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Acesso a serviços públicos

mEio AmBiENTE

6.1. Acesso a serviços públicos

Entre as várias estratégias utilizadas pelo Poder Público para pressionar comunidades in- teiras ou ainda pior, esfaceladas, divididas, está o corte ou a interposição de dificuldades de

acesso aos serviços essenciais à moradia adequada, conforme exposto no capítulo Habita- ção. A suspensão de coleta de lixo é prática adotada nacionalmente, enquanto em alguns casos a municipalidade e o estado suspendem também (ou não instalam a infraestrutura necessária) o fornecimento de energia, água tratada, esgotamento, e comunicações.

A permanência por tempo indeterminado de escombros resultantes da demolição de unidades habitacionais em áreas de remoção, causando terror, risco de doenças e desa- bamentos foi praticada sistematicamente na cidade do Rio de Janeiro, como o evidenciam os casos da Estradinha, que moveu ação contra o município através do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, da Restinga e do Metrô Mangueira, no Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, a mesma prática ocorreu na Vila Dique e no Bairro Cristal.

Em setembro de 2010, em audiência pública na Câmara dos Vereadores sobre a não prestação de serviços públicos às ocupações, a comunidade Dandara denunciou as Centrais Elétricas de Minas Gerais e os Correios por se negarem a fornecer o serviço público em área com arruamento e numeração completos, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais por não cumprir acordo segundo o qual disponibilizaria padrões adequados de água e im- plantaria rede de esgoto, o Corpo de Bombeiros por omissão no socorro aos moradores e os postos de saúde da rede municipal por dificultarem o atendimento a moradores da comu- nidade. A suspensão dos serviços ocorreu também nas Vilas Dique e Arroio Cavalhada em Porto Alegre.

Outro aspecto do acesso universal aos serviços públicos concerne o direito de contar com o apoio jurídico, e de ser representado pela defensoria. Isto aconteceu em pelo menos duas cidades. No Rio de Janeiro assistiu-se ao desmantelamento do Núcleo de Terras e Hab- itação (NUTH) da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, cuja ação em defesa de populações ameaçadas de remoção passou a ser vista com um mau exemplo e um obstáculo à liberdade de ação que é desejada pelos que mandam na cidade de exceção. O outro caso foi o da des- montagem e fechamento do Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar, que funcionava na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, em vir- tude de seu engajamento no apoio jurídico a moradores ameaçados e atingidos pelas obras da Copa de 2014.

O grave, nestes casos, é que órgãos públicos destinados à defesa das populações mais pobres e dos direitos humanos passam a ser, eles também, alvos da mesma coalizão de inter- esses e forças que se abatem sobre aqueles que atendem. Em outras palavras, os defensores das vítimas se transformam, eles também, em vítimas da violência – física ou, no caso par- ticular, institucional.

Box 6.1 Advogados do Escritório Frei Tito são exonerados da Assembléia Legislativa

Assistimos hoje a mais um perverso golpe contra a Assessoria Jurídica Popular na sua luta política e judicial pela efetivação dos direitos humanos no estado do Ceará. Em fevereiro de 2011, o novo presi- dente da Assembléia Legislativa do Ceará, Deputado Roberto Cláudio excluiu da folha de pagamento trinta por cento dos funcionários da casa, entre eles os advogados do Escritório de Direitos Huma- nos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar, vinculado à comissão de Direitos Humanos e Cidadania e que atua em parceria com entidades públicas e privadas na defesa da sociedade contra violações aos direitos humanos, em demandas coletivas ou individuais de grande repercussão o Escritório Frei Tito de Alencar (EFTA), desde o ano 2000 atua na luta intransigente pelos direitos humanos, acompanhando em 2011 mais de cem comunidades em todo o Estado (Quilombolas, indígenas, Pesqueiras e, principalmente, urbanas na luta pelo Direito à moradia Adequada). Nes- ses mais de dez anos, destaca-se principalmente na defesa do direito constitucional à moradia, através do acompanhamento às diversas comunidades e ocupações. mesmo trabalhando ardua- mente no cumprimento da sua missão, acompanhando mais de cem comunidades na capital e no interior, os advogados e estagiários não foram poupados da “canetada” do Presidente.

o Escritório é composto por advogados oriundos dos núcleos de Assessoria Jurídica Universitária do Estado e que tem uma relação histórica com os movimentos sociais e por estagiários que com- põem a Reaju (Rede Estadual de Assessoria Jurídica Universitária), por sua vez constituinte da Rede Nacional de Assessoria Jurídica Universitária (RENAJU). A seleção dos advogados sempre foi reali- zada de forma pública, através da divulgação de edital de seleção, na qual profissionais comprometi- dos com a luta pelos direitos humanos e com histórico de aproximação com as demandas populares são escolhidos pela Comissão de Direitos Humanos. Agora ficará a cargo da mesa diretora da casa. A exoneração de seus/suas Advogados e Estagiários expressa uma clara e covarde tentativa de esvaziamento político da atuação do EFTA na Cidade de Fortaleza em tempos de preparação para as remoções para as obras da Copa.

Box 6.2 A Destruição do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria do Rio de Janeiro

Em carta aberta à sociedade, datada de março de 2011, o Conselho Popular do Rio de Janeiro denuncia que as comunidades que sofrem a ameaça de remoção, as que estão sendo mal inde- nizadas ou removidas para casas nos confins da cidade, e as que foram despejadas e dependem do “aluguel social” por prazo indeterminado, estão vendo reduzidos o seu direito de defesa, pois o atual Defensor Geral trabalha para desorganizar o Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (NUTH), única instituição estadual que se dedica a defender e a buscar minorar os impactos da perda da moradia promovida pela prefeitura em razão da construção de vias e outras obras que preparam a cidade para a Copa do mundo e as olimpíadas.

o novo Defensor Geral, Nílson Bruno, foi eleito por seus pares com o slogan: Defensoria para os Defensores, com a pretensão de aumentar o distanciamento dos assistidos e dos movimentos so- ciais e aumentar a intimidade com as autoridades. Ao amarrar os núcleos mais produtivos como o NUTH e o Núcleo de Direitos Humanos (NDH), fere de morte o princípio da independência funcional dos Defensores, que se dedicam à primazia da dignidade da pessoa humana e à redução das desigualdades sociais, objetivo primeiro determinado no Estatuto dos Defensores Públicos (Lei Complementar n.º80/1994).

o Conselho Popular tem procurado o diálogo e já realizou uma reunião no início de 2011 com o Defensor Geral, mas agora assistimos à diminuição do quadro de estagiários do NUTH e à destituição da coordenadora, desestabilizando ainda mais os trabalhos. A recentemente aprova- da Resolução DPGE n.º 569, que cria o Comitê Extraordinário no período de execução da Copa do mundo de 2014 e olimpíadas de 2016, enfraquece ainda mais o NUTH e o Núcleo de Direitos Hu- manos, além de ensejar acordos com as autoridades estatais em detrimento dos interesses dos assistidos, pois não contempla a participação da sociedade e nem de defensores historicamente comprometidos com a defesa dos cidadãos.

Carta aberta às comunidades, às entidades e aos movimentos parceiros do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública