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2 APORTES TEÓRICOS

3.4 CONSTRUÇÃO DO CORPUS

Definido o nosso tema e a metodologia da nossa intervenção, passamos então, a estruturação do nosso corpus. Para Flick (2009, p. 95), “a pesquisa qualitativa não pode ser caracterizada pela preferência por determinados métodos em relação a outros”, pois que abrange um entendimento específico da relação entre o tema e o método. Segundo o mesmo autor, “nesse tipo de pesquisa, o processo pode ser habilmente organizado em uma sequência linear de etapas conceituais, metodológicas e empíricas” (FLICK, 2009, p. 95).

Seguindo essa linha de raciocínio, entendemos que a coleta de dados de pesquisa é composta por material não aleatório e coerente com os objetivos do trabalho. Entre vários materiais disponíveis, o nosso corpus fora coletado: a) após a realização das sequências didáticas (SD) aplicadas, através dos exercícios de compreensão leitora dos gêneros notícia e tirinha; b) através dos registros no diário de leitura que os alunos fizeram após a término de cada atividade; c) das observações e informações obtidas no diário de bordo do professor, durante a aplicação das atividades com os gêneros; d) do resultado quantitativo dos instrumentais de monitoramento da Matriz do SAEB.

Referenciados por Flick (2009), conforme observado, fizemos uso de documentos escritos para a construção do corpus de trabalho. Segundo Wolf (2004b, p. 284) documentos “são artefatos padronizados na medida em que ocorrem tipicamente em determinados formatos como: notas, relatórios de caso, contratos, rascunhos, certidões de óbito, anotações, diários, estatísticas, certidões, sentenças, cartas ou pareceres”. Esse recurso encaixa-se na abordagem qualitativa, pois nela, podemos utilizar os documentos como uma estratégia complementar para outros métodos como a entrevista, por exemplo.

Como primeira proposta para a construção material da nossa intervenção, pensamos na SD como a melhor forma de realizar o trabalho com os gêneros notícia e tirinha. Ora, como bem sabemos, a língua, assumida à luz da concepção interacionista, encontra nos gêneros uma oportunidade que propicia situações de interação e de uso real e social da língua. Dessa forma, ao propormos o ensino dos gêneros através de SD, oferecemos ao aluno a possibilidade de aprimorar, etapa a etapa, sua capacidade de produzir textos orais e escritos.

Como estratégia de ensino que supõe busca de intervenção, as SD é um instrumento necessário para fazer o aluno progredir, favorecendo a mudança e à promoção dos alunos a uma melhor compreensão dos gêneros nas diversas situações comunicativas. Sendo assim, “as sequências didáticas são instrumentos que podem guiar as intervenções dos professores” (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004, p. 45). Orientados por esse fundamento teórico, desenvolvemos duas sequências para os gêneros notícia e tirinha, a primeira prevista para 8 aulas e a segunda para 10 aulas. Nas atividades das SD, proporcionamos aos alunos a oportunidade de leitura e interpretação de textos.

É preciso mencionar, ainda, que o desempenho dos alunos foi acompanhado e avaliado em sala de aula e em todos os momentos, principalmente, através das situações de interação de linguagem verbal e não-verbal, nas quais os discentes tiveram a liberdade de discutir e tecer comentários sobre os textos lidos. Essa fase de acompanhamento, análise e avaliação fora realizada de forma contínua, assim, as experiências adquiridas ao longo das SD foram registradas pelos alunos nos Diários de Leitura dos Alunos – DLA, indispensável ferramenta de pesquisa para que pudéssemos refletir sobre a nossa própria prática no contexto de sala de aula, visto que, segundo KOCH (2006, p.10) “os sujeitos são vistos como atores construtores sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto”.

Além do DLA, o trabalho com o Diário da Prática Pedagógica – DPP possibilitou-nos o acompanhamento tanto cronológico, quanto procedimental das atividades desenvolvidas em sala, estabelecendo assim, um processo interativo e autônomo dado pela leitura. Em relação a esses processos, esse gênero possui essas características, pois é uma forma de fazer a historização de si mesmo (MACHADO, 1998), em que o sujeito se constitui através da linguagem.

Aliado ao DPP, contamos também com o acompanhamento estatístico dos Instrumentais de Monitoramento (IM) do SAEB, como forma de acompanhar a quantidade de erros e acertos de cada item, para que assim pudéssemos intervir nas fragilidades encontradas em cada aluno. Esse instrumental trata-se de uma tabela onde, verticalmente, estão agrupados os tópicos e descritores a serem contabilizados pelos acertos das alternativas corretas (gabarito) e erros pelas alternativas incorretas (distratores) de cada item (questão).

As Sequências Didáticas, o Diário de Leitura do aluno, o Diário da Prática pedagógica e o Instrumental de Monitoramento representaram significativos documentos que contribuíram tanto para realizar o acompanhamento, através da observação participante, da avaliação e da análise, quanto para dar prosseguimento ao nosso trabalho, pois nos ajudaram, sobremaneira, a entender e explicar como os alunos concebem a leitura dos textos e a orientar-nos na prática interventiva do processo de ensino e aprendizagem, bem como no estímulo às habilidades de compreensão leitoras. Em conformidade com uma visão qualitativa da pesquisa, Flick (2009, p. 234), citando Wolf (2004b, p. 284), recomenda que não se deve partir de uma realidade fictícia dos documentos e compará-las a opiniões subjetivas presentes nas entrevistas, visto que,

[...] os documentos representam uma versão específica de realidades construídas para objetivos específicos. Os documentos devem ser vistos como uma forma de contextualização da informação. Em vez de usá-los como ‘conteinêres de informação’, devem ser vistos e analisados como

dispositivos comunicativos metodologicamente desenvolvidos.

Assim, construímos e estruturamos, materialmente, nossos desígnios para propor soluções para as dificuldades de aprendizagem relativas à compreensão leitora, através de estratégias citadas neste capítulo. No que tange ao material recolhido, cabe informar que tivemos o cuidado de digitalizá-lo, fazendo uso das suas cópias no corpo deste trabalho, garantindo assim, a segurança de guardar, em local seguro, todos os originais que serviram de documento para a composição desse texto.