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3. Infracções tributárias

3.1. Princípios gerais

3.1.1. Disposições comuns

Incide o artigo 1.º sobre o âmbito de aplicação do RGIT onde se inserem as prestações tributárias; os regimes tributários, aduaneiros e fiscais, independentemente de

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regulamentarem ou não prestações tributárias; os benefícios fiscais e franquias aduaneiras e as contribuições e prestações relativas ao sistema de solidariedade e segurança social, sem prejuízo do regime das contra-ordenações que consta de legislação especial, conforme já exposto anteriormente. No artigo 2.º consta o conceito e espécies de infracções tributárias obedecendo ao princípio aplicável ao Direito Penal onde se define a infracção tributária como todo o facto típico, ilícito e culposo declarado punível por lei tributária anterior dividindo-se em crime e contra-ordenação e, se o mesmo facto constituir simultaneamente crime e contra-ordenação, o agente será punido a título de crime, sem prejuízo da aplicação das sanções acessórias previstas para a contra-ordenação. O artigo 3.º descreve o direito subsidiário aplicável em que quanto aos crimes e seu processamento, aplicam-se as disposições do Código Penal, do Código de Processo Penal e respectiva legislação complementar; quanto às contra-ordenações e respectivo processamento, o regime geral do ilícito de mera ordenação social; quanto à responsabilidade civil, as disposições do Código Civil e legislação complementar e quanto à execução das coimas, as disposições do Código de Procedimento e de Processo Tributário. Quanto à aplicação no espaço e no tempo, artigo 4.º e 5.º, o RGIT aplica-se, salvo tratado ou convenção internacional em contrário, a factos praticados em território português (vide artigo 5.º CRP) e/ou a bordo de navios ou aeronaves portugueses (vide artigo 20.º, alínea b) do CPP, independentemente da nacionalidade do agente (vide artigos 4.º do CP (princípio geral); 6.º do CPP e 1.º e 13.º da LGT) considerando-se no momento e no lugar em que, total ou parcialmente, e sob qualquer forma de comparticipação, o agente actuou, ou, no caso de omissão, devia ter actuado, ou naqueles em que o resultado típico se tiver produzido, salvo no caso de deveres tributários que possam ser cumpridos em qualquer serviço da administração tributária ou junto de outros organismos, em que a respectiva infracção se considera praticada no serviço ou organismo do domicílio ou sede do agente, e as infracções tributárias omissivas consideram-se praticadas na data em que termine o prazo para o cumprimento dos respectivos deveres tributários, remetendo-nos para o artigo 2.º a 7.º do CP. Conforme dispõe o artigo 6.º (conjugado com os artigos 11.º e 12.º do CP e 157.º e seguintes e 195.º e seguintes do Código Civil), quem agir voluntariamente como titular de um órgão, membro ou representante de uma pessoa colectiva, sociedade, ainda que irregularmente constituída, ou de mera associação de facto, ou ainda em representação legal ou voluntária de outrem, será punido mesmo quando o tipo legal de crime exija determinados elementos pessoais e estes só se verifiquem na pessoa do Representado ou que o agente pratique o facto no seu próprio interesse e o representante actue no interesse

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do representado, mesmo que seja ineficaz o acto jurídico fonte dos respectivos poderes, ou seja, «[o]s administradores, directores e gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções de administração ou gestão em pessoas colectivas e entes fiscalmente equiparados são subsidiariamente responsáveis em relação a estas e solidariamente entre si» cf. Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferido no âmbito do processo n.º 7591/12.1TDLSB-5 de 02-12-2014. De braços dados com este artigo 6.º temos o artigo 7.º do RGIT, tendo como epígrafe a responsabilidade das pessoas colectivas e equiparadas, que estipula que as pessoas colectivas, sociedades e entidades fiscalmente equiparadas são responsáveis pelas infracções existentes no RGIT quando as mesmas sejam cometidas pelos seus órgãos ou representantes, em seu nome e no interesse colectivo, mesmo que irregularmente constituídas, sendo excluída esta responsabilidade quando o agente tenha actuado contra ordens ou instruções de quem de direito. No que diz respeito à responsabilidade criminal não é excluída a responsabilidade individual do agente, já na responsabilidade contra-ordenacional é excluída a responsabilidade individual do agente. O n.º 5 deste artigo revela-se bastante importante ao mencionar que no caso da multa ou coima ser aplicada a uma entidade sem personalidade jurídica, o património comum será o responsável pela mesma e, no caso de se verificar insuficiente, responderá solidariamente, o património de cada um dos associados. Por forma a facilitar a percepção da aplicação destes dois artigos pensemos, por exemplo, no caso de um gerente que comete voluntariamente um crime designado no RGIT existirão duas punições: a do artigo 6.º aplicável ao gerente por actuação em nome de outrem devido ao princípio da individualidade da responsabilidade criminal e a do artigo 7.º aplicável à pessoa colectiva pela infracção cometida pelo seu representante por extensão do princípio da pessoalidade das penas.

Ora no seguimento dos dois últimos artigos vem o artigo 8.º (em consonância com os artigos 15.º a 18.º e 20.º a 28.º da LGT) clarificar, então, de quem é a responsabilidade civil pelas multas e coimas aplicadas frisando no n.º 1 que os administradores, gerentes e outras pessoas que exerçam funções de administração em pessoas colectivas, sociedades, ainda que irregularmente constituídas, e outras entidades fiscalmente equiparadas são subsidiariamente responsáveis pelas multas ou coimas aplicadas a infracções por factos praticados no período do exercício do seu cargo ou por factos anteriores quando tiver sido por culpa sua que o património da sociedade ou pessoa colectiva se tornou insuficiente para o seu pagamento e/ou pelas multas ou coimas devidas por factos anteriores quando a

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decisão definitiva que as aplicar for notificada durante o período do exercício do seu cargo e lhes seja imputável a falta de pagamento convertendo-se em solidária se forem várias as pessoas a praticar os actos ou omissões culposos de que resulte a insuficiência do património das entidades em causa, cf. n.º 2. Já o n.º 3 do mesmo artigo explica que tanto os técnicos oficiais de contas como as referidas no n.º 1, são ainda subsidiariamente responsáveis, e solidariamente entre si, pelas coimas devidas pela falta ou atraso de quaisquer declarações que devam ser apresentadas no período de exercício de funções, quando não comuniquem, até 30 dias após o termo do prazo de entrega da declaração, à Direcção-Geral dos Impostos as razões que impediram o cumprimento atempado da obrigação e o atraso ou a falta de entrega não lhes seja imputável a qualquer título e o n.º 4 diz que as pessoas a quem se achem subordinados aqueles que, por conta delas, cometerem infracções fiscais são solidariamente responsáveis pelo pagamento das multas ou coimas àqueles aplicadas, salvo se tiverem tomado as providências necessárias para os fazer observar a lei. No decurso do artigo 8.º sempre existam várias pessoas responsáveis a sua responsabilidade torna-se solidária, vide artigo 512.º e seguintes do Código Civil. Por fim, nas disposições comuns, surge o artigo 9.º que dispõe a subsistência da prestação tributária mesmo quando se verifique o cumprimento da sanção e o artigo 10.º frisante da aplicação de apenas as sanções cominadas na norma, salvo quando se verifiquem infracções de outra natureza.