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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 O exercício profissional do professor egresso de Educação Física: uma análise a

4.2.4 Atuação intersetorial

É necessário o agir intersetorial, pois se observa que com todas as potencialidades que um dado setor tenha provavelmente em situação limite, os próprios recursos não darão conta de resolver o problema, em especial quando se trata de políticas públicas. O Gráfico 04 apresenta o setor saúde, esporte/lazer e os cenários das docências formais, uma atuação intersetorial. Diferentemente do cenário da área fitness, que devido a sua especificidade não apresenta articulação com outros setores.

Gráfico 04: Distribuição dos Incidentes Críticos da categoria atuação intersetorial nos cenários de práticas, Sobral - Ceará, 2014.

Fonte: banco de informações do presente estudo

A Constituição de 1988 aborda a compreensão de saúde como garantia ao acesso de qualidade à educação, habitação, lazer, alimentação, esporte e serviços de assistência. A partir da institucionalização do SUS, enquanto uma política de estado, contribuições críticas ao modelo biologicista prevalecente na medicina hegemônica, com a finalidade de superar a definição baseada na ausência de doença e alertar para produção social. Ao passo que avançava a crítica, aumentavam os desafios de operacionalizar práticas de saúde diferentes das praticadas pelo modelo biologicista.

É nesse contexto de construção do conceito ampliado de saúde pelo movimento da Reforma Sanitária brasileira que se percebe as fragilidades e a impotência do cuidado, da atenção e do encaminhamento de soluções de problemas de saúde (COSTA, et al 2007). Respaldado pela visão da integralidade, passou a requerer a construção de

0 0,5 1 1,5 2 Docência em ensino superior Docência em educação básica Política pública de esporte e lazer ESF/AB Serviço Saúde

Pública Área Fitness

CR SR

estratégias de convergência entre as políticas e as práticas sociais em arranjos intersetoriais para qualidade de vida aos usuários, família e comunidade.

Sobre atuação intersetorial, a articulação da rede de apoio local torna-se necessário quando se considera as limitações do setor de atuação. Ao colocar o usuário como centro do cuidado, busca-se articular com os demais setores soluções para os enfrentamentos dos problemas ou potencializar ações de promoção da saúde. Os discursos demonstram as tentativas de realização de trabalho intersetorial entre a assistência social, saúde e educação:

Com CREAS, CRAS apesar de ser um pouco fechado, mas a gente tentou fazer um trabalho intersetorialidade, entre saúde e atenção lá, tão interessante. Fizemos uma comissão. Todo mundo percebia que não tinha a quem encaminhar, qual o papel do CRAS, qual o papel do CREAS, assim como o CRAS e CREAS não sabia qual o papel do NASF e da Residência, o papel desses profissionais. Então vamos fazer uma reunião, um encontro com os profissionais do NASF, residência, CRAS e CREAS pra gente ver e se conhecer melhor e fazer com que a coisa flua com mais naturalidade. Aí me aproximou muito do CREAS, em função disso (EGRESSA 02).

Problemas básicos que a gente vê como a atuação do Posto de Saúde poderia resolver... Até quando foi apontado esses problemas na reunião pedagógica eu sugeri que a gente chegasse até o posto de saúde, já que o posto de saúde não vem até a nós, contar todas as problemáticas e estreitar essa relação com a Unidade de Saúde, para que a Unidade de Saúde, ela possa desenvolver pelo menos uma vez ao mês, ou em quinzenalmente, não sei, mas que fosse sistematicamente uma atuação aqui na escola (EGRESSA 07).

