como a participação da renda do trabalho na renda nacional. (FILGUEIRAS, GONÇALVES, 2007).

Assim, o que importa para os empresários é manter essas máquinas produzindo a maior parte do tempo possível. (CETTE, TADDÉI, 1992).

As experiências internacionais de RJT mostram que, em geral, ocorreu paralelamente o aumento do tempo de utilização do capital em função da reorganização do tempo de trabalho e aumento do número de termos. (BOSCH, LEHNDORFF, 2001).

Alguns desses autores afirmam que haverá redução dos custos marginais e ganhos de produtividade caso a RJT permita a adoção de novas formas de organização da produção como a organização em turnos de produção, anualização da jornada de trabalho e trabalho nos finais de semana que permitam o uso intensivo do Capital Constante. As horas a menos que o trabalhador teria seriam também exatamente aquelas onde ele seria menos produtivo. Isso acarretaria menos trabalho com falta de atenção e concentração que, por sua vez, aumenta a produtividade do trabalho e diminuição dos acidentes de trabalho que poderiam até danificar as máquinas, perda de negócios, etc.

Até aqui há pontos em comum entre todos os agentes envolvidos no processo. Todavia, há pontos antagônicos. Um exemplo é o financiamento da RJT. Quem irá arcar com o aumento de custo no curto prazo decorrente da RJT? Em toda negociação classista o empresariado tende a ignorar o passado. Normalmente aumenta o salário sem levar em conta as perdas históricas; não reduz a jornada de trabalho por não levar em consideração os ganhos de produtividade do passado, etc. Assim, esquecem que todos possuem uma trajetória até ali. Apenas querem negociar a partir do zero como se o qüiproquó houvesse se iniciado naquele momento. Então deixam a questão de

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quem financiará a RJT a partir dali. Mas é importante frisar que a RJT que ocorrem no mundo em todo o século XX foi decorrente dos aumentos de produtividade.

Cabe então saber quais os mecanismos que propiciaram a fonte de financiamento da RJT. Há um aumento inicial do salário-hora e aumento dos custos de produção. Se os empresários forem compensados totalmente por isso, significa que eles estarão isentos de tal financiamento. Não se reduzirá sua margem de lucro nem o ritmo de acumulação do capital. Não existe almoço grátis e outros terão que pagar. Outra forma de deixar os empresários isentos é com a introdução de inovações e intensificação do trabalho, impedindo a criação de novos postos de trabalho e a distribuição funcional da renda. Nesse caso aumentaria a taxa de exploração da classe trabalhadora com o aumento da acumulação de capital e apropriação de novos ganhos de produtividade.

Custos fixos aumentarão em função da RJT com a contratação de novos empregados (qualificação, folgas semanais, alimentação, saúde, transporte, etc) ou se pagará um maior número de horas extras. Esses custos poderão ser pagos pelos trabalhadores através da redução da remuneração; pelos consumidores, com a elevação dos preços; ou pela sociedade através de subsídios e isenções fiscais concedidos pelo governo.

O que geralmente aconteceu nas experiências internacionais de RJT foi a divisão do financiamento por todos os setores. Houve isenções fiscais, diminuição da margem de lucro e compensação parcial de salários de forma direta para que ocorresse isso. De forma indireta foi financiado pelos ganhos de produtividade advindos em conseqüência ou concomitantemente à RJT. Esse último ponto decorrente de novas formas de gestão do trabalho encobre o fato de que os custos decorrentes da RJT recaem sobre os trabalhadores sem diminuição dos rendimentos mas há uma intensificação do trabalho.

O sistema capitalista é muito mais eficiente em produzir do que distribuir os resultados dessa produção. Há diversas maneiras de distribuir a renda. Uma das variáveis é a correlação de forças. A distribuição dos ganhos de produtividade pode ocorrer de diversas formas. Vejamos esse quadro analítico:

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Formas de apropriação da

produtividade

Beneficiários

Incorporada aos lucros

Incorporada aos juros

Provoca uma queda dos preços

Incorporada aos salários

Permite a RJT

Empresários do setor produtivo

Empresários do setor financeiro

Sociedade

Trabalhadores

Trabalhadores

Quadro 1 – Apropriação da Produtividade

Elaboração: Dieese

A depender da forma em que a produtividade é apropriada, os beneficiários podem ser trabalhadores, empresários ou a sociedade. O que há é uma disputa por essa apropriação da produtividade e isso é, muitas vezes, um movimento de forças e sem solução consensual.

A RJT torna possível a participação dos produtores nos ganhos de produtividade que são produzidos por toda sociedade, pois as inovações tecnológicas e organizacionais são frutos muito mais do trabalho e conhecimento acumulados coletivamente do que de pretensos empreendedores schumpeterianos.

