Os estudos descritos nesta se¸c˜ao tiveram como objetivo identificar os centros res- pons´aveis pelas bandas de Absor¸c˜ao ´Optica (AO) nas regi˜oes do ultravioleta pr´oximo, vis´ıvel e infravermelho pr´oximo na zoisita. Para tal fim lˆaminas de zoisita natural de 1,00(5) mm de espessura (ver Sec. 4.1) foram tratadas termicamente em 500, 600, 700 e 800 °C e posteriormente irradiadas com doses γ entre 500 Gy e 50 kGy. Infelizmente n˜ao foi poss´ıvel realizar o TT em 900 °C devido ao esfarelamento da lˆamina nessa temperatura.
O espectro de AO da zoisita natural apresenta v´arias bandas nas trˆes regi˜oes do espectro (Fig. 5.38). Na regi˜ao de UV pr´oximo pode ser identificada uma banda em 385 nm. J´a na parte vis´ıvel do espectro, bandas em 427 nm, 453 nm, 658 nm e 691 nm foram determinadas. Na regi˜ao do infravermelho pr´oximo, o espectro de AO apresenta v´arias bandas de absor¸c˜ao. As bandas mais intensas apresentam m´aximos em 1666 nm, 1847 nm, 1935 nm, 2300 nm e 2474 nm .
Fig. 5.38. Espectro de absor¸c˜ao ´optica da zoisita natural. No quadro superior a regi˜ao do vis´ıvel ´e ampliada.
Estudos feitos por Schmetzer & Berdesinski (1978) numa amostra de zoisita com alto conte´udo de Cr atribu´ıram as bandas em 662 nm (15 100 cm−1) e 458 nm (21 800
cm−1) como sendo do ´ıon de Cr3+ num ambiente octa´edrico. As transi¸c˜oes observadas
foram: 15 100 cm−1 (ν
Em nosso caso essas mesmas bandas foram observadas nas mesmas posi¸c˜oes, indi- cando que a banda em torno de 662 nm (15 100 cm−1) se divide em 691 nm (14 470
cm−1) e 658 nm (15 200 cm−1). Isto mostra que o n´ıvel4T
2´e quebrado pela redu¸c˜ao da
simetria do poliedro Al(Cr)-O ou tamb´em devido `a superposi¸c˜ao de ν1 pela transi¸c˜ao
proibida de spin do Cr3+ (4A
2→2T1), sugerindo a substitui¸c˜ao do Al pelo Cr3+ na
posi¸c˜ao M3 da estrutura da zoisita.
Por outro lado Koziarska et al. (1994) estudaram a tanzanita natural com altos teores de V2+/3+ e Cr3+ com rela¸c˜ao ao Fe e Mn. As bandas de AO dessa amostra
est˜ao em torno de 750 nm (13 330 cm−1) e 585 nm (17 100 cm−1). Com rela¸c˜ao a este
resultado, vˆe-se que, mesmo tendo alta concentra¸c˜ao de Cr na tanzanita, ´e a banda do V3+ quem domina o espectro. Tendo isto em considera¸c˜ao, nota-se que a an´alise
qu´ımica de nossa amostra (Sec. 5.1.1) excluiu completamente a presen¸ca de van´adio na estrutura da zoisita, aqui estudada. Por tanto, na regi˜ao do vis´ıvel, as bandas devido ao Cr3+ s˜ao as que dominam o espectro.
Uma conclus˜ao importante do trabalho deKoziarska et al.(1994) ´e a designa¸c˜ao do ´ıon de Cr3+ como sendo respons´avel pela luminescˆencia na tanzanita azul. Adicional-
mente, Koziarska et al. (1994) demonstraram que o amplo espectro luminescente ob- servado no infravermelho, poderia fazer com que a zoisita (tanzanita) seja interessante em futuras aplica¸c˜oes, embora processos radiativos relativamente intensos apaguem a luminescˆencia.
Embora exista numerosos trabalhos que visam o estudo da AO de diversos minerais naturais, o trabalho deHunt et al.(1973) ´e um dos mais representativos pois abrange muitos silicatos dos quais se obt´em informa¸c˜ao muito importante. Portanto usando os resultados desse trabalho, no espectro da zoisita natural podemos identificar uma banda muito fraca em 1400 nm (7 143 cm−1), a qual corresponde ao primeiro e segundo
modo de vibra¸c˜ao longitudinal do ´ıon de OH−. De igual modo, as bandas em 1666 nm
(6 000 cm−1), e 2300 nm (4 347 cm−1) tamb´em foram atribu´ıdas ao ´ıon de OH.
