• Nenhum resultado encontrado

PARTE II: MELHORIA DA ACESSIBILIDADE DO TRANSPORTE PÚBLICO OU A

3 ACESSIBILIDADE AO LOCAL DE TRABALHO NAS PRINCIPAIS REGIÕES

3.2 As condições de acessibilidade nas regiões metropolitanas

3.2.2 Acessibilidade espacial ao trabalho por idade

O emergente processo de envelhecimento da população brasileira, possibilitado, sobretudo, pelo declínio da fecundidade – fenômeno que, em certa medida, guarda relações com a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho –, vem também

impactando, ainda que paulatinamente, a reestruturação da força produtiva nacional. Nesse sentido, além da ocorrência de um processo de redistribuição proporcional da população por grandes grupos etários, com uma tendência de acentuada queda relativa na quantidade de jovens, pequeno incremento na camada de adultos, e significativo aumento do número de idosos75, a vigência de condições de pobreza e desigualdade no país tem forçado os jovens a ingressarem cada vez mais cedo no mercado de trabalho e os idosos a adiarem, efetivamente, a sua aposentadoria. Assim, o conhecimento das condições de acessibilidade por faixas etárias constitui elemento importante nas reflexões acerca do planejamento urbano e de transportes, tendo em conta tais redefinições na trajetória da população brasileira.

Nesse trabalho, optou-se pela análise da acessibilidade ao local de trabalho, em relação à idade, envolvendo três grandes grupos etários, assim dispostos na Tabela 3.6: i) De 15 a 35 anos76, período de ingresso e estruturação dos indivíduos no mercado de trabalho; ii) Acima de 35 a 60 anos, fase de amadurecimento e afirmação nas atividades profissionais; iii) Acima de 60 anos, período de uma suposta aposentadoria.

75 CARVALHO e GARCIA (2003), analisando dados censitários, apontam que o percentual de jovens (0

a 14 anos) no Brasil passou de 42,1% para 29,6% entre 1970 e 2000; o de adultos (15 a 59 anos), de 52,8% para 61,8%; e o de idosos (a partir de 60 anos), de 5,1% para 8,6%.

76 Em termos de legislação trabalhista brasileira, não é permitido o trabalho de menores de 18 anos de

idade, exceto na condição de aprendiz. Todavia, a presente análise inclui indivíduos a partir de 15 anos, considerando o mencionado fenômeno de ingresso precoce nas atividades produtivas.

Tabela 3.6 - Acessibilidade por Faixas Etárias Principais Regiões Metropolitanas Brasileiras – 2001

Faixas Etárias

De 15 a 35 anos Acima de 35 a 60 anos Acima de 60 anos Níveis de Acessibilidade

AA MA BA Total AA MA BA Total AA MA BA Total

Categoria RM’s

% % % Abs. % % % Abs. % % % Abs.

Total RMSP 45,1 34,9 20,0 184244 51,1 29,6 19,2 3055871 62,5 24,2 13,4 230520 3470635 Grupo 1 RMRJ 45,1 29,1 25,7 104897 44,6 34,5 20,9 1928643 52,7 25,8 21,6 158222 2191762 RMBH 53,0 29,1 17,9 42218 55,8 30,3 13,9 671817 59,4 21,1 19,5 46057 760092 RMPA 61,2 29,6 9,2 42585 66,2 25,9 7,9 651823 66,3 26,4 7,2 43000 737408 RMR 60,4 30,6 9,0 30475 60,1 28,9 10,9 484275 65,9 25,2 8,9 28566 543316 RMS 56,4 37,4 6,1 34412 60,5 31,0 8,5 446155 59,0 32,0 9,0 25761 506328 RMF 62,0 29,6 8,5 29871 64,6 26,1 9,3 371272 67,5 20,5 12,0 24610 425753 RMC 58,1 32,4 9,5 26962 61,4 27,6 11,0 431755 70,5 20,5 9,0 28422 487139 Grupo 2 RMB 64,8 29,5 5,7 18990 66,2 26,0 7,8 242295 73,1 19,4 7,5 10424 271709 Freqüência (%) 5,5% 88,2% 6,3% 100%

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001.

A começar pela faixa de 15 a 35 anos, que representa apenas 5,5% da amostra de entrevistados pela PNAD, as RM’s do Grupo 1 exibem uma distribuição de freqüência percentual relativamente equilibrada entre os três níveis de acessibilidade. Em termos de ALTA ACESSIBILIDADE, as RM’s do Rio de Janeiro e São Paulo apresentam, cada uma, cerca de 45% de pessoas que realizam viagens de até 30 minutos. No tocante às viagens superiores a uma hora, o caso mais alarmante é o da RM do Rio de Janeiro, que figura um percentual de quase 26%.

