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2.3 As causas

2.3.6 Absenteísmo e casos específicos

No estudo do absenteísmo, tem-se que considerar alguns casos específicos, como o trabalho feminino, o trabalho do idoso, o trabalho do jovem e o trabalho noturno/turnos alternantes.

A- O TRABALHO FEMININO

As investigações de Jamati (1962), acerca do absenteísmo em indústrias, apontam para o fato de que o índice de absenteísmo das mulheres no trabalho é maior do que o dos homens: “[...] quaisquer que sejam as cifras sobre absenteísmo que se consulte a respeito dos diversos ramos econômicos dos diversos países, sempre poderá comprovar-se que o absenteísmo das mulheres é superior ao dos homens” (JAMATI, 1962, p. 275).

A autora atenta para o fato de que as causas do absenteísmo feminino não se restringem à intervenção de fatores de ordem biológica. Corroborando essa ideia, Sokolowska (1965), embasado em estudos sobre o comportamento feminino e masculino no ambiente de trabalho, afirma que “A frequência das ausências no trabalho certificadas pelo médico com objetivo de acompanhar um membro da família que se encontre enfermo é, por conseguinte, mais elevada entre as mulheres do que entre os homens” (SOKOLOWSKA, 1965, p. 46). Ressalta, ainda, que, enquanto os homens utilizam licenças por razões relacionadas com seu próprio estado de saúde, em muitos casos, as mulheres as utilizam para acompanhar a enfermidade de um membro da família, em sua grande maioria, crianças.

Para Jamati (1962, p. 279), “A presença de filhos no lar provoca ausências frequentes”. Segundo a autora, o maior índice de ausência feminina no trabalho se dá entre as mulheres de 25 a 29 anos de idade, o que reflete a maior probabilidade da presença de um filho com pouca idade no lar. Sinzato (1997) verificou, em sua pesquisa sobre o fator causal do absenteísmo por problemas de saúde, que apenas 10% dos casos investigados referiam-se à doença pura e incapacitante, sendo, portanto, 90% dos casos ocasionados pela baixa motivação individual do trabalhador.

B- O TRABALHO DO IDOSO

Seria fácil de acreditar que a idade é inversamente relacionada ao absenteísmo, uma vez que os idosos tendem menos a se demitirem, e por isso teriam que demonstrar uma estabilidade mais alta, vindo trabalhar mais regularmente. A verdade não é bem essa.

Alguns estudos, como os de Rhodes (1983), Hackett (1990) e Davies et al. (1991), mostraram que há uma relação inversa, mas um exame mais detalhado comprova que a relação idade-

absenteísmo é, em alguns casos, uma questão se a falta é evitável ou não, ou seja,

empregados mais velhos têm taxas mais baixas de faltas evitáveis que os mais jovens. Ao contrário, os mais velhos têm taxas mais altas de faltas não evitáveis, talvez devido à saúde mais debilitada, associada ao envelhecimento e ao período de recuperação mais longo, de que tais trabalhadores de idade precisam quando se acidentam.

Segundo Moragas (1997), trabalhadores idosos e saudáveis apresentam índices menores de faltas ao trabalho e acidentes quando comparados com os jovens. De acordo com o referido autor, algumas explicações para o fato podem ser:

 Maior motivação para se manter no trabalho, tendo em vista as dificuldades que o idoso experimentaria se porventura perdesse o seu emprego;

 Maior experiência para evitar perigos que conhece e

 Valores de estabilidade, dos quais não participam os trabalhadores atuais.

Segundo Hormain (2009), tem-se que considerar alguns fatores para o absenteísmo no idoso:  Redução da força muscular: 95% (40 anos), 80% (50 anos) e 50% (60 anos).

 Perda auditiva: 5% (40 anos), 10% (60 anos), 17% (70 anos) e 35% (80 anos).

 Psicomotricidade: movimentos mais lentos e redução dos alcances (tempo de reação 20% maior aos 60).

 Memória: redução da memória recente, redução da capacidade de retenção de informações, ocasionando dificuldades no aprendizado de novas tecnologias.

As dificuldades biológicas geram um conflito íntimo no trabalhador idoso, entre as dificuldades de adaptação e a necessidade de se manter no mercado de trabalho.

C- O TRABALHO DO JOVEM

A inserção do jovem no mundo do trabalho sempre foi considerada como um rito de passagem, o qual traz consigo alto grau de ansiedade e incerteza. E isso deve ser perfeitamente justificável, pois se trata de algo implícito a seu projeto individual e que representa a pré-condição para a conquista da ascensão social, via emprego. Sendo assim, diante das grandes alterações e exigências que vêm ocorrendo quanto à capacitação profissional, é interessante abordar esse conflito que o jovem invariavelmente enfrenta ao chegar o momento de realizar sua opção profissional, especialmente quando se defronta com esse complexo contexto que envolve os mais variados setores da sociedade atual.

