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PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2. Fundamentos teóricos sobre inovação

2.2. As abordagens teóricas sobre inovação

2.2.5. A abordagem de inovação aberta

A abordagem de inovação aberta foi introduzida na comunidade académica por Chesbrough, ao admitir que o conhecimento com utilidade reconhecida para a inovação está largamente repartido e que nem mesmo os mais evoluídos e sofisticados departamentos de I&D, no seio das empresas e organizações, têm a capacidade de difundir esse conhecimento, de uma forma isolada e sem a articulação com outras fontes externas. No entanto, desde a década de 80, tanto as empresas como as organizações têm vindo a promover e a dinamizar, com êxito reconhecido, processos de inovação com uma considerável influência externa, ou seja, integrando outros parceiros e agentes externos no processo (Von Hippel, 1988). Mas a introdução do tema, ainda assim, mantém-se associada aos contributos de Chesbrough (2003a), sugerindo que esta tipologia de abordagem pode integrar diferentes níveis de abertura. Contudo, de acordo com o mesmo autor, a inovação aberta só faz sentido se essa abertura das empresas e organizações ao conhecimento, que advém de fatores externos, for devidamente estruturada e assumida como uma estratégia própria (Chesbrough, 2006).

Segundo a abordagem de inovação aberta as empresas devem usar e dar utilidade às fontes de conhecimento externas, em articulação com as fontes de conhecimento internas, da mesma maneira que devem considerar trajetórias internas e externas de negócios e relacionamentos, no seio das suas linhas de trabalho, e essa é a forma que as orienta e que promove os avanços tecnológicos e, por inerência, conduz à inovação (Chesbrough, 2003a). Tal permite perceber esta abordagem como um processo no qual as empresas, no âmbito da inovação, apostam e orientam as suas atividades, procurando reconhecer e analisar fontes de conhecimento externas, sendo estas cruciais para o eficiente desenvolvimento desse processo. Ou seja, segundo Chesbrough (2012a), levar a cabo processos de inovação de uma forma aberta exprime, por parte das empresas, um olhar atento ao funcionamento do mercado, bem como o entendimento de que o horizonte das oportunidades mais proveitosas reside na capacidade de assimilar conhecimento externo.

Contributos de autores acerca desta abordagem remetem para a necessidade das empresas terem de abrir o seu campo de atuação, defendendo que, de forma isolada, não é possível inovar. Dessa forma, Chesbrough (2003a) e Laursen e Salter (2006a) defendem que as empresas, com o objetivo de se alinharem com a concorrência, têm de integrar uma diversidade de parceiros de cooperação, integrando, por conseguinte, essa diversidade de contributos, de ideias e de recursos externos, para que, dessa forma, venham a inovar.

De acordo com Huizingh (2011:2) a inovação aberta é um conceito que remete para alguma complexidade, já que “é um conceito rico, e que pode ser implementado de muitas maneiras diferentes”, sendo que também “é um dos temas menos compreendidos”, no campo da inovação, e que exige mais investigação, nomeadamente no que diz respeito às especificidades do ambiente interno e do ambiente externo, que têm a capacidade de influenciar o desempenho das empresas e das organizações.

Um dos fatores determinantes, no âmbito da presente abordagem, é o facto de considerar que os processos de inovação não dependem, apenas e em exclusivo, das fontes internas das empresas e, mais ainda, que o conhecimento adquirido pelas fontes externas assume tal relevância no processo de inovação, que pode, inclusivamente, garantir o seu êxito e permitir resultados mais amplamente reconhecidos (Witzeman et al., 2006). Assim, Rasera e Balbinot (2010:129) referem que essas “interações entre organizações assumem um papel relevante e despertam o interesse para a inovação que nasce de parcerias, de alianças, e organizações em rede”.

Por sua vez, Sisodiya, Johnson e Grégoire (2013) consideram que a inovação aberta está sustentada numa constante procura, por parte das empresas, para integrar contributos e informação externa para o desenvolvimento de novos produtos. E esse deve, segundo os autores, representar o propósito de qualquer empresa, quando pretende inovar, o que consideram mesmo como uma “perspetiva alternativa sobre inovação” (Sisodiya, Johnson, Grégoire, 2013:1). Perante esta abordagem, considera-se que com a inovação aberta as empresas recorrem a mecanismos de informação interna e externa ao mercado, ao mesmo tempo que evoluem nas suas tecnologias (Chesbrough, 2003a). Tais mecanismos ditam a entrada e a saída de conhecimento, com a pretensão de alargar o seu âmbito de atuação e, mais ainda, de promover a geração de inovações (Chesbrough, 2006).

A presente abordagem considera assim como o seu fator-chave a abertura do processo de inovação, tal qual refere Chesbrough et al. (2006:1), “o uso de entradas e saídas de conhecimento propositais para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para utilização externa da inovação, respetivamente”. Inclusivamente, as abordagens académicas sobre a inovação defendem a importância das redes e das relações interorganizacionais, tema que será adiante abordado, como determinantes do processo (Perks, 2000; Sivadas e Dwyer,

2000; Wong, Tjosvold e Zhang, 2005; Rampersad, Quester e Troshani, 2010; Story, O'Malley e Hart, 2011). Porém, Chesbrough (2003a) reitera que a abordagem da inovação aberta remete para uma análise mais global, defendendo mesmo que esta pode ser encarada como um modelo de negócio, que acarreta vantagens para as empresas.

Apesar da abordagem da inovação aberta contar com a concordância de alguns autores, que a reclamam como um potencial de oportunidade para as empresas, o êxito reconhecido na qualidade de se afigurar como um novo paradigma de investigação no campo da inovação é, no entanto, questionável por outros autores, tal como referem Laursen e Salter (2006a). Precisamente, autores como Bader e Enkel (2014) chegam mesmo a referir que o aumento da capacidade de abertura das empresas acarreta um grau de dificuldade adicional ao nível da gestão, e que tal não pode, inevitavelmente, ser descurado.