A maioria das RM’s do Grupo 2 apresentam níveis muito melhores de acessibilidade ao local de trabalho na referida faixa etária, merecendo destaque a RM’s de Belém e de Fortaleza, que ostentam, respectivamente, 64,8% e 62% de índices de ALTA ACESSIBILIDADE, e apenas 5,7% e 8,5% de BAIXA ACESSIBILIDADE.

A RM de Belo Horizonte, fugindo ao padrão do Grupo 2, mostrou condições de acessibilidade semelhantes às do Grupo 1, apresentando 53% de indivíduos que detêm ALTA ACESSIBILIDADE e 17,9% com BAIXA ACESSIBILIDADE, situação bastante diferenciada, por exemplo, em relação à RM de Porto Alegre, a qual, ainda que

abrigando um contingente populacional também numeroso, exibiu 61,2% de pessoas com ALTA ACESSIBILIDADE e 9,2% com BAIXA ACESSIBILIDADE.

No grupo etário subseqüente (acima de 35 a 60 anos) – que representa aproximadamente 88% da amostra em estudo – tais padrões se mantêm, havendo, contudo, uma tendência de crescimento dos níveis de acessibilidade em relação à faixa etária de 15 a 35 anos, exceção feita às RM’s do Rio de Janeiro e Recife, as quais passaram a exibir índices menores de ALTA ACESSIBILIDADE, embora em níveis pouco significativos e sem grandes repercussões nos índices de viagens superiores a uma hora. No caso da RM do Rio de Janeiro, todavia, houve um relativo incremento na participação das viagens compreendidas entre mais de 30 minutos e uma hora (34,5%), fazendo-a superar todas as outras RM’s, na categoria MÉDIA ACESSIBILIDADE, dentro da faixa etária em questão.

A melhoria nas condições de acessibilidade nesse estrato etário pode estar associada a eventuais ganhos que a afirmação na vida profissional pode acarretar, como por exemplo, o aumento da possibilidade de aquisição de veículo próprio – embora não seja possível realizar tal afirmação de forma categórica, uma vez que, como salientado anteriormente, a PNAD não traz informações acerca do modo de transporte utilizado pelos entrevistados.

Dentre os maiores índices de ALTA ACESSIBILIDADE, todos verificados no

Grupo 2, sobressai a RM de Porto Alegre, com um percentual de 66,2%, acentuando o contraste com a RM de Belo Horizonte, que apresentou o menor índice de ALTA ACESSIBILIDADE no referido grupo, cerca de 55,0%.

Finalmente, a análise do crescente grupo de pessoas acima de 60 anos, que, mesmo representando apenas 6,3% da amostra, supera em quase 1% a quantidade de indivíduos de 15 a 35 anos (5,5%), os resultados demonstram, de maneira geral, um importante incremento da acessibilidade com o avanço dos anos, embora, nem sempre em níveis satisfatórios. De fato, houve um aumento nos percentuais de ALTA ACESSIBILIDADE em todas as RM’s, com destaque para as RM’s de Belém e Curitiba, que superaram os 70,0% de idosos que realizam viagens de menor duração. Entretanto, as RM’s do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte exibem níveis de BAIXA ACESSIBILIDADE de idosos na ordem de 20%, o que implica considerar que tais pessoas, ao permanecerem por escolha ou necessidade no mercado de trabalho, perdem em viagens de ida e volta para o trabalho, não menos que ¼ de uma jornada de trabalho de oito horas.

A RM de São Paulo, por sua vez, apresenta um dos índices mais representativos de acessibilidade de idosos, tendo em conta, não somente a maior concentração de pessoas nessa faixa etária em relação às demais RM’s, mas também por exibir indicadores superiores em termos qualitativos a regiões componentes do próprio Grupo

2, invertendo a tendência habitual. Nesse contexto, enquanto o percentual de ALTA ACESSIBILIDADE na RM de São Paulo foi de 62,5%, nas RM’s de Belo Horizonte e Salvador, os índices foram da ordem de 59,4% e 59,0%, respectivamente. Além disso, seu percentual de viagens de maior duração foi de 13,2%, distando poucos pontos percentuais em relação à grande maioria das RM’s do Grupo 2.