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Nesta seção, abordaremos a noção de tempo futuro a considerar a realidade dinâmica de um conceptualizador, o qual por meio de seu conhecimento, pode projetar dois tipos de realidade: potencial e projetada (cf. LANGACKER, 1991). Deve-se considerar que este autor desenvolveu seus estudos, baseando-se no prisma do sistema temporal e modal do inglês.

A modalidade não é um campo de estudo tão fácil de se delimitar e conceituar. A presente dificuldade é oriunda de questões referentes ao tratamento que é implementado a essa área. Ora focaliza-se a semântica em formas específicas, como adjetivos, advérbios e verbos modais, ora evidenciam-se as discussões que tendem a estabelecer diferenças entre os tipos de modalidade.

Em Palmer (1989), entende-se que os conceitos de possibilidade e permissão são centrais nos estudos da modalidade. Além disso, o autor, ao recorrer aos estudos de Lyons (1977), observa que a noção de modalidade está ligada à opinião e à atitude do locutor. Palmer constatou essa premissa no sistema dos verbos modais em inglês. Contudo, o autor não deixou de explicitar outras formas que também expressem modalidade, como no caso do modo subjuntivo, de algumas línguas europeias, e de clíticos em línguas indígenas da Austrália.

González (2012), menciona os estudos de Nuyts (2002) e de Floyd (2005), os quais, respectivamente, abordam a modalidade por meio dos adjetivos e dos advérbios modais em inglês. Como nesta dissertação o nosso objeto de estudo são as formas de expressão de futuro, por meio de construções com verbos no PB, consideramos relevante focalizar o sistema dos verbos modais do inglês, a fim de construirmos um paralelo entre esses modais, que denotam futuro no inglês, e as formas de expressão do português escopadas por verbos, que denotem noção de futuro.

Langacker (1991, p. 269), sinaliza que perspectivas diacrônicas são bastante úteis para explicar o processo que originou os modais ingleses. Nesse sentido, o autor parte do princípio de que “um significado concreto dá origem, com frequência, a outros significados

mais abstratos, e que este tipo de mudança semântica em geral acompanha a transformação histórica gradual de itens léxicos em sinalizadores gramaticais.”

Assim, o autor afirma que os verbos modais já foram verbos de conteúdo no inglês arcaico figurando na posição de verbo principal. Um exemplo disso são os verbos Will que se originou a partir de um verbo que designava querer; Can, o qual era selecionado por sujeitos que possuíam conhecimento ou habilidade mental para efetuar uma determinada atividade e o

May, que também acarretava a noção de força ou habilidade física necessária. Logo, podemos

verificar que esses significados serviram de base para originar o sistema modal do inglês. Langacker advoga ainda que a semântica dos verbos originais “querer”, “saber” ou “ter” pode ocasionar três tipos de relações. A primeira consiste no fato de que a natureza desses verbos seleciona um complemento relacional, o que de certo modo explicita que o emprego de um desses verbos implica na realização de uma atividade sucessiva a outra.

A segunda expressa simultaneidade entre o trajector e o marco relacional. Nessa relação, destacam-se as locuções inglesas como (want/know how/be able) to swim, em que o sujeito é considerado como o trajector da situação que se iguala ao ponto de referência. E por fim, a terceira, em que o sujeito é concebido como uma entidade capaz de gerar uma força física ou mental, e ao liberá-la na direção do ponto de referência, este processo tende a entrar em funcionamento. Vejamos a configuração destas características na figura a seguir:

Figura 2: Evolução dos modais em inglês

Fonte: Langacker (1991, p. 270)

Na figura 2, identificamos claramente que os modais, no inglês moderno, estão condicionados à ocorrência de três aspectos: “referência a um processo esquematizado caracterizado; ocorrência desse processo ser potencial e não real; e a noção de uma força direcionada à realização do processo”, tal como postula Langacker (1991, p. 270).

Devemos ressaltar que a estrutura apresentada na figura anterior não é um modelo que rege o acontecimento de um evento, tendo em si o mapeamento de uma situação projetada para o futuro, e sim uma estruturação do mundo, tal como ele é observado. Por exemplo, a atividade de natação é algo que pode ser previsto por um determinado conceptualizador, desde que as condições adequadas para a referida atividade sejam estabelecidas. Analisemos o exemplo a seguir:

(i) Como amanhã é dia de treino, João nadará6.

O exemplo em questão insere-se na modalidade epistêmica, pois o que está em foco é a informação que se tem acerca da entidade João e de suas ações desenvolvidas no espaço social. Em termos de análise, o que é mais interessante observar é o conhecimento que o conceptualizador detém, dadas as condições do mundo estruturado em que ele está imerso.

Além disso, devemos chamar a atenção para outro fator que é bastante significativo no quadro da modalidade, a força dinâmica. A informação “Como amanhã é dia de treino”, funciona como uma espécie de força que impulsiona a realização da atividade de Jonh.

A noção de dinâmica de força pode ser encontrada nos estudos de Sweetser (1984, 1990), Johnson (1987), Langacker (1990, 1991), Jackendoff’s (1990) e Talmy (1976, 1985, 1988, 2000). Porém, na abordagem deste último autor, está assentada a noção de que a força dinâmica gera uma semântica de causação.

Essa semântica reflete a conceptualização de variadas forças que podem ser originadas a partir de uma experiência corporal de um esforço físico, de um movimento muscular ou até mesmo de um processo mental. Tais forças podem operar diretamente em sujeitos ou interferir no curso de eventos sociais.

Por considerar a semântica de causação, devemos compreender que existem dois elementos envolvidos no processo da dinâmica de força: antagonista, que é responsável pela causa da força; e agonista, que é o sujeito ou o objeto afetado pela força impressa por aquele. Em termos linguísticos, o processo da dinâmica de força incide diferentes formas de conceptualização, a partir das escolhas realizadas pelo conceptualizador.

Sweetser (1990) realiza um refinamento sobre a abordagem de Tamly (1985, 1988a) em torno da conceituação da dinâmica de força. Para a autora, o falante é submetido às forças

das evidências, de tal modo que ele pode ser conduzido por um caminho que parte de uma dedução, para se chegar a uma conclusão.

De igual modo, Langacker (1991) também recorre ao conceito de dinâmica de força para advogar acerca das características dos modais em inglês. Porém, ao contrário de Seewtser (1990), que concebe o falante como o alvo da força, Langacker postula que a força dinâmica além de ser altamente abstrata, atua no “momentum” da realidade em evolução. Logo, podemos perceber que o diferencial entre a abordagem do modelo da força dinâmica, defendida por estes dois autores, reside na direção. Na próxima subseção, aprofundaremos a discussão acerca do modelo epistêmico básico e do modelo epistêmico elaborado, que por sua vez, resultam no modelo dinâmico evolucionário (cf. LANGACKER, 1991).