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O i Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à

Artigo 79-A, parágrafo primeiro da Lei 9.605/98.

2.5 O Termo de Ajustamento e o compromisso na área ambiental

3.1.2 A “zona de transição”

As medidas provisórias publicadas pelo Governo Federal estabeleceram uma “zona de transição”, ou seja, propiciaram um prazo de adequação à lei. O texto estabeleceu em primeiro lugar um prazo de apresentação ao órgão ambiental;

§ 2“ - No tocante aos empreendimentos em curso até o dia 30 de março de 1998, envolvendo construção, instalação, ampliação e fimcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, a assinatura do termo de compromisso deverá ser requerida pelas pessoas físicas e jurídicas interessadas, até o dia 31 de dezembro de 1998, mediante requerimento escrito protocolizado junto aos órgãos competentes do SISNAMA, devendo ser firmado pelo dirigente máximo do estabelecimento.

As duas medidas provisórias trouxeram o mesmo texto, e como a primeira delas, a IVEP 1.710 foi publicada em 10 de agosto de 1998, o prazo para esta apresentação foi de quase

t> meses. Curioso é que normalmente na publicação de normas legais, estas não estabelecem

‘■prazos” para os cidadãos adequarem a sua conduta, tampouco, suspensão de penalidades, ("ontudo, o que realmente ocorreu através da MP foi um “femendo” à Lei de Crimes ambientais a favor do setor empresarial. 0 processo legislativo serve exatamente para a apreciação dos representantes eleitos pelo povo às proposições de lei, mas a MP, como se

Ibid.

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No caso do Rio Grande do Sul, a FEPAM cedeu ao Ministério Público, um técnico responsável para efetuar cálculos de quantificação de dano. Trata-se contudo, de solução paliativa e, em virtude da quantidade de trabalho, tais quantificações podem gerar dúvidas quanto à certeza de seus resultados, como no caso em que o té:nico chegou a quantificar valores iguais para danos absolutamente distintos.

sabe, viola estes requisitos se o caso não for de relevância e urgência. 0 executivo federal já permitiu a suspensão de penalidades em outras situações, como se pode acompanhar através do REFIS (Programa de Recuperação Fiscal), apresentação da empresa devedora ao fisco para parcelamento de débitos em troca de suspensão de sanções administrativas. A sistemática é a mesma, pois o fisco admite sua incapacidade de fiscalização e aumenta a arrecadação fiscal sem esforço e investimentos extras. A diferença contudo é que, embora o fisco abra mão das receitas das multas, os valores arrecadados foram significativos e a “adequação” da empresa não implica em disposição de interesses difusos, porque a apresentação para aderir ao REFIS encerra a conduta ilícita, desde que o parcelamento seja cumprido de forma correta. Já no caso da MP 1.710 e sua reedição de 08 de setembro (MP n° 1.710-1), permitiu-se a apresentação do poluidor, com a suspensão de sanções administrativas, não necessariamente gerando “lucro” para o meio ambiente. 0 sucesso da medida depende do acompanhamento caso a caso, mesmo porque a apresentação propiciou também ônus aos órgãos ambientais, pois deverão acompanhar a adequação da empresa poluidora aos termos da lei, dentro dos prazos determinados. O fato é que convivemos com o termo de compromisso e ajustamento em decorrência de sua previsão por medida provisória, e esta situação não sofreu poucos ataques. A diferença é que a Lei de Crimes tramitou no Congresso Nacional por mais de 7 anos, e o Termo foi inserido na Lei por um rápido ato do poder executivo. Assim, “o fundamento da Medida Provisória é de que as empresas poluentes necessitariam de um prazo para procederem devidas correções em suas instalações e se adaptarem á nova lei. É um absurdo, pois a matéria não é relevante nem urgente” tendo sido editada sem a discussão democrática que a antecedera.^^^

Na prática, algumas situações podem ter sido vantajosas, com a real adequação da empresa aos parâmetros legais, o que talvez não ocorresse sem a Medida Provisória. E o termo, tão condenado quando de sua publicação, \nrou unanimidade na ação dos órgãos ambientais e Ministério Público, por tratar-se de uma forma mais facilitada de resolução dos processos.

Ainda, os empreendimentos que apresentaram aos órgãos ambientais a sua conduta danosa frente ao meio ambiente até o final de 1998, enquanto “perdurar a vigência do correspondente termo de compromisso, ficarão suspensas, em relação aos fatos que deram causa à celebração do instrumento, a aplicação de sanções administrativas contra a pessoa fisica ou jurídica que o houver firmado” (prevista na MP 1.710 e hoje parágrafo terceiro do

SALES, Miguel. A lei de crimes ambientais. Direito Ambientai. Legislação, Doutrina, Jurisprudência, Pi-áíica Forense. CD-ROM. Caxias do Sul; Editora Plenum, 2002.

