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Capítulo 3 – Revisão da literatura

3.2. A deficiência visual, uma limitação ou um desafio

3.2.2. Implicações nas principais áreas de vida para a igualdade e

3.2.2.2. Acessibilidade, um requisito fundamental à participação em

Acessibilidade significa que as pessoas com deficiência têm acesso, em igualdade com os outros cidadãos, aos espaços construídos e aos restantes bens e serviços (Comissão Europeia, 2010).

Contudo, são ainda muitos os obstáculos que impedem os sujeitos com deficiência de exercerem plenamente os seus direitos fundamentais e que limitam a sua participação na sociedade em igualdade de circunstâncias com os outros cidadãos. Entre estes direitos contam-se o direito de circularem livremente, de escolherem onde e como viver e de acederem plenamente a atividades culturais, recreativas e desportivas.

O setor da acessibilidade é uma das áreas fundamentais mencionadas no documento sobre as Normas de Igualdade de Oportunidades para pessoas com deficiência e considerado como um requisito básico à orientação e à mobilidade, pelas Nações Unidas (1994) e pela Comissão Europeia na estratégia europeia (2010). De acordo com a norma que permeia a acessibilidade, “Os Estados devem reconhecer a importância global das condições de acessibilidade para o processo de igualdade de

oportunidades em todas as esferas da vida social. No interesse de todas as pessoas com deficiência, os Estados devem:

a) iniciar programas de ação que visem tornar acessível o meio físico, eliminando obstáculos à participação dos cidadãos no meio que os envolve. Arquitetos, engenheiros civis, projetistas e outros profissionais que participam no ordenamento e urbanização do meio físico devem estar informados sobre as políticas adotadas e estarem obrigados a cumprir medidas facilitadoras de acessibilidade como condição. Os estados “devem nomeadamente definir normas e diretivas e prever a adoção de legislação que garanta as condições de acessibilidade às várias áreas sociais, tais como: habitações, edifícios, transportes públicos e outros meios de transporte, vias públicas e outros espaços exteriores” (Nações Unidas, 1994, p. 23);

b) tomar medidas que assegurem o acesso à informação e à comunicação, através de outros meios de escrita e de comunicação acessíveis a todas as pessoas com deficiência, como a sinalética em braille (Nações Unidas, 1994).

Na mesma linha, a estratégia europeia (Comissão Europeia, 2010) veio insistir maioritariamente nos mesmos pontos e renovar a importância de criar instrumentos e legislação nacional e internacional que proteja as pessoas com deficiência no acesso às várias áreas fundamentais, tais como acessibilidade ao meio físico, transportes, sistemas e tecnologias de informação e comunicação e outros estabelecimentos e serviços. No documento estabeleceu-se ainda que serão fomentados os temas «acessibilidade» e «design universal» nos programas escolares e nas ações de formação destinadas especialmente aos profissionais relevantes para o processo, através da sensibilização. A ação da União Europeia apoiará e complementará as políticas e os programas nacionais com vista à promoção da igualdade, incentivando os estados-membros a tornar as respetivas legislações em matéria de capacidade jurídica conformes com a convenção da Organização das Nações Unidas (Comissão Europeia, 2010).

De acordo com o Plano Nacional de Promoção da Acessibilidade (PNPA) anteriormente aprovado, que visou a sistematização de um conjunto de medidas para posssibilitar às pessoas com mobilidade condicionada, ou dificuldades sensoriais (autonomia, igualdade de oportunidades e participação social a que têm direito) (Presidência do Conselho de Ministros, INR, 2007), a acessibilidade ao meio físico edificado, transportes e tecnologias de informação e comunicação, constituem uma

condição fundamental para o exercício dos direitos de cidadania por parte destes cidadãos, a par da mudança de atitudes da comunidade face às pessoas com deficiência. É notável algum desconhecimento na população sobre as necessidades de acessibilidade das pessoas com necessidades especiais, persistindo igualmente a ideia de que a supressão das barreiras físicas favorece apenas os cidadãos com deficiência, como pessoas em cadeira de rodas e pessoas cegas. Só muito lentamente esta ideia começa a ser substituída pelo conceito mais recente de desenho universal, que estende as vantagens da acessibilidade autónoma a todas as pessoas, independentemente da sua idade, estatura, capacidades, deficiências ou outras características.

