• Nenhum resultado encontrado

1. Perspetivas psicológicas e sua influência na Intervenção Precoce

1.3. Modelo de Terceira Geração

1.3.1. Abordagem Centrada na Família

Ao longo deste capítulo pode verificar-se que vários têm sido os investigadores que têm enfatizado os estudos de Bronfenbrenner e de Sameroff para a intervenção centrada na família nomeadamente Almeida (2000a, 2000b, 2010), Alves (2009), Antunes (1998), Coutinho (1996), Correia e Serrano (1997), Garbarino & Ganzel (2000), McWilliam (2003), Mendes (2010), Pimentel (1996, 2005), Serrano e Correia (2000) e Tagethof (2007).

Esta abordagem veio modificar a forma de entendimento do papel da família na IP. Desde então o enfoque da IP passou a ser o sistema familiar mais concretamente pretende-se que a Intervenção Precoce para a Infância “fortaleça as competências e recursos da família, ajudando-a a ultrapassar as dificuldades encontradas no processo de educação da sua criança com necessidades especiais” (Bambring, 1996 e Dunst, 2000 citados por Gronita, Matos, Pimentel, Bernardo e Marques, 2011, p. 17). Nesse sentido, segundo Dunst e Bruder (2002, citados por Gronita et al., 2011) o objetivo da

IPI passa por ajudar as famílias a reconhecer as suas necessidades, a aproveitar as suas capacidades, bem como a aprender as competências que lhes permitam mobilizar os recursos e suportes formais e informais, intra e extra familiares, que lhes permitam ser autónomas na satisfação dessas mesmas necessidades. Trata-se, portanto, de um modelo que encara a família como um todo, mas que também considera os seus elementos individualmente.

Com este modelo de terceira geração, denominado de Modelo de Terceira Geração Baseado na Evidência, Dunst (2000) perpetua a sua proposta inicial de enfatizar o apoio social e a mobilização das redes sociais de apoio formal como modalidade de IP. No entanto, acrescenta a este modelo, outros aspetos importantes nomeadamente as caraterísticas da criança e da interação pais-criança (Almeida, 2011). Trata-se, por isso, de um modelo mais amplo pois abrange os princípios mais relevantes da perspetiva transacional, bioecológica e sistémica (Sousa e Piscalho, 2016) e que “visa a promoção do desenvolvimento, aprendizagem e competência interactiva da criança, o bem-estar dos pais e a promoção da qualidade de vida da família” (Gronita et al., 2011, p. 18).

Para além das práticas de ajuda centradas na família este modelo também integra outras componentes nomeadamente as oportunidades de aprendizagem da criança, o apoio às competências dos pais, os recursos da família/comunidade (Figura 2). Estes quatro componentes pretendem assegurar que as experiências e oportunidades que são proporcionadas às crianças, aos pais e às famílias, influenciem a melhoria das suas capacidades e que os profissionais os orientem de uma forma consciente de acordo com o proposto (Dunst, 2005).

Figura 2 — Modelo Integrado de IPI

Fonte: Adaptado de Carvalho et al. (2016 p.76)

Carvalho et al. (2016) referem que, segundo Dunst (2000), as oportunidades de aprendizagem da criança “acontecem em todas as atividades interessantes e significativas em que a criança se encontra envolvida” (p. 75) e que ao surgirem no âmbito da vida familiar (rotinas, eventos familiares, atividades lúdicas), da vida comunitária (saídas de família, espetáculos culturais, festas religiosas e/ou na

Práticas

Centradas

na Família

Oportunidades de aprendizagem da criança

Apoio às competências dos pais

comunidade) bem como nos espaços formais de aprendizagem como as creches e jardins de infância, estas potenciam o desenvolvimento de competências da criança.

Além disso Dunst (2000) defende que os apoios aos pais passam por reforçar as capacidades parentais, possibilitar a aquisição de novos conhecimentos e competências bem como encorajar o fortalecimento da confiança e do sentimento de autoeficácia dos pais. Assim estas atividades de apoio aos pais “incluem a disponibilização de informações, aconselhamento e orientação, o apoio emocional e o apoio instrumental por parte dos profissionais, assim como o apoio entre pais” (Carvalho et al., 2016, p. 76).

Por último os autores acrescentam que o terceiro e último foco de intervenção, de acordo com o modelo de Dunst (2000), se prende com os recursos da comunidade, i.e., é necessário “garantir que os pais dispõem dos apoios e recursos necessários (…) de que necessitam para se envolverem nas tarefas parentais e de prestação de cuidados à criança” (Carvalho et al. 2016, p. 76).

Além dos quatro componentes descritos anteriormente, este modelo inclui três elementos resultantes da sua ligação (cenários de atividade diária, estilos de interação parental e oportunidades de participação dos pais) que permitem operacionalizar as práticas que proporcionam a evolução do desenvolvimento da criança (Almeida 2010, 2011; Gronita et al., 2011).

Os cenários de vida diária são os locais, em que decorrem as atividades diárias da família e da comunidade com as suas características, sociais e físicas. Ao incluir a interação da criança com os indivíduos e o meio físico constituem-se fontes de oportunidades naturais de aprendizagem da criança no contexto da vida familiar e comunitária (Almeida, 2011; Gronita et al., 2011).