Como se sabe, ocorreram profundas mudanças sociais, culturais e econômicas a partir das últimas décadas do século XX, que atingiram seu clímax nos últimos anos do século XX e só têm piorado no início deste novo século. Tais mudanças provocaram não só a desorganização de determinados setores da sociedade, como ainda exigiram uma reestruturação e readaptação desses mesmos setores que, por sua vez, passaram a interferir de forma direta ou indireta no modo de pensar e agir de todas as pessoas, desencadeando novas e inesperadas implicações na estruturação psicológica de cada sujeito (especialmente na dos jovens), já que contínuas e incessantes transformações foram sendo a ele impostas. Concomitantemente, um contingente enorme de referenciais e valores, que vinha sendo legado às novas gerações e que representava fundamentos para a estruturação de suas vidas, desmantelou-se, levando-as à sensação de existência incerta, vazia e sem significação.

Como consequência, a preocupação a respeito do futuro assume maiores proporções, tornando os jovens mais inseguros com relação às suas projeções pessoais, uma vez que atingidos por um constrangedor sentimento de impotência diante do que lhes é factual, independente de suas concepções. Obviamente, quando se tem diante de si uma imagem do futuro que se apresenta fraturada, torna-se ainda mais difícil a compreensão não só do sentido dessas mudanças, como também dos conflitos que delas decorrem.

Os efeitos causados por esses novos denominadores sociais assumiram especial relevância no que se refere às repercussões que esse quadro de mudanças vem ocasionando na estruturação da vida dos jovens, especialmente porque se trata de uma faixa etária extremamente vulnerável e alvo primeiro e direto dos entorpecimentos causados por tantas modificações sociais. Não se pode desconsiderar o fato de que é na adolescência que o indivíduo passa a vivenciar diferentes modelos de vida, que se distancia dos referenciais da infância e se volta para novos valores socioculturais. Trata-se de procurar saber não apenas quem sou, mas, também, por onde vou, já que as carreiras profissionais permitidas aos jovens, na maioria dos casos, são estruturadas pelas posições de classe e pelas instituições sociais e políticas.

Considerando tais colocações, segundo Hormain (2009), é preciso que considerar alguns fatores para o absenteísmo do jovem:

 Até quando se estende o período da adolescência?  Dificuldades para o estudo.

 Dificuldades para conviver com seu grupo etário.  Dificuldades sociais

 Dificuldades para adaptação a normas rígidas de trabalho.

D- O TRABALHO NOTURNO / TURNOS ALTERNANTES

Para a Organização Internacional do Trabalho, a expressão trabalho noturno designa "todo trabalho que se realize durante um período de pelo menos sete horas consecutivas, que abranja o intervalo compreendido entre a meia noite e as cinco horas da manhã" (FUNDACENTRO, 1990).

O labor noturno, por ser contrário à natureza do ser humano, predominantemente diurna, provoca um quadro de estresse constante, revelando-se uma das formas mais perversas de organização temporal do trabalho (CHAVES, 1995).

Seus prejuízos à saúde do trabalhador deixam sequelas, seja nos seus aspectos psíquicos, físicos e emocionais, seja nos seus aspectos sociais, familiares e interpessoais. O trabalhador noturno permanece ativo enquanto seu sistema biológico deveria estar em repouso. Por outro lado, sincronizadores ambientais e sociais - Zeitgebers, também chamados de sincronizadores

externos ou indicadores de tempo, impedem continuamente uma adaptação ao trabalho

noturno. Os Zeitgebers podem ser as mais diferentes modificações no universo de um ser vivo, tais como modificações nos horários de dormir e de acordar, duração dos períodos de luz e escuridão, temperatura ambiente (REGIS FILHO, 2004).

Para Chaves (1995)

o trabalhador noturno não tem, em absoluto, seu ritmo circadiano invertido ou ampliado, mas sim, desestruturado, uma vez que, dadas as características do horário do turno, não são todas as noites que o trabalhador permanece acordado, assim como não são todos os dias que ele dorme: além disso, mesmo que a alteração temporal fosse completa, ou mesmo incompleta, mas constante, não seria possível abolir os demais sincronizadores externos aos quais está sujeito em decorrência de seu convívio social.

Nos sistemas de turnos fixos noturnos há uma tendência do trabalhador, nos seus dias de folga, tentar acompanhar a sociedade, o que o obrigaria constantemente a modificar seu horário de dormir, de se alimentar, de lazer, em função de seus horários de trabalho.

A quantidade de sono do trabalhador noturno pode ficar reduzida em até duas horas por dia, acumulando-se um débito de sono. A qualidade do sono fica, também, diminuída,

principalmente no estágio dois e no sono paradoxal, sem que a fadiga seja queixa particularmente observável nos que trabalham no turno noturno.

