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Acórdão do Tribunal da Relação de Évora proferido no âmbito do processo n.º

10. Jurisprudência

10.2 Acórdão do Tribunal da Relação de Évora proferido no âmbito do processo n.º

Neste Acórdão está em causa a omissão de comunicação por parte da arguida da alteração da situação económica familiar com vista a receber quantias referentes ao rendimento social de inserção a que não tinha direito, tendo sido decidido em 1.ª instância a condenação pelo crime de burla tributária.

Vem a arguida recorrer da decisão por entender que o facto não praticado diz respeito a uma omissão não realizada com dolo e, por isso, não deve ser enquadrado neste tipo de crime vindo, resumidamente, o douto Tribunal dar-lhe razão defendendo que a não comunicação da arguida não se traduz num meio fraudulento.

Contrariamente a esta decisão, já foi referido o Acórdão do Tribunal da Relação de Évora proferido no âmbito do processo n.º 1298/11.4TAABF.E1 de 08-01-2013, cuja dedução de acusação também incide na falta de comunicação da alteração económica do arguido tendo este em 1.ª instância, à semelhança do anterior, sido julgado pelo crime de burla tributária vindo a recorrer para a Relação por entender que tal comportamento não enquadra o tipo de crime. Está explícito no Acórdão a base legal da sua fundamentação ao transpor o artigo 42.º, n.º 2 do DL nº 220/06, de 3 de Novembro onde define que «[o]s beneficiários das prestações de desemprego estão ainda obrigados, durante o período de concessão das prestações, a comunicar ao serviço da segurança social da área de residência ou instituição de segurança social competente qualquer facto susceptível de determinar: a) A suspensão ou a cessação das prestações.» completando o artigo 52.º, n.º 1 do mesmo DL que «[d]eterminam a suspensão do pagamento das prestações de desemprego as seguintes situações inerentes à situação laboral ou profissional do beneficiário: a) Exercício de actividade profissional por conta de outrem ou por conta própria, por período consecutivo inferior a três anos» estando sujeito ao dever de garante previsto no artigo 10.º do Código Penal decidindo, por isso, condenar o arguido pela prática do crime de burla tributária prevista no artigo 87.º do RGIT devido à omissão de comunicação da alteração dos factos relativos à sua remuneração mensal.

Como já foi explicado anteriormente, a nossa defesa vai de encontro a este último Acórdão tendo sido referido no subcapítulo referente à burla por omissão concordando com a condenação por omissão, desde que verificados os pressupostos do dever de garante mencionados e claramente demonstrados aqui.

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10.3. Acórdão do Tribunal da Relação de Évora proferido no âmbito do processo n.º 370/06.7TACBR.C1 de 26-01-2011

Estamos, neste caso, perante uma condenação pela prática, em autoria material e na forma consumada, de um crime continuado de burla tributária (o qual consome o crime de falsidade informática, na forma continuada). Veio o MP interpor recurso solicitando, também, a condenação pelo crime de falsidade informática, em concurso efectivo e real sendo emitido parecer por parte do Exmo. Procurador-Geral Adjunto defendendo que « deverá ser considerado o concurso real e não aparente entre os crimes de burla tributária e de falsidade informática, com as respectivas condenações e efectivação do competente cúmulo jurídico, julgando procedente o recurso e revogando o Acórdão recorrido».

A arguida, funcionária, alterou dados no programa informático para obtenção de uma prestação patrimonial

Na verdade, extrai-se da factualidade provada que a introdução de dados falsos e sua alteração no programa informático nacional do rendimento social de inserção por parte da arguida se consubstanciou no meio fraudulento usado para obter da, e determinar a, administração da segurança social, a efectuar as atribuições patrimoniais indevidas, conduzindo com o processamento e pagamento das mesmas ao enriquecimento dos beneficiários. Por outras palavras, é através do falsear dos dados informáticos e da introdução e alteração de dados falsos no programa informático respectivo que se vem a consumar o crime de burla tributária imputado à arguida

