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1.1.1 A Linguística Aplicada como norteadora

Esta pesquisa se propõe a refletir sobre o gênero textual requerimento produzido por graduandos no domínio administrativo de uma instituição pública de ensino superior. Interessa discutir a utilização desse gênero no seu domínio sócio discursivo, inserido em um sistema de atividade socialmente organizado, observando questões referentes tanto à escritura quanto ao contexto, como as condições de produção, circulação e recepção desse gênero.

Considerando que o contexto de análise é o de uma organização burocrática, própria do tipo de instituição em que a sociedade é representada pelo Estado, em uma estrutura jurídico-institucional (MOTTA, 2002), pode-se afirmar que a prática da escrita de requerimentos é extremamente necessária, na medida em que o uso desse gênero é o modo oficialmente reconhecido pelas organizações públicas. Através dele, seus usuários não só estabelecem uma comunicação com essa instância como também agem no sistema de modo a constituí-lo.

Pretendemos investigar aspectos relacionados à produção deste gênero e seu funcionamento dentro das circunstâncias que o configuram, para que, dessa maneira, seja possível ir além das questões de forma e substância, focando na ação que realiza (MILLER, 2009a).

Isso aponta para uma reflexão sobre uso efetivo da língua, concebendo-a como uma prática social que permite ao sujeito agir nas mais diversas esferas, movidos por diferentes propósitos (PAZ, 2008). A pesquisa visa, com isso, contribuir para os estudos atuais da LA que têm buscado a referência de uma língua real, em suas práticas reais e específicas, em uma tentativa de estudar o objeto ainda na tessitura de suas raízes (SIGNORINI, 1998).

Além disso, considerando que a LA constitui-se como um campo de estudo que deve estar a serviço da sociedade, aspiramos discutir possíveis soluções e encaminhamentos junto à comunidade usuária do gênero, através da identificação de possíveis problemas existentes, a fim de “criar inteligibilidades sobre eles, de modo que alternativas para tais contextos de usos de linguagem possam ser vislumbradas” (MOITA LOPES, 2006, p. 20).

1.1.2 Sob o paradigma da pesquisa qualitativa

Situada na área da LA indisciplinar (MOITA LOPES, 2006), considerando, portanto, as mudanças epistemológicas relacionadas ao cenário complexo da contemporaneidade, esta pesquisa pretende “provocar o esclarecimento de uma situação para uma tomada de consciência, pelos próprios pesquisados, dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e estratégias de resolvê-los” (CHIZZOTTI, 2010, p. 104).

Seu enquadre está de acordo com os propósitos do paradigma qualitativo (BODGAN; BIKLEN, 1994), visto que busca a análise descritiva e interpretativa do sistema de atividade que envolve a produção dos requerimentos. De forma indutiva, o processo de geração dos dados não se propõe à confirmação de hipóteses previamente construídas, mas à apreciação sobre um determinado objeto que só é possível após a construção dos dados e a relação direta do pesquisador com eles.

Na pesquisa qualitativa, o que se busca é o entendimento e a interpretação dos fenômenos sociais inseridos em um contexto, o que requer uma compreensão ativa do mundo tanto por parte do pesquisador como também dos pesquisados. Como afirma Chizzotti (2010), essa abordagem de pesquisa fundamenta-se na existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que, por sua vez, cria uma interdependência viva entre sujeito e objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Assim, o sujeito de observador passa à condição de integrante do próprio conhecimento através do processo de interpretação utilizado diante dos fenômenos. Nesse caso, o objeto não é tido como neutro, pois possui significados e estabelece relações com suas ações, como sujeito que é.

Para atender ao paradigma selecionado, priorizamos a interpretação dos dados (BORTONI, 2008), a fim de compreender o gênero não simplesmente como um produto, mas as circunstâncias de sua produção e circulação, também. Para isso, partimos da análise dos requerimentos produzidos pelos alunos e seguimos para além dos textos, buscando as próprias perspectivas dos participantes, em um planejamento que prevê a flexibilidade de ações, ao mesmo tempo em que visa à possibilidade contribuir para amenizar dificuldades referentes ao objeto de estudo (GIL, 2009).

