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SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DA TEMÁTICA INDÍGENA NA GEOGRAFIA

O ensino de Geografia, como já mencionado, se defronta com novos desafios no século XXI. É consenso entre os estudiosos da área que no contexto da globalização e das inovações tecnológicas, faz-se necessário que o ensino dessa disciplina escolar esteja em sintonia com os processos sociais da contemporaneidade.

Para mediar a relação ensino-aprendizagem, os professores de Geografia têm buscado caminhos que facilitem a interlocução professor-aluno, de modo a tornar a aprendizagem mais significativa. A Geografia é uma forma de leitura do mundo. “A educação escolar é um processo no qual o professor e seu aluno se relacionam com o mundo através das relações que travam entre si na escola e das ideias” (MOREIRA, 2007, p. 105).

A Geografia enquanto disciplina escolar possibilita a discussão de temas ligados à diversidade que também contribuem para a formação cidadã. Um exemplo é o estudo dos povos indígenas, que já faz parte da Geografia no âmbito do tópico População, mas que pode ser ampliado para além do que historicamente vem sendo abordado - a formação da população brasileira. De acordo com Callai (2001), em Geografia, a partir dos conteúdos trabalhados, pode-se considerar inúmeros valores decorrentes da forma de organização dos povos, da apropriação dos territórios, das lutas travadas para tanto, das questões étnicas, dos valores culturais e religiosos, do acesso ao espaço na construção dos territórios.

Além de novos enfoques e abordagens se faz necessário também diversificar o aparato metodológico com que se trabalha na sala de aula, sendo importante buscar diversos tipos de materiais didáticos para auxiliar o professor nessa jornada.

O livro didático tem sido o principal apoio à disciplina e tem importância fundamental, principalmente na realidade das escolas públicas. Porém, embora a responsabilidade de educar para cidadania seja de todos (família, comunidade escolar ao formatar o Projeto Politico- Pedagógico da escola, comunidade em geral), o professor pode aprofundar suas pesquisas em outras fontes e materiais complementares na perspectiva de aprofundar as discussões em sala. Como visto anteriormente, o livro didático ainda aborda de forma um tanto resumida a temática indígena.

Nessa perspectiva, a sequência didática – SD é uma sugestão interessante para se trabalhar diversas temáticas na Geografia, aliando teoria e atividades práticas, podendo ser planejadas tanto para aulas quanto para projetos com prazos mais longos.

Segundo Goçalves e Ferraz (2016), o termo SD surgiu em 1996, nas instruções oficiais para o ensino de línguas na França, quando pesquisadores viram a necessidade de superação da compartimentalização dos conhecimentos no campo do ensino de línguas.

De acordo com Callai (2011), a sequência didática tem como expectativa a realização de uma aprendizagem significativa e que permita que o aluno construa um pensamento autônomo, sendo ele próprio autor de sua aprendizagem, capaz de articular diferentes conteúdos na busca de entendimento da realidade em que vive. Assim, o professor assume o papel de mediador do processo de ensino. Porém, não se trata de uma atividade simplória. É necessário um planejamento adequado para que os objetivos sejam alcançados. Ainda de acordo com Callai (2001, p. 135),

Estabelecer uma sequência didática pode ser simplesmente uma estratégia para encaminhar o ensino. Mas se torna mais que isso ao exigir que o professor saiba aquilo que vai ensinar e que conheça para além daquilo que vai ser trabalhado, isto é que conheça a sua ciência, que compreenda o significado daqueles conteúdos no contexto da sua disciplina escolar.

É imprescindível um esforço maior quando se trata de diversificar as estratégias de aula. Tomando como exemplo, a temática indígena se faz necessário todo cuidado para que o professor, por falta de aprofundamento no tema, não acabe por reafirmar justamente as visões sobre os povos indígenas que se deseja combater.

As sequências de atividades de ensino/aprendizagem, ou sequências didáticas, são uma maneira de encadear e articular as diferentes atividades ao longo de uma unidade didática. Assim, pois, poderemos analisar as diferentes formas de intervenção segundo as atividades que se realizam e, principalmente, pelo sentido que adquirem quanto a uma seqüência orientada para a realização de determinados objetivos educativos. As seqüências podem indicar a função que tem cada uma das atividades na construção do conhecimento ou da aprendizagem de diferentes conteúdos e, portanto, avaliar a pertinência ou não de cada uma delas, a falta de outras ou a ênfase que devemos lhes atribuir (ZABALA, 1998, p.20).

De maneira sintética, de acordo com o referido autor, as sequências didáticas são um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos.

Tomando como base o livro Metodologias para o ensino: teoria e exemplos de sequências didáticas (MARCELINO; SILVA, 2018), formulou-se um conjunto de proposições de SD para o Ensino Médio contemplando a temática indígena. As SD propostas no presente

trabalho são do tipo problematizadoras, com o intuito de levar o aluno à reflexão e resolução de questões.

