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2 APORTES TEÓRICOS

3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA

Nossa pesquisa insere-se na esfera da LA posto ser esta uma área de investigação que objetiva identificar e analisar questões de linguagem na prática, dentro ou fora do espaço escolar. Sob esse aspecto, tomamos como foco o uso da linguagem colocada em prática no contexto da sala de aula, espaço onde ocorre o processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa. Visto por esse enfoque, Lopes et al (2006, p. 104) valoriza a disponibilidade de pesquisadores de diversas áreas para compreender os problemas sociais que envolvem a aprendizagem de línguas em sala de aula.

Os estudos da LA muito têm contribuído para o ensino de língua materna e, consequentemente, para a produção de conhecimento, a partir da compreensão de que essa área não prescreve técnicas, metodologias ou estabelece propostas de como o professor deve ensinar uma língua, mas sim “o estudo de práticas específicas de uso da linguagem em contextos específicos...” (SIGNORINI, 1998, p. 101). O contexto escolar formado pelos discentes insere-se nessa perspectiva, uma vez que é formado por uma heterogeneidade de sujeitos, cada um com suas particularidades sociais, culturais e intelectuais.

Assim sendo, remetendo aos postulados da LA ao ensino e aprendizagem do ensino de línguas em sala de aula, Moita Lopes (2006, p. 18), diz-nos que

Uma teoria linguística pode fornecer uma descrição mais acurada de um aspecto linguístico do que outra, mas ser completamente ineficiente do ponto de vista do processo de ensinar/aprender línguas. Tal processo está sob contingências outras que nenhuma teoria linguística pode contemplar: aspectos sociais e psicológicos da aprendizagem em sala de aula são somente algumas delas, estando bem distantes do escopo de uma teoria linguística (cf. Moita Lopes, 1996). É possível que uma descrição linguística que tenha mais a ver com o modo como as pessoas (falantes, redatores etc.) compreendam o uso da língua (as regras intuitivas que dizem seguir no uso de uma língua), ou seja, os conhecimentos que as pessoas têm de suas práticas linguísticas, seja mais útil para o processo de ensinar/aprender do que uma descrição informada por determinada teoria.

Oliveira (2009) afirma que a pesquisa na LA, no campo da escola, preceitua que o “compromisso com a produção de conhecimento que oriente a formação/construção de docentes, de alunos leitores e escritores, a partir do entendimento que Ler e Escrever

são práticas sociais necessárias à entrada, à inclusão mesmo, na sociedade contemporânea”. Nesse âmbito, a LA deverá inserir-se na contemporaneidade do indivíduo, repensando o sujeito em estudo, posto que na sala de aula, faz-se substancial o entendimento de que aprendizes e professores são eles mesmos sujeitos dessa pesquisa, sendo portadores de história, etnia, gênero, classe social, dentre outros aspectos inerentes a sua personalidade.

Seguindo a linha de pesquisa sob o ponto de vista da interação entre sujeitos para a construção do conhecimento, para a abordagem interpretativista, não há como observar ou estar no mundo, eximindo-se das práticas sociais, sem que nos relacionemos em sociedade. Lüdke e André (1986) alerta-nos sobre a importância de que a observação direta permite também que o observador chegue mais perto da ‘perspectiva dos sujeitos’, um importante alvo na abordagens qualitativas. Nesse sentido, a figura do professor como conhecedor das potencialidades e dificuldades de cada aluno, funcionará como o mediador da aquisição de conhecimento, ao mesmo tempo que estimulará e induzirá o discente, da melhor forma possível e de acordo com a capacidade de cada um, a desenvolver competências e habilidades no que se refere à experiência leitora.

Teóricos da pesquisa qualitativa-interpretativista, Bogdan e Biklen (1994, p. 51) revelam-nos que “o processo de condução de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aqueles de uma forma neutra.” Em nosso trabalho, realizamos a observação participativa, ou seja, “estamos na condição de pesquisadores que observam e interagem com o objeto de estudo, através do diálogo, por meio de entrevistas ou mesmo de conversas, uma vez que se trata de uma investigação descritiva” (REIS, 2015, p. 42). Segundo Kleiman (2008, p. 32),

o docente que consegue associar do trabalho de pesquisa ao seu fazer pedagógico, tornando-se um professor pesquisador de sua própria prática ou das práticas pedagógicas com as quais convive, estará no caminho de aperfeiçoar-se profissionalmente, desenvolvendo uma melhor compreensão de suas ações como mediador de conhecimentos e de seu processo interacional com os educandos. Vai também ter uma melhor compreensão do processo de ensino e de aprendizagem.

No que tange às estratégias de leitura que possibilitem aos alunos o desenvolvimento das habilidades de interpretação e compreensão leitora, o professor

necessita estar inserido e ser participante ativo desse transcurso, para que ele possa sugerir possíveis mudanças ou intervir no processo de aquisição de conhecimento dos seus estudantes. Visto sob esse ângulo, além de ser agente dessa experiência direta, estará, ele próprio, refletindo sobre a sua conduta docente, ao mesmo tempo em que se aperfeiçoa profissionalmente. Sob essa compreensão, Bortoni-Ricardo (2008, p. 33) esclarece-nos que

O docente que consegue associar o trabalho de pesquisa ao seu fazer pedagógico, tornando-se um professor pesquisador de sua própria prática ou das práticas pedagógicas com as quais convive, estará no caminho de aperfeiçoar-se profissionalmente, desenvolvendo uma melhor compreensão de suas ações como mediador de conhecimentos e de seu processo interacional com os educandos. Vai também ter uma melhor compreensão do processo de ensino e de aprendizagem.

