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A abordagem Sense-Making foi desenvolvida por Brenda Dervin, professora doutora do Departamento de Comunicações da Universidade de Ohio, e foi apresentada ao público em 1983 durante a International Communications Association Annual Meeting, em Dallas/TX/USA.

Ferreira (1997) observa que essa abordagem tem sido adotada em diversas áreas, tais como: comunicação, biblioteconomia, assistência social, psicologia entre outras, e sua aplicação abrange contextos variados, como pesquisas de opinião pública sobre política, processos de comunicação na área de saúde, estudos acerca de imagens organizacionais, recepção de audiência e, sobre uso de telecomunicações. Ressalta a autora que dentre as atuais metodologias de estudos de usuários, a mais completa e abrangente, com grande número de adeptos em todo o mundo, é a abordagem intitulada Sense-Making Approach.

Ainda na opinião de Ferreira (1997):

Ao definir, amplamente, em termos de uma série de suposições ontológicas e epistemológicas, como a atividade humana de observações, interpretação e compreensão do mundo exterior, inferindo-lhe sentidos lógicos, advindos do uso dos esquemas interiores, Dervin define essa atividade tanto como um comportamento interno (cognitivo), como externo (atitudes, reações em face do meio social) que permite ao indivíduo construir e projetar seus movimentos, suas ações através do tempo e espaço. A busca e uso de informação, portanto,é central para tal atividade.

O Sense-Making é constituído por um conjunto de pressupostos filosóficos, proposições substantivas, enquadramentos metodológicos e métodos.

28 O modelo de criação de significado de Dervin é uma metáfora onde o indivíduo move-se no tempo e no espaço. Esse movimento representa suas experiências, e a cada novo passo, um novo movimento é percebido. O indivíduo acompanha esse movimento e cria significado para suas ações e para o ambiente em sua volta. Enquanto o indivíduo for capaz de construir significado, o movimento é possível. Contudo, o movimento pode ser interrompido e descontinuado. Nesse ponto, o indivíduo para e percebe uma lacuna, que resulta na perda do sentido interno e na necessidade de criar novos significados. Nessa etapa ele define a natureza do vazio e procura meios para transpô-lo. O modelo de Dervin foi construído sobre o trinômio situação-lacuna-uso, representado na figura abaixo.

SITUAÇÃO

CICLO DA EXPERIÊNCIA

LACUNA USO

Fonte: PEREIRA, Edmeire Cristina (2002, p.142).

Figura 1 - Trinômio do Sense-Making

Pereira (2002) explica que situação é o contexto temporal e espacial onde surge a necessidade de informação, onde se estabelece o período em que a busca e o uso da informação vai ocorrer, e onde se chega ou não à compreensão do problema. Lacuna é definida como sendo a situação problemática, um estado de incerteza. Finalmente, o uso, como mencionado anteriormente, é a seleção e o processamento das informações, que resulta em novos conhecimentos ou ações (Choo, 2003).

De acordo com Giopato (2004, p. 23), que utilizou essa abordagem em seu estudo, o Sense-Making está relacionado à natureza da realidade, o relacionamento do indivíduo com essa realidade, a natureza, a procura e o uso da informação, a natureza da comunicação e o comportamento do indivíduo quando sente a necessidade por informação.

Na opinião do mesmo autor:

A abordagem do Sense-Making possibilita estudar o indivíduo dentro de sua realidade, inserido em um contexto no qual surge uma necessidade por informações. O estudo de usuários, ao observar esses fatores, pode ser utilizado

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como ferramenta auxiliar no planejamento de serviços ou sistemas de informação nas organizações, e possibilitar o desenvolvimento de sistemas que disponibilizem as informações necessárias para a tomada de decisão.

Na pesquisa de Rodrigues (2009), cuja proposta era identificar a necessidade de informação dos conselheiros de saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), tipificando os conselheiros, conhecendo suas expectativas e necessidades de informação, além de abordar a exclusão digital do conselheiro, como fator limitador ao exercício do controle social, a abordagem do Sense-Making foi utilizada e o autor salienta que:

O emprego dessa abordagem em estudos de comportamento de busca e uso da informação pressupõe, também, a aceitação dos seguintes atributos: a) individualidade – usuários devem ser tratados como indivíduos e não como conjunto de atributos demográficos; b) situacionalidade – cada usuário se movimenta por meio de uma única realidade de tempo e espaço; c) utilidade da informação – diferentes indivíduos utilizam a informação de maneira própria, e informação é o que auxilia a pessoa a entender sua situação e d) padrões – analisando as características individuais de cada usuário, intenta chegar aos processos cognitivos comum à maioria.

De acordo com Ferreira (1997, p. 9) os enunciados básicos da abordagem Sense- Making podem ser representados como:

a) a realidade não é completa nem constante, ao contrário é permeada de descontinuidades fundamentais e difusas, intituladas “vazios” (gaps). Assume- se que esta condição é generalizável porque as coisas na realidade não são conectadas e mudam constantemente.

b) a informação não é algo que exista independente e externamente ao ser humano, ao contrário é um produto da observação humana.

c) desde que se considera a produção de informação ser guiada internamente, então o Sense-Making assume que toda informação é subjetiva.

d) busca e uso da informação são vistos como atividades construtivas, como criação pessoal do sentido individual do ser humano.

e) focaliza em como indivíduos usam as observações tanto de outras pessoas como as próprias para construir seus quadros da realidade e os usa para direcionar seu comportamento.

f) o comportamento dos indivíduos pode ser prognosticado com mais sucesso com a estruturação de um modelo que focalize mais suas situações de mudanças do que atributos denominados características de personalidades ou demográficas.

g) pesquisa por padrões, observando, mais do que assumindo conexões entre situações e necessidade de informação, entre informação e uso.

h) considera-se a existência de “compreensões universais da realidade” que permitem prognósticos e explicações melhores do que seria possível obter nas abordagens positivistas tradicionais.

As abordagens apresentadas acima têm sido utilizadas, nas últimas décadas, em diversas pesquisas na área de Ciência da Informação e correspondem à evolução teórica dos estudos de usuários e, consequentemente, na identificação das necessidades de

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