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O Gênero requerimento na perspectiva sociorretórica: análise da produção de graduandos no ambiente acadêmico-administrativo da UFRN

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Eliane Cristina Alves de Souza

O GÊNERO REQUERIMENTO NA PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA: análise da produção de graduandos no ambiente

acadêmico-administrativo da UFRN

Natal/RN 2013

DEPARTAMENTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

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Eliane Cristina Alves de Souza

O GÊNERO REQUERIMENTO NA PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA: análise da produção de graduandos no ambiente

acadêmico-administrativo da UFRN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem. Área de concentração: Linguística Aplicada.

Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro Oliveira.

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Catalogação da Publicação na Fonte.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Souza, Eliane Cristina Alves de.

O gênero requerimento na perspectiva sociorretórica: análise da produção de graduandos no ambiente acadêmico-administrativo da UFRN / Eliane Cristina Alves de Souza. – 2013.

205 f. : il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de Letras. Programa de Pós Graduação em Estudos da Linguagem, 2013.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Oliveira.

1. Linguística Aplicada. 2. Gênero textual. 3. Requerimento. 4. Domínio acadêmico-administrativo. I. Oliveira, Maria do Socorro. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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Eliane Cristina Alves de Souza

O GÊNERO REQUERIMENTO NA PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA: análise da produção de graduandos no ambiente

acadêmico-administrativo da UFRN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem e aprovada pela seguinte banca examinadora:

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Maria do Socorro Oliveira (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Benedito Gomes Bezerra (Examinador Externo)

Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Paz (Examinadora Interna)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues (Examinadora Interna)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco.

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AGRADECIMENTOS

Ao Espírito Santo, companheiro fiel em todos os momentos, por me iluminar e fortalecer nos momentos difíceis e angustiantes deste percurso, concedendo-me a graça de realizar este trabalho.

À Profa. Dra. Maria do Socorro Oliveira, exemplo de pessoa humana, pesquisadora e educadora, pela orientação competente, pelo incentivo em toda minha trajetória acadêmica e pela amizade.

Ao meu esposo, Jeverson, pelo apoio à minha carreira, especialmente, pelo exemplo de determinação e coragem na busca de seus ideais, trilhando os caminhos com justiça, honestidade e sempre buscando a sabedoria.

Aos meus pais, José Maria e Marly, por serem exemplo de humildade e honestidade, por sempre terem acreditado e investido na minha educação e pelo amor incondicional.

Aos meus irmãos, Elaine e Edson, pelo amor e respeito que nos une cada dia mais.

Aos meus sobrinhos, Vinícius, Guilherme e Danilo, que tanto amo.

À cunhada Williane e ao meu sogro João Gondim, pelo apoio e incentivo.

Às amigas Dayanne e Ana Christina, por acreditarem sempre em mim e, principalmente, por compartilharmos os momentos mais especiais de nossas vidas.

À amiga Márcia Cecília, por ser tão fiel e especial em todas as horas.

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Aos colegas da PROGRAD, por colaborarem com a realização desta pesquisa, em especial, aos amigos Gracinha, Vanessa, Sandra, Ivone, Francisquinho, Jocineide, Andressa, Jussara e Danúzia, pela amizade, apoio e incentivo constantes.

À PROGRAD/UFRN, em especial, à Profª. Mirza, por entender as contribuições deste trabalho, aprovando o projeto e possibilitando o desenvolvimento da pesquisa.

Aos professores Benedito, Ana Paz e Graça Rodrigues, por terem aceitado o convite para fazer parte desta Banca e, sobretudo, pelas valorosas contribuições a este trabalho.

Às professoras Ana Paz e Graça Rodrigues, pelas valiosas observações e sugestões fornecidas a este trabalho, no Exame de Qualificação.

Aos funcionários do PPGEL, pela disponibilidade no atendimento aos alunos do programa, especialmente, à amiga Bete, pelo carinho, amizade e pelas palavras de incentivo, principalmente, no momento mais difícil.

Aos colegas das letras, Louize, pelo apoio e contribuições, Rosa, Taynã, Maria da Guia, Klébia, Henrique, Ayres, Nívia, Janima, Karla Jeane e Janaína pelas trocas de experiências tanto acadêmicas como pessoais.

Aos colaboradores, servidores técnicos e alunos da UFRN, que se dispuseram a participar desta pesquisa.

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Gêneros não são apenas formas.

Gêneros são formas de vida, modos

de ser. São frames para a ação social.

São ambientes para a aprendizagem.

São os lugares onde o sentido é

construído.

(9)

RESUMO

No ambiente administrativo das instituições públicas, muitas atividades são realizadas através de práticas de escrita. Nesse domínio, a escrita está sempre ligada a uma atividade que se deseja realizar. Dentre essas práticas, o gênero requerimento consiste em um instrumento através do qual o requerente se dirige a uma instituição, a fim de solicitar algo sob o amparo de uma legislação. Considerando nossa experiência de trabalho em uma instituição pública de ensino superior, elegemos como objeto de nossa pesquisa o gênero requerimento produzido por graduandos no domínio administrativo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte devido à sua importância nesse contexto. Para tanto, os aportes teóricos adotados referem-se à concepção sociorretórica dos estudos de gênero textual, que compreende o gênero textual como forma de ação retoricamente tipificada (MILLER, 2009a; SWALES, 1990; BAZERMAN, 2009). Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa associada à abordagem qualitativa (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010) cuja discussão se insere no campo da Linguística Aplicada. A geração dos dados deu-se a partir de exemplares de requerimentos e dos dizeres dos usuários do gênero em questionários, entrevistas e protocolos verbais de escrita. As análises dos dados se apoiam nos métodos etnográficos de análise de gênero postulados por Devitt, Reiff e Bawarshi (apud JOHNS et al., 2006). Essas análises indicam que os requerimentos nem sempre se realizam plenamente devido à falta de compreensão do gênero e de sua situação retórica por parte dos produtores. Provavelmente, entre outras razões, isso deve acontecer por esses alunos não terem compreendido que vários fatores afetam a produção de textos, como o contexto, a audiência e o propósito. Acreditamos que uma possibilidade de tornar a prática desse gênero textual mais eficiente seja desenvolver um modo de elaboração dos requerimentos mais prático e simples, tomando como base as necessidades impostas pela situação retórica.

(10)

ABSTRACT

In administrative settings of public institutions, many activities are conducted through writing practices. Concerning this, writing is always connected to an activity we intend to perform. Among those practices, the genre “request” consists of an instrument through which the requirer addresses to an institution in order to request something under the support of legislation. Considering our work experience in a public institution of higher education, we elected - as object of our research - the genre “request” produced by undergraduates within the administrative domain of the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN) due to its importance in this context. For this, the theoretical framework adopted refers to the socio-rethorical conception of genre studies, which understands the genre as forms as rhetorically typified action (MILLER, 2009a; SWALES, 1990; BAZERMAN, 2009). Regarding methodology, it is a research associated to a qualitative approach (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010) whose discussion inserts into the field of Applied Linguistics. The data were generated from samples of “requests” and their users’ replies in questionnaires, interviews and verbal protocols of writing. The data analysis is based on the ethnographic methods of genre analysis postulated by Devitt, Reiff and Bawarshi (apud JOHNS et al., 2006). These analyses indicated that the requests are not always fully accomplished due to a lack of comprehension about the genre and its rhetorical situation on the part of the producers. It must probably happen - among other reasons - because these students may not have understood that several factors, such as: context, audience and purpose, affect the text production. We believe that one possibility to make the practice of this genre more efficient is to develop a more simple and practical way of elaborating requests, taking the needs imposed by the rhetorical situation as a basis.

