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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.4 COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

6.4.2 Serviços especializados no atendimento ao estudante com deficiência

No que se refere aos serviços acessíveis disponíveis na UFPE, sabe-se que para uma pessoa com deficiência visual realizar suas atividades acadêmicas, é relevante que sejam disponibilizados materiais adaptados, além do auxílio humano, este com a finalidade de leitura da prova, preenchimento de gabaritos e transcrição de textos.

Para que o aluno surdo seja incluído é desejável que a comunicação se realize através da Língua de Sinais, no Brasil, Libras. A Língua de Sinais é de extrema importância para a inserção e inclusão de alunos surdos no ambiente acadêmico.

No que diz respeito aos alunos entrevistados, alguns deles, sobretudo os que tem deficiência visual e auditiva, precisam de bolsistas específicos, como transcritores, ledores e intérpretes de Libras que os acompanhem durante as aulas e eventos, porém, dentre os alunos entrevistados, alguns relatos enfatizam a falta desse serviço, acarretando inclusive, reprovação em disciplinas.

Eu estou um pouco magoada com o NACE. Minha ledora foi tirada. Já falei com o Reitor, o atual, já falei com o pessoal do NACE e já solicitei que devolvessem minha ledora. Tiraram minha ledora e deram pra outra pessoa. Mas teria que cobrir todos. Eles não têm ledores suficiente pra todos. Não tem bolsa pra oferecer. Minha mágoa ao NACE eu falei diretamente ao Reitor e a eles. (DISCENTE 03)

Já aconteceu mais ou menos há um ano, no primeiro semestre do ano passado de eu solicitar um intérprete e não ter sido atendido, o que acarretou que reprovei na disciplina. Na época, o número de intérpretes ainda era bem mais reduzido, eles ainda precisariam atender várias outras demandas. Agora, graças a Deus, aumentou um pouquinho, em 2019 o número aumentou. Mas esperamos que ainda aumente por

conta que as demandas são grandes, e devido a isso acho que vai melhorar bastante, porque o número de surdos tem aumentado e as demandas vão aumentando. (DISCENTE 09)

Mas também tivemos relato de um aluno que nunca teve problemas com o suporte dos bolsistas especializados. Como verificamos a seguir:

[...] as vezes eu preciso de um ledor na hora da prova. O que é que o NACE orienta: ele orienta ao aluno que reporte ao NACE antecipadamente, para que eles possam se organizar enquanto núcleo e posicione um bolsista para auxiliar na hora da prova, porque? O meu ledor é também aluno da minha classe, então a gente não pode fazer a prova no mesmo momento, até agora eu sempre fui atendido. Eu sempre peço com uma antecedência com 10 a 15 dias e sempre fui atendido. Até agora nunca houve problema. (DISCENTE 04)

Mas esse mesmo discente reconhece a dificuldade que é para conseguir os serviços especializados, muito devido à falta de pessoas especializadas.

Os técnicos tem que aumentar bastante, porque a gente só tem, se eu não me engano, uma técnica de braile em toda a universidade para contemplar um número exorbitante de alunos, apenas uma técnica, não dá. Por exemplo, se você for um aluno cego e precisar do braile, você tem que enviar 15 dias antes pra que a técnica possa transcrever para o sistema braile, isso é uma demanda que é complicada. Então precisa de mais profissionais relacionados a essa área. (DISCENTE 04)

Fazendo uma comparação da quantidade de alunos com deficiência matriculados na UFPE e a quantidade de bolsistas que prestam serviços ao Núcleo de Acessibilidade, percebemos que, se muitos alunos solicitarem suporte ao mesmo tempo, o NACE pode não ter pessoal suficiente para disponibilizar.

Tabela 3 – Especialistas na área de acessibilidade disponíveis na UFPE.