Defendendo a decisão recorrida que no caso em apreço, a falsificação foi o meio idóneo para se chegar à burla existindo, apenas, um concurso aparente de normas não sendo, por isso, possível a condenação pelos dois crimes devido à proibição da dupla valoração vindo o douto Tribunal da Relação dizer que «[a]pesar disso, sopesando as duas gravidades em causa (molduras penais), constatamos que a do crime-meio é, até, ligeiramente superior, ou seja, não pode, de forma alguma, ser considerada despicienda, reclamando, assim, a sua autonomização» acabando por condenar a arguida nos dois tipos de crime efectuando o respectivo cúmulo jurídico.

Em bom rigor a punição pelo crime de falsidade informática é de pena de prisão de 1 a 5 anos apresentando-se mais grave que a pena aplicável ao crime de burla tributária que é de prisão até 5 anos ou multa até 600 dias e estipulando o n.º 4 do artigo 87.º do RGIT que «[a]s falsas declarações, a falsificação ou viciação de documento fiscalmente relevante ou a utilização de outros meios fraudulentos com o fim previsto no n.º 1 não são puníveis

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autonomamente, salvo se pena mais grave lhes couber» parece-nos que o Acórdão do TRE optou pela melhor resolução da situação.

10.4. Acórdão do Tribunal da Relação do Porto proferido no âmbito do processo n.º 127/06.5IDBRG.P1 de 21-03-2013

Aqui estamos perante uma condenação por crime de burla tributária e branqueamento de capitais, por terem criado uma aparente estrutura de sociedade com o intuito de obter do Estado atribuições patrimoniais indevidas visando a possibilidade de declarações à administração fiscal de aquisições e transmissões de bens que nunca se realizaram, por forma a conduzir o Estado a conceder reembolsos de IVA e

Agiram ainda com o propósito concretizado de converter no sistema bancário os avultados rendimentos pecuniários obtidos com tal conduta em lícitos montantes depositados em conta bancária da sociedade “W….”, dissimulando perante terceiros, designadamente funcionários bancários e órgãos de polícia criminal em caso de investigação criminal limitada à actividade bancária das sociedades em causa, a origem ilícita do dinheiro e por isso legitimando a sua movimentação no normal circuito económico-financeiro, contaminando-o com fundos provenientes de actividade ilícita.

Tendo sido interposto recurso pelos três arguidos pela não concordância com a decisão tomada, e dado o exaustivo Acórdão devido ao recurso, esta análise incidirá apenas sobre a matéria que nos importa: a relação concursal. É alegada a proibição dos dois tipos de crime por se considerar que o branqueamento de capitais é um prolongamento da burla tributária, ou seja, traduz-se no usufruto pelo cometimento do crime inicial (burla). Ora o branqueamento de capitais é considerado um crime de segundo plano, em suma, terá que se verificar primeiramente outra conduta para a condenação deste tipo de crime e tal situação verificou-se com a forma fraudulenta como enganaram o Estado. Como já foi referido por diversas vezes, para se verificar o concurso entre crimes temos que estar perante uma conduta que enquadra mais do que um ilícito protegendo, no entanto, o mesmo bem jurídico e não se verifica tal situação no Acórdão em apreço, pois a burla visa proteger o «património público e que se consuma quando se efetiva a indevida atribuição patrimonial de que vai resultar o enriquecimento ilegítimo do agente» enquanto o branqueamento de capitais «protege o circuito financeiro, económico e jurídico, resguardando-o de bens de origem criminosa que aí procuram a sua legitimação. Todavia, tendo em atenção a natureza

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do bem jurídico tutelado pelo crime em apreço, afigura-se-me que a simples introdução do capital em questão no circuito bancário e/ou financeiro, é já susceptível de integrar a prática do crime de branqueamento». Assim, sendo os dois crimes autónomos concorrem em acumulação real quando praticados pelo mesmo agente não se colocando em causa nenhum dos dois.

10.5. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça proferido no âmbito do