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NORMATIZAÇÃO ADOTADA

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Número de processos/ano encaminhados e/ou gerados na

PROGRAD ... 20

Quadro 2 - Distribuição de requerimentos coletados por cursos ... 41

Quadro 3 - Os três gêneros do discurso de acordo Aristóteles ... 53

Quadro 4 - Hierarquia dos Significados ... 84

Quadro 5- Exposição da realização dos movimentos retóricos de R21 ... 125

Quadro 6 - Colegiados Superiores da UFRN ... 131

Quadro 7- Conjuntos de gêneros utilizados no domínio acadêmico-administrativo ... 160

Quadro 8- Relato de AG2 acerca do processo de escrita e reescrita de um requerimento ... 174

Quadro 9 - Relato de AG3 sobre o processo de escrita e reescrita de um requerimento ... 175

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Prédio da Reitoria da UFRN ... 33

Figura 2 - Organograma Administrativo da Pró-reitoria de Graduação da UFRN ... 35

Figura 3 - Coordenadoria de Atendimento da PROGRAD/UFRN ... 36

Figura 4 - Aluno produzindo um requerimento na PROGRAD/UFRN ... 38

Figura 5 - Servidora atendendo às solicitações dos alunos ... 38

Figura 6 - Sete fases na análise de gêneros proposta por Bhatia ... 79

Figura 7 - Modelo de Requerimento ... 109

Figura 8 - Requerimento Padrão utilizado na PROGRAD/UFRN ... 111

Figura 9 - Requerimento nº 16 ... 118

Figura 10 - Requerimento nº 21 ... 124

Figura 11 - Domínio discursivo das solicitações dos alunos de graduação da UFRN ... 138

(14)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Preferência dos alunos quanto à produção de texto ... 113

Gráfico 2 - Modalidade de língua utilizada pelos alunos de graduação para solicitarem algo à PROGRAD ... 136

Gráfico 3 - Atitude dos servidores diante da não compreensão às solicitações dos alunos ou da percepção da falta algum dado no requerimento para seu devido atendimento. ... 141

Gráfico 4 - O que levou os alunos a produzirem um requerimento ... 144

Gráfico 5 - Frequência de uso dos requerimentos, junto à PROGRAD, por parte dos alunos ... 149

Gráfico 6 - Posicionamento dos alunos a respeito de terem sentido dificuldade para escrever algum requerimento, junto à PROGRAD ... 150

Gráfico 7 - Orientação no uso dos requerimentos ... 150

Gráfico 8 - A quem os alunos pedem orientação para escrever os requerimentos ... 151

Gráfico 9 - Expressão dos servidores quanto à orientação aos alunos, na escrita dos requerimentos ... 152

Gráfico 10 - Posicionamento dos servidores sobre a frequência da solicitação de orientação, por parte dos alunos, para escrever os requerimentos ... 152

Gráfico 11 - Posicionamento dos alunos a respeito da consulta a textos, na escrita dos requerimentos ... 153

Gráfico 12 - Opinião dos servidores a respeito da necessidade dos alunos se basearem em algum texto para escreverem os requerimentos... 154

Gráfico 13 - Revelação dos alunos sobre a consulta ao RGC, na escrita dos requerimentos ... 154

Gráfico 14 - Manifestação dos alunos sobre o acompanhamento da solicitação .... 155

Gráfico 15 - Posicionamento dos servidores sobre o acompanhamento da solicitação pelos alunos ... 156

Gráfico 16 - Frequência de uso do computador pelos alunos ... 166

(15)

Gráfico 18 - Gêneros que os alunos escrevem na sua formação discente ... 168 Gráfico 19 - Gêneros que os alunos escrevem, em sala de aula, a pedido do professor ... 169

Gráfico 20 - Opinião dos alunos quanto à capacidade de identificar as características de um requerimento ... 170

Gráfico 21 - Alunos que precisaram reescrever requerimento à PROGRAD ... 177

Gráfico 22 - Grau de satisfação dos alunos em relação ao sistema de solicitação junto à PROGRAD ... 178

Gráfico 23- Nível de escolaridade dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN ... 181

Gráfico 24 - Opinião dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN sobre a leitura dos textos oficiais ... 182

Gráfico 25 - Frequência com que os servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN usam o computador ... 182

Gráfico 26 - Grau de satisfação dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN em relação ao sistema de solicitação dessa pró-reitoria ... 184

(16)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Movimentos retóricos identificados nos requerimentos que compõem o corpus ... 117

Tabela 2- Movimentos retóricos encontrados nos exemplares de requerimento .... 122

Tabela 3 - Assuntos tratados nos requerimentos que compõem o corpus da pesquisa ... 127

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC - Antes de Cristo AG - Aluno da Graduação

CARS - Create a research space CONCURA - Conselho de Curadores CONSAD - Conselho de Administração

CONSEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão CONSUNI - Conselho Universitário

CG - Câmara de Graduação

DACA - Diretoria de Administração e Controle Acadêmico DAE - Departamento de Administração Escolar

DASP - Departamento Administrativo do Serviço Público DDP - Diretoria de Desenvolvimento Pedagógico

LA - Linguística Aplicada

LSF - Linguística Sistêmico-Funcional

MRPR - Manual de Redação da Presidência da República PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional PROGRAD - Pró-reitoria de Graduação PV - Protocolo Verbal

R - Requerimento

RCG - Regulamento dos Cursos de Graduação

REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

RN - Rio Grande do Norte

SAU-5 - Sistema de Automação Universitária

SIGAA - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas SIPAC - Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos ST - Servidor Técnico

UFAL - Universidade Federal de Alagoas UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

(18)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 18

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA... 28

1.1 A abordagem ... 29

1.1.1 A Linguística Aplicada como norteadora ... 29

1.1.2 Sob o paradigma da pesquisa qualitativa ... 30

1.1.3 Termo de autorização de uso das informações ... 31

1.2 Designação do objeto de estudo ... 32

1.3 O cenário ... 33

1.4 Os colaboradores ... 37

1.5 O corpus ... 39

1.6 Processo de geração de dados e instrumentos utilizados ... 42

1.6.1 Os requerimentos ... 43

1.6.2 Os questionários ... 44

1.6.3 As entrevistas ... 45

1.6.4 Os protocolos verbais de escrita ... 46

1.7 Procedimentos de análise dos dados ... 47

2 CONCEITO DE GÊNERO TEXTUAL/DISCURSIVO - EVOLUÇÃO ... 49

2.1 Entre a Retórica e a Literatura - origens do conceito de gênero textual/ discursivo ... 50

2.2 Da Teoria Literária à Linguística - influências bakhtinianas na concepção de gêneros discursivos ... 56

2.3 Na atualidade - gêneros textuais/discursivos ... 62

3 OS GÊNEROS TEXTUAIS NA CONCEPÇÃO SOCIORRETÓRICA ... 70

3.1 John Swales ... 73

3.2 Vijay Bhatia ... 78

3.3 Carolyn Miller ... 80

3.4 Charles Bazerman ... 88

4 OS GÊNEROS NO CONTEXTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ... 99

4.1 A ‘redação oficial’ no Brasil ... 100

4.2 O gênero requerimento ... 106

4.2.1 O gênero requerimento nos manuais de Redação Oficial ... 107

5 O GÊNERO REQUERIMENTO EM ANÁLISE - PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA ... 110

5.1 Aspectos constitutivos ... 110

5.1.1 A constituição textual... 111

5.1.2 A organização retórica... 115

5.1.3 Os assuntos ... 126

5.2 O ambiente ... 130

5.2.1 O ambiente físico - a Universidade Federal do Rio Grande do Norte ... 130

5.2.2 O ambiente sociodiscursivo ... 135

(19)

5.3.1 Por que são usados ... 144

5.3.2 Como são usados ... 148

5.3.3 O requerimento em um sistema de gêneros ... 157

5.4 Os usuários ... 164

5.4.1 Os escritores ... 165

5.4.1.1 Quem são ... 165

5.4.1.2 O que eles têm a dizer sobre esses requerimentos ... 171

5.4.2 Os leitores ... 180

5.4.2.1 Quem são ... 180

5.4.2.2 O que eles têm a dizer sobre esses requerimentos ... 183

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 189

REFERÊNCIAS ... 196

ANEXOS ... 204

(20)

INTRODUÇÃO

Atualmente, muitos estudos, preocupados com as implicações sociais das práticas discursivas, estão sendo desenvolvidos no âmbito da Linguística Aplicada (LA) com base na análise do uso da língua em contextos autênticos. O desenvolvimento desses estudos tem se beneficiado muito pelo avanço das pesquisas sobre gêneros textuais/discursivos, principalmente quanto às contribuições advindas da sociorretórica, vertente norte-americana.

