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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 O exercício profissional do professor egresso de Educação Física: uma análise a

4.2.5 Abordagem interdisciplinar

A questão da interdisciplinaridade é um desafio desde a formação inicial até a atuação profissional. Uma formação que se propõe fomentar as mudanças nas práticas e resignificação dos saberes, seja na formação em saúde ou atuação na educação, tem que garantir processos de ensino e aprendizado que estimulem abordagens interdisciplinares. Os incidentes críticos nessa categoria foram no campo da docência onde emergiram as repercussões da RMSF, que contribuíram ou não com sua prática, conforme o Gráfico 05:

Gráfico 05: Distribuição dos Incidentes Críticos da categoria abordagem interdisciplinar nos cenários de práticas, Sobral - Ceará, 2014.

Fonte: banco de informações do presente estudo

A compreensão sobre abordagem interdisciplinar parte do referencial que o conhecimento específico (disciplinar) tem sua importância, ao mesmo tempo isoladamente não será capaz de responder a complexidade dos problemas de saúde. Aqui se configura como campo comum. Essa ideia foi difundida a partir da inserção de novas categorias/núcleo (disciplinas) no cenário da ESF/AB enquanto campo comum de produção de novas práticas e saberes sobre os princípios e diretrizes do SUS, Parreiras e Martins JR., (2004).

Para Campos (2000 p. 220), é que “o núcleo demarcaria a identidade de uma área de saber e de prática profissional; e o campo, um espaço de limites imprecisos onde cada disciplina e profissão buscariam outros apoios para cumprir suas tarefas teóricas e

práticas”. As formulações de Campos (2000) e Parreiras e Martins (2004) parte da

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 Docência em ensino superior Docência em educação básica Política pública de esporte e lazer ESF/AB Serviço Saúde Pública Área Fitness CR SR

necessidade de mudança nas práticas de saúde ancoradas no saber biomédico, que se apresenta como limitado para responder as necessidades sociais de saúde. Assim, a inclusão de conhecimento da saúde pública e saúde coletiva nos processos de formação do profissional estimularão para uma abordagem interdisciplinar em saúde.

Um estudo realizado em três universidades da cidade de São Paulo, uma estadual e duas federais, que analisou a inserção de conteúdos e práticas sobre saúde coletiva nas matrizes de curso de graduação em Educação Física, concluiu que:

Fica comprovado, a partir da análise realizada, que a formação em Educação Física destoa da demanda imposta pelos serviços públicos de saúde. A associação da área à atividade física ainda predomina e isso reflete preparo do profissional que é formado para prescrever segundo diagnóstico e avaliação, protocolos regidos por parâmetros puramente biológicos (COLLETO DOS ANJOS e DUARTE 2009 p. 1139,).

A entrevista com a docente em programas de RMSF aponta para a apropriação sobre os conhecimentos de saúde pública e coletiva na organização didática dos módulos do programa:

Assim, na construção dos módulos e nas unidades de aprendizagem, o que me ajudou muito foi o conhecimento adquirido na residência mesmo em Sobral, conhecimento relacionado ao Saúde da Família, ao processo de trabalho, à clínica ampliada, às práticas integrativas, gestão, controle social e participação popular, então todos esses conhecimentos que adquiri na residência de Sobral contribuiu pra eu poder estruturar as unidades de aprendizagem e, dentro dessa temática central, eu poder inserir esses módulos. Então, assim, a partir dos conhecimentos que obtive na residência em Sobral, eu pude trazer um pouco da experiência para Fortaleza, aí foi o diferencial por quê? Como egresso da residência de Sobral eu pude trazer as experiências que deram certo para que os preceptores pudessem realizar isso no território (EGRESSA 07).

