• Nenhum resultado encontrado

PARTE I – Enquadramento teórico

Capítulo 2 – A formação parental na promoção da parentalidade positiva

2.3. O Programa de Fortalecimento Familiar

O Programa de Fotalecimento Familiar é um programa de treino de competências familiares e parentais vocacionado para aumentar a resiliência e reduzir a influência dos factores de risco associados ao consumo de substâncias psicoactivas, depressão, violência, delinquência e insucesso escolar e é também um programa de competências de vida das crianças. Na designação do programa em Portugal optou-se pela sua tradução literal Programa de Fortalecimento Familiar, cujos objectivos contemplam a melhoraria do nível de informação dos pais e/ou familiares, o fortalecimento e desenvolvimento das competências parentais, a promoção do funcionamento familiar.

Este programa de treino de habilidades comportamentais e cognitivas foi desenvolvido pela Karol L. Kumpfer e associados da Universidade de Utah em 1982.

O programa de fortalecimento familiar tem sido adaptado e implementado em vários países nestes últimos anos, incluindo a Suécia, Noruega, Holanda, Espanha, Portugal, Itália, Irlanda, Reino Unido, Rússia e Costa Rica, Peru, Chile, etc.

Os princípios e os objectivos do PFF identificam-se com modelos de acção preventiva para grupos seleccionados.

No contexto português, o Programa de Fortalecimento Familiar é um programa que tem sido implementado em Portugal em várias zonas do país, tendo sido remodelado e adaptado à população portuguesa pelo Centro Integrado de Apoio Familiar de Coimbra (CEIFAC).

Já nos Estados Unidos, o desenvolvimento deste programa foi levado a cabo em equipamentos comunitários como escolas, serviços ligados à igreja e com trabalho junto das famílias, centros de tratamento de droga e toxicodependências, centros de apoio ao jovem e à família, projectos domiciliários, centros para apoio a sem-abrigos, centros culturais e tribunais de família.

O formato do PFF compreende três módulos (o treino de competências parentais -formação parental; o treino de habilidades/competências das crianças e o treino de competências de vida para a família) de catorze sessões de duas horas, os quais contam com a realização de actividades separadas e em conjunto entre pais e filhos.

Na primeira hora da sessão, pais e filhos encontram-se em salas separadas, passando a estarem juntos na última hora. Normalmente, este programa é projectado para 8 a 13 famílias, realizando-se no espaço de uma escola pública, de uma igreja ou centro comunitário, sendo necessárias pelo menos 2 divisões, sendo o ideal 3.

As sessões realizadas em paralelo com pais e filhos, promovem o reforço da família e o treino de competências práticas, por exemplo, enquanto os pais adquirem conhecimentos sobre como agir quando os filhos quebram as regras, os filhos aprendem sobre a importância de cumprir as regras estipuladas pelos pais. Na fase final da sessão, a família junta-se, e com os filhos e pais reunidos, praticam situações de como solucionar os problemas quando as regras são quebradas, etc.

As sessões com os filhos promovem o fortalecimento de competências para lidar com o stress e emoções fortes, aumenta o desejo de serem responsáveis e as habilidades para superar a pressão dos colegas. As crianças aprendem tipos de comunicação mais assertivos e eficazes, a compreender e interpretar os sentimentos, lidar com a raiva e a critica, gerir o stress, desenvolvem competências sociais e a resolver problemas. Estes objectivos são concretizados através de actividades lúdicas e educativas, as quais podem incluir: apresentações temáticas, discussões em grupo, modelagem de comportamentos, role-playings, entre outras.

Saliente-se que estas estratégias de intervenção, integram-se no âmbito de alguns modelos teóricos descritos anteriormente, sendo contudo importante realçar, que o modelo cognitivo-comportamental é o mais predominante ao nível de intervenção em grupo, nomeadamente no que diz

respeito às estratégias para modificação de comportamentos, aprendizagem de estratégias de coping e para o desenvolvimento de competências de resolução de problemas.

Nas sessões com os pais, estes aprendem a aumentar os comportamentos desejados nos filhos através da atenção dos pais, recompensas, comunicação clara, disciplina. Nestas sessões, surgem como foco de acção, os debates sobre a percepção do desenvolvimento dos filhos, como lidar com os filhos diariamente, estabelecendo limites e regras apropriados, bem como ser razoável com as consequências a aplicar, partilha e reflexão de experiências e crenças sobre o álcool e drogas, etc.

Durante as sessões em conjunto, a família desenvolve atitudes e comportamentos através da prática assistida em situações que apelam a ouvir e a comunicar com respeito, identifica pontos fortes na família e os seus valores familiares, aprende a tirar partido das reuniões familiares para resolverem problemas e a planear as actividades familiares. As sessões dos pais, jovens e em conjunto compreendem debates, habilidades de construção de actividades, exposição de vídeos positivos sobre modelos de comportamento, jogos para desenvolver e fortalecer capacidades de interacção positivas entre os membros da família.

Segundo Kumpfer (1993 & 1999b), foram vários os modelos etiológicos e de intervenção que influenciaram e estiveram na origem do SFP, tais como:

-o modelo biopsicossocial de vulnerabilidade e o modelo de resiliência (o qual já foi abordado no ponto dos factores de risco e de protecção);

-o modelo biopsicossocial oferece um panorama que sugere que a família adquire competências e recursos, como uma família eficaz na gestão, resolução de conflitos/resolução de problemas, competências e habilidades comunicativas. Esta abordagem assume uma perspectiva de desenvolvimento, onde a família exerce mais influência sobre as crianças mais jovens;

-os modelos transaccional e ecológico, na evolução do modelo de intervenção centrado na família, dá ênfase para a interdependência entre a criança e os seus contextos de desenvolvimento, reconhecendo a importância das relações familiares, bem como das relações entre a família e a comunidade em que está inserida para o funcionamento da família e desenvolvimento da criança.