A primeira sequência proposta – Percepção sobre povos indígenas – tem o objetivo de discutir a respeito do preconceito vivenciado pela população indígena, como contribuímos para reafirmar ideias distorcidas e como poderíamos colaborar na convivência com a diversidade. Foi elaborada seguindo a metodologia dos “Três Momentos Pedagógicos, em uma perspectiva Freiriana, que se divide em três momentos” (RANGEL et al, 2018, p. 49).

O primeiro momento é a Problematização inicial, remete à apresentação das questões dentro de circunstâncias da realidade dos alunos, de forma que esses sejam desafiados ao compartilhamento de seus pensamentos a respeito dessas situações.

O segundo momento é a Organização do conhecimento, quando os conhecimentos necessários para a solução da situação-problema são mediados pelo professor, dentro de situações pedagógicas orientadas para tal finalidade.

O terceiro momento é a Aplicação do conhecimento. Nesse se faz uma abordagem acerca do conhecimento do aluno, buscando analisá-los e correlacioná-los às situações abordadas inicialmente. Na atividade foi sugerido a elaboração de um pequeno texto aceca do conhecimento que ficou depois da atividade.

A segunda proposta de sequência didática - Formação da população brasileira: contribuição dos povos originários, com o objetivo de identificar características da interculturalidade na população brasileira e discutir a contribuição dos povos indígenas na formação da população e na atualidade.

De acordo com Vieira et al (2018), essa metodologia teve como idealizador Charles Maguerez, na década de 1970, mas apenas nas últimas décadas do século XX ganhou destaque na Educação. Arco de Maguerez é aplicado como um caminho para a educação problematizadora. A metodologia ocorre a partir de uma problematização, seguida da participação ativa e dialogada entre professores e alunos

Apresenta-se em cinco etapas: Observação da realidade (a partir de vídeos indicados na atividade); Pontos-chave (reflexão a respeito das possíveis causas da marginalização dos povos originários); Teorização (explanação do professor); Hipóteses de Solução (retomado o problema inicial) e Aplicação à Realidade (oficina de criação de cartazes acerca dos povos indígenas, incluindo informações sobre todo conteúdo até então estudado).

Na terceira Proposta de sequência didática – Mapeando a população indígena do RN, foi utilizada a mesma metodologia dos Três Momentos Pedagógicos. Com o objetivo de investigar a distribuição da população indígena no estado, contará com um primeiro momento

para Introdução ao tema, onde o professor protagoniza essa etapa. Posteriormente, será uma atividade prática: Mapeamento da população indígena do RN. Os alunos deverão pesquisar os dados do IBGE, seguindo as orientações do professor, para com estes dados preencher o mapa do estado com as informações. O terceiro momento 3º momento é a partilha dos resultados e conclusão da atividade proposta.

Por fim, a Proposta de sequência didática – Pesquisa e registro das comunidades indígenas do RN. Trata-se da adaptação de uma Sequência de Ensino Investigativa - SEI proposta por Arêas, et al (2018, p.71). Uma tentativa de colocar os alunos em contato com a atividade de pesquisa.

A Geografia [...]pode utilizar a perspectiva da SEI, desde que as práticas docentes estejam baseadas na vivência dos alunos enquanto sujeitos sociais capazes de integrar e transformar a natureza ao seu redor. Para tanto, é importante a elaboração de problemas que despertem o interesse dos aprendizes e os coloquem em contato com conhecimentos científicos, utilizando atividades de investigação.

A SEI é uma sequência didática que condiz com um ensino pautado em uma metodologia investigativa, podendo ser dividida em quatro fases principais:

1) Problema: a comunidade escolar tem conhecimento sobre os indígenas do Estado? 2) Sistematização do conhecimento: a sistematização do conhecimento tem como objetivo fazer com que os alunos pensem o passo a passo realizado até se chegar à resolução do problema. Assim, foi proposto que os mesmos desenvolvam atividades práticas de investigação, que seria a aplicação de questionários com a comunidade escolar e uma aula/atividade de campo. O professor deverá orientar os alunos como sistematizar o conhecimento resultante das atividades desenvolvidas.

3) Contextualização social do conhecimento: pesquisa sobre as comunidades indígenas do Rio grande do Norte, organizando todo material encontrado, com suas respectivas fontes.

4) Atividade de avaliação: elaboração do portfólio que pode ser intitulado Indígenas do RN, com amostras dos trabalhos realizados na sequência, seguidos de uma reflexão ou comentários sobre o processo para obtenção do produto.

As sequências permitem ao professor trabalhar diferentes temáticas e podem se tornar um importante instrumento metodológico no planejamento da prática docente, enriquecendo-a cada vez mais. Esse tipo de metodologia é uma via de mão dupla, pois, ao mesmo tempo que o professor aprofunda seu conhecimento na fase de preparação, também é possível proporcionar ao aluno um protagonismo da sua aprendizagem. Mediante a superação de desafios, descobertas a partir de atividades de pesquisa, contribuindo para melhor a construção de conhecimentos.