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Abordagem da temática indígena no livro didático de Geografia do Ensino Médio

2 A TEMÁTICA INDÍGENA NA GEOGRAFIA NO ENSINO MEDIO

2.1. Abordagem da temática indígena no livro didático de Geografia do Ensino Médio

A última chamada para publicação de livros didáticos para o Ensino Médio ocorreu através do Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático - PNLD 2018, no qual foram aprovadas as coleções para compor o catálogo de obras a serem escolhidas pelos professores das escolas públicas.

Com base nas especificações do edital é possível analisar como a temática indígena é apresentada em cada uma das coleções, em que conteúdos ela aparece e como é feita a explanação sobre esses povos.

Na coleção #Contato8 uma das questões que necessitam de cuidado na sala de aula diz respeito à diversidade, a participação de afrodescendentes e indígenas nos diferentes espaços brasileiros. A temática indígena é abordada no volume 2 da coleção, unidade 5 – População Brasileira.

A abertura da unidade começa com um texto bastante contraditório. Apesar do autor afirmar que diferentes povos já habitavam as terras que se tornariam território do Brasil antes da chegada do europeu, logo em seguida comenta que “Se comparada a outras populações do mundo, a brasileira pode ser considerada recente, pois essa formação passou a ocorrer há pouco mais de 500 anos. Há registros de populações que datam de milênios” (MARTINEZ; GARCIA, 2016, p. 121). Tal afirmação pode ser interpretada como se a população brasileira tivesse

8 MARTINEZ, Rogério; VIDAL, Wanessa Pires Garcia. #Contato Geografia. 2 ano. São Paulo:

passado a ter importância a partir da chegada do europeu, mesmo já existindo habitantes anteriormente.

Na sequência é apresentada a população brasileira e suas origens, enfatizando a miscigenação como característica principal. O texto dedica dois parágrafos para tratar dos povos nativos (indígenas), destaca o genocídio e etnocídio e metade do parágrafo para resumir os indígenas na atualidade, através do dado demográfico da população (817 mil habitantes - 0,4% da população do país), concentrada principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Vale destacar a ilustração utilizada, o indígena purus, ilustração de 1826. Além desta, nenhuma outra ilustração mais atual.

Outro fato que vale ser destacado é a apresentação de um quadro intitulado Brasil: população segundo declaração de cor ou raça (%) -2014. Os autores destacam as porcentagens de população das categorias branca, parda e preta. Na categoria outros estão inclusos os indígenas e amarelos que somam apena 1% da população. Provavelmente a intenção foi reunir categorias de pouca expressividade numérica, no entanto são essas sutis omissões que colaboram para a invisibilidade dessa população.

Ao final da unidade tem uma seção intitulada “Ampliando seus conhecimentos”, com o objetivo de trazer informações complementares relacionadas ao conteúdo; nela foi publicada o texto abordando a influência indígena na cultura brasileira, destacando-a na toponímia, comidas, medicina natural e artesanato. Como indicação de navegação na internet indica o site da FUNAI e dos Povos indígenas no Brasil. Nota-se a escolha dos autores por tratar os povos indígenas de forma bem superficial, deixando a cargo do leitor buscar informações complementares, caso se interesse; entretanto, não há estimulo para que isso aconteça. Nenhum esforço no sentido de valorização da temática.

No livro da coleção VIVÁ,9 a temática indígena está presente nas articulações entre conteúdos da Geografia e temáticas transversais. No capítulo 7 – Um país multicultural do volume 2, se discute a formação étnica do Brasil também elencando os três primeiros povos do país, destacando o processo de extermínio e de desconstrução cultural. Um ponto positivo do texto é a abordagem dos direitos do indígena, ressaltando o surgimento do Serviço de Proteção ao Índio - SPI, que posteriormente foi substituído pela FUNAI. Evidencia, ainda, o Estatuto do Índio e os direitos adquiridos a partir da Constituição de1988.

Um mapa bastante interessante apresenta uma sobreposição da distribuição da população indígena, as terras demarcadas ou em processo de demarcação e ao fundo os biomas do país.

