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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.4 COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

6.4.4 Recursos pedagógicos

Ferrari e Sekkel (2007) argumentam a respeito do grande desafio que é para os docentes trabalhar com as diferenças em sala de aula. Para os autores, uma abordagem individualizada entre o professor e o aluno com deficiência não é suficiente, pois a educação escolar é uma situação grupal, sendo fundamental que todos os sujeitos, sejam alunos, professores e coordenadores, reconheçam as diferenças encontradas nas salas de aula e participem da construção de condições efetivas de ensino.

Com relação aos recursos pedagógicos e considerando que os professores são um dos elementos principais no processo de implementação do Programa Incluir nas Universidades, sendo fundamentais na aprendizagem dos alunos, foram feitos questionamentos aos discentes a respeito da atuação dos docentes em sala de aula e se eles estavam adotando metodologias adequadas de ensino com base nas deficiências que determinados alunos apresentavam.

No quesito atuação dos professores em sala de aula, a maioria dos alunos entrevistados apontarou que os docentes não estão 100% preparados para ministrar uma aula para alunos com deficiência.

Tive alguns problemas com alguns professores, mais com relação à dinâmica, mas foram coisas que se resolveram facilmente. Eu percebo que todos eles até o presente momento foram muito atenciosos, pedem pra sentar um pouco mais na frente, perguntam se o zoom está ok, eles se esforçam pra melhorar as coisas, perguntam se podem mandar o material prático com antecedência, mas é algo que não é suficiente. (DISCENTE 02)

No geral a atuação dos professores é ruim. Muitos professores não estão preparados, não digo que eles façam por maldade, eles simplesmente não sabem como fazer. Esse período mesmo chegou uma professora e me disse: - Eu nunca ensinei a ninguém cego. Como é que eu posso fazer isso? Eu disse: - Dê sua aula normal e se eu sentir dificuldades eu vou falando. Aí pronto. Chegou num momento em que eu falei que precisava de audiodescrição, aí ela falou: - O que é isso? Ela não tinha a menor noção de como fazer. Repito, não por maldade. Os professores buscam melhorar muito porque eu falo, e falo mesmo. Porque se ficar calada, muitos professores passam despercebidos, acham que está tudo certo e pronto. Os professores estão preparados para dar aula para alunos sem deficiência. Agora eles têm a sensibilidade de procurar o melhor, como por exemplo teve um professor que foi passar um filme na sala, e um dia ou dois antes mandam pra mim para que alguém em casa assista comigo e faça audiodescrição. Eles procuram sempre o melhor, eu reconheço, mas não tem ainda aquele hábito de pensar que na sala tem pessoas com deficiências. (DISCENTE 03) Eu sinto que eu tenho professores bem empenhados, em esforço. Eles realmente se esforçam para que eu realmente me sinta contemplado dentro das minhas necessidades. Mas as vezes ainda falta muitas coisas. As vezes eles passam vídeos sem áudio descrição que por lei não poderia. Mas é assim, em geral eu acho que eles se esforçam bastante. Claro que tem professores meio que não ligam, sabe? Tipo, uma vez eu escutei um professor falar assim: pensando bem é legal ter você na turma, tipo, eu me senti mal com isso. Pensando bem, cara? A priori você pensou que era negativo, sabe? Então são nuances que atrapalham um pouco as barreiras atitudinais de relação que de certa forma prejudica. (DISCENTE 04)

Os professores em si, eles procuram abraçar, incluir os alunos com deficiência, fazem o possível pela inclusão. Agora mesmo assim ainda há a dificuldade, sem recursos metodológicos, parte dos alunos também não compreendem as necessidades do deficiente. Infelizmente, o deficiente auditivo é quase que invisível, é dado como normal, como ouvinte normal. Os professores acham que o deficiente é só aquele que aparenta fisicamente. Tem professor que fala muito rápido e eu não consigo acompanhar. Não são todos, mas tem alguns professores que não ajudam nesse ponto. (DISCENTE 05)

Quando a atuação dos professores, eu ainda vejo aquele ensino normal, voltados para as pessoas que não tem deficiência, ao invés dele englobar o deficiente na aula. O que acontece é que o deficiente tem que se adequar a metodologia padrão por parte dos professores. Eu vejo que a formação dos professores é aquela formação voltada ao aluno “normal”. Não posso generalizar também, alguns professores tem me dado suporte, alguns me mandam a aula antecipadamente, mas muito pouco, pouco demais. (DISCENTE 06)

Com exceção de nossas professoras de psicologia dos nossos dois períodos, os outros professores não possuíam preparação para lidar com as situações do dia a dia na sala de aula de maneira adequada com as alunas deficientes da nossa sala, mas mesmo assim, todos eles se mostravam muito prestativos e dedicavam-se para serem

inclusivos ao máximo. As metodologias ainda precisam ser avaliadas para melhor atender a especificidade de cada aluno deficiente em nossa sala, mas no geral elas se mostram medianamente eficientes no momento das aulas, tanto para as alunas deficientes quanto para os demais alunos. (DISCENTE 07)

Meus prejuízos eu sempre tive, por exemplo, tem alguns professores que não fazem essas adaptações, aí algumas vezes a gente não compreende o que ele está trabalhando, se pelo menos algumas atividades fossem feitas em Libras ficaria mais viável, [...], a gente sempre fica nessa dependência do intérprete. Para os alunos ouvintes é fácil, que estão ali ouvindo na hora, mas pra nós, surdos, é muito complicado, e os professores algumas vezes não colaboram com o processo. (DISCENTE 09)

Os argumentos acima explanados pelos alunos podem ser explicados pelo que Rodrigues (2003) preconiza. Segundo o autor, apesar de a necessidade de preparação adequada dos agentes educacionais estar preconizada na Declaração de Salamanca (Brasil, 1994) e na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Brasil, 1996) como fator fundamental para a mudança em direção às escolas integradoras, o que tem acontecido nos cursos de formação docente, em termos gerais, é a ênfase dada aos aspectos teóricos, com currículos distanciados da prática pedagógica, não proporcionando, por conseguinte, a capacitação necessária aos profissionais para o trabalho com a diversidade dos educandos.