Por outro lado, as bandas em 1847 nm (5 414 cm−1), 1935 nm (5 168 cm−1) e 2474
nm (4 042 cm−1) foram identificadas como mol´eculas de ´agua presentes na estrutura
da zoisita. SegundoHunt et al.(1973) o ´ıon hidroxila ligado a um metal produz modos
metal-O-H, onde a posi¸c˜ao t´ıpica est´a entre 2200 e 2300 nm. Em nosso espectro essa
banda ´e muito intensa o que revela uma forte liga¸c˜ao da hidroxila com o Al ou Fe. Espectros mais detalhados, na regi˜ao do infravermelho, ser˜ao analisados usando a t´ecnica de FT-IR na Sec. 5.9.
5.8.1
Parˆametros de campo cristalino nos s´ıtios do Cr
3+na
zoisita
A intensidade do campo cristalino Dq e o parˆametro de Racah B para os ´ıons de Cr3+ em s´ıtios de simetria local tetra´edrica e octa´edrica podem ser obtidos a partir
dos m´aximos das bandas de AO. Na amostra de zoisita aqui estudada as duas bandas largas na regi˜ao do vis´ıvel correspondem a transi¸c˜oes eletrˆonicas do n´ıvel fundamental
4A
2 para os n´ıveis excitados4T2 e4T1, respectivamente. Na regi˜ao do UV existe uma
banda em 25 974 cm−1 (385 nm).
Os valores experimentais das energias de transi¸c˜ao entre os estados do ´ıon de Cr3+
obtidos da leitura dos espectros de AO da zoisita s˜ao 15 100 cm−1 (662 nm) para 4A
2→4T2 e 22 075 cm−1 (453 nm) para 4A2→4T1.
Os parˆametros de CC calculados com os diagramas de Tanabe-Sugano (Fig. 3.16) s˜ao: ∆ = 15100 cm−1, B = 739,5 cm−1 e Dq/B = 2,19.
A combina¸c˜ao das bandas localizadas nas regi˜oes vermelha (662 nm) e azul (453 nm) do espectro da origem `a colora¸c˜ao caracter´ıstica verde associada aos ´ıons de Cr3+
na zoisita. O espectro ´e consistente com os s´ıtios em que o Cr3+ ´e circundado por um
octaedro formado por 6 oxigˆenios, os ´ıons vizinhos mais pr´oximos (Fuxi & Huimin,
1986). O espectro cobre a maior parte da regi˜ao do vis´ıvel. A largura das bandas ´e caracter´ıstica de uma estrutura de baixa simetria dos s´ıtios ocupados pelos ´ıons de Cr3+, efeito que se soma ao das vibra¸c˜oes locais da rede tornando a largura da banda
consideravelmente larga.
5.8.2
Tratamentos t´ermicos
Com o intuito de observar mudan¸cas no espectro de AO, uma lˆamina de zoisita de 1,0(2) mm de espessura foi submetida a TT em 500, 600, 700 e 800 °C por uma hora. O resultado desta experiˆencia se encontra na Fig. 5.39 a qual est´a plotada em unidades espectrosc´opicas de cm−1. A mudan¸ca de nm a cm−1´e feita para uma melhor
compara¸c˜ao de nossos resultados com os da literatura.
Na Fig. 5.39 nota-se que: para o tratamento t´ermico em 500 e 600°C, a banda em 385 nm (25 974 cm−1) permanece constante ao igual que todas as bandas na regi˜ao
vis´ıvel. No entanto, para esses mesmos TT, as bandas em 1666 nm (6 000 cm−1) e 2474
nm (4 042 cm−1) tˆem um crescimento aparentemente constante. Para o TT em 700 e
800 °C, todas as bandas de AO experimentam um ligeiro crescimento em intensidade, mas sempre conservando a suas posi¸c˜oes.
Fig. 5.39. Espectro de absor¸c˜ao ´optica da zoisita natural submetida a TT entre 500 e 800 °C.
5.8.3
Efeito do tratamento t´ermico e as doses de irradia¸c˜ao
Outra lˆamina, muito similar `a anterior foi submetida a um TT em 600 °C por uma hora e posteriormente irradiada com 500 Gy, 10 kGy e 50 kGy de radia¸c˜ao gama. N˜ao se conseguiram observar mudan¸cas significativas com rela¸c˜ao ao espectro de AO da zoisita natural (Fig. 5.40). Todas as bandas permanecem nas mesmas posi¸c˜oes e crescem ligeiramente com a dose de radia¸c˜ao.