Os estilos de interação dos pais, estão relacionados com a forma como estes respondem, interagem, apoiam e encorajam a criança (Almeida, 2011; Gronita et al., 2011).

As oportunidades de participação dos pais, reportam-se às interações entre os pais e os elementos das suas redes de apoio social, as quais influenciam as suas atitudes, crenças e comportamentos, com efeitos na interação pais-criança e, consequentemente, no desenvolvimento desta (Almeida, 2011; Gronita et al, 2011).

A figura que se segue (Figura 3) mostra os principais componentes de um modelo de Intervenção Precoce e apoio familiar integrado e baseado na evidência.

Figura 3 — Principais componentes de um modelo de intervenção precoce e apoio familiar integrado e baseado na evidência

Fonte: Santos. P. C. (2009). Empowerment colectivo e corresponsabilização: palavras-chave em intervenção precoce. In G. Portugal, Ideias, Projectos e inovação no mundo das infâncias - O

percurso e a presença de Joaquim Bairrão (2009, p. 118)

Desta forma a abordagem centrada na família, ao reconhecer-se como um conjunto de práticas que se centram na família, apoia as famílias enquanto cuidadoras partindo dos seus pontos fortes, únicos e diferenciados enquanto indivíduos e famílias. Não podemos esquecer que “os pais são os primeiros e os mais marcantes educadores na vida dos filhos” (McWilliam, 2003, p. 11) e que por isso é extremamente importante o respeito dos seus valores, crenças, histórias, saberes, interesses e necessidades (Sameroff e Fiese, 2000).

Por isso Guralnick (2005, citado por Furtes, 2016) refere que a participação da família acarreta três benefícios. Em primeiro lugar apesar dos profissionais serem especialistas no desenvolvimento infantil, os pais são quem melhor conhece a criança e por isso este modelo promove a troca de informação entre estes. Em segundo lugar o trabalho promovido com a criança pelos técnicos pode ser continuado pelos pais, no dia a dia, em casa, num clima familiar e descontraído, sem o caráter rotineiro ou intensivo do trabalho do profissional de IP. Por último, ao envolver-se a qualidade da prestação parental melhora pois os pais ao serem apoiados na resolução dos seus problemas consequentemente estão a ajudar a criança.

Nesse sentido McWilliam (2003) define seis princípios centrados na família nomeadamente considerar a família como a unidade de prestação de serviços; identificar os pontos fortes da criança e da família; dar resposta às prioridades definidas pelas famílias; particularizar a prestação de serviços; dar resposta às

prioridades, em constante mudança, das famílias; e apoiar os valores e o modo de vida de cada família.

Contudo ao longo do tempo variados termos têm sido utilizados para especificar as diferentes abordagens de apoio à família. Dunst e seus colaboradores (1991, citados por Carvalho et al., 2016) identificaram quatro tipos de abordagens de apoio à família que se distinguem pelo grau de protagonismo atribuído à família nomeadamente as práticas centradas no profissional, as práticas aliadas à família, as práticas focadas na família e as práticas centradas na família. Na tabela 1 podem observar-se as diferenças entre cada uma dessas abordagens de apoio à família. Tabela 1 — Abordagens de apoio à família

Tipo de

abordagem Conceções acerca da família Conceções sobre o profissional e a intervenção

Centrada na família

• Capaz de tomar decisões • Capaz de concretizar as suas

escolhas

• Profissional: instrumento da família

• Papel do profissional: dar à família informação necessária para reforçar as competências desta

• Intervenções: Promoção de competências e mobilização de

recursos e apoios

individualizados e flexíveis para família

Focada na família

• Capaz de fazer escolhas, mas com opções limitadas às opções (recursos, apoios e serviços) que o profissional considera que melhor se adequam à esta família • Família: Consumidora de

serviços

• Profissional: apoia e orienta a família como se devem orientar as intervenções

Aliada à família

• Minimamente capaz de mudar a sua vida

• “Agente” do profissional

• Profissional: estabelece as intervenções, mas a família implementa-as e desenvolve-as Centrada no profissional • Incapaz e deficitária • Participação passiva no processo

• A sua opinião nunca ou raramente é tida em conta

• Profissional: Expert que toma as decisões e põe em prática as intervenções

• Intervenção baseada no modelo médico

Fonte: Adaptado de Carvalho et al. (2016) e Garcia-Sanchéz, Mora, Sánchez-Lopez, Sánchez, Hernández-Perez (2014)

Ao longo deste capítulo tem sido visível a evolução do papel das famílias que passaram a ter um papel de corresponsabilidade na educação dos filhos sendo

necessário que as famílias sejam preparadas para este novo papel. Dunst (2000) salienta dois modelos evolutivos da IP centrada na família nomeadamente o Modelo de Corresponsabilização e Promoção das Capacidades da Família e o Modelo de Apoio e Reforço das Potencialidades da Família que abordaremos em seguida.

1.3.2. Modelo de Corresponsabilização e Promoção das Capacidades da