Em vez de tratar o gênero simplesmente enquanto produto, buscamos a análise do processo, desde a elaboração até o atendimento dos requerimentos, pois, dessa forma, é possível enxergar o requerimento como um texto construído como reflexo de normas e convenções, valores e práticas sócio-historicamente produzidos. Em outras palavras, o gênero requerimento se constitui como reflexo da interação projetada entre autor e leitor, produto de convenções culturais, sociais e linguísticas, ou seja, como a materialização do discurso institucional, devendo ser necessário para o seu estudo considerar todos os aspectos contextuais implicados no processo de sua produção.

Isso implica olhar para as referências dos sujeitos que utilizam o gênero, para o contexto de sua produção e para os procedimentos envolvidos nessa prática de produção e recepção desses textos.

A natureza dos dados analisados constitui-se em uma mescla de ordem etnográfica e documental. Neste caso, em razão de os documentos investigados, ou seja, os requerimentos, não estarem relacionados a atividades referentes à etnografia propriamente, como o observar e o perguntar.

Para uma melhor compreensão acerca do gênero em análise, no domínio administrativo da universidade, e a fim de garantir maior credibilidade à pesquisa, utilizamos mais de uma técnica de pesquisa, buscando discorrer de modo mais abrangente sobre o fenômeno investigado, ou seja, adotamos múltiplas fontes de informação para o desenvolvimento da pesquisa possibilitando, assim, a triangulação dos dados (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998).

1.1.3 Termo de autorização de uso das informações

Considerando que nossa pesquisa trata-se da investigação de seres humanos, apoiada em uma abordagem qualitativa, faz-se necessária a constante preocupação com questões éticas, decorrentes da interação do pesquisador com os colaboradores (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Conforme Bodgan e Biklen (1994, p. 75), duas questões predominam nessa discussão: “o consentimento informado e a proteção dos sujeitos contra qualquer especie de danos”. Faz-se necessário, dessa forma, assegurar a participação voluntária dos colaboradores e a garantia dos anonimatos.

Para preservar tais questões, elaboramos um termo de autorização de uso das informações para que os sujeitos assinassem. A elaboração desse termo deu- se, conforme as recomendações de Creswell (2007), a fim de garantir aos colaboradores alguns direitos como parte integrante da pesquisa.

A partir do acesso ao termo, os sujeitos puderam tomar consciência das implicações da pesquisa antes mesmo de colaborarem. Nele, esclarecemos a respeito da pesquisa, como, por exemplo, o objeto e as contribuições do estudo, e informamos que a participação era voluntária e que o anonimato seria garantido.

Como utilizamos mais de um tipo de instrumento para gerar os dados e fizemos abordagens diferenciadas, a autorização do colaborador para uso das informações deu-se de modos diferentes. No caso dos questionários e dos requerimentos, fizemos contatos por telefone e enviamos o termo e o link do questionário por e-mail. Explicamos que a autorização seria dada através das respostas ao questionário. No caso das entrevistas e dos protocolos verbais de escrita, como o contato foi por telefone e pessoalmente, a autorização ocorreu por meio da assinatura do termo.

Além dos dados de análise, também contamos com algumas fotografias no trabalho. Vale esclarecer que a autorização dessas imagens deu-se através da assinatura do termo. Além disso, mesmo o anonimato tendo sido garantido, os colaboradores liberaram ao uso das fotografias sem qualquer restrição.

Em relação ao ambiente em que desenvolvemos a pesquisa, também elaboramos um termo para autorização da realização da pesquisa. Esse termo tinha como objetivo obter a permissão da autoridade responsável pelo setor e foi devidamente assinado pela Pró-reitora Adjunta.

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