É relevante ressaltar que, segundo Gadbois & Queinnec (1984):

 O trabalho noturno é um problema multidimensional, em que se conhece suficientemente bem o campo das variáveis, mas não o peso específico de cada uma delas;

 o problema da adaptação não é, na verdade, um problema, na medida em que o caráter anormal do trabalho noturno pode somente, na melhor das hipóteses, ocasionar uma mudança nos trabalhadores para poder ultrapassar sua deficiência; e

 em todas as situações profissionais, mais ainda no momento das atividades noturnas, convém suavizar a dicotomia vida no trabalho e vida fora do trabalho, pois não é evidente que as horas de trabalho, que são satisfatórias do ponto de vista fisiológico, permitirão momentos gratificantes nas atividades fora do trabalho; Existem poucos argumentos sobre as diferenças entre trabalhadores de sexos diferentes, no que diz respeito às rítmicas circadianas das variáveis fisiológicas ou de performance psicométricas. Porém, a situação familiar, solteiro ou não, presença de um ou vários filhos, constitui um fator normalmente agravante dos problemas do trabalhador noturno.

 Segundo Gadbois (1981), as mulheres casadas, com um filho, dormem ao dia em torno de uma hora e meia a menos que as solteiras. O débito é ainda mais marcante quando se trata de mães com crianças em fase de amamentação. Por outro lado, a desproporção das divisões das tarefas do lar, entre casais, contribui igualmente para aumentar os problemas dos horários do trabalho noturno feminino e a carga global de trabalho suportada. Esses diversos elementos, da situação fora do trabalho, devem ser levados em consideração, no momento da organização do horário e da prescrição das tarefas no trabalho noturno.

Para Foret (1977), tais cuidados na organização do horário e da prescrição das tarefas, também, devem ser considerados em relação à idade do trabalhador noturno. De acordo com o autor, o envelhecimento modifica, muito provavelmente, a sensibilidade às rotações de turno, de maneira geral e, em particular, ao trabalho noturno não rodiziante.

Da mesma maneira, segundo Andlauer & Fourre (1965), o envelhecimento do trabalhador noturno favorece a passagem a um estado crônico de fadiga mental profissional.

Gadbois & Queinnec (1984) afirmam que, com o aumento da idade do trabalhador, os ritmos circadianos apresentam diversos distúrbios: nível médio menor em relação ao trabalhador mais jovem, redução das amplitudes, alteração da posição das acrófases, ou seja, o momento da manifestação máxima é mais variável e, por fim, ajustamentos mais lentos às rotações dos turnos.

De outro lado, o envelhecimento das diversas funções biológicas e psicofisiológicas, para Bourlière & Pacaud (1981), contribuem para o aumento do custo do trabalho noturno, concebido para trabalhadores mais jovens, na maioria das vezes. Assim, as atividades mentais mais intensas, durante o trabalho noturno, aumentam as dificuldades do sono consecutivo, penalizando mais os trabalhadores em idade avançada.

A tarefa, grupo social e diferenças culturais são no entender de Gadbois & Queinnec (1984), alguns dos inúmeros fatores que devem modular atitudes frente ao trabalho noturno.

Já se demonstrou que trabalhadores noturnos estão sob-risco de privação do sono, tanto em quantidade como em qualidade. Assim, além das eventuais sonecas durante o trabalho, alguns trabalhadores usam medicamentos para dormir durante o dia, segundo Foret, Bensimon e Benoit et al. (1981). Porém, o trabalho noturno não parece causar qualquer desordem perene do sono, pois trabalhadores de turnos e noturnos, quando estão de férias, evidenciam sono normal.

Finalizando, o estresse ligado ao trabalho noturno resulta de três fatores gerais: dessincronização do ritmo circadiano, alteração da vida social e familiar e privação do sono. Estes fatores podem interagir para produzir os efeitos prejudiciais sobre o bem-estar geral psicológico e físico do trabalhador noturno.

Segundo o médico do trabalho, Luiz Fernando Hormain (2009), temos que considerar os seguintes fatores para o absenteísmo em relação ao trabalho noturno/turnos alternados:

 A menor condição reparadora (física e psíquica) do sono diurno, quando comparado com o sono noturno.

 O aumento da inadaptação com a sucessão de noites de vigília.

 O maior índice de adoecimento/acidente do trabalhador noturno/turnos.  A dificuldade de adaptação às alterações do relógio biológico.

 A menor condição reparadora (física e psíquica) do sono diurno quando comparado com o sono noturno.

 O aumento da inadaptação com a sucessão de noites de vigília. O maior índice de adoecimento/acidente do trabalhador noturno/turnos.

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