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2. COMUNIDADE QUILOMBOLA PAU D‘ARCO E SEU CONTEXTO

2.1 Conhecendo Pau d’Arco

2.1.1 O acesso

O acesso mais comum a Pau d‘Arco, que fica na região sudeste do município de Arapiraca, a cerca de 12 quilômetros do centro da cidade, se dá por meio de transporte coletivo da empresa Real Arapiraca que sai do terminal rodoviário localizado no Parque Ceci Cunha, ou por meio de carro particular pela AL-110 que leva a destinos como os municípios de São Sebastião e Penedo, sendo esta última a forma mais rápida de se chegar ali, tendo ainda a opção do transporte alternativo complementar (as Vans). A localização geográfica do quilombo ajuda a compreender, por exemplo, as dificuldades encontradas historicamente pelos seus moradores, desde o tempo em que não se tinha transporte e ir à igreja ou à feira na cidade significava fazer um percurso de cerca de três horas, ou menos um pouco se utilizassem cavalos, transporte de que se valiam os moradores para irem à cidade vender sua produção e também para comprar aquilo que não produziam; bem como, atualmente, quando o valor da passagem dificulta o deslocamento das pessoas que trabalham na área urbana, sobretudo das mulheres, pois parcela considerável delas realiza trabalho de doméstica.

Quanto a isso, no dia 08 de abril/2017, enquanto aguardava no terminal rodoviário o ônibus que me levaria ao quilombo, conheci Eliene que também estava à espera do mesmo; começamos a conversar sobre a demora34 do ónibus e também sobre o alto valor cobrado na passagem35. Eliene logo me disse o quanto isso dificultava a sua vida, especificamente em relação a trabalho, afirmando que ficava difícil arrumar emprego em casa de família na cidade, porque o salário quase todo - que muitas vezes não chega a ser um salário mínimo - ficava nas passagens e que às vezes ela preferia caminhar até às margens da AL-110 para pegar uma das vans que vem de São Sebastião ou de Penedo, visando economizar, uma vez que a passagem do transporte alternativo é mais barata, custando em torno de 3,00 reais. Mas observei que caminhar até a pista não é uma prática comum, pelo menos quando me refiro aos moradores da parte baixa ou central do quilombo, sendo algo talvez mais comum aos que moram próximos da rodovia estadual.

O ônibus da Real Arapiraca demora em torno de 40 minutos do terminal rodoviário no Parque Ceci Cunha até a praça central de Pau d‘Arco – seu destino final - e nesse percurso percorre um trecho de bairros como Centro, São Luiz, Guaribas e Batingas; este último guarda algumas singularidades com o quilombo Pau d‘Arco, pois se tratava de uma comunidade rural que nos últimos 10 anos vem sendo engolida pelo processo de urbanização

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Durante a semana o tempo estimado é de 40 minutos entre um ônibus e outro, subindo para uma hora nos finais de semana, sem levar em consideração os atrasos.

vivenciado na cidade de Arapiraca, onde áreas antes rurais foram sendo tomadas por pequenos pontos comerciais e loteamentos residenciais financiados, em sua maioria, pelo Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida, estimulando assim um crescimento acelerado da área urbana em direção a comunidades e sítios vizinhos. Esse fator explica o fato da Prefeitura ter agregado à sua malha urbana áreas antes consideradas rurais e ter levado obras de infraestrutura como asfaltos, ampliação de Unidades Básicas de Saúde e também construção de novas escolas a essas localidades.

No entanto, no bairro Batingas é possível observar da janela do ônibus um modo de vida ainda marcado por especificidades que não se nota nos demais bairros citados, como a presença de algumas casas sem muros, com portas e janelas abertas e com pequenas calçadas onde as pessoas ainda sentam nos finais de tarde para conversar ou tomar café, onde crianças brincam ao longo da rua principal, onde as pequenas bodegas e mercearias abrem logo cedo, onde algumas pessoas vendem nas portas de casa produtos agrícolas, como verduras, frutas, macaxeira, inhame, dentre outros gêneros alimentícios que ao que me parece, uma parte é também produzida no município e no próprio bairro, uma vez que algumas áreas por trás da rua principal constituem roças e mesmo nas áreas mais próximas da fronteira com Pau d‘Arco, onde o número de residências é bem menor e predominam mais terras agricultáveis, é possível observar plantações de macaxeira, mandioca, cultivos de capim para pequenos rebanhos bovinos, além de hortas. Percebo um modo de vida marcado por uma maior aproximação entre as pessoas.

O ônibus percorre o seu trajeto e antes um pouco da divisa de Batingas com Pau d‘Arco esse percurso de dá por uma estrada de barro que no tempo das chuvas fica repleta de buracos tornando esse trecho da viagem desconfortável; próximo à fronteira entre Batingas e Pau d‘Arco observa-se uma placa à direita que indica a direção do sítio Furnas e mais adiante o sítio Bálsamo. O trecho onde o ônibus adentra o quilombo é um pouco mais abaixo da entrada que fica às margens da AL-110 e a partir daí todo o percurso se dá por uma rua principal totalmente asfaltada e com leves curvas, a Avenida Josué Messias, que segundo moradores, trata-se de um senhor branco que viveu em Pau d‘Arco e que estabeleceu relações paternalistas e de exploração com os habitantes dali, contratando os ―negros‖ para trabalhar em suas terras e se referindo aos mesmos, em muitas ocasiões, como ―meus negrinhos‖, revelando, segundo narrativas, uma relação envolvendo preconceito, sentimento de superioridade e inferioridade e exploração. Josué, segundo informações, também foi o primeiro morador a iniciar o cultivo de fumo no quilombo, ainda na década de 40.