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2 CAMINHOS METODOLÓGICOS

2.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA: PESQUISA QUALITATIVA

Esta investigação está embasada na Pesquisa Qualitativa (DENZIN; LINCOLN, 2006; LAVILLE; DIONNE, 2008; BOGDAN; BIKLEN, 1999) como campo investigação que, atravessa disciplinas, campos e temas. Ela comporta um grande número de métodos e abordagens classificados como pesquisa qualitativa, tais como o estudo de caso, a política e a ética, a investigação participativa, a entrevista, a observação participante, os métodos visuais e análise interpretativa. Isto é, o conjunto dos processos e técnicas de investigação aplicados ao caso concreto de estudo. Por conseguinte, caracteriza-se por uma pesquisa do tipo estudo de caso, embasada em documentos e entrevistas semiestruturadas.

Portanto, as opções de abordagem metodológica adotadas nesta pesquisa cumprem no campo da investigação, um papel fundamental na validação dos pressupostos teóricos subjacentes. Com efeito, a articulação do corpus teórico com a lógica e o rigor empírico constituem etapas indissociáveis do processo de garantia da qualidade científica segundo Flick (2009, p. 16) que considera que o foco da discussão sobre a qualidade qualitativa foi alterado, de “níveis fundamentais, epistemológicos e filosóficos para níveis mais concretos de pesquisa”.

Ancorados nas premissas pragmáticas sugeridas pela autora supramencionada, neste capitulo foram traçados os caminhos, processos, técnicas, atitudes e as opções que balizaram a busca do conhecimento científico no desenrolar desta pesquisa transdisciplinar que combina campos científicos como a Educação Superior, Avaliação Institucional, Políticas Públicas e Relações Internacionais. Com efeito, a Pesquisa qualitativa visa aprofundar a compreensão dos fenômenos que se investiga a partir de uma análise rigorosa e criteriosa desse tipo de informação. Por outras palavras, o seu objetivo não é testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las no final da pesquisa, mas a intenção é tão-somente a compreensão, a reconstrução de conhecimentos existente sobre as temáticas investigadas (MORAES; GALIAZZI, 2011).

Em conformidade com o expresso na Introdução, tendo como referencial a compreensão da problemática de investigação configurada na necessidade de compreender as lógicas, concepções e/ou interesses subjacentes nas tramas de relações e ações dos sujeitos envolvidos na criação e implementação do Sistema de Avaliação do Ensino Superior de Cabo Verde na perspectiva dos três grupos de informantes privilegiados, por envolver um grupo

heterogêneo de elite, a compreensão aprofundada desse processo implica uma ancoragem e orientação epistemológica que situe o investigador dentro de um determinado paradigma que lhe permite ter acesso a ferramentas para desocultar as racionalidades subjacentes. Com efeito, em conformidade com os objetivos, pressupostos, problemática, e complexidade desta investigação, associadas à nossa condição de pesquisador oriundo do Sul Político optamos pelas epistemologias do sul.

Especificamente, a nossa opção pelas epistemologias do sul visa conformar um conjunto de propósitos tais como, pensar e falar a partir do Sul, onde supostamente o conhecimento cientifico local é subalternizado, colonializado e subjetivado pelo poder eurocêntrico. Ou seja, estamos a localizar no espaço e no tempo o lugar da enunciação do sujeito naquela perspectiva defendida (GOSFROGEL, 2010, p. 459) como “o lugar geopolítico e corpo-político do sujeito que fala”. Esta articulação visa romper com o universalismo abstrato apregoado pelo conhecimento cientifico hegemônico da sua neutralidade e objetividade, agendas ou estratégias que têm sido utilizadas como formas de dominação através do encobrimento e invisibilidade através da matriz de poder colonial que legitima, dá credibilidade e viabiliza a hierarquização do conhecimento superior e inferior (GOSFROGEL, 2010).

Ainda, na senda deste autor, pretendemos tentar superar os fundamentalismos terceiro- mundistas e eurocêntricos sem desperdiçar o melhor da modernidade (GOSFROGEL, 2010), ou seja, como um dos dispositivos para a validação da produção do conhecimento que está assente na ideia de que o resultado da produção do conhecimento deve ser contextualizado (SANTOS, 2010b). Isto é, a aproximação às abordagens de epistemologias do sul foi feita como forma de explicitarmos e compreendermos as formas alternativas de viabilização de conhecimentos. Porque estamos de acordo com Santos e Meneses (2010) de que o mundo é epistemologicamente diverso, assim sendo, a nossa opção está em conformidade com os princípios intrínsecos desta abordagem que é conceitualizada pelos autores supramencionados como “conjunto de intervenções epistemológicas que denunciam essa supressão dos saberes dos povos e nações colonizadas, valorizam os saberes que resistiram com êxito e investigam as condições de um diálogo horizontal entre conhecimentos” (SANTOS; MENESES, 2010, p. 19) .

Seguindo esta linha de raciocínio, a utilização de epistemologias do sul é feita numa perspectiva de invocação do seu potencial heurístico, isto é, como gradiente de análise que nos permite reconhecer algumas caraterísticas amputáveis às temáticas desenvolvidas no Sul

Global. Portanto, trata-se de um exercício focalizado com objetivo de explorarmos algumas questões especificas que consideramos problemáticas, sobretudo, no contexto africano em geral e no contexto cabo-verdiano em particular. Por exemplo, classificado como um contexto colonial (COMAROFF; COMAROFF, 2011; HOUNTODJI, 2010), submissa da hegemonia ocidentalista euro-americana (SANTOS; MENESES, 2010; COMAROFF, 2011), por isso mesmo tido, a grosso modo, como um dos lócus da materialidade da imposição da superioridade do conhecimento cientifico do Norte em relação a outras formas de conhecimento (SANTOS, 2010b), cenário em que se pode evidenciar algumas das implicações de colonialidade das relações de poder e do saber segundo Quijano (2010). Ou seja, colonialidade da classificação social universal do mundo capitalista; colonialidade da articulação política e geocultural; colonialidade da distribuição mundial do trabalho; colonialidade das relações de gênero; colonialidade das relações culturais ou intersubjetivas; dominação/exploração, colonialidade e corporeidade (QUIJANO, 2010, p. 118-125).

Por outro lado, por que os dados empíricos coletados sugerem haver alguma dependência cientifica de Cabo Verde em relação ao conhecimento ocidentalista, quisemos munir de um instrumento analítico que nos pudesse permitir romper com esse modelo colonial de produção de conhecimento (SANTOS; MENESES, 2010). A convergência destas diferentes perspectivas implica igualmente entender e explicitar o significado do Sul Global que de acordo com esses autores em pauta não corresponde necessariamente a uma unidade geográfica delimitada, mas sim, uma das formas epistemológicas especificas que permite definir um determinado espaço na sua relação negativa e repadora das formas de operacionalização do capitalismo neocolonial.