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2 REGIÕES METROPOLITANAS: ASPECTOS ESTRUTURAIS E

2.2 ASPECTOS INSTITUCIONAIS NA CONSOLIDAÇÃO DAS REGIÕES

2.2.1 Proximidades: elementos constituintes da espessura institucional

2.2.1.1 Abordagem Institucional

A importância da proximidade numa abordagem institucional se dá com a construção de coesão social, fundamentada nas ações coletivas fundadas em convenções e nas instituições locais criadas, adaptadas e partilhadas pelos atores (GILLY E PECQUEUR, 1995). Elas podem ser classificadas como: i) proximidade geográfica; ii) proximidade institucional; e iii) proximidade organizacional. Dentre essas, a proximidade geográfica também é utilizada pela abordagem interacionista.

i) Proximidade Geográfica: colaboração territorial por meio da aproximação espacial de instituições e organizações.

A proximidade chamada de geográfica define que os stakeholders poderão mobilizar ou ativar esse tipo de proximidade quando eles se aproximam ou se afastam dos lugares com base em suas percepções e estratégias. Observamos isso acontecer quando os indivíduos migram para lugares, buscando beneficiar-se da existência de infraestruturas, de ambientes culturais, de pessoas e de empresas, limitando assim os seus custos de transporte e de tempo (TORRE E BEURET 2012). A proximidade geográfica passou a ser considerada como um fator preponderante para o desenvolvimento econômico das regiões, explicada pelos processos de capacidades de aprendizagem, inovação e produção das firmas, a partir da observação dos distritos industriais italianos, na década de 1970 (RUFFONI

E SUZIGAN, 2012). Cabe destacar que a proximidade geográfica não trata apenas da distância métrica entre 2 pontos no espaço, mas se relaciona também ao tempo, que é uma função direta das infraestruturas de transportes (FIRKOWSKI, 2008).

Além disso, a proximidade geográfica constrói características socioculturais (valores, instituições, etc.) que emergem do local e da região com suas próprias e exclusivas peculiaridades (STEFANI E LIMA, 2014), possibilitando outras formas de proximidade, como a institucional. Ainda, garante a geração de benefícios decorrentes da interdependência, como a redução de riscos, maior flexibilidade, minimização de custos de transação e ampliação da especialização (PITTERI, SAES E BRESCIANI, 2015).

Ao possuir características territoriais e tendo como principal recorte espacial a horizontalidade, a proximidade geográfica é constituída pela contiguidade física dos atores políticos, sociais e econômicos. Esses atores participam e vivenciam inter- relações num recorte espacial semelhante, gerando identidades a partir de laços culturais e de solidariedade, o que resulta num movimento harmônico entre a sociedade, a técnica e a natureza. Nesse sentido, o espaço geográfico expressa o “prático-inerte”, materializado pelas relações sociais e pela divisão do trabalho (SANTOS E SILVEIRA, 2001).

A proximidade geográfica, a cooperação formal ou informal, a solidariedade e a organização dos atores no território são o resultado das dinâmicas das múltiplas dimensões que geram redes e que possibilitam a competitividade territorial. Essa competitividade possibilita a construção de singularidades de especialização econômica, que possibilita o desenvolvimento social, econômico, territorial e ambiental (MARSHALL, 1982). Esse tipo de proximidade pode ser considerado como um elemento fundamental para originar externalidades negativas, gerando danos e conflitos decorrentes da proximidade entre concentrações populacionais e ambientes poluídos por escoamento de resíduos, poluição difusa e emissões tóxicas causadas pela atividade industrial. Ainda, a existência de grandes infraestruturas, como portos e rodovias, é geradora de conflitos (TORRE E ZUINDEAU, 2009).

Contudo, considerada como um importante fator para a construção de políticas públicas de desenvolvimento local e regional, a proximidade geográfica possibilita a estruturação da interação entre atores econômicos e sociais, valorizando a matriz cultural, as potencialidades e as especificidades de uma determinada região, proporcionando a necessidade de construção de vantagens locais e regionais

sustentáveis e permitindo o desenvolvimento socioambiental e territorial (ANDRADE, 2009).

Para o robustecimento da espessura institucional, há ainda outras formas de proximidades. Apresentando-se como elementos fundamentais estão as proximidades institucional e organizacional (RUFFONI E SUZIGAN, 2012).

ii) Proximidade Institucional: cooperação e compartilhamento de confiança, valores, normas e regras.

A multiplicação e o compartilhamento de normas, regras formais ou informais, bem como a manutenção e a propagação dos costumes e dos valores éticos que estabelecem as ligações entre os diversos atores regionais, são dados pela proximidade institucional (BOSCHMA, 2005; COSTA, RUFFONI E PUFFAL, 2011). A proximidade institucional está relacionada ao ambiente institucional7 (macronível), sendo a influência de instituições informais, como hábitos e normas, e formais, como leis e regras, influenciando os stakeholders e as ações das organizações e gerando a transferência de conhecimento de forma eficiente (BALLAND, 2012).

