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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.3 INFRAESTRUTURA

6.3.1 Acessibilidade física e estrutural

Com relação à acessibilidade física e estrutural, dentre os relatos dos sujeitos entrevistados, foram constatados problemas de pavimentação inadequada das vias e calçadas em péssimo estado de conservação, como podemos verificar no relato do Discente 05:

(A infraestrutura) é péssima, desde que descemos no ônibus a gente vê as dificuldades, a falta de mobilidade, as calçadas de lá pra cá são péssimas, principalmente para cadeirantes. É inacessível. Eu não sou cadeirante, mas tenho um problema no pé que pra passar aqui nessa calçada cheia de buracos, desniveladas, é muito complicado, tem que andar devagarzinho pra não cair. Imagina uma pessoa que tem deficiência física, cadeirante, um idoso andar nessas calçadas. Sem contar que quando chove, enche de água e fica horrível pra passar, é um absurdo. Tem muito a melhorar. (DISCENTE 05)

Segundo o relato acima, verifica-se que, no Campus Recife da UFPE, há problemas de locomoção. De acordo com o entrevistado, fica constatada uma falta de mobilidade dentro do Campus Recife, sobretudo devido a problemas de conservação das calçadas.

Esse problema se agrava quando essa mesma falta de conservação nas calçadas, pode ocasionar um acidente que coloque a saúde em risco de quem precisa transitar pelo Campus, como bem relatou o Docente 01:

Você anda pela Universidade e rapidamente já identifica que as calçadas não estão em boas condições para um cadeirante andar tranquilamente, muitas vezes eles têm que ir para a via dos carros para poder ter acesso a um determinado centro, podendo ocorrer um acidente gravíssimo. Como por exemplo eu vi essa semana um aluno que saiu do CCSA (Centro de Ciências Sociais Aplicadas) e ia em direção à Biblioteca central na via onde passam os carros, na contramão, depois que eu fui reparar que a calçada estava com um obstáculo no qual ele não conseguiria passar. Infelizmente essa é a realidade. (DOCENTE 01)

Infelizmente, andar por calçadas desniveladas, com buracos ou ser obrigado a andar no meio da rua, são cenas comuns em grande parte das cidades do Brasil, e, com base nos relatos acima, o Campus Recife da UFPE não foge a essa realidade. O que pesa é que para as pessoas

com deficiência, especialmente os cadeirantes, a situação é mais difícil, uma vez que estão mais vulneráveis a acidentes.

Outro ponto relatado, e que gera um pouco de aflição por parte de dois entrevistados, é em relação ao estado dos corrimões em alguns centros. Devido a alguns estarem em condições de uso precárias, a integridade física dos alunos e até mesmo a vida deles podem estar em risco.

O CFCH é um prédio que funciona academicamente, mas não deveria. A questão do apoio nas escadas, pra quem tem deficiência visual como eu, o apoio é necessário. Eu mesmo já caí da escada. Eu estava descendo de escada por que o elevador estava com problemas, e acabei pisando em falso, fui me apoiar no corrimão e ele não estava tão firme, tinha o corrimão, mas era um corrimão velho, daí que eu caí e bati o joelho. Depois disso eu vivo convivendo com as dores no joelho até hoje. (DISCENTE 12) Quando eu entrei na UFPE, eu estava com fobia altura, eu estava tendo dificuldade de andar ali pelo CCS, tinha uma barra que ficava no corredor que liga dois pontos do prédio, eu achava ela muito baixa e o pior é que tinha lugares dessa barra que estavam moles. Pra mim, que as vezes preciso me apoiar pra andar, era uma dificuldade muito grande, além do perigo, eu achava que poderia ser que eu apoiasse e a barra se soltasse. (DISCENTE 06)

No que diz respeito às edificações, dois discentes entrevistados evidenciaram a falta de uma adaptação adequada nos banheiros, o que pode vir a acarretar muitos prejuízos para alguns alunos, sobretudo aqueles que tem uma condição mais severa de mobilidade. Verificamos essas condições citadas nos relatos abaixo:

Outra coisa é o banheiro, o banheiro que eu posso usar é o daqui da pós-graduação que dá pra entrar com a cadeira e tem barra. Mas é o único. E pra chegar lá, no meio tem uma grade de trilho, então aquele trilho tem que ter todo o cuidado, tem que ir de costas, puxar e passar por cima do trilho. O outro banheiro perto das salas tem barra, mas não é pra cadeirantes.” (DISCENTE 03)

[...] Uma questão que foi muito chocante [...] foi a questão do banheiro. Tem o banheiro adaptado para cadeirante, não posso dizer que não tem, mas não para cadeirantes, no plural, porque existem especificidades dentro das deficiências, e no meu caso, o banheiro geral que tem para cadeirante é apenas um espaço maior que pode circular com a cadeira de rodas e uma barra onde o cadeirante pode se apoiar e fazer suas necessidades.[...] Eu preciso de uma espécie de maca como se vê por exemplo, nos fraldários infantis, e isso não tinha no banheiro, então ficava desesperada, porque ou eu vinha pra aula e voltava mais cedo ou acontecia um acidente de percurso e interfere totalmente na aula, eu não conseguia me concentrar na aula, eu não conseguia ficar na sala, porque isso podia afetar o ambiente. Tudo isso por falta de estrutura e por achar que todo cadeirante é igual. Então quem me ajudou a resolver esse problema é uma funcionária daqui do Centro de Educação, que conversou com o pessoal da infraestrutura e eles fizeram uma adaptação improvisada. Na verdade, eles cortaram e serraram uma tábua e fizeram uma adaptação. [..]. Me disseram assim: você vai ter que aceitar o improvisado porque o oficial da instituição vai demorar, só que já tem mais de seis meses isso e não resolveu. [...]. O que acontece, as vezes eu arranho a perna, porque se fosse uma adaptação adequada, seria feito de cimento, ou de madeira apropriada. (DISCENTE 08)