De certa forma, podemos afirmar que os estudos dos gêneros têm acompanhado ao longo do tempo a trajetória dos estudos da língua. Inicialmente, o conceito de gêneros foi estabelecido na Filosofia Clássica com Aristóteles, a partir da busca pela arte da retórica. Depois, a noção de gênero foi associada aos textos literários e, em seguida, rediscutida pelo dialogismo bakhtiniano, quando a compreensão de linguagem expandiu-se como atividade interativa e social. A partir da apropriação do conceito de enunciado e da compreensão social da linguagem, os gêneros foram reconceituados. Isso permitiu enxergá-los como fenômeno complexo, surgindo, assim, o desenvolvimento de abordagens de estudo diferenciadas a seu respeito.

A perspectiva que assumimos para o desenvolvimento deste trabalho baseia-se na concepção sociorretórica de gênero, mais especificamente, nos estudos aprofundados por Swales (1990), Miller (2009a) e Bazerman (2009). A partir desses estudos, advindos da influência pós-estruturalista nas ciências sociais, na segunda metade do século XX, os gêneros textuais são vistos como ações retóricas tipificadas baseadas em situações recorrentes.

Tomando como base a perspectiva sociorretórica da linguagem, que aborda a escrita por sua natureza sócio-discursiva e considera a organização social e as relações de poder implicadas, elegemos como objeto desta pesquisa o gênero ‘requerimento’ produzido por alunos da graduação no contexto administrativo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

(21)

Através desse artefato, os alunos agem no domínio administrativo da instituição, uma vez que esse gênero é tipicamente reconhecido como o documento que permite a esses indivíduos se dirigirem à instituição, a fim de solicitar algo que lhe seja de direito.

Esses requerimentos são redigidos nos ambientes das coordenações dos cursos ou, ainda, em um órgão central que atende a alunos de todos os cursos, denominado Diretoria de Administração e Controle Acadêmico (DACA)1, situado na Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD). Nesses setores, os alunos podem se utilizar da ajuda de servidores para redigir os referidos documentos.

Observando que a instituição possui uma organização administrativa rígida, orientada por princípios da administração pública, os graduandos contam com documentos específicos que compõem a legislação institucional para a elaboração dos requerimentos, tais como: regimento geral da universidade, regulamento dos cursos de graduação, calendário universitário, resoluções, decisões de colegiados, entre outros.

Geralmente, esses requerimentos são elaborados em formulários que podem ser de dois tipos: específicos quanto ao assunto tratado, com uma forma fechada e estruturada; ou semi-estruturados quando não se referem a nenhum assunto especifico. Neste caso, chamado Formulário Padrão. Deter-nos-emos a este assunto no capítulo da metodologia.

Este possui um layout que permite uma formatação mais livre, sendo dividido em duas partes. A primeira, denominada Dados do Aluno na qual o interessado preenche campos específicos com seus dados pessoais e do curso ao qual está vinculado. Na segunda parte, o formulário possui um espaço aberto, nomeado Solicitação, onde o aluno deve expor o seu pedido de acordo com as convenções do gênero. Assim, para que haja um claro entendimento e o objetivo seja alcançado, este espaço exige a elaboração de um texto, corporificado em um gênero textual para que possa realizar algum efeito nessa situação institucional (MARCUSCHI, 2010). Interessará a esta pesquisa a análise de requerimentos desenvolvidos no formulário do tipo padrão.

1 Até pouco tempo esse órgão era conhecido como Departamento de Administração Escolar (DAE),

(22)

Para que haja um controle da tramitação dessas solicitações, cada requerimento é transformado em processo administrativo por um servidor que atua na unidade onde o requerimento foi elaborado. Além do requerimento, os processos apresentam outros documentos anexos, observando as regras que determinam a condução do procedimento.

Para uma melhor compreensão da demanda de requerimentos/processos analisados na PROGRAD, apresentamos a seguir um quadro que revela a quantidade de processos que circulou na PROGRAD nos anos de 2007 a 20112.

Quadro 1 - Número de processos/ano encaminhados e/ou gerados na PROGRAD

ANO NÚMERO DE REQUERIMENTOS/PROCESSOS

2007 7521

2008 8514

2009 6894

2010 7741

2011 4050

Fonte: Relatório de Gestão 2007-2011 da PROGRAD

O primeiro contato que tivemos com os requerimentos se deu por ocasião em que desempenhava funções administrativas na Coordenadoria de Atendimento3 da

PROGRAD, primeiro setor por onde os processos destinados à pró-reitoria devem passar, já que ele é responsável pela distribuição interna de todos os documentos a ela destinados. Nessa época, duas coisas chamavam nossa atenção: a dificuldade que os alunos demonstravam na elaboração dos requerimentos, principalmente na parte do formulário referente à elaboração do texto, pois sempre perguntavam o que deveriam escrever, e a quantidade de requerimentos que circulava nesse ambiente, já que todos os pedidos dos alunos deveriam ser por escrito.

Com a nossa remoção para um setor interno da PROGRAD, passamos a conviver com outro aspecto desse gênero, agora, referente à leitura desses requerimentos. Nesse novo momento, percebíamos que era constante uma queixa por parte dos servidores: a incompreensão das solicitações redigidas pelos alunos.

2 Os dados referentes ao ano de 2011 estão incompletos, pois foram tomados até o mês de abril. 3 Na época, este setor chamava-se Setor de Protocolo. Ele teve o nome modificado devido à

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Logo, percebemos que o gênero se realizava diante de dois obstáculos cruciais para um desempenho eficaz, a dificuldade da escrita e a dificuldade da leitura.

Diante desse quadro, nosso interesse em estudar esse gênero deu-se como fruto da nossa experiência como servidora técnico-administrativa da UFRN e ele justifica-se a partir da constatação dessas dificuldades bem como da quantidade de requerimentos produzidos, uma vez que entendemos que a questão gira em torno do gênero enquanto atividade social em um contexto específico.

Com base nos problemas que dificultam a concretização do atendimento às solicitações nos requerimentos, ou seja, a plena realização do gênero, sentimo-nos impulsionados a investigar os aspectos que envolvem produção e utilização desse gênero. Nesse sentido, vale destacar, a importância que o domínio dos gêneros requer para melhorar a capacidade de interação e ação social. Especificamente, o domínio do gênero, escolhido para análise, deverá permitir a ampliação das capacidades exigidas pela situação comunicativa no âmbito burocrático da instituição.

Nesse sentido, o estudo de um gênero textual da comunicação administrativa é válido, uma vez que pretende apontar conhecimentos ‘genéricos’ sobre uma área de atuação humana, cuja análise ainda não despertou interesse notório por parte de linguistas.

Marcuschi afirma que “há muitos gêneros produzidos de maneira sistemática e com grande incidência na vida diária, merecedores de nossa atenção” (2010, p. 38). Nesse caso, o gênero requerimento, instrumento através do qual os sujeitos reivindicam seus direitos nas mais diversas esferas institucionais, não seria merecedor de um estudo? Além do mais, essa perspectiva ressignifica o estudo interdisciplinar do gênero, ratificando a relevância da pesquisa para a área da Linguística Aplicada (LA).

