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CAPÍTULO 5 ESTRUTURAÇÃO METODOLÓGICA PARA A AVALIAÇÃO DO

5.3 Abrangência avaliativa

Um determinado objeto em análise pode ter diferentes escalas a serem consideradas, sejam elas relacionadas com as suas características físicas, espaciais, cronológicas, quanto a sua função ou importância relativa. Analogamente, como ocorre em uma avaliação econômica direcionada a explicar a casualidade, empirismo ou uma lógica indutiva de um objeto ou um evento complexo, pode-se “congelar” a situação, que nesse caso seria o evento em análise em um determinado tempo e espaço (um retrato situacional fixo). Com isso, tem-se um número finito de variáveis influenciando o comportamento a realidade em estudo, sendo possível a realização da identificação de seus relacionamentos internos e externos – em estado de “Coeteris paibus”7 (CHIAVENATO, 1983).

De maneira similar, em uma avaliação da sustentabilidade de edificações, os subsistemas (que compõem essa edificação) podem ser analisados individualmente, não levando-se em consideração, em um primeiro momento, as suas interrelações com os demais subsistemas. Assim, também, uma edificação pode ser analisada individualmente sem que sejam considerados nessa avaliação as suas relações com o macroambiente mundial. Para tanto, a conceituação acerca da sustentabilidade construtiva deve ser adaptável a cada escala adotada (BELLEN, 2006).

Apoiar uma análise sob o prisma de diferentes graus de abordagens, implica em aprofundamentos ou generalidades. Uma avaliação acerca do desempenho sustentável de uma edificação apresenta diferentes escalas de análises e ainda apresenta diferentes fronteiras físicas de avaliação, conforme lista-se (MATEUS, 2009):

 O comportamento dos materiais de construção civil, isoladamente;  Desempenho dos materiais em um sistema construtivo;

 O comportamento de uma edificação, com os seus diversos sistemas funcionando individualmente e as suas interrelações;

7 Expressão em latim, que traduzida para o português pode ser entendida com as demais variáveis

 O desempenho de um conjunto de edifícios vizinhos ou de um empreendimento com diversos edifícios;

 A análise de pequenos aglomerados populacionais ou loteamentos;  A abordagem enquanto país e seus diversos aspectos regionais;

 Uma visão mais holística, considerando-se a dinâmica mundial e suas generalidades.

A fase produtiva enxergada sob a perspectiva de uma abordagem acerca da avaliação do ciclo de vida dos materiais, como visto no capítulo 3, necessariamente possui uma fase de extração de matérias primas, transporte para o seu beneficiamento, processo fabris para a produção de outros subprodutos ou mesmo o simples beneficiamento destas matérias primas para a utilização direta na indústria da construção civil. Essa fase inclui ainda o transporte e comercialização para os consumidores que, nesse caso, podem ser o consumidor final ou a indústria da construção civil que irá aplicá-los em sistemas construtivos que, em conjunto, constituirão uma nova edificação. A segunda fase diz respeito ao uso da edificação por seus usuários, nessa fase o ambiente edificado se relaciona, dinamicamente, com o ambiente em que está inserido consumindo recursos e gerando resíduos (uso e manutenções). Ao final da análise do desempenho de uma edificação, avalia-se o seu desuso, ou seja, os impactos gerados pela desmobilização e, ainda, como os recursos empregados serão reabsorvidos, seja pelo o seu reprocessamento ou pelo ambiente. Verifica-se durante a análise de ciclo de vida de uma edificação diferentes escalas de abordagem de desempenho e impacto, sendo os seus efeitos enxergados sob diferentes graus de complexidade.

A figura 5.2 demonstra de maneira gráfica as diferentes abordagens acerca do desempenho de diferentes estágios de análise aliado a diferentes etapas do ciclo de vida de um determinado elemento construtivo, assim como a fronteira de avaliação a qual a MATSUS-HR embasa a sua avaliação de desempenho sustentável para um determinado sistema construtivo.