No tocante a nossa proposta de intervenção com o uso dos descritores no ensino de leitura, estimulamos através das experiências de interação entre professora- pesquisadora e aluno-participante, estabelecer estratégias e procedimentos que permitissem levar em consideração as experiências do ponto de vista do aluno e do seu conhecimento de mundo para que assim, a produção do conhecimento se estabelecesse.

No entanto, vale salientar que não há métodos exclusivos, já que o estudo de um fenômeno considera a relação existente entre o universo real e o sujeito, pois há um planejamento do processo de pesquisa e também de procedimentos. Em nosso trabalho, apesar de termos priorizado as atitudes de observar, conhecer, compreender e participar em um processo dialógico que contribuiu para a geração de dados em espaço real, oriundos do próprio ambiente natural e resultantes da interação, sendo, portanto, não mensuráveis, informamos que quantificamos alguns elementos ao utilizarmos os instrumentais de monitoramento da Matriz do SAEB, como ferramentas que contabilizam erros e acertos de cada item avaliador das habilidades de leitura, de acordo com cada tópico e seus descritores.

Nessa intervenção norteada pelo uso dos descritores de leitura elaborados pelo SAEB, tivemos como principal intuito, o desejo de colaborar no processo de desenvolvimento de habilidades leitoras dos alunos de uma turma de 9º ano do ensino fundamental da escola onde atuamos. Para tanto, fizemos uso da metodologia da pesquisa-ação, uma vez que esse método possibilita a participação dos investigados em nosso estudo, de tal forma que o processo de interação pode indicar resultados que levem à superação de dificuldades de aprendizagem, dado que esse método identifica os

problemas e, baseado nesses, possibilita a organização de uma proposta de intervenção. Dessa forma, pautamo-nos na proposta de Thiollent (2011), a

[...] pesquisa participante é, em alguns casos, um tipo de pesquisa baseado numa metodologia de observação participante na qual os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com o intuito de serem melhor aceitos. Nesse caso a participação é sobretudo participação dos pesquisadores e consiste em aparente identificação com os valores e os comportamentos que são necessários para a sua aceitação pelo grupo considerado. (THIOLLENT, 2011, p. 21)

Adotando os objetivos teóricos da pesquisa-ação, que segundo Thiollent (2011, p. 8) “pode ser concebida como método, isto quer dizer um caminho ou um conjunto de procedimentos para interligar conhecimento e ação, ou extrair da ação novos conhecimentos”, encontramos nesse tipo de pesquisa, o método específico que coaduna com a nossa proposta de intervenção, desenvolvida a partir do contato diário com os alunos, na sala de aula de Língua Portuguesa, uma vez que ele objetiva (THIOLLENT, 2011, p. 24): a) de forma prática, “contribuir para o melhor equacionamento possível do problema considerado como central na pesquisa, com levantamentos de soluções e propostas de ações correspondentes às soluções para auxiliar o agente” e; b) a nível de conhecimento, “obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos, aumentar nosso conhecimento de determinadas situações (reivindicações, representações, capacidade de ação ou mobilização)”.

Guiados pelas teorias metodológicas citadas, nosso objetivo maior consistiu na contribuição para o desenvolvimento e ampliação da competência leitora de uma turma de 9º ano no Ensino Fundamental de uma escola pública. Nesse sentido, dispusemo-nos a organizar situações didáticas para que os alunos lessem e compreendessem textos, através de estratégias de leitura que favorecessem a construção de sentidos dos textos lidos.

De acordo com esse intuito, metodologicamente, nosso corpus constitui-se dos textos produzidos pelos estudantes através dos diários de leitura do aluno, do diário de bordo da professora e dos instrumentais de monitoramento da Matriz do SAEB, construídos a partir da elaboração e execução das sequências didáticas que oportunizaram a leitura e compreensão dos gêneros notícia e tirinha.

Em vista disso, referenciamo-nos em autores que tratam das questões que envolvem estratégia e compreensão de leitura e do Ensino de Língua Portuguesa, assim

como nos subsídios teóricos que orientam para o trabalho pedagógico com os gêneros textuais. Para compreendermos melhor a situação dos nossos alunos, no que tange à leitura, escolhemos fazer uso de atividades organizadas nas sequências didáticas, exercícios de compreensão leitora dos gêneros notícia e tirinha e suas características.

Para garantir a concretização e materialização desse corpus, já que fizemos uso do método qualitativo, em que o pesquisador poderá utilizar múltiplas formas de geração de dados (BORTONI-RICARDO, 2008), buscamos a negociação com a escola, como local de acesso à pesquisa, assim como, resguardamo-nos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos pais dos alunos, garantindo, assim, a autorização para que pudéssemos realizar a intervenção.

Ademais, buscamos em Condemarín e Medina (2005, p. 13 a 26), as referências teóricas para avaliar de forma contínua, ou seja, durante todo o procedimento da intervenção, tomando por base os princípios e as características da avaliação autêntica das competência linguísticas e comunicativas dos alunos, quais sejam elas: a) a avaliação autêntica constitui uma instância destinada a melhorar a qualidade das aprendizagens; b) constitui um processo participativo; c) diferencia avaliação de qualificação; d) é coerente com os paradigmas da Reforma Educacional; e) é coerente com as atuais compreensões sobre a aprendizagem da linguagem oral e escrita; f) centra-se nos pontos fortes dos alunos; g) constitui um processo multidimensional; h) considera os benefícios pedagógicos envolvidos na análise dos erros; i) recomenda a utilização de portfólios; j) favorece a equidade educativa e; k) favorece o desenvolvimento profissional dos professores.