O que podemos extrair desses relatos é que existem pessoas com deficiências, sobretudo os cadeirantes, com diversas especificidades, e todos requerem adaptações específicas para conseguirem realizar, com tranquilidade, suas atividades cotidianas. Infelizmente, em muitos lugares, sejam eles públicos ou privados, quando se constroem banheiros adaptados para pessoas com deficiência, geralmente só se lembram dos cadeirantes com a perda ou limitações de movimentos nas pernas, e se esquecem de que existem deficiências diversas, cada uma com especificidades diferentes.

Infelizmente, muitas pessoas hesitam em sair de suas casas e em ter uma vida social ativa, pois se preocupam em como fazer suas necessidades fisiológicas fora de suas residências sem constranger outras pessoas do ambiente. Para o Discente 08, utilizar o banheiro do Centro em que estuda na UFPE pode ser estressante e constrangedor. Dessa forma, a disponibilização de uma adaptação mais adequada para suas necessidades pode ser a chave para aumentar a sensação de bem-estar.

Ainda no que diz respeito às edificações, um aluno evidenciou a falta de manutenção em elevadores, o que acaba gerando um desconforto muito grande por parte dos cadeirantes e alunos com mobilidade reduzida.

O que eu posso dizer é o seguinte: demole tudo e constrói novamente. Basicamente isso. A gente está no CFCH, é um local que está cheio de escadas. São quinze andares de escadas. Já desci subi isso tudo de escada porque não é incomum os elevadores daqui ficarem inutilizados. É terrível. Quando funciona, normalmente só pega um, e os alunos cadeirantes? E aí? A gente tem um térreo, mas o que tem aqui no térreo? Tem a recepção, a biblioteca, o auditório e o banheiro que basicamente ninguém usa, que tenho minhas dúvidas se um cadeirante entra. A gente não tem salas de aula no térreo, só do primeiro andar pra cima. Fora do CFCH também é problema geral, no NIATE, que a gente tem aquelas escadas enormes, qualquer NIATE na verdade. Tem aquele elevador que é lentíssimo, as vezes nem funciona. Quando tenho aula no CAC, tem apenas um elevador que as pessoas nem sabe que aquele elevador existe, a pessoa tem que solicitar pra funcionar, e é toda uma complicação. Teve um dia que eu subi pra ter aula no segundo andar do CAC morrendo de dor no meu joelho e o elevador lá sem funcionar. No CAC, até onde eu sei, não pode usar o elevador se não for cadeirante. Eu consigo subir escada, mesmo com dores, mas vejo pessoas que não conseguem. (DISCENTE 02)

Esse relato do Discente 02 também foi ratificado pelos depoimentos abaixo do Docente 02 e do Gestor 01:

O CFCH possui 3 elevadores que logo na entrada você verifica, mas vez ou outra forma-se uma fila enorme para acessá-los, isso normalmente acontece porque eles sempre vivem quebrando, e em 80% do tempo, apenas um elevador funciona. A questão é que o prédio tem 14 andares, se eu não me engano, e se o elevador quebra, o transtorno é enorme, as pessoas têm que descer muitos andares de escada. E quem

é cadeirante? Quem tem mobilidade reduzida? Quem é idoso? Quem é cego? Fica como? (DOCENTE 02)

A gente ainda tem elevadores com problemas, o daqui mesmo da biblioteca central está desativado faz tempo. Somos um Núcleo de Acessibilidade, onde recebemos diariamente alunos das mais variadas deficiências, dentre eles alunos com mobilidade reduzida e cadeirantes. Acho que é mais falta de prioridade mesmo, porque a gente tem profissionais bons, nós temos muitas informações e pessoas habilitadas tem, agora deveriam pensar uma pauta de prioridade pra isso. (GESTOR 01)

Uma única discente apontou que a infraestrutura do Campus Recife da Universidade era boa. Foi relatado que os prédios novos que foram construídos no Campus Recife da UFPE, e também os que ainda estão em obras, estão mais adequados no quesito da acessibilidade, e que a Universidade tem feito melhorias na infraestrutura que resultem numa melhor qualidade de acesso por parte das pessoas com deficiência. Porém, por mais que ela tenha essa concepção, a aluna não descartou que algumas estruturas precisariam ser revistas e melhoradas:

Elas são boas, principalmente os prédios novos, verificamos também que estão sendo feitas algumas reformas pontuais para melhorar a questão da acessibilidade. Mas não dá para descartar o fato de que há negligências quanto ao cuidado com essas estruturas físicas, principalmente nas edificações mais antigas, o que prejudicam o seu desempenho e reduz a qualidade delas, a exemplo, temos os elevadores da biblioteca central que há meses está interditado e os banheiros que se encontram alguns em situação onde é impossível utilizar. São detalhes como esses que precisam receber um pouco de carinho, cuidado e também respeito de todos na UFPE. (DISCENTE 07)

Para os sujeitos entrevistados, a falta de acessibilidade impõe barreiras e obstáculos para além da esfera pedagógica, ou seja, além de enfrentarem a intensa rotina de aulas, trabalhos e provas, os alunos com deficiência, sobretudo os que tem deficiência física e visual, têm que enfrentar as barreiras de infraestrutura impostas em seus caminhos.