artigo 70-A da Lei. 9.605/98). Tivemos a oportunidade de acompanhar um caso que ilustra a previsão legal, tratando-se da apresentação ao órgão ambiental estadual no RS de uma empresa da serra gaúcha, que se encontrava licenciada, mas possuía problemas de tratamento de resíduos decorrentes dà^produção de ácido tartárico^^'*. Tal produto é utilizado na indústria alimentícia para a conservação de alimentos e extraído dos resíduos da produção do vinho. Trata-se da única empresa da área no país, existindo poucas no mundo (essencialmente Itália e Chile, onde também as soluções são difíceis). A melhor ahemativa era a continuidade do empreendimento, visto que a empresa absorve por safra de vinho cerca de nove milhões e meio de toneladas de resíduos das vinícolas e cantinas da região. Para a FEPAM efetivamente interessava o acordo, visto que é muito mais fácil acompanhar o tratamento final na empresa firmatária do que controlar a disposição de resíduos de mais de 500 estabelecimentos fornecedores de matéria prima. O órgão ambiental estipulou prazo para adequação^^^, tendo a empresa cumprido os cronogramas avençados apesar de todos os percalços inerentes ao processo, atendendo hoje aos parâmetros da legislação ambiental no que se refere á emissão de efluentes. Contudo, durante a vigência do termo, o órgão municipal de fiscalização ambiental lavrou auto de infração contra o empreendimento, entendendo que a empresa poluía o meio ambiente, inobstante o cumprimento do cronograma avençado com a FEPAM. Enviou tal termo ao Ministério Público que, em decorrência do termo estipulou apenas obrigações de controle e acompanhamento e assim o órgão municipal optou por anular o Auto de Infração, “mantendo-se o acompanhamento e fiscalização da SMAM especificamente nos termos do ajuste e das licenças da FEPAM^^^. Efetivamente tal auto da infração não poderia subsistir, a não ser que houvesse descumprimento por parte do compromissário no termo inicial firmado com a FEPAM. Mas, mesmo num caso de dificil e

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:ara adaptação para a empresa, em prazo razoável (cerca de dois anos, menos do que sugeriu ,i CETESB) descobriram-se ahemativas viáveis e o tratamento hoje é exemplo no Estado do Jilio Grande do Sul.

O prazo para apresentação da conduta ilícita previsto na MP 1710 “até o dia 30 de março de 1998”, se aplicava também às pessoas fisicas. Mas nestè caso, poderiam ocorrer na prática algumas dificuldades em determinar se a pessoa fisica já exercia atividade danosa antes de 30 de março. Contudo, observou-se que quem protocolou o pedido frente aos órgãos do SISNAMA foram essencialmente as pessoas jurídicas. Na realidade, a Medida foi muito

Tal produto é obtido através do tartarato de cálcio, extraído de borras de vinho e cristais de tártaro (cristais que se formam nas paredes da pipas de vinho durante o processo de fabricação).

pouco divulgada, tendo sido utilizada por poucas empresas. No caso do Rio Grande do Sul, afirmou a FEPAM à época que os pedidos encaminhados não passaram do número de 10^^’, pois ao próprio govemo federal e órgãos do SISNAMA não interessava divulgá-lo, face as indignações que inicialmente já havia provocado.

Ainda, para completar a análise desse período de transição, deve ficar claro que a norma não criava benefícios para casos de fiscalização e multas ambientais lavradas pelos, órgãos do SISNAMA, ou seja, só beneficiaria quem, de maneira voluntária, se apresentasse aos órgãos ambientais. Mesmo nesse período, se a empresa recebesse auto de infi^ação de qualquer órgão fiscalizador, as sanções administrativas não poderiam ser suspensas, ocorrendo sua tramitação normal.

Com relação ao tema, o STF apreciou Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo Partido dos Trabalhadores e Partido Verde e do Conselho Federal da OAB"^* que argüiu a inconstitucionalidade da Medida Provisória 1.874-15, de 24.09.2000. Tratava-se da reedição da Medida 1.710. O que se discutiu foi exatamente o período transitório do termo de compromisso, em virtude do que podemos intitular de “prazo de adequação”. O Tribunal Pleno não conheceu a ação concernente ao parágrafo 2° do artigo 1° da Medida Provisória, “porque encerra ele norma cuja eficácia se exauriu antes da propositura desta ação direta de inconstitucionalidade”.^^^ Afirmou ainda a decisão:

O caráter transitório desse ato normativo com relação aos empreendimentos e atividades já e.\istentes, e que foi editado para o ajustamento deles à Lei 9.605/98, retiram da presente argüição de inconstitucionalidade a força de relevância de sua fundamentação que é necessária para a concessão da liminar. - O mesmo não ocorre com alguns dos fundamentos da argüição de inconstitucionalidade que são relevantes quanto a esse ato normativo no que concerne aos empreendimentos e às atividades novos, e, portanto, não abarcados por esse tratamento de transição. Ação conhecida em parte, e nela deferido em parte o pedido de liminar para, dando-se ao ato normativo atacado - hoje, a Medida Provisória 1949-25, de 26 de junho de 2000 - interpretação conforme à Constituição, suspender-se, “ex nunc” e até o julgamento final desta ação, a eficácia dela fora dos limites de norma de transição, e, portanto, no tocante à sua aplicação aos empreendimentos e atividades que não existiam anteriormente à entrada em vigor da Lèi 9.605/98.

Auto de Infração n° 812 lavrado pela Secretaria de Meio Ambiente do Mimicípio de Caxias do Sul. ^ Informação emitida pelo setor jurídico do órgão ambiental estadual - FEPAM, em dezembro de 1998.

^ P e l o artigo 103 da Constituição Federal podem propor a ação de inconstitucionalidade: I - o Presidente da E.epública; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa; V - o Governador de Estado; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Consellio Federal da C>rdem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno. Ação Direta de Inconstitucionalidade ADIN C-2083/DF. Relator Ministro Moreira Alves. Publicação no DJ em 09-02-0l/PP-00018, VOL-02018-01. Julgamento em 03/08/2000.