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A VISÃO DE SASSAKI EM RELAÇÃO A DEFICIÊNCIA

No documento Cidadania e deficiência (páginas 59-63)

O Professor Doutor Romeu Kasumi Sassaki é um especialista na área da inclusão social e também na questão de introdução de cidadãos com deficiência no mercado de trabalho. Pelo seu nome parece que é oriundo do país do sol nascente, isto é do Japão mas a verdade é só mesmo nas raízes. É um cidadão nascido no Brasil, nacionalidade brasileira, do Estado de São Paulo, que se interessou bastante pelas causas dos cidadãos com deficiência. Além de ter escrito algumas bibliografias muito interessantes estabeleceu diferenças entre inclusão e integração, desenvolvendo um notável trabalho há cerca de cinquenta anos a esta parte naquela área e demonstrando com argumentos válidos as diferenças existentes. É licenciado em Serviço Social, e fez uma pós graduação em Psicologia de Conselhos na Área de

60 Deficiência e Reabilitação, nos E.U.A. Das obras com mais destaque salienta-se “A inclusão no lazer e turismo- em busca da qualidade de vida”, “Inclusão construindo uma sociedade para todos”. Este importante Técnico Social Superior, além de escrever executava importantes tarefas a saber:

- Consultoria a empresas e todo tipo de instituições, tanto no sector público ou privado. - Executava tarefas de consultoria a órgãos de governo.

- Ministrava dando conselhos a ONG (Organizações Não Governamentais). - Efectuava palestras em eventos, congressos e alguns seminários.

De acordo com um estudo feito este cidadão relatou aspectos importantes a um jornal conceituado no Brasil designado Jornal da AME – Amigos Metroviários dos Excepcionais (http://www.etur.com.br)

Iniciou as suas tarefas em 1960 tendo conseguido a colocação de um cidadão no mercado de trabalho. Sendo a primeira vez notou uma enorme dificuldade devido a vários factores pois a sociedade não estava habituada, sendo certo que desde esse dia nunca mais parou. Depois também desenvolveu tarefas de consultoria a órgãos governamentais, delineando estratégias políticas no sentido de mostrar a sociedade o direito a inclusão e integração, no mercado de trabalho na escola e em organizações governamentais e de foro privado. Por exemplo numa inspecção acompanha outros técnicos de Acção Social, propondo quando for caso disso a atribuição de subsídios para fomentar a inclusão e integração do portador de deficiência. Ainda hoje é responsável pela formação em termos de inclusão ministrando formações nas áreas de lazer, no campo laboral, nos acessos, na eliminação de todo o tipo de barreiras. É facto que não são formações muito longas e normalmente são realizadas em empresas, escolas com alunos especiais, instituições e outros. Mesmo em locais idênticos a este promove colóquios, palestras nos eventos e participa em congressos, e normalmente não recusa um convite.

Nas preciosas palavras do Doutor Sassaki e debruçando-se sobre inclusão ele pensa que se trata de um processo em que a sociedade tem de mudar em relação aos vários tipos de populações desfavorecidas. Trata-se no processo de inclusão proceder a várias reformas e modificações por exemplo no mercado de trabalho e mesmo nas futuras funções do trabalhador. É preciso modificar a visão de inclusão nas entidades empregadoras. As políticas

61 internas das empresas têm de ser alteradas e como? Por meio de colóquios, sessões de esclarecimento, mudar em termos estratégicos os equipamentos da empresa tudo em função do cidadão que vai ocupar um posto de trabalho. A inclusão passa também por transformar as entidades patronais mais receptivas, recebendo assim da melhor forma as pessoas com direito a diferença. Este Professor defende auspiciosamente a educação inclusiva, isto é a escola quando admite um aluno com deficiência terá de desenvolver esforços para se adaptar ao aluno recém-chegado. Ele chama a atenção que é a escola a adaptar-se ao aluno e não o contrário, isto é a escola tem de aceitar submeter-se a transformações de todo o tipo para cada aluno. Se por exemplo aceitar um cego deve a escola requisitar materiais em Braile enquanto se for uma criança surda-muda deve contratar um técnico especializado em interpretação da linguagem própria. Se por exemplo for um cidadão de cadeira de rodas deve a escola ter carteiras adequadas, e todos os meios informáticos disponíveis. Aqui devem estar todos os processos adequados para se efectuar um ensino conveniente a alunos portadores de deficiência.