Dessa forma, interessa a compreensão do gênero e seu funcionamento dentro das circunstâncias que o configuram, para que, dessa maneira, seja possível a compreensão das condições de uso desse gênero.

(24)

Por essa razão, foi extremamente difícil o levantamento de uma literatura, no âmbito acadêmico, específica sobre o gênero em questão. Na verdade, foram encontrados apenas dois trabalhos que tratam, especificamente, do gênero requerimento. Mesmo assim, nenhum deles aborda o gênero na perspectiva que adotamos neste estudo, no caso, a da sociorretórica.

O primeiro é um trabalho do professor doutor da UFPE, Marlos de Barros Pessoa (2009). Trata-se de um artigo intitulado Transformação da tradição

discursiva ‘requerimento’: séculos xviii e xx. Esse trabalho apresenta uma comparação entre requerimentos formais escritos no século dezoito e os do século vinte, em uma perspectiva histórica mais ampla, pois procura entender como os textos se diferenciam em razão de uma tecnologia para outra. O autor chama à atenção para a esfera da produção desse gênero como capaz de integrar um indivíduo a uma estrutura burocrática. Apesar de não ter uma relação direta com a nossa abordagem, foi bem interessante conhecer a evolução histórica desse gênero no período citado.

O outro trabalho corresponde a uma monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Secretariado Executivo Bilíngue da Universidade Federal da Paraíba, por Geziel de Brito Lima (2011), intitulada A Argumentatividade no Gênero

Requerimento: uma análise dos modalizadores discursivos. Nessa monografia, o

autor discute o funcionamento das estruturas semântico-argumentativas no gênero textual requerimento, esclarecendo que o recurso da modalização funciona no texto como uma estratégia de argumentação que o locutor utiliza para convencer o interlocutor a atender a solicitação presente no documento.

Os requerimentos que constituem o corpus da pesquisa de Lima foram coletados da rede mundial de computadores, de modo que se trata de um corpus amplo. O autor observa que existem marcas argumentativas mesmo nos requerimentos desenvolvidos em formulários. Ele afirma, ainda, que a contribuição que pretender oferecer refere-se aos estudantes e profissionais da área de secretariado.

(25)

A partir de modelos de análise de gêneros desenvolvidos por Swales e Bhatia, a análise de Silveira (2005) privilegia os seguintes aspectos do ofício: o contexto enunciativo da produção e recepção do gênero, sua organização retórica e seus aspectos textuais e retóricos gramaticais. Sua análise não se preocupa exatamente em catalogar as regularidades dos componentes linguístico-gramaticais, textuais e discursivos do gênero. Em vez disso, o estudo demonstra que aspectos como a heterogeneidade, a dispersão e a diversidade estão diretamente relacionados aos usos da linguagem na vida social.

Essa obra estabelece aproximações com nossa pesquisa justamente na maneira como o gênero é encarado, privilegiando o aspecto social que se presentifica no gênero enquanto ação humana.

Nosso estudo, dessa forma, merece destaque por ele ser de natureza situada, voltado para um contexto de problemas reais, o seu desenvolvimento deverá dar visibilidade e encaminhamentos quanto ao domínio da prática discursiva envolvida como forma de ação social. Nessa perspectiva, a pesquisa preocupa-se em apontar colaborações para um problema existente na instituição.

Assim, também, o estudo da prática de escrita dos requerimentos aponta para uma reflexão sobre uso efetivo da língua, em um contexto social que vai além dos limites da escola, permitindo olhar à prática social existente nesse processo de interação que possibilita ao indivíduo agir em diferentes esferas e circunstâncias, movido por diferentes propósitos (PAZ, 2008).

A pesquisa visa contribuir para a área da LA, visto que aponta a necessidade de se construir um conhecimento que seja responsivo à vida social, no âmbito das atividades administrativas em empresas públicas e privadas, especificamente em relação aos procedimentos administrativos na universidade em questão, referentes ao gênero em estudo. Da mesma maneira, pretende oferecer subsídios para os estudos de gêneros textuais.

(26)

A relevância social diz respeito às implicações sociais possíveis, a partir deste trabalho, no meio em que o gênero em estudo se realiza. Ao dar voz aos usuários do gênero, tanto a quem produz quanto a quem acolhe, proporcionamos a esses sujeitos uma reflexão sobre uma atividade de rotina, quanto aos procedimentos no domínio administrativo da universidade, executada, muitas vezes, de forma automática. Permitimos, assim, que tais procedimentos sejam repensados, provocando a discussão e um provável redimensionamento no funcionamento da instituição, no que se refere ao uso desse gênero na instância em que ele se presentifica. Almejamos, dessa forma, oferecer um retorno efetivo à instituição.

Outra implicação deste trabalho refere-se ao ensino, pois esperamos que os professores, ao conhecerem nossa pesquisa, percebam outros gêneros que fazem parte do convívio social e se preocupem com uma formação mais diversificada de seus alunos, de modo que eles sejam capazes de atuarem nas diversas instâncias sociais, a começar pelas que fazem parte da própria instituição em que estudam, através da ampliação do trabalho com os gêneros em sala de aula. Os professores, de tal modo, possibilitarão um aprimoramento da competência comunicativa de seus alunos, consequentemente, uma maior atuação social.

Constitui-se, como principal objetivo desta pesquisa, discutir o gênero requerimento produzido pelos graduandos, enquanto prática social, desenvolvida no domínio acadêmico-administrativo da instituição.

Com vistas a esse propósito, estabelecemos as seguintes questões de pesquisa:

1. Quais os elementos constitutivos dos requerimentos e a sua organização retórica?

2. Com foco no ambiente em que são produzidos, na sua situação de uso e nos seus usuários, como se constitui a situação retórica típica dos requerimentos?

Orientados por essas questões, traçamos como objetivos específicos:

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2. Analisar a situação retórica típica dos requerimentos, tendo como foco o ambiente em que eles são produzidos, a sua situação de uso e os seus usuários.

Para cumprir os objetivos da pesquisa, as análises partiram de dados constituídos a partir de 50 (cinquenta) requerimentos. Procuramos formar, também, dados concretos referentes ao uso desse gênero. Para isso, buscamos a triangulação dos dados e ouvimos os usuários do gênero, escritores e leitores, através de questionários, entrevistas e protocolos verbais de escrita. Essas três ferramentas foram aplicadas com os alunos, enquanto apenas as duas primeiras, com os servidores. Defendemos que essa triangulação torna possível uma apreciação mais ampla e legítima do objeto.

Conforme a natureza do objeto de estudo, fundamentamo-nos em subsídios teóricos advindos da teoria dos gêneros textuais que concebe a linguagem como ação, constitutiva e constituída pelos aspectos sociais, históricos e culturais, ou seja, da perspectiva sociorretórica. Essa abordagem considera que os sujeitos assumem uma postura interativa e agem através de escolhas discursivas, a fim de realizar propósitos sócio-comunicativos.

As concepções norteadoras deste estudo são, portanto, aquelas defendidas pela concepção sociorretórica do estudo dos gêneros, apresentadas principalmente por Carolyn Miller (2009a) no texto Gênero como Ação Social. Nessa obra, a autora discute proposições gerais sobre o conceito de gênero, inserindo seu estudo nas práticas comunicativas das comunidades discursivas, com enfoque retórico.

As contribuições de Charles Bazerman (2009) serão de grande importância para nossa pesquisa, haja vista que, a partir de uma investigação retórica, histórica e interativa, ele nos convida a olhar os gêneros como formas de vida, presentes nas práticas cotidianas, estabelecidos nas relações dos indivíduos com a realidade institucional.

