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2. O PROCESSAMENTO DAS INFORMAÇÕES PELA SENSAÇÃO E PELA

2.2. O desenvolvimento da percepção em pessoas com deficiência visual

2.2.1. A visão

A visão é um órgão sensorial que capta uma grande quantidade de informações em diferentes alcances de distância de forma simultânea propiciando uma aprendizagem espontânea e incidental (BARRAGA, 1986; 1997). O seu pleno desenvolvimento poderá ser alcançado por volta dos três a quatro anos de idade podendo ser moldado até a idade de oito a 10 anos (GRAZIANO; LEONE, 2005). Aos 10 anos de idade, de acordo com Lombardi e Rabanal (s.d), as funções visuais já se desenvolveram.

Bee (2011) informa que a acuidade visual de um recém-nascido é muito baixa e que os valores estão entre 20/200 a 20/400 pés, sendo 20 pés equivalente a 6 metros, que é o mesmo de dizer que a acuidade visual do recém-nascido é de 6/60 a 6/120. Isto significa dizer que enquanto uma pessoa enxerga um objeto a 60 ou 120 metros de distância, o recém-nascido o enxerga a apenas 6 metros de distância. Isto ocorre porque, segundo Graziano e Leone (2005), as estruturas cerebrais e retinianas do recém-nascido, relacionadas com a visão e com a movimentação dos olhos, ainda são imaturas. Os autores acrescentam que a visão monocular no recém-nascido estará melhor desenvolvida a partir dos dois meses de idade e o desenvolvimento da visão binocular ocorrerá dos três aos sete meses.

O processo de ver é bastante complexo e o seu desenvolvimento influencia o desenvolvimento de outras áreas e sistemas, tais como o sistema motor, a linguagem, as relações afetivas, interatuam em conjunto com as demais áreas e sistemas (BARRAGA, 1986; NUNES, 2001). As crianças com desenvolvimento típico, por volta dos quatro meses de idade, são capazes de acompanhar um objeto em movimento com os olhos, o que acarretará o controle de braços, mãos e dedos que resultará no desenvolvimento olho-mão, como Lowenfeld (1974) apresenta.

Um detalhamento do desenvolvimento da visão foi apresentado por Barraga (1986), para quem, um intenso desenvolvimento visual acontece até por volta dos três a quatro anos de idade. Até este período, as percepções visuais e os funcionamentos visuais específicos

estarão melhores desenvolvidos. Aos quatro anos de idade, a criança tem domínio da coordenação olho-mão e consegue o domínio do controle visual, a exploração e a manipulação do objeto. Aos cinco anos a criança pode discriminar semelhanças e diferenças dos objetos e suas representações. Outros autores acrescentam que quando não há um desenvolvimento típico da visão, a apreensão do mundo não se dá de maneira espontânea e poderá ser mais lenta. Nesta condição, as crianças com deficiência visual poderão apresentar dificuldades para fortalecer o tônus muscular, imitar, entender a permanência de objeto, além de apresentar posturas inadequadas, verbalismos, estereotipias, dificuldade na linguagem (NUNES, 2001; OCHAÍTA; ESPINOSA, 2004; FERREL, 2006; LANGLEY, 2006).

Considerando que uma proporção muito pequena de pessoas com deficiência visual prescinde de qualquer resquício de visão, uma grande parte da população tem baixa visão ou podem ter resquícios funcionais da visão. Considerando esta grande parcela da população que não dispõe de visão íntegra é que os autores discutem a importância da mediação dos adultos no desenvolvimento das crianças. A mediação de um adulto será fundamental para ensinar as crianças a enxergar maximizando o uso dos seus resíduos visuais que dispõem e a explorar os demais sentidos para compreender as informações que captam no ambiente (BARRAGA; COLLINS, 1997; NUNES, 2001).

As maiores dificuldades que as pessoas com baixa visão se deparam estão geralmente relacionadas a perceber “profundidad, movimiento, objetos en contraste con fondo semejante a éste, objetos con poca luz, detalles distintivos en formas y dentro de figuras, movimientos corporales de los otros y detalles específicos en un amplio campo1” (BARRAGA; COLLINS; HOLLIS,1997, p. 16).

Em face dos desafios com os quais as pessoas com baixa visão se defrontam, Barraga e Collins (1997) sugerem a avaliação das funções visuais, da realização das tarefas visuais e da performance em diferentes variações de luminosidade das pessoas com deficiência visual, a fim de que sejam elaborados programas de estimulação visual que visem a melhora do funcionamento visual e que sejam adequados à necessidade de cada uma. Os autores especificam a classificação das em: função óptica, função óptica-perceptiva e função visual- perceptiva. As funções ópticas são aquelas que envolvem o controle fisiológico dos músculos internos e externos dos olhos, tais como a fixação, o seguimento, a acomodação, o enfoque e o movimento. As funções óptico-perceptivas são interdependentes, isto é, à medida que a

1 “profundidade, movimento, objetos que não apresentam contraste com o fundo, objetos com pouca luz,

detalhes inseridos dentro de figuras, movimentos corporais de outras pessoas e detalhes específicos em um campo amplo” (Tradução nossa).

função óptica se desenvolve, as funções perceptivas tais como discriminação da forma, cor, tamanho, reconhecimento e memória visual se tornam mais apuradas e vice-versa. Por fim, as funções visual-perceptivas envolvem organizar a informação que se vê e envolvem funções mais cognitivas, tais como: diferença entre figura e fundo, associação visual, relação entre as partes e o todo. Entretanto, no que tange ao desenvolvimento dessas funções visuais, os autores esclarecem que elas se desenvolvem simultaneamente e emergem ou até mesmo desaparecem em determinados momentos que por sua vez é devido a alguns fatores:

a) tipo y alcance de la estimulación visual y las experiências de que se dispone para estimular el mirar; b) la variedad de las tareas visuales que se realizan en todas las condiciones ambientales; c) la motivación y la capacidad para un desarrollo progressivo y consistente tanto perceptual como cognitivo2 (BARRAGA;

COLLINS, 1997, p. 20).

Quanto às tarefas visuais, Barraga e Collins (1997) sugerem que o nível de dificuldade seja aumentado gradualmente e destacam a importância da avaliação da variação da luminosidade em ambientes fechados e abertos a fim de que os resíduos visuais sejam utilizados para favorecer a aquisição de conhecimento e melhorar, desta forma, o funcionamento visual. Nunes (2001) acrescenta que na avaliação do funcionamento visual de pessoas com deficiência visual também sejam avaliadas a percepção de contraste, a cor, as relações espaciais e o tempo de resposta.

Observa-se, portanto, que o comprometimento da visão influencia o desenvolvimento dos demais sistemas perceptivos. Entretanto, se houver estimulação adequada, avaliação da visão funcional e organização de um ambiente adequado, estes sistemas serão desenvolvidos e as pessoas com deficiência visual poderão compreender melhor o mundo a sua volta.