Como gestora o trabalho, principalmente o trabalho intersetorial, então um exemplo bem prático, em relação a isso, a partir do micro pra ir pro macro agora, é, estou com um mês sem a minha ambulância, certo, que presta serviço a uma comunidade de zona rural, que é o Boqueirão, e essa ambulância tava um mês parada e não sai, não sai, não é por conta da secretaria de saúde, mas tem também outra secretaria de gestão que tá também, não tá liberando por conta essa ambulância e poderia simplesmente não ter, e pronto, e acabou, porque eu to correndo atrás e, enfim, mas o que eu tenho aprendido nesse olhar mais amplo o que a gente pode tá trabalhando a questão intersetorial, que eu aprendi na residência também, essa questão intersetorial, não só interdisciplinar. Então cheguei junto à coordenadora da Escola de Saúde, solicitei o apoio do carro da escola de saúde, que sempre tá nos apoiando, cheguei junto ao SACS, e por fim fiz uma coisa que as meninas até riem até hoje, que quando eu liguei pra vários lugares e não tinha carro em canto nenhum, fui até a guarda municipal e pedi um carro da guarda municipal, para ele nos ajudarem através do ronda, é escolar... a gente tem que dar a cara a tapa mesmo, tentando, pedindo, se humilhando muitas vezes, mas trabalhando esse olhar mais amplo, do que eu posso além do que eu tenho na minha mão, deflagrar a outros processos que pode está me ajudando, então, é onde eu falo assim, às vezes a gente pode puxar uma coisinha da residência que a gente aprendeu, a questão do acesso a nosso serviço, no caso, a questão do transporte (EGRESSA 10)

As situações explicitadas são fatos que ocorreram no cenário da ESF/AB Serviço de Saúde Pública, apontam tanto para o desafio que é fazer ações intersetoriais, como

também limites de compreensão do que seria uma política baseada na intersetorialidade. Esses desafios se traduzem tanto nas dificuldades de estabelecer uma atuação conjunta com outras políticas, como também, de acordo com a entrevistada, a compreensão de intersetorialidade se revela como uma forma de suprir as carências estruturais de um determinado serviço.

Junqueira (1997), a intersetorialidade pode ser entendida como a articulação de saberes e experiências em planejamento com objetivos, métodos e metas em comum, com avaliação do processo com vista a solucionarem situações complexas, objetivando um efeito sinérgico no desenvolvimento social, com a inclusão de vários setores responsáveis pelas políticas públicas. Para Costa et al (2007), a ação intersetorial não invalida a importância das ações singulares aos setores e reforça que o reconhecimento sobre as especificidades dos demais setores seja um dos princípios para realização da prática intersetorial.

Com relação ao contexto na docência da educação básica, observa-se que existem as necessidades decorrentes dos problemas vividos pelos escolares, a docente na educação básica busca articular com a equipe de saúde do CSF para desenvolver ações na escola. Conforme Oliveira (2006), a escola é considerada um espaço potente para qualificação e fortalecimento de jovens para enfrentamento da vida em todas as dimensões. Por outro lado, a forma estrutural de como são organizadas as políticas públicas por setores reforçam a fragmentação e o distanciamento nas soluções de problemas enfrentados pelos usuários e comunidade, que são comuns para ambas as equipes e setores, no caso, saúde e educação (COSTA, et al 2007). Segundo a OMS, a intersetorialidade na saúde se constitui como estratégia para superar a ótica fragmentada que orientou a formação do setor e de seus profissionais.

A dimensão da atuação intersetorial é problematizada nos programas de RMSF devido a um dos princípios que orienta tanto o projeto político pedagógico como também a concepção que deve nortear as equipes que compõem a ESF e a rede de serviços de saúde, que é a promoção da saúde. Em Sobral, a literatura aponta o desenvolvimento de projetos e ações intersetoriais, no período de 1997 a 2004, como semeando ecologia: educação ambiental nas escolas, amor à vida: prevenir é sempre melhor, apoio aos estudantes que convivem com deficiência e necessidades educativas,

segundo tempo, pedalando sem dengue, saúde bucal nas escolas e escuta Sobral (OLIVEIRA, et al 2006).

Os elementos apontados acima contribuem para a formação do residente, pois sua inserção no território da ESF/AB com as atividades teórico-conceituais estimula o profissional a pensar e construir ações que articulem a rede local em busca do apoio social. Assim, aponta como mais uma característica do perfil do egresso que se manifesta principalmente quando sua atuação continua nas políticas públicas.

Pensar e agir interprofissional e intersetorial exige das instituições formadoras estrutura, corpo docente, princípios epistemológicos e metodologias pedagógicas que estimulem o profissional pensar interdisciplinarmente. No setor saúde, olhar para os processos de saúde-doença e produção de cuidado vai exigir do profissional uma atuação interdisciplinar.