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Em relação à metodologia de pesquisa, adotamos os princípios do paradigma qualitativo4 de investigação científica (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010),

uma vez que se trata de um estudo de fatos humanos e sociais em contexto autêntico de atuação. Tendo em vista a adoção desse paradigma, não fizemos uso de categorias pré-estabelecidas. O caráter da flexibilidade que acompanha o planejamento das investigações de natureza qualitativa foi constantemente preservado.

Nesse sentido, utilizamos instrumentos da pesquisa etnográfica (LAPLANTINE, 2004), por entendermos que a compreensão do gênero requerimento na perspectiva sociorretórica só seria possível se focalizássemos nos significados das ações dos sujeitos implícitas no gênero. Para isso, adotamos o procedimento de imersão, no contexto social de atuação do gênero e nos permitimos ouvir seus usuários, a fim de gerar os dados considerando o ponto de vista dos sujeitos colaboradores da pesquisa (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010).

Para discutir a problemática proposta, a dissertação está organizada em sete partes. Primeiramente, temos esta introdução, na qual apresentamos o objeto de estudo, questões de pesquisa, objetivos, a motivação para a realização do trabalho, a perspectiva teórico-metodológica, a abordagem da pesquisa, a revisão dos estudos sobre a temática, assim como a justificativa e as contribuições da pesquisa tanto para a Linguística Aplicada quanto para o domínio administrativo no ambiente acadêmico.

No primeiro capítulo, a contextualização da pesquisa, apresentamos os aspectos metodológicos referentes à pesquisa: sua relação com a Linguística Aplicada, a abordagem da investigação, o objeto de estudo e os objetivos que nortearam o seu desenvolvimento, o cenário em que foi desenvolvida, os colaboradores, o corpus, os intrumentos e os procedimentos de geração dos dados e os procedimentos de análise dos dados.

No segundo capítulo, considerando que a fundamentação consiste basicamente nos estudos sobre os gêneros textuais, traçamos a evolução histórica do conceito de gênero nas diversas áreas de estudo, desde o seu surgimento. Mapeamos os estudos de gênero, desde a Filosofia Clássica, fazendo a transição da

4 Vale esclarecer que o fato de a pesquisa fazer uso de gráficos não a torna quali-quantitativa, haja

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retórica antiga à linguística, passando pela literatura. Apresentamos também as principais abordagens de estudo dos gêneros na atualidade. Com isso, percebemos como, ao longo do tempo, a renovação do estudo da língua afetou o estudo dos gêneros, e que, especificamente em relação à sociorretórica, esta corrente não compreende uma retomada direta dos primeiros estudos dos gêneros na retórica antiga. Trata-se de um outro modo de estudo da retórica. Por isso, também chamada de Nova Retórica.

No terceiro capítulo, nos dedicamos mais especificamente à perspectiva sociorretórica de estudo dos gêneros. Neste momento, apresentamos as contribuições dos quatro estudiosos mais representativos dessa corrente: Vijay Bhatia, John Swales, Carolyn Miller e Charles Bazerman. Destacamos o trabalho dos três últimos, uma vez que, como teóricos, nos utilizamos dos seus construtos para embasar a análise dos requerimentos. Merece um destaque o conceito de gênero desenvolvido por Miller (2009a) como uma ação retoricamente tipificada.

No quarto capítulo, tratamos mais especificamente do gênero textual requerimento, caracterizado como um gênero da redação oficial. Nesse sentido, evidenciamos a implicação de alguns aspectos da administração pública na redação oficial, principalmente no tocante ao Brasil, como, por exemplo, os princípios estabelecidos pela Constituição Federal, entre outras legislações. Além disso, discorremos sobre a definição do requerimento, o modo como ele é abordado nos manuais de redação oficial e apresentamos um exemplar típico do gênero.

No quinto capítulo, discorremos sobre a análise dos dados referente ao requerimento, organizado-o em quatro partes, de modo a contemplar as categorias estabelecidas: a) os aspectos constitutivos; b) o ambiente em que se realiza; c) a situação de uso e, por fim, d) os usuários.

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

O gênero é apenas a realização visível de um

complexo de dinâmicas sociais e

psicológicas. Ao compreendermos o que acontece com o gênero, porque o gênero é o que é, percebemos os múltiplos fatores sociais e psicológicos com os quais nossos enunciados precisam dialogar para serem mais eficazes.

Charles Bazerman

A fim de situar o trabalho no campo científico, apresentamos, agora, o percurso metodológico adotado nesta pesquisa. Com vistas a isso, discutiremos a abordagem de pesquisa adotada, os aspectos relativos ao objeto de estudo, o cenário e os colaboradores da pesquisa. Trataremos, também, do corpus que constitui a pesquisa, dos instrumentos usados para gerar os dados e dos procedimentos de análise adotados.

Esta pesquisa se situa no campo da LA (MOITA LOPES, 2006), preocupada com as mudanças sociais e históricas e com as rupturas com os modelos hegemônicos. É uma área que se abre a estudos transdisciplinares,tais com a Sociologia, a Psicologia, a Filosofia, entre outros, para pensar a linguagem como um fenômeno situado, múltiplo e complexo.

O trabalho se situa no paradigma qualitativo (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010; MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998), adotado pelas ciências humanas, o qual considera a complexidade do fenômeno social.

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1.1 A abordagem

1.1.1 A Linguística Aplicada como norteadora

Esta pesquisa se propõe a refletir sobre o gênero textual requerimento produzido por graduandos no domínio administrativo de uma instituição pública de ensino superior. Interessa discutir a utilização desse gênero no seu domínio sócio discursivo, inserido em um sistema de atividade socialmente organizado, observando questões referentes tanto à escritura quanto ao contexto, como as condições de produção, circulação e recepção desse gênero.

Considerando que o contexto de análise é o de uma organização burocrática, própria do tipo de instituição em que a sociedade é representada pelo Estado, em uma estrutura jurídico-institucional (MOTTA, 2002), pode-se afirmar que a prática da escrita de requerimentos é extremamente necessária, na medida em que o uso desse gênero é o modo oficialmente reconhecido pelas organizações públicas. Através dele, seus usuários não só estabelecem uma comunicação com essa instância como também agem no sistema de modo a constituí-lo.

Pretendemos investigar aspectos relacionados à produção deste gênero e seu funcionamento dentro das circunstâncias que o configuram, para que, dessa maneira, seja possível ir além das questões de forma e substância, focando na ação que realiza (MILLER, 2009a).

Isso aponta para uma reflexão sobre uso efetivo da língua, concebendo-a como uma prática social que permite ao sujeito agir nas mais diversas esferas, movidos por diferentes propósitos (PAZ, 2008). A pesquisa visa, com isso, contribuir para os estudos atuais da LA que têm buscado a referência de uma língua real, em suas práticas reais e específicas, em uma tentativa de estudar o objeto ainda na tessitura de suas raízes (SIGNORINI, 1998).

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1.1.2 Sob o paradigma da pesquisa qualitativa

Situada na área da LA indisciplinar (MOITA LOPES, 2006), considerando, portanto, as mudanças epistemológicas relacionadas ao cenário complexo da contemporaneidade, esta pesquisa pretende “provocar o esclarecimento de uma situação para uma tomada de consciência, pelos próprios pesquisados, dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e estratégias de resolvê-los” (CHIZZOTTI, 2010, p. 104).

Seu enquadre está de acordo com os propósitos do paradigma qualitativo (BODGAN; BIKLEN, 1994), visto que busca a análise descritiva e interpretativa do sistema de atividade que envolve a produção dos requerimentos. De forma indutiva, o processo de geração dos dados não se propõe à confirmação de hipóteses previamente construídas, mas à apreciação sobre um determinado objeto que só é possível após a construção dos dados e a relação direta do pesquisador com eles.