As transformações nas escolas não só favorecem o cidadão em questão mas também do ponto de vista de coesão de grupo, facilmente percebemos que todos saem a ganhar. Do ponto de vista social a sociedade inclusiva é toda a espécie de cidadãos. Para além do ensino pedagógico em que os professores são responsáveis também estes devem estudar a proveniência dos alunos, bem como todo o historial antes de entrarem na escola. Nunca se sabe se podem ser alunos carenciados, vindos de bairros sociais onde abunda a fome, questões de droga, crime organizado e outros problemas de cariz social. A função essencial da escola é incluir todos estes alunos de origem de diversa ordem. A isto chama-se escola inclusiva. E por isso a visão de escola inclusiva que dominava em tempos já idos deixa de existir sendo certo que as escolas é que têm de adaptar-se aos alunos e não os alunos a escola.

Em relação aos estabelecimentos de ensino e também empresas que modifiquem a escola estes têm muito mais vantagem do que aqueles que não modificam. Do ponto de vista social as instituições que transformaram os seus espaços para receber pessoas com o direito a diferença são mais benéficas pois promovem o convívio entre vários tipos de pessoas com deficiência ou sem deficiência. Desde que haja uma aceitação e uma mudança de mentalidades as relações humanas entre todo o tipo de indivíduos acontecem. Por inerência de factos o respeito é mútuo, as relações diversas com todo o tipo de pessoas acaba por ser uma realidade. O facto de o ser humano relacionar-se com diversos tipos de pessoas, nomeadamente com aqueles que têm direito a diferença engrandece o espírito de

62 camaradagem e do convívio entre todos nas instituições. Já se provou estes factos com algumas experiências em várias instituições não só no Brasil como por toda a parte do mundo e também em Portugal.

Já vimos que no nosso país há legislação específica na Administração Pública no que respeita ao sistema de cotas. No caso do Brasil o professor Sassaki opina que a lei de cotas não ajuda a questão da inclusão pelo facto de se tratar de uma lei discriminatória. A percentagem de portadores de deficiência é baixa pelo que na prática traduz discriminação e marginalização. A lei apenas permite em cada cem colaboradores apenas 2% são admitidos o que é um número aquém das expectativas para fomentar a inclusão. É uma lei que implica uma imposição, é pouco democrática e tem um cariz obrigatório. Por outro lado a lei inclusiva é uma lei sem pressão capaz de elaborar mais contratos não havendo por isso uma obrigação subjacente, sendo certo que existem provas de que uma empresa que aposta na diversidade tem um clima de trabalho mais enriquecedor. Há uma maior conjugação de esforços no sentido de resolver os problemas da empresa e o espírito de coesão e respeito são muito maiores.

No Brasil elaboram-se estudos com base no conceito de EMPONDERAMENTO, que os ingleses chamavam EMPOWERMANT. Este conceito é criado no ano de 198123. Traduz o reconhecimento dos deficientes a definir os seus problemas e terem soluções de acordo com o seu estado real. Por outro lado o conceito de MAINSTREAMING induz que todas as políticas de sectores principais deverão articular-se com as demais de carácter secundário numa perspectiva transversal no plano social. Todos podemos ficar com uma deficiência de um momento para outro, basta ter um acidente. Pode ser para toda a vida e do ponto de vista psicológico é importante podermos e querermos atravessar os obstáculos que virão ao longo do resto da nossa vida. Assim o poder decisivo de ficarmos independentes só depende exclusivamente de nós e devemos assumir todas as consequências da nossa decisão em prol da nossa autonomia. Não obstante o EMPONDERAMENTO é um processo do qual todo o cidadão intervém construtivamente no sentido de contrariar a sua deficiência conseguindo executar as suas tarefas mesmo sem ajuda de ninguém. Acaba por ser um direito de todos os cidadãos em que se deve assimilar este conceito para posteriormente se traduzir em igualdade de oportunidades. É o próprio indivíduo que assume a situação em que se encontra e não se deixa controlar por terceiros. Todavia é necessário que do ponto de vista social haja

63 consensos entre as pessoas e todos aceitemos a deficiência de uma vez por todas. E aqui podemos dizer que a inclusão entra numa fase embrionária. Outrora os portadores de deficiência eram excluídos e marginalizados da sociedade. Quem não se lembra de associar a deficiência a doença ou a um castigo divino? Hoje em dia com a igualdade de oportunidades aquela posição tende a desaparecer, havendo condições idênticas para todos, na certeza porém é preciso continuar a eliminar as barreiras arquitectónicas, e as demais que impeçam a imposição da sociedade inclusiva. Também já mencionamos quais os tipos de barreiras que existem e directa ou indirectamente impedem a sociedade inclusiva. E por este facto é preciso continuar a luta pela sociedade inclusiva, com justiça com todos os preceitos igualitários, aceitando e convivendo com todo o tipo de cidadãos, e todos nós participarmos neste projecto de cidadania.

No documento Cidadania e deficiência (páginas 59-63)