Função Especialidade Quantidade

Técnicos do Setor de atendimento em Acessibilidade

Pedagogo 02

Psicólogo 02

Fonoaudiólogo 01

Técnicos do Setor de Tradução e Interpretação de Libras Tradutor Intérprete: Libras 08

Bolsistas Apoiadores em Acessibilidade Ledor/Transcritor 14

Tecnologia Assistiva 01

TOTAL 28

Fonte: Elaboração própria a partir de dados fornecidos pelo NACE (2019)

De acordo com a Tabela 3, fornecida pelo Núcleo de Acessibilidade da UFPE, no Campus Recife da UFPE, são disponibilizados para dar suporte aos alunos com deficiência,

vinte e oito especialistas na área de acessibilidade, sendo cinco técnicos do setor de atendimento, oito técnicos tradutores de Libras e quinze bolsistas, ao passo que em 2018, conforme mostramos na Tabela 01, estavam matriculados no Campus Recife, 367 alunos com deficiência.

Com relação à acessibilidade nos meios eletrônicos, desde 2004, o Decreto Federal nº 5.296/04 torna obrigatório que todos os portais e sites dos órgãos da administração pública atendam aos padrões de acessibilidade digital. Esse decreto, entre outras legislações, serviu de grande avanço em relação aos direitos da população brasileira com deficiência, garantindo que todos possam usar a internet da mesma forma, seja qual for sua condição.

O Decreto supracitado garante a acessibilidade com relação aos portais e sites dos órgãos da administração pública. Porém, com relação ao sistema interno da UFPE, verificamos um certo descontentamento por parte dos alunos devido à falta de recursos no Sistema de Informações e Gestão Acadêmica (SIG@), como podemos verificar nos relatos abaixo:

“[...]. E eu também preciso de ser assistida pela parte de recursos de tecnologia assistiva pra estar me orientando como usar o computador e que atenda a minha deficiência visual e minha deficiência motora, já que não é qualquer teclado que eu consigo usar visto que eu tenho deficiência motora e também por conta da minha deficiência visual, eu preciso de um leitor de tela acessível, inclusive o próprio site da universidade não é acessível. Então não tem como eu acompanhar minhas faltas, minhas notas, não tenho liberdade de escolher eletiva quando vou pagar, como vou pagar, tem o pessoal do NACE que eu posso está ligando, posso está pedindo, mas não é mesma coisa de fazer sozinha. Então por isso que eu nem paguei eletiva esse período que eu queria tentar, por que eu não conseguia olhar o que é que tinha de opção, como por exemplo: tem ciências biológicas, mas pra fazer o que exatamente? Eu não tinha como saber através do site. Tudo por conta da falta de acessibilidade do próprio site. (DISCENTE 08)

Se aqui na Universidade criasse um sistema que tivesse acessibilidade com intérprete em diferentes áreas, diferentes centros, a gente teria informações melhores. Por exemplo: No ato da matrícula, no curso de design, de arquitetura, colocaria a opção lá no site: Você vai precisar de intérprete? Sim ou não? Você já teria a opção lá no site pra dizer se você vai precisar de suporte ou não, através de uma janela, então se eu não precisar, colocaria lá direto que não precisaria de intérprete. Seria interessante que fosse desenvolvido esse modelo para todos os deficientes. Se você precisasse de um intérprete, e tivesse essa ferramenta no site, ficava bem mais fácil e mais prático, então os diretores dos centros iriam discutir como criar metodologias de como adaptar aquele aluno que iria chegar naquele curso com antecedência. É de se pensar desde o ato da inscrição e em qualquer curso. (DISCENTE 09)

. Diante do exposto, temos aqui, talvez, um dos maiores gargalos que a UFPE enfrenta. O que podemos perceber é que alguns relatos demonstraram que certas barreiras de comunicação e informação ainda estão presentes no dia-a-dia, como por exemplo a falta de informação a respeito do funcionamento do Núcleo de Acessibilidade, a falta de profissionais

especializados, como ledores, tradutores e intérpretes de Libras para todos os alunos que solicitarem tal serviço, bem como a falta de comunicação entre os alunos, NACE, professores e coordenação.