Na pesquisa qualitativa, o que se busca é o entendimento e a interpretação dos fenômenos sociais inseridos em um contexto, o que requer uma compreensão ativa do mundo tanto por parte do pesquisador como também dos pesquisados. Como afirma Chizzotti (2010), essa abordagem de pesquisa fundamenta-se na existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que, por sua vez, cria uma interdependência viva entre sujeito e objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Assim, o sujeito de observador passa à condição de integrante do próprio conhecimento através do processo de interpretação utilizado diante dos fenômenos. Nesse caso, o objeto não é tido como neutro, pois possui significados e estabelece relações com suas ações, como sujeito que é.

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Em vez de tratar o gênero simplesmente enquanto produto, buscamos a análise do processo, desde a elaboração até o atendimento dos requerimentos, pois, dessa forma, é possível enxergar o requerimento como um texto construído como reflexo de normas e convenções, valores e práticas sócio-historicamente produzidos. Em outras palavras, o gênero requerimento se constitui como reflexo da interação projetada entre autor e leitor, produto de convenções culturais, sociais e linguísticas, ou seja, como a materialização do discurso institucional, devendo ser necessário para o seu estudo considerar todos os aspectos contextuais implicados no processo de sua produção.

Isso implica olhar para as referências dos sujeitos que utilizam o gênero, para o contexto de sua produção e para os procedimentos envolvidos nessa prática de produção e recepção desses textos.

A natureza dos dados analisados constitui-se em uma mescla de ordem etnográfica e documental. Neste caso, em razão de os documentos investigados, ou seja, os requerimentos, não estarem relacionados a atividades referentes à etnografia propriamente, como o observar e o perguntar.

Para uma melhor compreensão acerca do gênero em análise, no domínio administrativo da universidade, e a fim de garantir maior credibilidade à pesquisa, utilizamos mais de uma técnica de pesquisa, buscando discorrer de modo mais abrangente sobre o fenômeno investigado, ou seja, adotamos múltiplas fontes de informação para o desenvolvimento da pesquisa possibilitando, assim, a triangulação dos dados (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998).

1.1.3 Termo de autorização de uso das informações

Considerando que nossa pesquisa trata-se da investigação de seres humanos, apoiada em uma abordagem qualitativa, faz-se necessária a constante preocupação com questões éticas, decorrentes da interação do pesquisador com os colaboradores (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

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Para preservar tais questões, elaboramos um termo de autorização de uso das informações para que os sujeitos assinassem. A elaboração desse termo deu-se, conforme as recomendações de Creswell (2007), a fim de garantir aos colaboradores alguns direitos como parte integrante da pesquisa.

A partir do acesso ao termo, os sujeitos puderam tomar consciência das implicações da pesquisa antes mesmo de colaborarem. Nele, esclarecemos a respeito da pesquisa, como, por exemplo, o objeto e as contribuições do estudo, e informamos que a participação era voluntária e que o anonimato seria garantido.

Como utilizamos mais de um tipo de instrumento para gerar os dados e fizemos abordagens diferenciadas, a autorização do colaborador para uso das informações deu-se de modos diferentes. No caso dos questionários e dos requerimentos, fizemos contatos por telefone e enviamos o termo e o link do questionário por e-mail. Explicamos que a autorização seria dada através das respostas ao questionário. No caso das entrevistas e dos protocolos verbais de escrita, como o contato foi por telefone e pessoalmente, a autorização ocorreu por meio da assinatura do termo.

Além dos dados de análise, também contamos com algumas fotografias no trabalho. Vale esclarecer que a autorização dessas imagens deu-se através da assinatura do termo. Além disso, mesmo o anonimato tendo sido garantido, os colaboradores liberaram ao uso das fotografias sem qualquer restrição.

Em relação ao ambiente em que desenvolvemos a pesquisa, também elaboramos um termo para autorização da realização da pesquisa. Esse termo tinha como objetivo obter a permissão da autoridade responsável pelo setor e foi devidamente assinado pela Pró-reitora Adjunta.

1.2 Designação do objeto de estudo

No ambiente administrativo das instituições públicas, muitas atividades são realizadas através de práticas de escrita, como atas de reuniões, ofícios, resoluções de órgãos superiores da administração, memorandos, relatórios, entre outras. A escrita, nesse domínio, está sempre ligada a uma atividade que se deseja realizar visando questões próprias da instituição.

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muito utilizado na sociedade, mas sobre o qual praticamente inexiste elaboração teórica fundamentada na perspectiva dos gêneros textuais. Segundo Brügger e Querino (2009), requerimentos consistem em instrumentos através dos quais o requerente se dirige à instituição, a fim de solicitar o reconhecimento de um direito ou concessão de algo sob o amparo de uma legislação.

Nosso interesse na pesquisa diz respeito, especificamente, ao gênero requerimento utilizado por graduandos como instrumento de participação social, inserido em um sistema de atividade amplo, onde circulam textos do mundo real que ocorrem dentro de circunstâncias sociais organizadas.

Entendemos que esse gênero textual merece nossa atenção devido à sua relevância nesse contexto, pois é utilizado pelos alunos como principal instrumento para as solicitações de documentos (declarações, certificados etc.) e de procedimentos (retificações de notas, mudanças de modalidade, permutas de turno, prorrogações de prazo para conclusão de curso, entre outros) referentes à sua vida acadêmica.

1.3 O cenário

Como o objeto de estudo desta pesquisa se refere a textos produzidos no domínio administrativo da UFRN, faz-se necessário conhecer um pouco esse contexto.

Figura 1 - Prédio da Reitoria da UFRN

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A UFRN é uma instituição pública de ensino que presta serviços ao seu estado desde 1958. Na sua administração central, conforme o plano de gestão 2011 - 2015 (BRASIL, 2012), ela é composta por reitoria, 8 (oito) pró-reitorias, 2 (duas) secretarias acadêmicas e 3 (três) superintendências. A área acadêmica possui 8 (oito) centros acadêmicos, com 70 (setenta) departamentos, 5 (cinco) unidades acadêmicas especializadas, 3 (três) escolas de ensino técnico e 1 (uma) escola de ensino fundamental.

Por ser uma instituição de referência no seu Estado, a UFRN se destaca em relação ao número de cursos e de alunos que dispõe. Somente no ano de 2010, o número de matrículas realizadas na graduação chegou a 27.204 (vinte e sete mil, duzentos e quatro), segundo o plano de gestão atual (BRASIL, 2012).

Para administrar questões referentes ao ensino de graduação, a UFRN conta com a Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD), órgão responsável pelo planejamento, supervisão, coordenação e controle das atividades de ensino de graduação.

Além de assessorar o Reitor, com questões de política e atividades de ensino de graduação, cabe à PROGRAD, segundo seu Relatório de Gestão 2007-2011 (BRASIL, 2010b), coordenar, supervisionar e executar os serviços de registro e controle de registros das atividades relacionadas ao ensino de graduação; assessorar os órgãos da administração acadêmica, em todos os níveis, sobre legislação de ensino superior e assuntos de natureza didático-pedagógica.

A PROGRAD divide-se em duas diretorias, a Diretoria de Desenvolvimento Pedagógico (DDP) e a Diretoria de Administração e Controle Acadêmico (DACA). A primeira atua mais diretamente no âmbito pedagógico, desenvolvendo atividades relacionadas à criação e atualização dos cursos, currículos e programas de graduação. A segunda é mais atuante no que se refere às questões administrativas, ocupando-se com o registro e acompanhamento da vida acadêmica dos alunos. Nesse sentido, a produção e circulação dos requerimentos acadêmicos acontecem em larga escala na DACA.

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1 (um) o Pró-reitor e outros 2 (dois) os diretores. No momento, um destes, o diretor da DACA, ocupa simultaneamente a função de Pró-reitor Adjunto.