Indagados se a Universidade oferecia cursos de formação continuada para poder atuar junto aos alunos com deficiência, os professores argumentaram de formas distintas: um relatou a inexistência desses cursos na UFPE, e outro reconheceu que existem formações e demandas do departamento a que está vinculado, mas que muitas vezes não participa, preferindo se abster de falar sobre o tema, como podemos verificar a seguir:

[...] eu vou falar por mim, não posso falar pela comunidade acadêmica, mas eu não desenvolvo porque eu não tive essa formação, quem me ensinou a desenvolver foi uma aluna e não a UFPE, eu não sabia a quem procurar, qual era o contato, qual era o núcleo que cuidava dessa parte. Eu não tive essa formação durante minha graduação, nem durante minha pós, nem no processo de formação de inserção a universidade, e isso dificultou bastante. [...] Essa aluna, que é cega e cadeirante, rompeu com a minha ideia de uma sala ideal, a gente prepara a aula e se prepara para ministrar uma aula para um aluno ideal e não para uma aluna como ela, que inclusive me ensinou a ministrar aula para alunos com deficiência. Eu não sabia como dar aula, não sabia como falar, como direcionar o olhar e claro que eu não sabia preparar uma aula para um aluno com deficiência, quem me ensinou foi ela mesma e outros alunos da turma, que me diziam: professora, não pode ser assim, não pode trazer o slide assim, o texto tem que ser formatado e organizado dessa forma, a senhora tem que falar de tal e tal maneira. Então, durante o processo é que eles foram me dizendo: você está falando rápido, está falando muito devagar. Tudo isso eu tive que me adequar até a atividade externa, que nós fizemos duas e que ela participou e que eu tive que fazer toda uma preparação, depois que eu entendi todo o processo para que ela pudesse ter, assim, participar 100% da atividade, ai foi que eu fiz toda uma articulação, mas até esse momento, eu não conhecia esses processos. (DOCENTE 01)

Determinadas demandas, por exemplo, dos departamentos, das formações que acontecem, enfim, muitas delas eu não participo. Então eu prefiro não opinar. Eu sei

que tem as capacitações sim, a gente foi convidado, mas eu não tenho como opinar. (DOCENTE 02)

Quando a gestora do NACE foi indagada a respeito desse tema, ela afirmou que esse cenário é muito decorrente da falta de interesse dos próprios professores.

[...] dentro do nosso planejamento de ação institucional, existe uma linha de formação continuada. A gente está buscando, fizemos cerca de quatro cursos junto a Progepe (Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas) para Libras, especificamente para servidores da UFPE e professores. Fizemos uma parceria também com o HC (Hospital das Clínicas), específico para o pessoal da saúde, e fizemos também uma sensibilização nos centros acadêmicos de como interagir com as pessoas com deficiência, de como superar as barreiras atitudinais. A gente trabalha com essa perspectiva com parcerias com os centros para realização desses cursos. Porém os professores participam pouquíssimo, nas sensibilizações mesmo que a gente fez nos centros, que serviu pra divulgar o NACE e quebrar um pouco das barreiras e distâncias entre o NACE e os centros, alguns foram melhores e outros nem tanto. Quando chegamos no quinto ou sexto centro, e vimos que a participação foi zero dos professores, nós simplesmente paramos, porque era um desgaste de planejamento e não tem como forçar isso, é uma questão de sensibilização mesmo. A gente fazia toda uma programação, mapeamos os centros pra saber quem eram as pessoas e o quantitativo de pessoas deficientes daqueles centros, fizemos uma programação específica, por exemplo: se a gente via que tinha deficiente visual no centro a gente chamava alguém pra falar sobre a deficiência visual, as abordagens e de como se adaptar a esse tipo de deficiência. Aí como não tivemos adesão, avaliamos que o desgaste era grande para não ter o retorno dos professores. De toda forma, o nosso dever, a nossa tarefa é fazer, mas reconheço que é desestimulante, muita gente não conhece o NACE e perguntam: o que é o NACE? Eu não conheço o NACE, isso existe? Mas infelizmente é isso, é um problema da universidade como um todo, a questão da divulgação, da adesão, da sensibilização. Infelizmente os professores só procuram o NACE quando o problema bate na pele. Quando ele sente muita dificuldade, eles são os primeiros a ligar e dizer: olha, eu não sei como fazer isso, como é que eu faço pra me adaptar a esse aluno? Mas infelizmente é isso, eu acho que é inerente à natureza humana, as pessoas só procuram quando sentem a necessidade. (GESTOR 01)

A LDB - Lei de Diretrizes e Bases destaca a importância da preparação adequada dos professores como pré-requisito para a inclusão, determinando que os sistemas de ensino devam garantir professores capacitados e especializados para a integração e adaptação dos alunos com deficiência no ensino regular. (BRASIL, 1996).

Para alguns alunos com deficiência e para o Docente 01, os quais foram entrevistados nessa pesquisa, a falta de preparo e formação adequada dos docentes para atender às necessidades específicas dos discentes com deficiência, de um modo geral, acaba ganhando destaque.