O incidente crítico, em seu fazer docente no ensino superior, corrobora com o estudo realizado por Nascimento e Oliveira (2010, p. 825), “constataram que o processo educativo na RMSF como parte da formação permanente para o SUS apresenta potencialidades pedagógicas e políticas para transformação do modelo de atenção e das práticas de cuidado em saúde devido aprendizagem vivenciada no contexto da

ESF/AB”, que tencionam para olhares diferenciados do que em geral se apreendeu na

formação inicial. No entanto, não devemos afirmar que os programas de residência em

Ainda sobre a abordagem interdisciplinar, o incidente crítico de não repercussão que emergiu no cenário da docência em educação básica, foi devido à necessidade de saberes de dimensões pedagógicas, didáticas e de saúde para atuarem com as pessoas que convivem com deficiência. Essa questão do estudante com deficiência da educação inclusiva tem sido tema de bastante debate no campo da Educação e Educação Física Escolar.

O movimento mundial pela inclusão no âmbito escolar é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os estudantes de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola (MEC-SEESP, 2008).

A educação especial no Brasil segue os pressupostos formulados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que define a educação especial como modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas com necessidades educacionais especiais.

Em uma revisão integrativa nos principais periódicos da educação física brasileira incluindo a Biblioteca Virtual da Saúde e Lilasc sobre Educação Física Escolar e Educação Inclusiva/deficiência, a autora constatou que 55,5% dos 22 artigos tinham em seus objetivos a questão da didática em educação física na educação inclusiva e 16,5% foi tanto sobre formação do professor de educação física para educação inclusiva como a questão do currículo na graduação acerca do tema (NASCIMENTO, 2013).

Um dos desafios da educação física definido pelos professores é a formação ainda muito pouco trabalhada, essa questão e a falta de material e espaço para desenvolvimento das aulas, pois essas dificuldades refletem no trabalho pedagógico exigindo do docente, criatividade, adaptações nas estruturas, planos de atividades mais dinâmicos e inventivos, no entanto, faz-se necessário garantir condições básicas para o provimento de aulas que considere as diversidades dos estudantes, em diferentes fases escolares.

A questão da educação inclusiva abordada nesse capítulo não tem a pretensão de explorar o assunto, mas de fazer uma relação dos elementos que aproxima a formação da RMSF com a educação inclusiva, a partir do incidente crítico de não repercussão no contexto da educação básica. A seguir, o acontecimento da egressa 07:

Pronto, com a deficiência, com a questão da inclusão, por exemplo, eu tenho aluno com autismo na mesma sala com alunos com síndrome down, então, querendo ou não eu tenho que dar mais atenção para esses dois alunos do que os demais, por que eu tenho que fazer uma atividade que inclua eles com os demais, está entendendo?(...). E a professora específica não tem pernas para dar de conta da quantidade de alunos que tem déficit de atenção, é síndrome down, criança com hiperatividade, assim há muitas limitações, tanto minha como dos professores em geral e do professor específico dessa área que passou no concurso para atuar nesse contexto. Então eu vejo que a residência deixou essa lacuna pra mim, tanto para atuar com esses alunos, talvez isso deveria ser o foco que o preceptor de categorias poderia ter contribuído mais (EGRESSA 07).

A relação que a egressa faz do programa de RMSF com educação inclusiva, provavelmente refere-se pela convivência com profissionais de saúde que têm expertise para trabalhar a questão da deficiência como a Fisioterapia, a Terapia Ocupacional e a Psicologia, categorias que abordam a questão da pessoa com deficiência, seja na reabilitação como nos cuidados necessários desse público. Ao mesmo tempo, se faz necessário fomentar e estimular, no processo de atuação dos residentes, articulações com a escola e desenvolvimento de projetos intersetoriais voltados para a pessoa com deficiência, ancorados no conceito ampliado de saúde.

Compreendemos como desafio pedagógico e político a relação professor/escola/estudante com deficiência, na área da educação física escolar, pois não pode ser ilimitada a ponto de afastar uma criança da convivência com outras por questões irrelevantes. A convivência com pessoas diferentes deveria ser uma das maiores ferramentas da educação, preparando assim as pessoas para a vida e para as suas possibilidades. A inclusão genuína não significa a inserção de estudantes com deficiências em classes de ensino regular sem qualquer apoio para a instituição escolar, para os professores ou estudantes. A inclusão implica em aparelhar adequadamente a escola com instrumentos, técnicas e equipamentos especializados, em apoio aos professores e estudantes permanentemente (STAINBACH, 1999).