Brasil: distribuição da população indígena (2010)

Fonte: Moreira, 2016, p.161.

Faz uma crítica à legislação que preconiza direitos, sem prover condições de usufruto, além das contradições da ação do Estado em relação aos povos indígenas, que visa a integração, mas ao mesmo tempo trata-os como incapazes que necessitam de sua tutela. Destaca o problema da invasão de terras por terceiros, garimpeiros, madeireiros, empresas de mineração, posseiros, e finaliza afirmando que “a contribuição indígena na formação étnica e cultural do Brasil foi muito grande. A influência indígena aparece em muitos aspectos da cultura brasileira” (MOREIRA, 2016, p.161).

A ilustração utilizada também é mais atual, mostrando homens Yanomami em Barcelos (AM) em 2012. A abordagem no referido livro, embora bem resumida, está mais adequada à realidade atual, mencionando os principais desafios dos povos indígenas na atualidade, dentre eles, a luta pela demarcação de terras.

Na coleção Conexões - Estudos de Geografia Geral e do Brasil10, os textos, as imagens, os mapas e as atividades contribuem para a construção do conhecimento geográfico em consonância com a Formação Cidadã. Conferem destaque às questões indígena e afro-brasileira

10 TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de geografia

com um papel central na formação territorial do Brasil. O Capítulo 7, do volume 1, intitulado Brasil: diversidade cultural e migração, evidencia um cenário da formação territorial e do povo brasileiro. O livro dedica seis páginas somente as questões indígenas, apresentando a Sociedade indígena na época da conquista, os indígenas e a marcha da conquista, atividades econômicas, rumos da política indigenista e, ainda, traz um texto complementar: Conflitos com o povo Kaingang, no qual resgata o grave conflito na construção da Estrada de Ferro Noroeste de Brasil em 1915.

O livro destaca a contribuição do indígena na formação do povo brasileiro, situando no espaço/tempo; aborda o trabalho escravo nas lavouras de cana-de-açúcar; a fuga para o interior e a mineração como primeira atividade econômica colonial, que promoveu migração em massa, mas também foi responsável por dizimar um grande contingente de indígenas.

Em relação às ilustrações, além das imagens do índio colonial, os autores incluíram imagens do índio na atualidade, utilizado computador em uma biblioteca e imagem de povos que atualmente ainda vivem isolados e acrografia demonstrando as terras indígenas

No tópico que versa sobre os rumos da política indigenista destaca o Serviço de Proteção ao Índio e sua substituição pela FUNAI e a Constituição de 1988 que promoveu importantes conquistas em termos de direitos indígenas, embora as violações a esses direitos são constantes.

A abordagem da temática indígena no referido livro é satisfatória, uma vez que detalha não somente fatos do passado, mas também os atuais conflitos enfrentados por essa população. A partir do conteúdo apresentado, o professor poderá buscar outras fontes para complementar o estudo em sala de aula, principalmente no que se refere a uma abordagem em escala local.

A coleção Geografia em Rede 11aborda a temática indígena de maneira distinta dos demais livros. Nela, não é feita a leitura da contribuição do indígena na formação da população, mas é discutida a temática a partir de dados do IBGE e do mapa de terras indígenas no Brasil. Suas contribuições no âmbito social, econômico e político e seu papel na formação do território são pouco abordados. O texto destaca a problemática do povo Ianomâmi e seus conflitos com mineradores e garimpeiros e os desafios da demarcação de terra.

No que diz respeito às questões pertinentes à diversidade étnica, elas estão presentes de forma pontual, com menções sobre as populações brasileiras indígenas e negras concentradas em um dos livros. Cabe atenção à questão étnico-racial, pois o conteúdo dos livros não apresenta o papel de populações indígenas e negras na formação do território. Deste modo,

sugere-se que o professor recorra a outras fontes e materiais que possibilitem o aprofundamento desse conteúdo.

Na coleção Geografia: espaço e identidade12, há uma contradição entre título e conteúdo, visto que os temas contemplados vinculam-se às questões de gênero, indígenas e étnico-raciais e são abordados de forma superficial. Neste caso, é necessário lançar mão de outros materiais para complementar o ensino da temática. No volume 2, os autores dedicam meia página para apresentar, resumidamente os diferentes grupos humanos na formação da população brasileira, sem detalhes sobre cada um deles.

