• Nenhum resultado encontrado

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 O exercício profissional do professor egresso de Educação Física: uma análise a

4.2.8 Metodologias Ativas

Superar o ensino nos moldes mecânicos para uma aprendizagem significativa demanda do docente conhecimento crítico sobre educação e domínio sobre metodologia que possibilite a construção e reconstrução do conhecimento. O uso de metodologias ativas tem contribuído no sentido de facilitar os processos de formação e atuação docente na formação superior e educação básica. Destaca-se que as vivências pedagógicas nos programas de RMSF contribuem para disseminar tal metodologia, como apontam os incidentes críticos, embora na educação básica tenha apresentado um incidente crítico que não teve repercussão, conforme demonstrado no Gráfico 08:

Gráfico 08: Distribuição dos Incidentes Críticos da categoria metodologias ativas nos cenários de práticas, Sobral-Ceará,2014.

Fonte: banco de informações do estudo

Nessa perspectiva, construir novos saberes exige a convicção de que a mudança é factível, o exercício da curiosidade, da intuição, da emoção e da responsabilização, além da capacidade crítica de observar e perseguir o objeto em questão (FREIRE, 1999; FREIRE, 2006)

Algumas propostas de metodologia ativa foram sistematizadas a partir das experiências de alguns educadores inquietos com o modelo de ensino que não gera a participação e a consciência crítica do educando, tendo como exemplo o método do arco de Charlez Maguerez, que na década de 70 desenvolveu o método na forma de arco, que tinha iniciava pela observação da realidade – pontos chaves – teorização – hipóteses de solução – aplicação na realidade (BORDENAVE 2005, p.3 apud DECKER e BOUHUIJS, 2009). Outra metodologia bastante difundida por educadores populares foi sistematizada por Paulo Freire (1991), o Circulo de Cultura 24 pode ser didaticamente estruturado em movimentos, tais como: a investigação do universo vocabular, palavras geradoras, tema gerador geral.

A utilização de metodologias ativas pode ser desenvolvida em vários cenários de trabalho, bem como pode ter outras formas de organização didática, pois se caracteriza como uma metodologia ativa, em que o aprendizado significativo ativa movimentos de continidade/ruptura, como bem sistematizou (AUSUBEL, et al 1978 apud MITRE, p. 2136, 2008)

24

Ver o II Caderno de Educação Popular em Saúde, organizado Secretária de Gestão Estratégia e Participativa do Ministério da Saúde, na página http://editora.saude.gov.br

0 1 2 3 4 5 Docência em ensino superior Docência em educação básica Política pública de esporte e lazer ESF/AB Serviço Saúde Pública Área Fitness CR SR

O processo de continuidade é aquele no qual o estudante é capaz de relacionar o conteúdo apreendido aos conhecimentos prévios, ou seja, o conteúdo novo deve apoiar-se em estruturas cognitivas já existentes, organizadas como subsunçores. O processo de ruptura, por outro lado, instaura-se a partir do surgimento de novos desafios, os quais deverão ser trabalhados pela análise crítica, levando o aprendiz a ultrapassar as suas vivências, conceitos prévios, sínteses anteriores e outros, tensão que acaba por possibilitar a ampliação de suas possibilidades de conhecimento.

A proposta de trabalhar com metodologias ativas se ancora na problematização, como visto no eixo problematização desse trabalho. Apesar de termos referenciais metodológicos sistematizados sobre o uso de metolodologias ativas, porém não pode negar a capacidade dos educadores e educandos criarem ou adaptarem outras maneiras de desenvolver metodologias ativas, a seguir apresentam-se alguns incidentes críticos que apontam para utilização de metodologias ativas pelos discursos dos egressos:

Do círculo de cultura na saúde coletiva que eu já dei, sentei todo mundo no chão e fiz círculo de cultura em relação o que era pra eles SUS e a partir daí algumas coisas foram pra eles deflagradas e a gente discutiu, e no final eles falaram, poxa professora, eu tinha outra percepção, tinha outra ideia do que era SUS, só tinha aquela visão SUS não presta e não entendia alguns processos que dentro daquele círculo de cultura a gente foi discutindo, cada um mostrando o seu lado e ampliando essa conversa. Seria foi muito mais interessante, e como eu dou aulas em lugares diferentes de onde eu resido, em outros municípios, aí é onde eu consigo perceber a realidade daquele município em relação aquilo ali, em relação ao SUS, em relação à atenção primária que eu não vivencio no dia a dia, vivencio do meu município, então quando eu faço essas metodologias, pra mim também é formador, porque eu acabo aprendendo como é que é e ali eu acabo aprendendo como é que é, e dali melhorar minhas aulas e ser mais específica pra realidade deles mesmo (EGRESSA 10).

Tinha uma pergunta assim: pode falar? (aluno) Tia como é que eu me mastrubo? E aí a gente fazia um teatro lá, eu costumo sempre levar a técnica de teatro de rua, ou então recortes de revista para trabalhar a questão da sexualidade, utilizava a técnica do repolho, com algumas perguntinhas, então, assim, e tinha várias perguntas desde do conhecimento com o corpo, junto com a professora de artes, desenhou o corpo masculino e feminino, depois dividimos em subgrupo para alunos estarem conhecendo corpo do homem e da mulher. E para isso tinha todo um preparo, por quê? Antes tive que conversar com os pais, porque alguns pais de alunos são evangélicos, católicos, umbandistas, e os alunos chegam em casa falando o que aconteceu na escola (EGRESSA 07)

A gente fazia sempre em parceria, juntava dupla, para não ficar centrado numa pessoa só e um contemplando o outro, é, a questão da interação, não era algo verticalizado, era mais um tipo de roda de conversa, a metodologia utilizada era uma roda, fazia uma roda de conversa e essa roda, a cara da Residência, vinha de lá, a gente sentava mesmo na rodinha, e uma coisa bem copiada mesmo, para montar mesmo assim as atividades, foi uma experiência muito massa. Enquanto durou, foi muito bom (EGRESSA 06).

Observa-se que trabalhar com metodologias ativas possibilita a aprendizagem, de modo que seja significativa e prazerosa, que explore todas as dimensões do educando

e do local. Para desenvolver aprendizagem significativa, existem dois caminhos: “a existência de um conteúdo potencialmente significativo e a adoção de uma atitude favorável para a aprendizagem, ou seja, a postura própria do discente, que permite estabelecer associações entre os elementos novos e aqueles já presentes na sua estrutura cognitiva” (COLL, 2000, apud MITRE, et al 2008).

A relação que pode ser feita entre os incidentes com a formação na RMSF são duas: uma compete ao Projeto Político Pedagógico, por ter um de seus referenciais a educação permanente, que tem em sua essência a aprendizagem significativa com base

na realidade e sobre a participação dos sujeitos do processo; “a outra se deve ao corpo

docente por ter uma característica de metodólogo, alguém que apóia construir caminhos na organização, tanto do trabalho interdisciplinar quanto de categoria” (PARENTE, 2008, p. 51).