Segundo o Dieese a produtividade no Brasil permite que se busquem ganhos para o trabalhador

...sabe-se que o trabalhador brasileiro é muito produtivo. Na década de 90, a produtividade do trabalhador brasileiro mais que dobrou, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já os primeiros anos do século XXI mostraram um ganho de produtividade de 27%, ou seja, a produtividade continua crescente sem que os trabalhadores e a sociedade como um todo tenham a retribuição a que seu trabalho faz jus. (DIEESE, 2007)

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A maior produtividade do trabalho determina um maior excedente econômico. Contudo, não é definido, a priori, quem se apropriará desse excedente. A luta de classes definirá. Ganhos de produtividade podem ser distribuídos entre: lucros, salários, apropriação pelo estado e RJT.

A produção de um trabalhador de hoje mais do que decuplicou em relação ao trabalhador de meados do século. Em um século e meio cada trabalhador multiplicou por 25 sua capacidade de produzir no mesmo período de tempo de trabalho (LIMA, 2002). A redução da JT acompanha ou é acompanhada por ganhos de produtividade. Afinal, a produtividade é função inversa do tempo de trabalho, pois se produz mais eficientemente na primeira hora de trabalho do que na décima terceira!

Segundo o IBGE, entre 1991 e 1999 a produtividade brasileira na indústria cresceu 48%. Cresceu relativamente mais do que nos países desenvolvidos desde início da década de 1990. No entanto, a produtividade absoluta ainda é baixa. A produtividade brasileira ainda equivalia a 36% da produtividade estadunidense em 1997.

4.2 EXPERIÊNCIAS

A RJT na França em 1997 de 39 para 35 horas semanais gerou crescimento econômico e aumentou a taxa de investimento industrial como proporção do PIB8. O fato é que esta redução lá deu certo, ao contrário do que esperavam os teóricos liberais. A proporção dos salários na renda total na França é bem maior do que no Brasil. Isso é um fato que favorece o argumento pela redução da jornada no nosso país. Pois aqui a participação dos salários pesa menos no total da renda em relação ao capital. Entretanto, os empresários brasileiros discordam. Sempre houve resistência à redução da jornada por parte da burguesia. A jornada sempre diminuiu e o capitalismo não acabou. Pelo contrário, foi fortalecido com isso. Cálculos mostrados pela LAFIS (Pesquisa e Investimento em Ações na América Latina) dizem que a redução da jornada no Brasil traria um impacto positivo e melhor do que foi a redução de jornada para a França. A redução da jornada é uma alternativa, bem melhor para a cura de males como violência, desemprego e falta

8 É bem verdade que a França se beneficiou com a desvalorização do Euro no período frente à outras moedas

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de crescimento econômico do que a repressão policial. O custo financeiro de reduzir a jornada de trabalho seria muito inferior às outras alternativas.

Em 1988 a RJT legal em 8,33% aumentou em cerca de 1% o número de postos de trabalho de acordo com os cálculos de Dal Rosso. (DAL ROSSO, 1998a). Isto se deve ao fato de o capital ter conseguido contrabalançar a RJT lançando mão de, principalmente, horas extras. Meses antes de a Constituição ser promulgada, 24,4% dos trabalhadores faziam horas extras. Meses depois eram 41,2%. Além das horas extras ocorreu simultaneamente a intensificação e a densidade do trabalho. Nos dias de hoje seria necessário não deixar o capital usar esses mecanismos que amortecem os efeitos da RJT, ou seja, reduzir a JT sem redução de salários, penalizar o uso de horas extras, do banco de horas e qualquer forma de burlar a RJT.

Nesse sentido, a redução de jornada traria não apenas crescimento econômico ao Brasil através da geração de renda e demanda com os seus efeitos multiplicadores na economia, mas traria consigo, sobretudo, desenvolvimento socioeconômico. Como dissemos, outro argumento importante é que o peso dos salários no Brasil é menor do que nos países desenvolvidos em geral. No entanto esse impacto será diferenciado para os diversos setores da economia que tenham diferentes composições na divisão da renda. Numa fase transicional faria sentido oferecer subsídios a setores específicos como meio de estimular a criação e manutenção de postos de trabalho e a diversificação da economia.

