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PARTE I – Enquadramento teórico

Capítulo 2 – A formação parental na promoção da parentalidade positiva

2.2. Abordagens e modelos teóricos na formação parental

O planeamento da intervenção pode ser realizada com base na formação parental à luz de inúmeras perspectivas e/ou abordagens (cognitivo-comportamentais, construtivistas, desenvolvimentais, de aprendizagem, etc), com o objectivo de se promover competências parentais adequadas para o pleno exercício da responsabilidade parental, no que diz respeito aos filhos (Costa e Duarte, 2000; Moreira, 2001).

Assim, passaremos a destacar muito resumidamente algumas das teorias tidas em conta para a definição de intervenções na área da formação parental:

- A abordagem do modelo do desenvolvimento social, a qual manifesta que, é através das relações preditivas do desenvolvimento que é possível a compreensão do comportamento anti-social, conferindo um papel fundamental aos factores de risco e protecção.

- De acordo com a teoria do sistema ecológico de Bronfenbrenner (1996), o sistema familiar é perspectivado como o primeiro ambiente do qual a criança participa activamente, onde as relações se vão desenvolvendo dentro do grupo familiar, constituindo dentro deste sistema vários subsistemas, incluindo a relação pais-filhos. A qualidade das interacções e dinâmicas da família da criança caracteriza o contexto deste microssistema, e que pressupõe, na generalidade, criar condições de segurança, protecção, afecto, bem-estar e apoio para a criança.

De acordo com os pressupostos deste modelo ecológico, os indivíduos só podem ser compreendidos na sua totalidade, atendendo-se à sua relação com os contextos relacionais, sociais, e culturais em que estão incluídos.

Nesta perspectiva, o desenvolvimento na infância é influenciado não só pelos ambientes mais próximos com os quais as crianças interagem, como a família, os pares, a escola e a comunidade em que está inserida, como também é afectado pela relação que esses sistemas estabelecem

entre si. Desta forma, o facto de podermos mencionar que o sistema que resulta da relação pais/filhos ser uma importante referência no estudo do desenvolvimento na infância (Bronfenbrenner, 1979).

Ainda à luz desta teoria, destacam-se três características importantes que se estabelecem nas relações familiares: a reciprocidade, o equilíbrio de poder e o afecto, sendo que quanto mais positivas e afectuosas forem as relações entre os membros familiares, maior a probabilidade de desenvolver- se processos evolutivos ajustados.

- A teoria do suporte social tem sido estudada por Dunst, Trivette e Deal (1988, 1994), tendo como objectivo descrever as particularidades das unidades sociais e as relações entre essas unidades e compreender a forma como as redes sociais podem constituir fontes de suporte na promoção do bem-estar pessoal, familiar e comunitário. Podemos referir que, o suporte social diz respeito ao apoio emocional, psicológico, físico e/ou material, informativo facultado por outros indivíduos, influenciando o comportamento de quem pede auxilio.

- A teoria da aprendizagem social defende que, as crianças aprendem modelos de comportamento através da observação (Bandura, 1986, cit in Vasconcelos, Praia e Almeida, 2003), revelando que as crianças aprendem a comportar-se pela observação das condutas dos que a rodeiam, através de um processo de imitação. Os objectivos desta teoria reflectem mudanças no comportamento, assentes no reforço e com o intuito de obter comportamentos desejáveis. O reforço funciona como responsável pelo fortalecimento da resposta, trazendo para o contexto educativo, prémios e castigos, como forma de promover o controlo dos indivíduos e mudanças comportamentais significativas. Na área da intervenção familiar, esta adopta um papel central no processo de aprendizagem, sendo-lhe atribuído um papel activo na construção do seu conhecimento, através da descoberta de novas alternativas e formas de resolução de problemas e na construção e desconstrução de conceitos e mitos. Aqui o dinamizador ou o técnico deverá assumir um papel de “tutor”, não substituindo a família mas sim

acompanhando e orientando-a, de forma a modelar as suas aprendizagens. Refira-se ainda que, esta teoria defende o uso de recursos de simulações de problemas, de forma a proporcionar estratégias de treino de competências e habilidades (Vasconcelos, Praia e Almeida, 2003).

- A abordagem cognitivo-comportamental, a qual tenta explicar e modificar o comportamento dos indivíduos, baseando-se na utilização sistemática de métodos científicos e rigorosos, o que faz com que os seus conceitos sejam constantemente alvo de estudos de verificação da sua validade e eficácia. No seu alicerce teórico, surge o processo de aprendizagem, no qual a pessoa desenvolve as competências necessárias para lidar da maneira mais satisfatória com as situações que a vida apresenta.

Torna-se importante mencionar alguns princípios desta teoria, os quais passam por intervir no comportamento e nos factores que o influenciam e alguns comportamentos menos desejáveis podem ser modificados e substituídos por outros mais adequados. É o ambiente que molda o indivíduo através da sequência estímulo-resposta, sendo o comportamento o resultado da aprendizagem.

Esta teoria defende que, os problemas de uma aprendizagem desajustada têm que ser resolvidos através da reeducação, permitindo ao indivíduo re-construir esquemas comportamentais mais funcionais.

- A teoria da vinculação é vista como uma teoria sobre o desenvolvimento social e emocional, na medida em que defende que os seres humanos nascem dotados de um sistema de vinculação que lhes permite estabelecer uma relação de afecto e segurança com uma figura de referência (Ainsworth, 1972, cit in Canavarro, 1999).

Esta perspectiva acredita que a figura de vinculação nem sempre exibe comportamentos desejáveis e adequados às necessidades das crianças, o que por si só poderá conduzir à origem de sentimentos de ansiedade no desenvolvimento da criança. Desta forma, esta teoria sugere o uso de estratégias de coping (acções cognitivas, comportamentos ou

pensamentos para lidar com um episódio de stress), traduzindo-se na congregação de esforços para reduzir, minimizar ou tolerar essa situação de stress, com o objectivo de ajudar a pessoa a superar o seu problema. Assim sendo, podemos referir que, coping é uma estratégia de adaptação, com o objectivo de gerir um problema e modelar a resposta emocional a esse mesmo problema.

De acordo com Beresford (1994, cit in Antoniazzi, Dell`Aglio e Bandeira, 1998), os recursos de coping podem actuar como factores de risco ou como factores de resistência, estando fortemente associados ao conceito de vulnerabilidade, ou seja, os indivíduos tanto podem tornar-se mais vulneráveis ou mais resistentes às situações geradoras de stress.

Em suma, poderíamos destacar a relevância de outras abordagens (psicodinâmicas, construtivistas, humanas, etc.) na concepção de programas de formação parental, que se prendem com a promoção de competências parentais mais eficazes e assertivas para a promoção de um desenvolvimento infantil harmonioso, através do uso de estratégias de reforço, conforme algumas das teorias já descritas anteriormente; no desenvolvimento de interacções pais-filhos mais positivas e promoção de estratégias de resolução de problemas, conflitos; tipos de comunicação mais assertivos e eficazes, entre outros.

Após a análise das diferentes perspectivas de intervenção que a literatura nos facultou na área da formação parental, é possível verificar-se que muitos autores dão grande ênfase aos programas de fortalecimento que incidem sobre o funcionamento familiar (Moreira, 2001; Kumpfer, 1993 &1999b; Cruz e Pinho, 2006; entre outros), através do uso de estratégias de “capacitação” e “co-responsabilização” na procura de alternativas para a resolução dos seus problemas, através do desenvolvimento de mais competências e do fortalecimento das potencialidades da família.