Junto à PROGRAD, como órgão deliberativo, normativo e consultivo sobre matéria acadêmica, temos a Câmara de Graduação (CG), que constitui o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE). Atualmente, a CG é composta por um corpo de 10 (dez) relatores, sendo 8 (oito) professores, 1 (um) servidor técnico e 1 (um) estudante. Esses relatores são membros do CONSEPE que, voluntariamente, optam por participar da CG5. Quanto a essa composição, ela não é fixa, pois depende do interesse dos membros do CONSEPE.

A CG é presidida pelo Pró-reitor e Pró-reitor Adjunto da Graduação. Ela corresponde a um dos órgãos dos conselhos superiores da UFRN, o CONSEPE e atua diretamente na análise de alguns processos, cujos assuntos são legalmente de sua competência.

Apresentamos, a seguir, a estrutura administrativa da PROGRAD:

Figura 2 - Organograma Administrativo da Pró-reitoria de Graduação da UFRN

Fonte: Relatório de Gestão 2007-2011 (BRASIL, 2010b)

5 É necessário esclarecer que, na verdade, os membros do CONSEPE têm a obrigação de participar

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Considerando os ambientes de maior circulação dos requerimentos

produzidos pelos alunos, envolvemos, diretamente na pesquisa, os seguintes

setores da PROGRAD: a Secretaria, o Setor de Arquivo Ativo, o Setor de admissão e Cadastro, o Setor de Registro Acadêmico e o Setor de Expedição de Documentos. Além dos setores da DACA, contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa a Coordenadoria de Atendimento e a Assessoria Técnica, colaborando com a entrevista e com o questionário.

A DACA possui, atualmente, 19 (dezenove) servidores técnicos, sendo distribuídos da seguinte maneira: 3 (três) na Secretaria, 4 (quatro) no setor de arquivo ativo, 4 (quatro) no Setor de Registro Acadêmico, 4 (quatro) no Setor de Registro e Expedição de Documentos e 4 (quatro) no Setor de Admissão e Cadastro. Além de 9 (nove) bolsistas e 1 (um) professor, que é o diretor.

No caso da Assessoria Técnica da PROGRAD, sua contribuição deu-se com a resposta de 1 (uma) servidora técnica ao questionário.

Figura 3 - Coordenadoria de Atendimento da PROGRAD/UFRN

Fonte: Acervo da pesquisa

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30 minutos às 19 horas e 30 minutos, permitindo o acesso aos alunos nos três turnos em que a universidade funciona. Os demais setores da pró-reitoria funcionam das 7 horas e 30 minutos às 17 horas e 30 minutos, ou seja, nos turnos matutino e vespertino.

Vale esclarecer que, além de serem produzidos na PROGRAD, alguns requerimentos são redigidos nos ambientes das coordenações dos cursos. Atualmente, a UFRN dispõe de 70 (setenta) departamentos de cursos, distribuídos em 8 (oito) centros administrativos.

Em sua composição administrativa, as coordenações dos cursos possuem, geralmente, 1 (um) servidor técnico administrativo e 2 (dois) professores, um ocupando a função coordenador de curso e o outro de vice-coordenador. As coordenações têm a obrigação de funcionar durante oito horas diariamente.

Os requerimentos, mesmo sendo produzidos fora da PROGRAD, seguem para lá, são recebidos pela Coordenadoria de Atendimento e encaminhados para os setores competentes para análise e atendimento.

Optamos por gerar nossos dados apenas no âmbito dessa Pró-reitoria, uma vez que nela são arquivados a maior parte dos requerimentos produzidos pelos alunos da graduação.

1.4 Os colaboradores

Os sujeitos participantes desta pesquisa são alunos do ensino de graduação e servidores técnicos da PROGRAD, ou seja, pessoas que atuam no sistema de atividade referente aos requerimentos de modo diferenciado conforme os papéis sociais que desempenham. A opção por trabalhar com esses dois segmentos deu-se devido à necessidade de olhar tanto para a elaboração da escrita dos requerimentos como para o atendimento desses documentos, a fim de visualizar o sistema existente no uso do gênero em estudo.

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Figura 4 - Aluno produzindo um requerimento na PROGRAD/UFRN

Fonte: Acervo da pesquisa

Figura 5 - Servidora atendendo às solicitações dos alunos

Fonte: Acervo da pesquisa

Em termos quantitativos, são participantes da pesquisa 50 (cinquenta) graduandos de vários cursos, com ingresso em anos diferentes. Esses alunos se encontram cursando períodos distintos, variando no momento em que participaram da pesquisa entre alunos ingressantes (cursando o primeiro período letivo) e concluintes (que tinham concluído recentemente). A participação desses alunos deu-se da deu-seguinte maneira: todos responderam ao questionário e permitiram a análideu-se pela pesquisadora dos requerimentos produzidos por eles no âmbito da graduação. Além disso, 3 (três) alunos participaram das entrevistas e 2 (dois) alunos participaram dos protocolos verbais de escrita.

Em relação aos servidores técnicos, são 8 (oito) profissionais que desempenham suas atividades laborais na PROGRAD, sendo 4 (quatro) na DACA, 3 (três) na Coordenadoria de Atendimento e 1 (um) na Assessoria Técnica. Quanto ao tempo de serviço na universidade, existe uma variação entre 1 ano e 26 anos. No que se refere à formação profissional, 4 (quatro) possuem pós-graduação, 3 (três) possuem graduação e 1 (um) está cursando a graduação. Esses oito servidores responderam ao questionário aplicado e, dentre eles, selecionamos dois indivíduos para participar das entrevistas. Um deles atua, mais precisamente, junto à produção dos gêneros pelos alunos e o outro, na leitura e atendimento das solicitações feitas por eles. Os critérios de seleção foram, portanto: a relação que mantém com o gênero e a experiência com a atividade que desenvolvem em relação aos requerimentos, já que trabalham há mais de quatro anos no mesmo setor.

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A respeito da seleção dos colaboradores, nós não estabelecemos critérios específicos em relação aos alunos. Nosso interesse era formar um banco de dados que tivesse um maior alcance de modo que nenhum grupo específico fosse privilegiado. Desse modo, tivemos discentes de cursos variados, de diferentes áreas e em estados diferentes em relação ao curso, desde ingressantes até alunos que já tinham concluído o curso.

Em relação aos servidores, buscamos a colaboração de servidores que atuam em setores diferentes da PROGRAD, a fim de observamos o que as vivências diferenciadas com o gênero poderiam revelar.

No decorrer da pesquisa, esses alunos de graduação que contribuíram com a geração de dados serão mencionados nas análises como AG1, AG2, AG3, e assim sucessivamente. Da mesma forma, os servidores técnicos são identificados como ST1, ST2, ST3, e assim por diante.

1.5 O corpus

Para uma análise que permita examinar o gênero nas suas diferentes dimensões (JOHNS et al., 2006), utilizando diferentes ferramentas etnográficas, a definição do corpus deste trabalho constituiu-se a partir da contemplação dos seguintes aspectos do gênero: a sua dimensão constitutiva e a sua dimensão retórica. Os corpora são compostos por uma seleção de requerimentos, questionários, entrevistas e protocolos verbais de escrita6.

Os requerimentos e os protocolos verbais de escrita dizem respeito, obviamente, aos produtores dos textos; os demais instrumentos foram aplicados tanto com os produtores como com os leitores.

No caso do corpora constituído por exemplares autênticos de requerimentos, verificou-se que, de modo geral, os atos implicados correspondem à solicitação de necessidades específicas por parte de graduandos junto aos representantes do serviço público que possuem competência legalmente instituída para o devido atendimento.

A princípio, em um estudo piloto, a pesquisa contava com 110 (cento e dez) requerimentos coletados. A seleção desses requerimentos deu-se com base nas

6 As ilustrações usadas nesse capítulo metodológico não fazem parte do

corpus de análise da

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características relevantes aos interesses da pesquisa, através de critérios da intencionalidade, recomendável para esse tipo de pesquisa, conforme Gil (2009).