Vamos fazer uma continha. Supondo uma redução da jornada legal de 44 horas semanais para 40, ou 10% menor, gere 5% a mais de empregos. Essa é a proposta da campanha unificada das centrais sindicais brasileiras. Se considerarmos que o total de trabalhadores formais no Brasil chega atualmente aos 25 milhões. Isso quer dizer 1,25 milhões de empregos. Se cada um desses empregos fossem subsidiados a R$ 500 mensais o custo mensal seria de 625 milhões de reais ou 7,2 bilhões anuais9. Realmente não é nada frente aos mais de R$150 bilhões pagos pelo serviço da dívida pública a cada ano nos últimos anos, que tem como principais credores os bancos, que nunca lucraram tanto na história brasileira numa escala ascendente desde toda a década de 1990.

9 Baseado em LIMA, Álvaro José Cardoso. Jornada de trabalho e produtividade. [Florianópolis] SC, 2002.

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4.3 LIMITES E POSSIBILIDADES NO BRASIL DA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

O movimento sindical (CENTRAIS, 2008) tem pressionado os sindicatos patronais e o Congresso nacional para reduzir a JT para 40 horas semanais. Os sindicalistas alegam que a medida irá aumentar o emprego direto em cerca de 2,252 milhões de novos postos de trabalho, usando para este cálculo o DIEESE; aumentar o tempo livre dos trabalhadores para investir em qualificação profissional e em aumento do lazer.

Na quarta semana de abril de 2008, 37 mil trabalhadores químicos na indústria farmacêutica de São Paulo assinaram uma convenção coletiva de trabalho que garante, entre outras coisas, a redução da JT de 44 para 40 horas semanais a partir de 2008 de duas vezes. Em janeiro reduzirá para 42 horas e em dezembro do mesmo ano para 40 horas sem redução de salários. As centrais sindicais envolvidas nessa convenção - CUT e Força Sindical - acham que esse fato vai servir de parâmetro para os parlamentares quando for votada no Congresso Nacional a proposta de RJT. Além disso, para ajudar na "persuasão", será entregue em 28 de maio de 2008 um abaixo-assinado com mais de cinco milhões de assinaturas que reivindica a RJT. Não cremos que essa convenção vá influenciar tanto assim na decisão do Congresso. O que deve prevalecer são os interesses políticos e econômicos imediatos destes e de quem financia suas campanhas.

Em 2008 a RJT foi o tema principal das manifestações dos trabalhadores no dia primeiro de maio, Dia Internacional do trabalho. Paralelamente a isso houve uma pressão pela renovação anual das convenções coletivas em várias categorias.

Segundo os sindicalistas, reduções de JT eram conquistadas mais através dos acordos coletivos do que das convenções coletivas de trabalho; não se faz convenções coletivas desse tipo em época de crise, mas quando há alguma estabilidade econômica e esse seria um bom momento; conquistas para a grande parte dos trabalhadores são antecedidas historicamente por categorias de trabalhadores relativamente melhor posicionadas como, por exemplo, os trabalhadores metalúrgicos, que anteciparam a redução da JT para 44 horas alguns anos antes da RJT de 1988, e os trabalhadores químicos neste caso de 2008. Dificilmente conquistas como RJT, planos de

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saúde, vale refeição, vale transporte, etc chegam primeiro a categorias de trabalhadores menos remuneradas.

Clemente Ganz Lúcio, Diretor Técnico do DIEESE, diz que esses empregos criados com a RJT de 44 para 40 horas semanais só se concretizará se for regulamentado o banco de horas e, principalmente, a extinção das horas extras para que as empresas não venham a compensar a RJT que não seja com a contratação de novos trabalhadores.

Para Márcio Pochmann, atual presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), essa RJT proporcionaria uma geração de empregos mais nos setores de comércio e serviços. Segundo ele na indústria a RJT tem mais uma função de redistribuição de produtividade. Diz para isso que esse mesmo setor farmacêutico de São Paulo reduziu a jornada de 44 para 42 horas e um ano após o nível de emprego praticamente não cresceu.

Segundo Artur Henrique, presidente da CUT, existem duas motivações para fazer da RJT o tema central das reivindicações em 2008 de todo movimento sindical:

I. Maior produtividade e aumento dos lucros, principalmente dos setores financeiros, de serviços e agrícolas desde a Constituição de 1988;

II. Aniversário de 20 anos da Constituição de 1988, data da última RJT.

O DIEESE (2008), na defesa de sua tese em favor da RJT para a Campanha pela Redução da Jornada sem Redução de Salário organizado pelas centrais sindicais no dia 28 de maio de 2008, destacou três tipos de argumentos.

I. Aqueles relacionados diretamente ao tempo de trabalho, afirmando que há no Brasil um tempo de trabalho extenso, intenso e flexível;

II. Os relacionados à economia do país, como a capacidade de absorção da medida e o aumento de produtividade;

III. Os relacionados ao tempo livre e à qualidade de vida.

Referências

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