Fronteiras da globalização13 é uma outra coleção que apresentou a temática de maneira

bem resumida. Tanto os indígenas quanto afrodescendentes são mencionados apenas nos conteúdos que apresentam a composição da população brasileira. Ainda assim, de forma bastante pontual no subtópico composição étnica. O texto sobre a formação da população brasileira está assim resumido:

Os indígenas (primeiros habitantes), os negros (trazidos do continente africano para trabalhar na condição de escravo) e os brancos (europeus, principalmente) formam os três grupos básicos que compõem a população brasileira. A intensa miscigenação, ou mestiçagem, entre esses grupos originou mulatos (brancos com negros), cafuzos (indígena com negro) e caboclos ou mamelucos (indígenas com branco). No entanto, o IBGE usa nomenclatura parda para definir todos os mestiços (ALMEIDA; RIGOLIN, 2016, p.106).

A publicação traz ainda uma fotografia de uma família indígena da Aldeia Rouxinol, em Manaus, e um gráfico da população brasileira por cor e por região, com as possíveis justificativas para a distribuição da população no território devido aos diferentes processos de ocupação e povoamento.

A coleção Ser Protagonista14, no intuito de atender à legislação específica, apresenta em seus volumes as seções Presença da África e Presença Indígena, valorizando a identidade negra e indígena. Tais seções são constituídas por textos mais densos que contribuem para o aprofundamento dos temas estudados.

12 BOLIGIAN, Levon; ALVES, Andressa. Geografia espaço e identidade. V.2. São Paulo: Editora do

Brasil, 2016.

13 ALMEIDA, Lúcia Marina Alves de; RIGOLIN, Tercio Barbosa. Fronteiras da globalização. 3 ed.

São Paulo: Ática, 2016.

14 BALDRAIA, André et al. Ser protagonista: Geografia. Ensino Médio. 3ed. São Paulo: Edições SM,

Em cada volume da coleção há duas seções Presença Indígena. O volume 1 aborda o Parque Indígena Xingu, sua história e seus problemas ambientais, e o capítulo 11 – Espaço rural brasileiro apresenta os Indígenas isolados da floresta Amazônica.

No volume 2 da coleção, a seção Presença indígena está ao final do capítulo 3 – Recursos Naturais e no capítulo 14 – Migrações no Brasil. A primeira seção traz como título “A voz do pequeno trovão”, sendo apresentado o indígena Marçal Guarani, Tupã’i, cacique da aldeia de Dourados na década de 1960 e importante líder indigenista da época, assassinado em 1983, por causa de sua militância.

No capítulo 14, a seção trata do Indígenas na cidade grande, fazendo uma reflexão sobre os indígenas no meio urbano, destacando os Pankararu, primeira sociedade indígena não aldeada reconhecida pela Funai, no bairro Real Parque em São Paulo; os Trena de Mato Grosso do Sul e o caso do Guarani-Mbya, também em São Paulo, que ao invés da migração, foi a própria cidade que cresceu em volta da aldeia. O texto destaca, ainda, o grupo de rap Brô-MCs, do Mato Grosso do Sul, que usa da arte para reivindicar direitos e expressar sua cultura por meio de composições politizada.

As seções do volume 3 estão nos capítulo 4 – A geopolítica no Brasil e trata de São Gabriel da Cachoeira: uma cidade diferente, e no capitulo 15 - Geopolítica dos alimentos. O primeiro trata de uma cidade que tem 85% de sua população indígena. O texto trata das especificidades da cidade, como as diferentes línguas faladas e dos desafios frente a desvalorização de sua cultura, principalmente porque os valores reproduzidos pelo Exército e pelos migrantes de outras regiões desqualificam os costumes. O segundo texto, A casa de Maní, conta a origem da mandioca, principal alimento cultivado pela maior parte dos povos indígenas do Brasil, a partir de uma história tupi.