Neste sentido, a utilização da análise do ciclo de vida, não é restrita a avaliação dos diversos impactos gerados por um determinado material durante o seu período de vida, sendo essa empregada também às escalas mais abrangentes. As escalas, representadas por diferentes níveis de complexidade, verificadas em uma valoração

ascendente verticalmente, demonstrado na figura 5.2, representam as diversas abordagens que podem ser empregadas. Aumentar a abrangência do objeto avaliado não é somente somar os efeitos dos elementos menores que o compõem, exemplificando-se: ao se fazer uma análise quanto aos impactos que uma habitação gera ao longo do seu ciclo de vida, não basta somar os impactos dos materiais construtivos que a compõem, é, nesse caso, imprescindível analisar a interrelação destes entre si e com o ambiente em que estão inseridos.

Figura 5.2 – Delimitação física e escopo de avaliação

Fonte: Autor

De maneira simplificada, propõe-se, no âmbito desta pesquisa, sete categorias de abrangência analítica, direcionadas à mensuração da sustentabilidade das edificações:

 Escala do material de construção civil: abordagem em que se analisa os impactos que o material construtivo gera ao longo do seu ciclo de vida isoladamente;

 Escala do sistema construtivo: são considerados todos os impactos dos materiais que compõem o sistema construtivo, ainda se analisa os impactos relativos à produção, uso e desuso do sistema construtivo;  Escala da edificação: neste nível, são analisados todos os sistemas

construtivos (de forma isolada) que compõem os diversos elementos de uma edificação, sejam eles elementos de pertencentes às estruturas de fundação, vedação vertical, cobertura, sistema hidrossanitário e outros. Verificam-se, também, o relacionamento destes sistemas e o seu funcionamento em conjunto, a concepção e implantação da edificação, assim como o seu desempenho durante a fase de uso;

 Escala local: ao conjunto de considerações anteriores, são adicionadas verificações quanto ao comportamento das edificações em um contexto maior, neste sentido, a forma com que está se relaciona com a sua vizinhança também passa a ser considerado, assim como o impacto gerado por um conjunto de edificações em determinada localidade;  Escala regional: nesta escala são analisados os impactos de diversos

agrupamentos populacionais, as suas relações com outras formas de ocupação do solo são levadas em conta, tais como as indústrias, comércios, transportes, bioma regional e outros;

 Escala nacional: a abordagem torna-se extremamente complexa, sendo considerados os relacionamentos de diversas regiões e seus relacionamentos específicos. Diversas ferramentas que visam mensurar desempenho das edificações ante a sustentabilidade construtiva, como visto no capítulo 4, constroem os seus Benchmarks com caraterísticas e dados nacionais, porém, em países com dimensões continentais, como é caso do Brasil, essa abordagem implica em generalizações;

 Escala Global: visão holística e próxima à abordagem ideal ou, em outras palavras, mais próxima a conceituação de sustentabilidade presente na literatura, porém, com a tecnologia e disponibilidade de dados desenvolvidas até os dias atuais, torna-se impossível ter, em um

mesmo modelo de avaliação da sustentabilidade das edificações, uma ferramenta que processe todos os relacionamentos necessários para as análises das etapas anteriores e, ainda, analise como esses se comportam em uma dinâmica mundial com um grau mínimo de profundidade para que se possibilite mensurar desempenhos reais das edificações. Pois, para tanto, seria necessário sistematizar as relações produtivas, de desempenho e desuso de todos os materiais, sistemas construtivos, edificações, localidades, regiões de todos países do mundo, gerando-se matrizes com significativa quantidade de dados. As propostas mundiais verificadas são generalizações, pautadas em previsões e dados estimados e, portanto, estão longe de retratar a realidade de cada edificação em seu microambiente.

O desempenho sustentável de um sistema construtivo, para a MATSUS-HR, é o resultante do somatório dos desempenhos de todos os materiais construtivos que o compõem, adicionado à interação necessária para a formação desse sistema em análise. Assim sendo, a ferramenta está voltada para análise dos impactos gerados (ambientais, sociais, econômicos e técnicos) na fase de fabricação e aplicação na escala do sistema construtivo apenas.