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Abordagem cognitiva-construtivista

No documento Projeto hemisférico (2.005Mb) (páginas 63-67)

1 DIMENSÃO PSICOLÓGICA: CONCEPÇÕES E PRINCÍ PIOS NORTEADORES DO CURRÍCULO

1.2 Abordagem cognitiva-construtivista

Este tópico é por demais comprometedor porque exige que se pratique a ousadia de apresentar sob a forma de síntese as contribuições da teoria cognitivo-construtivista, a partir das pes- quisas profundas de Piaget e seus discípulos, que pela “potência teórica dos pressupostos e proposições dessa corrente” (GÓMEZ, 2000, p. 34) tornou-se possível o seu desenvolvimento e a sua apli- cação desde o início do segundo terço do século XX até hoje. Cabe lembrar que pesquisadores reconhecidos pertencentes à Escola de Genebra piagetiana (Inhelder, Bruner, Flavel, Ausubel, entre tantos outros seguidores) continuam inspirando e dando suporte teórico para a compreensão desse problema tão complexo que é o da aprendizagem.

É com prudência e humildade que tentaremos dar cumpri- mento à formulação do modelo referencial curricular ora propos- to, a fim de que possa ser aplicado na gestão do projeto piloto com o enfoque da EBNC, nas escolas do segundo nível de educação secundária ou média selecionadas, segundo critérios, entre os paí- ses da sub-região do MERCOSUL.

Tanto Piaget, como Vygotsky e outros educadores e pesquisa- dores do pensamento, da cognição humana, assim como o brasi- leiro Paulo Freire, pensam a educação voltada para a participação efetiva dos indivíduos na sociedade e não apenas no sentido da

integração dos mesmos no meio social que estão situados.

A epistemologia genética ofereceu grandes contribuições para o trabalho pedagógico escolar, porém, é necessário compreender que a unicidade do ser humano indica que o desenvolvimento cognitivo sob a ótica de Piaget ocorre por meio da maturação, das experiências físicas e sociais e do processo de equilibração resul- tante dos processos de assimilação e acomodação que, por sua vez, é acompanhado de um desenvolvimento afetivo que tanto

pode ser favorável como pode bloquear o desenvolvimento cog- nitivo.

Um dos grandes feitos da epistemologia genética foi a inves- tigação da gênese, da estrutura e do funcionamento da estrutura interna do organismo como mediadora dos processos de apren- dizagem.

A seguir, destacaremos, entre os postulados da teoria, os mais relevantes e que servem de fundamentação para o modelo refe- rencial curricular em pauta.

Em primeiro lugar, focalizaremos a aprendizagem como um processo de aquisição na interação com o meio, mediatizado por estruturas reguladoras, no começo, hereditárias e que, posterior- mente, vão sendo construídas através da intervenção de aquisi- ções anteriores. Sob esse enfoque, a aprendizagem é ao mesmo tempo fator e produto do desenvolvimento. Constata-se que as estruturas iniciais condicionam a aprendizagem e esta provoca modificação das estruturas que, a partir do momento que são modificadas, abrem as portas a novas aquisições, isto é, a novas aprendizagens de maior complexidade.

Esse processo tem no seu cerne a atividade mental construti- va, a qual tem muita importância para o trabalho pedagógico que se desenvolve na escola.

Para uma melhor compreensão do que são estruturas cogniti- vas na perspectiva piagetiana, pode-se afirmar que elas são meca- nismos reguladores aos quais se subordinará a influência do meio (GÓMEZ, 1998, p. 35). Todas as estruturas tem uma gênese, logo, são indissociáveis, ou seja, são construídas em um processo de reciprocidade. Entre uma estrutura como ponto de partida e uma outra estrutura mais complexa, como ponto de chegada situa-se, necessariamente, um processo de construção, que é a gênese (PIA- GET, 1991, p. 139).

Em segundo lugar, tentaremos compreender os processos de

assimilação e acomodação, os quais constituem a adaptação ativa

assimilação é processo de integração, que consiste em tomar uma

informação e incorporá-la às estruturas cognitivas pré-existentes, ou formas de pensar e acomodação consiste em mudar as ideias já existentes ou estruturas cognitivas para incluir o novo conhe- cimento. Ambos os movimentos geram o crescimento cognitivo.

A equilibração é uma busca constante de equilíbrio entre o indivíduo e o mundo exterior e entre as suas próprias estruturas cognitivas. A necessidade de equilíbrio leva o indivíduo a mudar da assimilação para a acomodação.

Em oposição à interpretação condutista, Piaget considera que, para o organismo ser capaz de dar uma resposta, é necessário su- por um certo grau de sensibilidade específica às perturbações ou provações diversas do meio. Isto é o que o autor conceitua de nível

de competência o qual é construído no curso do desenvolvimento a

partir das aquisições de aprendizagem.

Para PIAGET, o conhecimento não pode ser compreendido nunca como uma mera cópia figurativa do real. O conhecimento é uma elaboração subjetiva que parte da aquisição do real e assu- me a formação de instrumentos formais de conhecimento. Desse modo, o autor estabelece as bases para uma concepção didático- -pedagógica ao discernir os aspectos figurativos (conteúdos) dos aspectos operativos (formas) e ao subordinar os anteriores aos posteriores.

Já é possível apreender que a epistemologia genética trouxe importantes contribuições para o trabalho escolar, considerando que a aprendizagem do estudante envolve articulações entre o de- senvolvimento afetivo e o cognitivo, dentro das possibilidades e dos limites das experiências vividas por ele.

Diante do exposto, reproduzimos aqui o esquema proposto por WEISS (s.d., p. 47, para facilitar a compreensão das relações entre o estudante, o objeto do conhecimento (leitura, cálculo, re- dação, inglês, etc.) e o professor no seu papel de mediador. São relações complexas, tendo em vista que cada uma delas envolverá vínculos afetivos e exigências cognitivas.

CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NO CONTEXTO ESCOLAR

Todos os elementos que compõem o processo de construção do conhecimento estarão abaixo explicitados: refere-se àquilo que o estudante poderá aprender em cada momento, que corresponde a cada ano ou série escolar, a cada disciplina ou componente curri- cular e que dependerá dos esquemas mentais de que ele dispõe e que poderá mobilizar e combinar, conforme determinadas regras e operações, para que ele possa aprender o que o professor está ensinando. Se houver impulso afetivo positivo (desejo de aprender), o aluno disponibilizará seus esquemas mentais, caso contrário ele poderá demonstrar ansiedade na situação, falta de atenção, fuga estratégica da sala de aula, entre outros mecanismos de defesa.

Mesmo que o estudante possua um nível cognitivo necessário à aquisição de determinado conhecimento, jamais serão dispensa- dos: o domínio de certos conceitos, o vocabulário específico e as ex- periências prévias. Tudo isso será necessário para que o estudante possa construir (assimilar – acomodar) o novo que está surgindo. Significa que não se constrói conhecimento a partir do ponto zero, isto é, no vazio.

Em se tratando da mediação do professor, o que está sendo proposto é a criação e organização de estratégias didáticas ade-

quadas para cada conteúdo visando estimular e provocar o es- tudante a chegar às informações solicitadas, contextualizadas no tempo e no espaço.

Um aspecto da psicologia genética de grande importância para o trabalho escolar é a “atividade mental construtiva” porque para Piaget, segundo COLL (1996), conhecer implica atuar e atuar supõe expor nossos esquemas a um processo de mudança pro- duzida pelo jogo duplo de assimilação e acomodação enquanto movimentos complementares.

No documento Projeto hemisférico (2.005Mb) (páginas 63-67)