Dentre eles, foram priorizados 50 (cinquenta) requerimentos para análise dos aspectos linguísticos do gênero. Como critério para essa segunda seleção privilegiou-se os requerimentos cujos produtores responderam ao questionário. Dessa forma, a pesquisa conta com 50 (cinquenta) questionários aplicados diretamente com os produtores de requerimentos selecionados e com suas respectivas produções.

Esses requerimentos foram produzidos nos anos de 2010 e 2011 e, atualmente, encontram-se arquivados no Setor de Arquivo Ativo da PROGRAD.

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Quadro 2 - Distribuição de requerimentos coletados por cursos

Fonte: Acervo da pesquisa

A fim de um melhor controle do corpus desta pesquisa, os requerimentos foram identificados por um código alfanumérico, formado pela letra R seguida de um número que corresponde a uma sequência, de modo que são mencionados nas análises como R1, R2, R3... até R50.

Nesse grupo de 50 (cinquenta) produtores de requerimento foram desenvolvidas entrevistas e protocolos verbais de escrita com 2 (dois) alunos que refizeram seus requerimentos para ter seu pedido aceito.

Para uma maior elucidação da situação retórica (MILLER, 2009a), os leitores desses requerimentos, ou seja, os servidores da PROGRAD, também tiveram seus

Cursos Ocorrências

Administração 2

Biomedicina 1

Ciências Biológicas 3

Ciências Contábeis 1

Direito 1

Educação Física 1

Engenharia Civil 1

Engenharia da Computação 1

Engenharia da Produção 1

Engenharia Elétrica 1

Engenharia Mecânica 3

Engenharia Química 1

Farmácia 3

Filosofia 3

Física 1

Fisioterapia 2

Geografia 1

Geologia 5

História 1

Jornalismo 1

Letras 3

Medicina 2

Música 4

Psicologia 1

Química 1

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dizeres considerados na construção dos dados para investigação a partir de informações prestadas em 8 (oito) questionários respondidos pelos servidores e em 2 (duas) entrevistas com servidoras da PROGRAD que se dispuseram a falar sobre suas experiências a respeito dos requerimentos.

Referentemente aos alunos, foram adotados como dados para análise 50 (cinquenta) requerimentos, 50 (cinquenta) questionários, 3 (três) entrevistas e 2 (dois) protocolos verbais de escrita. Em relação aos servidores, constituem-se como dados 8 (oito) questionários e 2 (duas) entrevistas.

Observamos que a natureza dos dados analisados se constitui de uma mescla de ordem documental e etnográfica. Isso permite a triangulação dos dados, atribuindo à pesquisa maior credibilidade.

1.6 Processo de geração de dados e instrumentos utilizados

O processo de geração dos dados teve início no mês de fevereiro de 2011, quando, submetida à apreciação da Pró-reitoria da Graduação, a pesquisa obteve autorização oficial para sua realização.

De posse dessa autorização, começamos a fase exploratória do campo, visitando os setores da PROGRAD. Nesse momento, empregamos técnicas como a “observação livre”, “conversas informais” com os servidores que trabalham com o gênero (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p.161). Aproveitamos para informar à comunidade sobre a proposta de investigação, a fim de esclarecer sobre a importância da pesquisa e, ao mesmo tempo, conseguir o apoio desses servidores na coleta dos textos.

Uma análise preliminar dos requerimentos, amparada na perspectiva sociorretórica de análise de gêneros, consistiu em um estudo piloto. Esse estudo indicou que, para contemplar a situação retórica que envolve o gênero, a análise não poderia ficar presa apenas aos textos produzidos pelos alunos. Resolvemos, então, adotar diferentes fontes, já que compreendemos o gênero como uma entidade complexa.

(45)

Para atender as necessidades reveladas nesse estudo piloto, resolvemos empregar diferentes tipos de instrumentos de pesquisa que foram aplicados junto aos usuários do gênero requerimento, os alunos e os servidores técnicos.

Apresentaremos, a seguir, os instrumentos de pesquisa utilizados. Na medida em que discorremos sobre os instrumentos, relatamos os procedimentos aplicados para gerar os dados desta pesquisa.

1.6.1 Os requerimentos

Inicialmente, a coleta dos textos deu-se através do engajamento dos setores com a indicação de requerimentos para compor o nosso banco de dados. Em seguida, foi a vez de consultar o acervo do Setor de Arquivo Ativo da PROGRAD, onde são arquivados os processos dos alunos de graduação ativos na instituição, para proceder a coleta dos textos. Dessa forma, fizemos cópia dos requerimentos, totalizando, inicialmente, 110 exemplares.

De posse desses requerimentos, criamos um banco de dados dos alunos prováveis colaboradores da pesquisa. Esse banco continha as seguintes informações: nome, matrícula, número do processo, assunto do processo, data da coleta, telefones e e-mail. Esses dados permitiram o contato com os alunos para obter autorização para análise desses documentos. O banco de dados dos colaboradores foi sendo formado, então, à medida que os textos eram coletados.

Através de mensagens via e-mail e ligações telefônicas, procedemos ao contato com esses alunos para informá-los sobre a pesquisa e, ao mesmo tempo, perguntá-los sobre a disponibilidade para participarem dela.

Vale ressaltar que sempre houve a preocupação com a questão ética, uma vez que ela deve sempre se fazer presente nas pesquisas, principalmente nas qualitativas, em que as relações entre colaboradores e investigador ocorrem de forma mais próxima e continuada (BODGAN; BIKLEN, 1994).

Dos 110 (cento e dez) alunos que foram contactados, 50 (cinquenta) se dispuseram a participar da pesquisa, já autorizando a análise de seus requerimentos.

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1.6.2 Os questionários

A segunda parte do nosso corpus é formada por 58 (cinquenta e oito) questionários respondidos pelos usuários do gênero, sendo 8 (oito) respondidos por servidores técnicos da PROGRAD e 50 (cinquenta) por alunos de graduação.

Para facilitar a aplicação deste instrumento, optamos por utilizar uma ferramenta disponível pelo site do Google, chamada Google Docs. Com ela, foi possível publicar o questionário online, facilitando o acesso e permitindo uma interação simples, rápida e com segurança.

Para conseguir a adesão dos servidores em relação a esse instrumento, visitamos a PROGRAD, fizemos uma exposição de nossa pesquisa, utilizando uma apresentação no programa PowerPoint. Nesse evento, contamos, inclusive com a presença do Pró-reitor adjunto da PROGRAD. Após a exposição, explicamos a necessidade da participação deles na pesquisa e solicitamos os e-mails dos voluntários para enviar o convite. Dos 10 (dez) servidores convidados por e-mail, 8 (oito) responderam ao questionário.

Em relação aos alunos, no mesmo contato que realizamos para solicitar autorização para análise dos requerimentos, explicamos sobre a importância de responder aos questionários. Esclarecemos, por telefone e no próprio questionário, que a resposta a esse instrumento implicaria a autorização para o uso das informações na análise do trabalho. Dos 110 (cento e dez) alunos contactados, 50 (cinquenta) responderam ao questionário, autorizando também a análise dos requerimentos.

Os questionários apresentam questões fechadas e abertas. Eles tratavam, basicamente, da identificação dos sujeitos; de suas práticas de leitura e de escrita, em ambientes diversos e, especificamente, no ambiente acadêmico (para os alunos) e no de trabalhos (para os servidores); e de questões referentes ao gênero em questão.

Imagem

Figura 1 - Prédio da Reitoria da UFRN
Figura 2 - Organograma Administrativo da Pró-reitoria de Graduação da UFRN
Figura 3 - Coordenadoria de Atendimento da PROGRAD/UFRN
Figura 4 - Aluno produzindo um requerimento na  PROGRAD/UFRN

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