Os elementos que constroem a dimensão cognitiva8 e o capital social são os mesmos que formam a proximidade institucional. O resultado da cooperação e da interação geradas por meio de normas e costumes comuns facilita a aprendizagem coletiva, permitindo a transferência de conhecimento entre os agentes ao atuar numa arena comum de “representações, modelos, normas, procedimentos e regras aplicadas ao pensamento e à ação” (SANTOS, p. 25, 2017).

Sendo assim, vemos claramente que a proximidade institucional é fundamental para a coesão social e para o robustecimento da espessura institucional, pois parte do pressuposto da realização de ações coletivas, que tem como base as convenções e instituições locais e regionais instituídas, adaptadas, melhoradas e compartilhadas pelos stakeholders (GILLY E PECQUEUR, 1995). De acordo com

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O ambiente institucional é formado por regras formais e informais. Para Fiani (2011, p.9), o ambiente institucional é “o conjunto de regras fundamentais de natureza política, social e legal, que estabelece a base para a produção, a troca e a distribuição”.

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Para Nahapiet e Ghoshal (1998), a dimensão cognitiva diz respeito ao compartilhamento e interpretações de significados narrativos de linguagem, servindo de instrumento para a observação e interpretação do ambiente em que os stakeholders estão envolvidos. Uma linguagem compartilhada expande os benefícios de combinação de recursos e trocas ao proporcionar mecanismos conceituais comuns na avaliação desses benefícios. Nesse sentido, uma linguagem compartilhada possibilita a combinação dos recursos envolvidos, possibilitando a construção de novos conceitos e formas narrativas.

essa ótica, a proximidade institucional deve ser entendida como um nível de semelhanças em que os objetivos de stakeholders de uma rede e as estruturas de incentivos atuam gerando cooperação e interação de acordo com as mesmas regras e costumes e resultando no aparecimento das políticas públicas (SIDONE, 2013). Isso ocorre porque a proximidade institucional, no sentido econômico, trata do compartilhamento das regras do jogo pelos agentes econômicos, para atuarem em arenas que possuem em comum a linguagem, os hábitos culturais, os valores, as leis, entre outros aspectos, possibilitando construir o aprendizado interativo e a coordenação econômica (BOSCHMA, 2005).

Portanto, essa interação ocorre quando os stakeholders se assemelham e interagem no mesmo espaço de referência, compartilhando os mesmos valores e conhecimentos (GILLY E PECQUEUR, 1995; LEITE, 2004). Assim, é diante desse contexto que se materializa o conceito de proximidade organizacional.

iii) Proximidade Organizacional: coordenação de métodos, instrumentos e procedimentos.

A proximidade organizacional está relacionada ao conceito de arranjo institucional9 e pode ser também definida como sendo a coordenação de atores dentro e fora das organizações, a partir dos respectivos mecanismos e hierarquias estabelecidas numa proximidade institucional, que determinam regras, costumes e padrões de comportamento, facilitando a interação de agentes (TORRE E RALLET, 2005). Essa interação resulta na capacidade de coordenação entre os possuidores de conhecimento, por meio de relacionamentos e trocas (KNOBEN E OERLEMANS, 2006), sendo benéfica para aprendizagem e inovação ao reduzirem custos para o desenvolvimento das atividades econômicas (BOSCHMA, 2005).

Sabe-se que a existência de redes como forma de arranjos organizacionais são instrumentos que permitem disseminar, transferir e trocar informações e conhecimento, além de serem mecanismos de coordenação de transações. Dessa forma, a proximidade organizacional pode ser compreendida como relações que compartilham um arranjo organizacional e que permitem a movimentação de conhecimento e informação entre atores (MALHEIRO, 2013).

9 Arranjo Institucional, segundo Davis e North (1971, p.7), é “[...] um arranjo entre unidades

A proximidade organizacional, além de gerar capacidade de combinação de informações, também gera conhecimento entre os agentes que colaboram, possibilitando a transferência silenciosa de conhecimento entre eles (SANTOS, 2017). Portanto, ela é desenvolvida por meio do envolvimento de estruturas comuns de aprendizagem e conhecimento, dentro de um arcabouço que engloba instituições, organizações e convenções que consentem em robustecer especificidades culturais e cognitivas locais e regionais, direcionadas a atividades e ações de inovação, cooperação e regulação.

Logo, a ideia de pertencer a um território e a construção da ideia de uma identidade coletiva para o desenvolvimento de projetos comuns dependem mais de transbordamentos e dos respectivos efeitos de proximidade organizacional decorrentes das implicações cognitivas das redes organizacionais sobre o território, do que propriamente das divisões geopolíticas e administrativas (MONIÉ E SILVA, 2003).

Ainda, torna-se preponderante observar uma outra abordagem no estudo da proximidade: a abordagem interacionista. Essa abordagem, segundo Rallet (2003), considera a existência de apenas duas formas de proximidade: a geográfica e a organizada.