No capítulo que aborda a população brasileira, a estrutura étnica é demonstrada a partir das categorias utilizadas pelo IBGE, de forma bastante concisa, apenas um parágrafo para cada uma delas. Sobre os indígenas, resume da seguinte forma: ‘Os indígenas, ocupantes originais do território, receberam dos colonizadores um tratamento desumano. Estima-se que no ano de 1500 havia no atual território brasileira 5 milhões de pessoas. Em 2010, esse número era cerda de 817 mil pessoas” (BALDRAIA, et al, 2016, p. 171).

Um ponto positivo da coleção é distribuir a temática em todos os volumes, não restringindo apenas ao conteúdo de população. No entanto, poderia ter abordado com mais detalhes a distribuição dos povos indígenas e suas questões territoriais.

Na coleção Geografia: ação e transformação15, o capítulo 2 trata da construção do território brasileiro, iniciando pela formação territorial e política no tempo. Assim, discute o Brasil colonial, “que já nascia marcado pelo latifúndio, monocultura e trabalho escravo, sendo os indígenas os primeiros a serem explorados no sistema escravocrata” (MARTINI; GLAUDIO, 2016, p. 31).

No subcapítulo Povos indígenas: territórios e territorialidades, como nas demais publicações, destaca o genocídio e etnocídio, mas, ressalta que, cinco séculos após a chegada do europeu, ainda existem aproximadamente 400 mil indígenas no país. “Isso mostra que os verdadeiros descobridores do Brasil tentaram de todas as formas sobreviver ao caráter violento da colonização” (MARTINI; GAUDIO, 2016, p. 46).

As autoras buscam valorizar os conhecimentos dos povos a respeito das espécies botânicas e a importância deles para a preservação dos recursos naturais. Destacam a existência de aproximadamente 220 povos, mostrando a diversidade cultural e de línguas, o que vai de encontro a ideia do indígena homogêneo, ou seja, de que os índios são todos iguais.

Os conflitos em terras indígenas são representados em um mapa que mostra os principais envolvidos nessa questão nos últimos anos (garimpeiros, madeireiros, fazendeiros, posseiros e pressão de políticos locais, sem-terra). A partir do mapa se discute a problemática da posse de terra e a necessidade de preservar a cultura, os hábitos e costumes em prol da diversidade.

O texto também busca mostrar a importância dos povos indígenas na preservação da natureza, uma vez que em levantamento do INPE as terras indígenas aparecem como oásis florestais. No entanto, não romantiza a imagem do indígena como protetor inato da natureza, visto que alguns povos já cederam a pressões externas e se atrelaram a formas predatórias de exploração de recursos, fazendo alianças com empresas madeireiras. Tal situação, porém, não deve ser generalizada. Se faz necessário que os povos indígenas, assim como todos os cidadãos brasileiros, tenham as condições de sobrevivência e reprodução com dignidade para que não necessite recorrer a meios ilícitos de sobrevivência.

Ainda no mesmo livro, no capítulo 4, que versa sobre a população brasileira, a temática indígena é retomada para explicar a composição étnica do Brasil. Inicia-se com a afirmação enfática de que os indígenas foram os primeiros “descobridores” do Brasil e do continente americano. Os bandeirantes paulistas aprenderam muito com esses povos, mesmo tendo

15 MARTINI, Alice de; GLAUDIO, Rogata Soares Del. Geografia Ação e transformação. Ensino

ajudado a dizimá-los e escravizá-los. Para finalizar, na seção Saiba mais, um texto intitulado “As perspectivas de nosso país, do ponto de vista de um índio”16.

Percebe-se a intenção de valorizar e evidenciar a existência dos povos indígenas, mostrando seus desafios e as injustiças sofridas ao longo do tempo. É uma boa reflexão quando se compara com outras coleções que não aprofundam a temática, embora ainda exista um vazio de informações sobre o indígena na atualidade.