No que respeita aos espaços públicos das cidades, verifica-se que nem sempre são acessíveis. Existe uma elevada percentagem de edifícios públicos e de uso público (por exemplo, centros de saúde, escolas, museus, tribunais, repartições de finanças e outros), que são total ou parcialmente inacessíveis às pessoas com necessidades especiais. Esta situação aplica-se igualmente ao setor particular (por exemplo, hotéis, cinemas, restaurantes, lojas, entre outros). O PNPA (INR, 2007), no que concerne à temática da investigação, constatou que, em Portugal, estudos sobre o tema acessibilidade nos meios urbanos e edificados são muito reduzidos. Existem algumas investigações que se concentram no levantamento das condições de acessibilidade nalguns municípios, na adaptação dos resultados de estudos estrangeiros à realidade portuguesa e na intervenção das barreiras arquitetónicas. Relativamente à participação cívica, verifica-se que os movimentos associativos de pessoas com deficiência tem contribuído largamente para a progressiva eliminação das barreiras arquitetónicas físicas e culturais. Sendo a eliminação destas barreiras um verdadeiro desafio ao exercício dos direitos de cidadania, é de assinalar que muitos dos progressos tiveram como base a posição das organizações não-governamentais da área da deficiência.

As barreiras encontradas, sejam elas naturais ou edificadas no acesso aos transportes, nas ruas e vias públicas, tornam o espaço urbano intransitável para qualquer pessoa e inacessível para as que têm dificuldade de locomoção ou mobilidade reduzida: cabines telefónicas; carros mal estacionados; obras sem proteção; sarjetas e buracos abertos; toldos baixos e vegetação agressiva; sinais, placas de publicidade e esplanadas; vasos, canteiros e árvores com ramos baixos sem proteção; falta de alinhamento na construção dos edifícios (Hutchinson, 2000). O impacto destas barreiras sobre as pessoas com dificuldades de locomoção ou com mobilidade reduzida refletem a

confusão e a desordem dos centros urbanos. Num estudo realizado na cidade do Recife, no Brasil, os participantes com deficiência visual descreveram a cidade como um local onde aconteciam quedas e acidentes com frequência (Hutchinson, 2000). A variedade de obstáculos móveis, imóveis, ocasionais ou permanentes foram mencionados como inumeráveis. A supressão das barreiras físicas não favorece apenas os cidadãos com deficiência motora e visual mas a todos em geral. Com base no decreto-lei 123/97 de 22 de maio, foram aprovadas as normas técnicas de acessibilidade, fixando padrões e critérios, tendo em vista as adaptações adequadas às pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida, garantindo-lhes um acesso fácil, seguro e autónomo aos edifícios. Este Decreto-Lei, que se baseia no conceito de desenho universal, aplica-se tanto a novos projetos como à adequação de instalações já existentes. Abrange todos os edifícios de uso público, mesmo os de propriedade privada, tais como, instalações relacionadas com a saúde, estabelecimentos de educação, correios, bancos, seguros, espaços recreativos e lazer, entre outros (Figueira, 2003). Com o tempo, o conceito mais recente de desenho universal estende-se a todas as pessoas, independentemente da sua idade, estatura, capacidades, deficiências ou outras características. No mesmo intento, é fundamental que engenheiros, arquitetos e projetistas estejam alertados e sensíveis para a importância das questões da acessibilidade e que as organizações de pessoas com deficiência credíveis sejam igualmente consultadas, não só em relação à acessibilidade ao meio físico envolvente, considerado como um requisito fundamental para a orientação e mobilidade das pessoas com deficiência, mas também à informação e comunicação acessíveis, onde se pode incluir como um bom exemplo, a sinalética em braille nos elevadores, funcionando igualmente como um meio facilitador de orientação e de mobilidade.

Estritamente relacionada com a acessibilidade aos espaços, a orientação e a mobilidade surge como uma atividade motora que pode ser definida como um processo amplo e flexível, constituído por um conjunto de capacidades motoras, cognitivas, afetivas e sociais, suportadas por técnicas específicas, de algum modo compensatórias da visão (Hoffmann, 1998). Esta conjuntura, combinada com a reabilitação do indivíduo, é o salto para uma melhor qualidade de vida, segurança e independência em ambientes cheios de obstáculos e armadilhas (California Department of Social Sciences, 2009).