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Economia Verde x Expansão Urbana

mEio AmBiENTE

5.4 Economia Verde x Expansão Urbana

Os grandes investimentos em estádios e obras de mobilidade urbana para a Copa vêm acompanhados de um discurso de sustentabilidade ambiental e economia verde voltado para o melhor aproveitamento dos recursos naturais nas edificações, o reaproveitamento de resíduos e a redução de desperdícios.

O discurso “verde” mascara a desconsideração dos impactos causados pelas obras, como no caso da Arena das Dunas (retratado acima); em Brasília, o Estádio Nacional de Brasília, substituto do estádio Mané Garrincha, recebeu o selo de Estádio Verde da mega empresa estadunidense Leed Platinum (da US Green Building Council), mas a obra não teve licenciamento ambiental. A Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanísti- ca (Prourb) do Distrito Federal abriu ação apontando esta falta e questionando a forma como foi realizada a alteração das normas de uso e ocupação do solo (por decreto e não por lei, contrariando legislação federal); aponta ainda a ausência de Estudo de Impacto de Vizinhança, de Relatório de Impacto de Tráfego, e da não manifestação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acerca dos novos parâmetros urbanís- ticos propostos, já que se trata de edificação em área tombada.

A ação do MP foi indeferida liminarmente pelo juiz da vara de meio ambiente do TJDFT (cujo nome não foi encontrado) sob a argumentação de que “Trata-se de empreen- dimento com custo notoriamente elevado, que se não for concluído no prazo de seu planeja- mento, tal importará em proporcional desperdício de recursos públicos, além de conseqüen- tes e previsíveis prejuízos à nação brasileira em face de sua imagem perante a comunidade internacional ante o fiasco contra o qual é desejável prevenir” e concordou que a obra, sem o prévio e completo estudo urbanístico e ambiental, pode também causar prejuízos ao meio ambiente e à ordem urbanística; para ele, no entanto, a paralisação das obras traria prejuízo ainda maior.64

Em caso mais grave pela abrangência, a construção do estádio pernambucano abre uma nova frente de expansão urbana na Região Metropolitana de Recife sem terem sido concluídos os estudos ambientais obrigatórios, como se detalha no box.

Box 5.2 Arena Pernambuco: Impacto ambiental sem estudos prévios

As obras em área antes desocupada dão como fato consumado a abertura de uma frente de ex- pansão urbana sem planejamento prévio, e com impactos ainda em estudo. A Arena Pernambuco, cujo projeto inclui “medidas socioambientais” como o uso de energia solar, soluções de ventilação, reaproveitamento de água, tratamento do esgoto e iluminação natural, obteve licença ambiental e está já com obras avançadas. Já a Cidade da Copa, onde deverá se inserir o estádio, está locali- zada em são Lourenço da mata e tem licenciamento ambiental ainda em tramitação na Agência Estadual de Recursos Hídricos – CPRH. o empreendimento exigirá investimentos públicos em infraestrutura urbana de grande monta, para além das obras de mobilidade previstas, enquanto extensas áreas da Região metropolitana de Recife permanecem com problemas estruturais de abastecimento de água, rede de esgoto e acessibilidade, entre outros.

Citando experiências internacionais de Los Angeles e Londres, jornal local afirma que “projetos desse porte geralmente valorizam e induzem o desenvolvimento de seu entorno”. A experiência nacional, no entanto, tem mostrado o contrário; “cidades planejadas” (como Brasília, Goiânia, Palmas) que não trazem em seu planejamento propostas para a habitação social, como é o caso da Cidade da Copa, em geral atraem para seu entorno verdadeiras “cidades de exclusão” ocupa- das em grande parte pelos próprios trabalhadores que mantém a “cidade planejada”.

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ACEsso A sERViÇo E BENs PúBLiCos

E moBiLiDADE

O acesso aos serviços e bens públicos e à mobilidade urbana configura-se como direi- to humano nos tratados internacionais a partir de duas frentes. A primeira diz respeito aos direitos fundamentais do homem, conforme constam da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Enquanto no artigo II busca-se garantir a universalidade dos direitos e liberdades estabelecidos, no artigo XIII define-se a liberdade de locomoção dentro das fronteiras de cada Estado, que em meio urbano pode também ser traduzida como direito de acesso a espaços públicos e direito à locomoção pela cidade. Mais adiante, o artigo XXV identifica o direito aos serviços sociais indispensáveis.

A segunda frente decorre do conceito de moradia adequada, ao qual estão necessaria- mente vinculados os serviços públicos correspondentes e o acesso à própria unidade habita- cional, conforme reza o Comentário Geral nº. 4 da Organização das Nações Unidas referen- te à habitabilidade, quando menciona a “[d]isponibilidade de serviços, materiais, facilidades e infra-estrutura, [...] acesso sustentável a recursos naturais e comuns, água apropriada para beber, energia para cozinhar, aquecimento e iluminação, facilidades sanitárias, meios de armazenagem de comida, depósito dos resíduos e de lixo, drenagem do ambiente e serviços de emergência”. A mobilidade, mais especificamente, está ainda melhor contemplada no item Localização quando o texto menciona que “A habitação adequada deve estar em uma localização que permita acesso a opções de trabalho, serviços de saúde, escolas, creches e outras facilidades sociais”.

Desta forma, nesta sessão são objeto de exame: 1) o cerceamento ou impedimento do acesso a serviços públicos, tanto ligados às questões da habitabilidade e dos serviços sociais indispensáveis quanto às defesa e assessoria jurídica públicas; 2) o cerceamento do acesso uni- versal a bens públicos como logradouros, praças, parques etc; 3) a interposição de dificuldades à locomoção e à acessibilidade das unidades habitacionais, à mobilidade urbana.