Na coleção Geografia- contextos e redes17, a temática indígena também é abordada na

formação do povo brasileiro, mas o foco é a miscigenação e o extermínio dessa população, restando atualmente apenas 0,47% em relação à população total brasileira. Cita os potiguaras da Paraíba como exemplo e apresenta figura de Reserva indígena na Bahia, se diferenciando da maioria das coleções que apenas evidencia a Região Norte do país. Destaca os conflitos e guerras até o século XIX, devido à expansão de atividades econômicas e, no Século XX, as iniciativas de proteção ao indígena e demarcação de terras. Traz a discussão de que, apesar da legislação, as terras indígenas continuam sendo invadidas e contestadas, como o caso da Repousa Serra do Sol, situada no nordeste do estado de Roraima, nos municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã. Seguindo o mesmo padrão da maioria das publicações não é perceptível um esforço maior para cumprir o que orienta o edital, no sentido de melhor desenvolver a promoção positiva da cultura indígena.

A coleção Geografia: leituras e interações18 traz, no volume 1, uma mulher indígena ilustrando a capa, criando uma expectativa maior em relação à temática. Entretanto, não se encontram mais imagens retratando os povos indígenas na coleção. No volume 2 se discute a população brasileira a partir da construção do território brasileiro e a formação do seu povo.

Os autores relacionam a formação da população com o desenvolvimento de atividades econômicas ao longo da história.

A atual configuração territorial do Brasil resulta de uma verdadeira dinâmica das ocupações demográfica e econômica de suas regiões ao longo do tempo. Isso ocorreu principalmente por causa da exploração de minerais e vegetais, que sempre foi acompanhado de grupos de pessoas que fundavam novas vilas e logo passavam a estabelecer governos locais (GOETTEM; JOIA, 2016, p. 233).

16 TERENA, m. Perpect6ivas Indígenas para o século XXI. In: Seminário de tropicologia: o Brasil no

limiar do século XXI. Recife 2000.

17 SILVA, Angela Correia; OLIC, Nelson; LOZANO, Ruy. Geografia: contextos e redes. São Paulo: Moderna, 2016.

18 GOETTEM, Arno Aloisio; JOIA, Antônio Luís. Geografia: leituras e interação. 2ed. São Paulo: Leya,

Essa passagem do texto evidencia que as migrações foram importantes para a configuração do território e que as atividades econômicas sempre foram acompanhadas de pessoas que fundavam novas vilas, ou seja, pessoas importantes. Nesse status apenas o colonizador europeu se enquadraria.

Ao discutir a diversidade étnica do Brasil são destacadas as relações marcadas por contradições e conflitos entre colonizador e indígena devido aos diferentes valores acerca dos recursos naturais e da visão do indígena, considerado improdutivo pois não visava acúmulo de riquezas.

O texto também aborda a miscigenação a partir da mistura do indígena com o colonizador europeu. Este último, “distante dos padrões morais da Europa, tiveram filhos com mulheres indígenas que foram denominados caboclos”. A narrativa passa uma visão de que esses processos ocorreram de forma muito natural, quando hoje se sabe quão violenta foi a colonização. O texto segue evidenciando a miscigenação a partir dos demais povos chegados no país.

Apesar do tratamento superficial dado à questão indígena, mais adiante os autores afirmam que houve um crescimento da população negra, parda e indígena, o que revela uma possível recuperação de identidade e cita também o procedimento da autodeclaração nas pesquisas do IBGE.

No volume 3 da coleção, a temática ainda aparece como texto complementar na seção Leia, por meio de uma notícia: “Índios paiter suruís usam internet para pedir proteção de suas terras em Rondônia”. A notícia informa que 30 índios foram treinados para monitorar o território utilizando equipamentos de geolocalização doados pela Google, empresa multinacional americana de tecnologia da informação.

Após análise das coleções do PNLD 2018, vê-se que de modo geral, abordam a temática de maneira muito semelhante, utilizando inclusive os mesmos cartogramas e destacando os mesmos dados. Não detalham características demográficas dos povos indígenas, por exemplo o percentual dos que assim se autodeclaram e vivem nas áreas urbanas, informação já publicizada pelo Censo 2010. Segundo o referido censo, são 36,2% desse grupo populacional, sendo a maior concentração na Região Nordeste. Esse dado poderia ser melhor explorado para discutir a migração e o preconceito enfrentado por essas pessoas no meio urbano.